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violence — blink-182

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O dia começa no meio da noite. Preciso me concentrar no ritmo do baixo em minhas mãos. Estou desestimulado, cansado e sem ânimo algum, mas mesmo assim fui arrastado até aqui. Enquanto Luke canta e Michael se contorce com a guitarra na beirada do palco pequeno, eu sou como o mecanismo do relógio. Sou eu que alimento a música com tempo. Eu estou por trás de cada parte desse momento.

Não temos um baterista, não ainda. Não temos ao menos um nome para banda. Mas mesmo assim, todos os olhares estão em nós. Ou, pelo menos, é o que posso imaginar durante minha cegueira no palco. Alimentamos o espaço pequeno ao fazermos um barulho desarmônico, que soa bem como uma versão crua e despreparada da Blink-182.

Luke canta com a voz aguda:

Like violence you have me forever and after/ Like violence you kill me forever and after.

Suor, rancor e desejo derramam de mim. Isto é libertação, ou talvez seja apenas um pedido de libertação. Acompanho a luz e vejo as pessoas se sacudindo, pulando e assistindo Luke dar seu melhor no microfone, com a guitarra atravessada no peito.

Então a vejo na multidão e me desintegro.

Caramba. Eu disse para ela não vir.

Enquanto ela estava ocupada demais me desfazendo em pedaços, esse era o único fragmento meu que implorei a ela que deixasse em paz, intocável: Por favor, não vá aos shows.

Não quero você lá. E ela disse sim, e na hora não foi mentira. Mas em algum momento passou a ser. E eu me vejo sem o menor controle emocional, porque tudo em minha volta vai do grito ao choro — tudo isso no tempo que levo para ver o formato de seus lábios. Acontece rápido demais, me deixando extasiado de nervoso.

O fato de ela não estar sozinha compromete ainda mais minha atuação como um baixista principiante e amador. Não importa quantos ensaios da banda nós tivemos até esse primeiro show, na noite de Halloween da Tric, o simples fato dela estar acompanhada é capaz de arruinar tudo.

Embora ela vá dizer que veio me ver, não tenho a menor dúvida de que ela veio para que eu a visse. Desfilando com sua nova conquista.

Acabou, ela disse, e isso não soou como a maior mentira do mundo?

Estou cambaleando nas notas, e Luke percebe. Ele se afasta do pedestal do microfone e me xinga sem censura quando é a vez do solo de Michael. Aperto os olhos e tento imaginar alguma realidade paralela em que tudo está perfeito; a vida é perfeita, ainda tenho uma namorada, e o maldito do Ashton Irwin apareceu a tempo do nosso show. Claro que daria errado: Michael o convidou pelo Facebook.

Michael está tocando muito rápido, Luke entra no timing errado e eu preciso correr atrás do prejuízo enquanto ela se inclina para o cara e balança a cabeça como se eu estivesse fazendo esta música para ela, quando, na verdade, se eu pudesse, pararia com tudo e dedicaria a ela um silêncio ensurdecedor equivalente à dor que ela me causou.

Talvez eu seja sentimental demais, mas é a verdade. Ela partiu meu coração.

Esta noite nos apresentamos como 5 Seconds of Summer, mas é um nome novo não-oficial que não deve durar nem três semanas. Afinal, até a próxima apresentação, Michael pode surgir com outra ideia. Geralmente nenhuma delas tem significado. Já fomos The Fuck Offs, The Black Hand-kerchiefs e None of Your Business. Não faço uso do meu voto — a não ser para vetar as ideias mais imbecis de Luke. Ninguém quer ver uma banda chamada Dickache.

𝘳𝘰𝘢𝘥 𝘵𝘰 𝘤𝘭𝘰𝘴𝘶𝘳𝘦 - 𝘤𝘵𝘩Onde histórias criam vida. Descubra agora