Capítulo 8: Nossa Conversa

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"...Me convenci que era impossível

E que amar demais sempre representava perigo

E aí você me olhou e já era..."

A primeira coisa que Ana Carolina sentiu ao acordar naquela manhã foi uma enorme felicidade. Ela não conseguia conter o sorriso no rosto ao se virar e olhar para aquela linda mulher deitada ao seu lado. Chiara se encontrava deitada com a cabeça recostada no ombro direito de Ana. Ainda dormia tranquilamente, com a sua mão direita abraçada na cintura da mineira. Elas estavam exaustas. Na noite anterior, depois que tomaram um longo banho, as duas não encontraram forças nem para colocar roupas leves para dormir. Elas simplesmente jogaram os seus corpos na cama e adormeceram cobertas por um fino lençol branco.

A mineira se perdeu completamente na beleza de Chiara, dedicou um tempo apenas para observar tudo o que era possível, cada traço. Desde a forma que seus cabelos recaiam sobre o lençol formando leves ondas que lembravam o mar, até a forma que a sua boca assumia um lindo formato de coração quando fechava em um "biquinho" quando se mexia em alguns momentos. Chiara respirava tranquilamente em seus braços e Ana poderia ficar olhando aquela imagem por horas e horas que sem dúvidas não iria se cansar daquela visão.

Será que era o italiano? Dizem que os italianos são muito conquistadores. Mas não poderia ser apenas isso, pois Ana já tinha se relacionado com algumas italianas e não sentiu nem um terço do que sentiu na noite anterior com Chiara. Talvez fosse a mistura de sotaques. Definitivamente, aquela mistura surtia um efeito gostoso aos ouvidos da mineira, a acertando em cheio.

Chiara era sem dúvidas uma mulher espetacular, tinha todas as peculiaridades que fazia ela ser uma pessoa ainda mais especial. Será que Chiara também sentia o mesmo por ela? Será que pelo menos passa na cabeça da italiana os possíveis sentimentos que a mineira estava começando a nutrir por ela? Será que está muito cedo pra falar alguma coisa?

"Calma Ana, não seja apressada demais. Cada coisa no seu tempo, não vai afastar ela" — Ana pensa nessa frase a todo o momento. Ela se recordou da breve conversa que teve com Daniel no sarau em sua casa. Ele havia dito que Chiara veio ao Brasil para passar por novas experiências na sua carreira, mas que não iria se relacionar com ninguém pois tinha ainda algumas coisas mal resolvidas com o ex namorado. Se lembrava exatamente das suas palavras: "Vai com calma, Aninha. Até onde eu sei, Chiara está aqui para outros fins".

Naquela noite, Ana não estava em condições de saber exatamente o que aquela frase queria dizer. Mas exatamente por isso decidiu fazer as coisas devagar, apenas deixando acontecer o que tiver que acontecer, de forma natural.

É claro que passando aquela noite juntas fez as expectativas da mineira ir além do esperado até mesmo por ela, que sempre tentou ser cautelosa quando o assunto era se apaixonar. Mas suas tentativas de cautela quase sempre falhavam miseravelmente. Afinal, não dá pra escolher por quem se apaixonar, não é mesmo? Senão seria fácil demais.

Seria tão mais fácil se não fosse tão difícil. Mas se fosse fácil talvez não fizesse tanto sentido como estava fazendo agora para a mineira. Poderia não ter tanto significado assim. A própria Chiara falou que não teria graça nenhuma se fosse fácil demais. Então, Ana chega à conclusão de que, se fosse fácil, com toda a certeza, não seria Chiara Civello. Essa mulher, em tão pouco tempo, conseguiu despertar ainda mais o seu interesse em descobrir milimetricamente cada detalhe seu.

Depois de alguns minutos, Ana percebe uma leve movimentação de Chiara sobre o seu corpo, denunciando que ela possivelmente estaria acordando.

Boungiorno, Ana. Come stai? — A italiana falha na tentativa de abrir as suas pálpebras por completo e exibir com maestria as suas íris de tons esverdeados. Com os seus olhos semicerrados, que claramente estavam em uma batalha com a claridade que tomou o quarto naquela manhã de muito sol e calor, e também com uma voz soprosa e sussurrada devido a falta de uso, Chiara acaba provocando involuntariamente um leve arrepio na mineira por sua boca estar próximo da orelha da outra.

Fogueira em Alto MarOnde histórias criam vida. Descubra agora