Há um lugar (Parte 5)

41 13 5
                                    

É, eu sei. Minhas aulas já deveriam ter começado há quase um mês, desde a última vez em que eu disse: "Hoje é a minha última semana de férias antes de voltar para a rotina corrida das aulas". A real é que precisaram adiar por problemas no corpo docente e eu comemorei baixinho quando recebi o e-mail.
Se passou uma semana desde que eu pedi Susie em namoro e eu ainda não contei para a minha mãe. Algo em mim diz que ela vai ser compreensiva, mas eu tenho medo. Na minha cabeça, tudo dá errado antes mesmo de eu tentar. E se eu adiar demais e Susie se cansar? Eu não sei, eu...

Hoje começa as aulas. Na verdade, estou no ônibus a caminho de lá e só consigo pensar nela enquanto ouço as antigas da Rihanna. É a discografia preferida dela. Quando eu estou mal, sinto que ela não é sincera o suficiente comigo. Conveniência, talvez?

- Oi, namorada. - Ela diz, me puxando pela mão quando eu atravesso a rua e entro no Campus.
É como se ela estivesse me esperando alí desde sempre. É algo que fazíamos antes, mas me parece novo.
"Oi, namorada", as palavras ecoam na minha mente.

Eu não sei bem como responder, então a abraço e dou um beijinho na bochecha.

- Oi, meu anjinho. - Digo e seguimos juntas para a sala de aula.

Eu não mencionei antes, mas Susie e eu somos graduandas do mesmo curso. Vir para a mesma instituição não foi coincidência, mas nós duas sempre fomos apaixonadas por psicologia.

Nossos dedinhos se entrelaçam no caminho.

****

Não consigo me concentrar na aula de hoje. Só escuto palavras soltas que se enroscam com os meus pensamentos.

"...estagiários"

Ela não me ama.

"...lá na clínica-escola..."

É só conveniência...

"Eva..."

Todos aqui me odeiam.

- Eva? - Susie me cutuca na costela com uma caneta. - Você está bem?

Eu sou puxada de volta para a realidade.

- Eu só... não estou me sentindo aqui.

Me levanto abruptamente e corro para o banheiro. Lavo as mão mais vezes do que eu posso contar. Lavo o rosto, o pescoço, o antebraço. Eu choro e choro.

Não sirvo para estudar. Eu sou um fracasso. Eu não sirvo para nada. Nada. Minha namorada não merece alguém como eu. Nem a minha família. Todos me odeiam e eu sei disso. Eles só fingem para parecer conveniente. Eles só fingem. Eu sou uma farsa. Quem vai querer algo com alguém como eu? CID F20.0? Sério? Eu sou uma patologia ambulante, eu...

- Eva! - Susie entra no banheiro e me abraça por trás. Eu estou apoiada na pia. Nesse momento, me dou conta de que ela é mais baixa que eu - Ei... vai ficar tudo bem. Olha pra mim. - Eu me viro - Vai ficar tudo bem. - Ela seca o meu rosto com um lenço de papel - Eu estou aqui pra você. Vem cá, vamos tomar uma água. - Ela segura a minha mão.

Depois do bebedouro, fomos sentar na escada da saída de emergência.

- Está mais calma agora?

Faço que sim com a cabeça.

- Ótimo. - Ela coloca a mão na minha - Você não precisa falar sobre nada se não quiser, mas saiba que eu estou aqui com você. Não precisamos voltar para a aula agora se você não quiser também. Não está rolando nada de mais.

- Susie... - digo, no meio de um soluço - você realmente gosta de mim? De verdade?

- Que pergunta é essa, meu amor? Olha pra mim. - Ela segura o meu rosto com as duas mãos - Eu amo você.

Para Onde as Moscas Vão Quando AnoiteceOnde histórias criam vida. Descubra agora