YUGO

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stockholm syndrome — blink 182

.・゚゚・.chelsea.・゚゚・.

Então foi a isso que se reduziu minha promissora vida. Não sei quando foi que eu perdi o controle da situação, mas estou sentada no banco do carona de um Yugo, fantasiada de Diabo Vermelho, e o carro cheira a óleo de aromaterapia de patchouli da ASUE. Parece um pequeno ovo de Páscoa pintado de amarelo.

Talvez seja só o carro que não dá a partida, mas parece que é minha vida que não pega.

Sim, o estado deste Yugo, que não responde ao giro da chave na ignição, é um tipo de metáfora de como minha vida se encontra: Afogada.

Para um pobre coitado, Calum é tentadoramente bonitinho. Ele passa o dedo indicador entre o nó da gravata para afrouxá-la, porque está nervoso com a insistência do Yugo em continuar estacionado na esquina da Tric. Behati está deitada no banco de trás, reclamando de alguma coisa que não quero dar ouvidos.

— Ouviu isso? — pergunto a Calum.

— O quê? É o motor pegando?

O pobre coitado não é só bonitinho e bate a cabeça bem enquanto toca, ele provavelmente também é um cara legal.

Pelo menos demonstrou perícia ao manobrar Behati, deusa bêbada, no banco traseiro de um Yugo caindo aos pedaços, e fazê-la pensar que foi ideia dela. Não vamos esquecer que ele beija bem, e que, de fato, merece bem mais do que a ASUE — e um Yugo.

— Não, cara, preste atenção. Está ouvindo esse estrondo martelando lá dentro do clube? Chama-se bateria. É, tipo assim, famoso como a base de som desde as culturas primitivas. — eu digo.

Calum parece desistir, e joga a cabeça para o apoio do banco de couro do Yugo, de olhos fechados.

Começo a bater no painel do carro, fingindo que é uma bateria, na tentativa de aliviar o clima de tensão. No mesmo instante, o porta-luvas abre como se eu tivesse acertado um mecanismo secreto e encontro uma polaroide de ASUE guardada no compartimento.

Behati não é paranóica — ASUE realmente roubou sua camiseta branca com o autógrafo do Travis Baker na parte do peito esquerdo, e ela está a usando naquela polaroide com Calum. Atiro a foto pela janela e me viro para ele, que ainda está de olhos fechados.

Behati se enfia no espaço entre os bancos da frente, olhando fixamente para Calum. Ela ainda não estava na fase bêbada-carente, pós-vômito e pré-sono, o que significa que ela estava na fase inquisitiva. Então, logo na primeira deixa, ela se mete:

— É sério — ela dá continuidade onde eu parei da falar — Motorista. Ei! — e sacode o garoto pelo ombro, fazendo com que ele abra os olhos.

Calum olha para ela, mas rapidamente se vira para mim. Uma menina tão bonita com um bafo tão forte de Martini Bianco.

— Por que você usa sapatos tão feios, hein? Responde, motorista. Por favor? — Behati quer saber. Pergunta com a voz arrastada de embreaguês e junta as sobrancelhas de forma pidona.

— Os sapatos acompanham o carro, Behati. — eu digo a ela. — Os motoristas de Yugo precisam usar essa merda de Converse surrado nos pés. É tipo uma regra.

𝘳𝘰𝘢𝘥 𝘵𝘰 𝘤𝘭𝘰𝘴𝘶𝘳𝘦 - 𝘤𝘵𝘩Onde histórias criam vida. Descubra agora