Capítulo 24

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Acordo com o peso do braço do Hardin sobre mim, ao que parece ele dormiu assim a noite toda, e olho para o relógio na mesa de cabeceira, que marca ainda 8h00.
Com cuidado para não o acordar, afasto o braço e levanto-me, observando por breves momentos a expressão pacífica e o semblante belo do Hardin enquanto dorme tranquilamente.
Depois de tratar da minha higiene matinal, volto para o quarto e vejo que o Hardin ainda dorme, então começo a trocar de roupa de costas para a cama. Tiro a sua t-shirt e não sou capaz de evitar inalar o cheiro maravilhoso típico do Hardin, segundos depois ouço uma voz ensonada:
-Já passou a vergonha de te vestires à minha frente?
Dou um guincho assustada e tapo o meu peito nu com a t-shirt o mais rápido que consigo tentando alcançar a porta da casa de banho. Porém, tropeço sem reparar nos ténis do Hardin e caio no meio do chão com um barulho alto.
O Hardin desata a rir e ouvimos ambos alguém a bater à porta:
-Está tudo bem?- pergunta, simpática, a Karen.
Coro envergonhada e o Hardin responde que está tudo bem, não conseguindo parar o riso.
-Bem, o pequeno almoço já está pronto, quando quiserem podem descer- acrescenta a Karen e vai embora.
Acabo de me vestir e o Hardin também o faz.
-Hum, Hardin?- chamo-o.
Ele vira-se para mim e passa a mão pelo cabelo, os seus músculos destacam-se de uma forma que me faz estremecer.
-Posso... levar a t-shirt?- pergunto agarrando o tecido firmemente.
Ele parece bastante surpreendido com o meu pedido, e confesso que até eu própria fiquei, mas senti-me bem com a t-shirt dele e o seu odor perfumado durante a noite passada.
-Porquê?- pergunta com o típico sorriso matreiro no rosto.
-Bom... ela é bastante confortável para dormir porque me fica bem larga.- minto da melhor forma que consigo e ele dá uma risada aceitando.
Depois de descermos, tomamos o pequeno almoço maravilhoso preparado pela Lucy, na mesa grande da sala enquanto conversamos.
-Que acham de irmos um pouco à praia agora de manhã antes de voltarmos a Londres?- pergunta o Landon.
A Dakota sorri e concorda animada, o Hardin encolhe os ombros perguntando-me:
-Queres ir querida? Se não quiseres podemos começar já a preparar-nos para regressar a Londres.
Ah pois, esqueci-me que ainda estávamos a fingir...
-O tempo está tão bom, devíamos aproveitar a manhã na praia- esforço-me para sorrir o mais realista possível. O Hardin assente sorrindo também, e levanta-se deixando um leve beijo na minha testa.
Depois de acabarmos vamos todos a pé até à praia, já que fica pertíssimo da casa.
Não está muito cheia apesar do tempo agradável, mas ainda se podem ver alguns guarda-sóis e toalhas estendidas no extenso areal.
Sentam-se todos nas suas toalhas exceto o Hardin que, antes que eu me pudesse sentar também, diz:
-Tessa, vem dar um passeio comigo por favor.
Eu pego na sua mão e ele leva-me até beira-mar, começando ambos a andar enquanto refrescamos os pés na água fria.
A certa altura comento:
-Era bom que o Hardin real fosse tão carinhoso, paciente e compreensivo como o Hardin a fingir.
Ele olha para mim com um leve sorriso e diz com uma voz grossa:
-Dizes isso mas não conheces o Hardin real verdadeiramente.
-Pelo que conheço até ao momento não és nada assim.
-Apenas sou assim para aqueles que amo.
Observo a sua expressão serena olhando-o nos olhos quando diz isto e pergunto, um pouco hesitante:
-E quem é que tu amas?
Ele fica imediatamente tenso e sério e olha para a frente com o queixo levantado.
-Ninguém.
-É impossível não amares ninguém.
-Tens razão, amo-me a mim mesmo.
Reviro os olhos perante a sua resposta, é mesmo egocêntrico.
-Bem, o que há para conhecer acerca do Hardin real que eu não conheço?
-Para que precisas de saber?
-Uma namorada falsa deve conhecer o mínimo acerca do namorado falso.
-Ok é justo. Podes perguntar o que quiseres saber.
-Lembras-te de alguma coisa acerca da tua infância, antes de seres adotado?
Ele hesita um pouco em responder mas acaba por dizer:
-Apenas que os meus pais eram muito pobres, e discutiam constantemente.
-Porque foste para adoção então?
-O meu pai deixou-nos, e pouco tempo depois a minha mãe teve que me dar para adoção porque não tinha capacidades financeiras para cuidar de mim, depois fui adotado pelo Ken e pela Karen.- Fico impressionada como é que ele é capaz de falar sobre este assunto com tanta indiferença, apesar de, ao que parece, ter passado momentos bem difíceis quando era mais novo.- Agora não quero falar mais sobre este assunto...
Assinto e continuamos a caminhar lentamente ainda de mãos dadas, apesar de já estarmos bem afastados dos pais dele. Não tinha reparado antes mas o Hardin está particularmente bonito hoje, está com umas calças de ganga e uma camisa clara com as mangas enroladas até aos cotovelos, o seu cabelo está mais bagunçado e uma pequena mecha cai sobre a sua testa.
Passado um pouco ele diz com um sorriso matreiro:
-É a minha vez de perguntar... Já alguma vez namoraste?
Esta pergunta não me trás boas memórias, a verdade é que nunca namorei tanto por causa da minha mãe, que sempre foi muito controladora, mas também por iniciativa própria, porque tive algumas experiências não tão boas com rapazes que me fizeram perder a confiança em namorar.
-Não, nunca...- suspiro e ele nota que fico tensa e distante.
-Porque não?
-Porque eu nunca fui capaz de me abrir para as pessoas, muito menos seria capaz de manter uma relação. As pessoas devem aprender com os seus erros e com o que acontece de mal na sua vida, e foi o que eu fiz.
Imediatamente vejo que o Hardin me observa com um olhar confuso e ao mesmo tempo inquieto.
-Aconteceu alguma coisa de mal contigo?
-Maus episódios com homens no geral...
Ele pára e coloca as mãos nos bolsos das calças dizendo-me:
-Por isso é que tens tantos problemas em confiar em mim.
-Tu não me dás razões para confiar em ti Hardin...
Engole em seco e diz, desviando o assunto:
-Porque paraste ontem? Sei que não querias parar, então porque o fizeste?
-Não queria que avançássemos mais, não estava pronta para isso, e tive medo que se não impedisse a tempo, depois não fosse capaz.
Ele aproxima-se um pouco de mim, ouvindo atentamente as minhas palavras com um certo prazer na expressão.
-Quando estou contigo, tenho medo da pessoa na qual me torno, uma pessoa que não tem autocontrole e que é capaz de fazer coisas que nunca tinha imaginado fazer.
Depois de eu admitir isto, ele diz:
-Não devias ter medo dessa pessoa, ela é apenas o reflexo daquilo que tu tens vindo a retrair e a esconder durante muito tempo.
Fico realmente impressionada com as suas palavras, e lá no fundo, acho que ele pode ter razão. Talvez no meu subconsciente deseje correr riscos e experimentar coisas que nunca pude antes devido ao controlo que toda a minha vida tive por parte da minha mãe.
O Hardin pega suavemente na minha face com as mãos e diz num tom sereno:
-Eu disse-te que podíamos ir a teu ritmo, mas neste momento apenas preciso que digas que vais tentar confiar em mim daqui em diante, e eu prometo que te vou dar razões para isso.
Ficamos a olhar-nos nos olhos durante o que parece ser uma eternidade, e finalmente suspiro:
-Eu vou tentar...
Momentos depois os lábios do Hardin unem-se aos meus num beijo doce e mais lento do que alguma vez tinha acontecido, de forma que eu consigo aproveitá-lo completamente.
-Os teus pais não estão a ver...- digo tentando separar a boca da dele, sem sucesso- não precisamos de fingir.
Ele demora um pouco a abrir os olhos para dizer:
-Não estamos a fingir, eu não estou...
Abro também os olhos mas não consigo achar forma de responder, então limito-me a dar levemente um último beijo nos seus lábios um pouco inchados antes de dizer:
-Talvez devêssemos voltar...
Ele concorda e voltamos para onde os restantes estão.

After- A whole new storyOnde histórias criam vida. Descubra agora