O demônio

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É 31 de outubro de novo.

Ela se veste com seu traje de bruxa, notando como a parte do forro que rasgou no dia anterior para enfaixar a cabeça do morcego — o que acabou não sendo necessário — está completamente reconstruída, como se nada tivesse acontecido.

Por mais curioso que isso seja, ela tem outra prioridade no momento, que no caso seria checar as gavetas da escrivaninha e do guarda-roupa em busca de algo que nem faz questão de ter: uma foto.

A foto seria a prova de que fez as escolhas certas no jogo e conseguiu um good ending. Ela ficou um pouco na dúvida se teria escolhido certo na rota do fantasma e do lobisomem, então compreende não ter ganhado a foto, mas na rota do vampiro? Ochako ofereceu seu sangue a ele, se o Todoroki não quis tomar, aí já é escolha dele, não dela, não é?

Não é?

Ela suspira, não tendo ideia de como isso verdadeiramente funciona. É necessário assumir que, ao ver a Mina e a Toru jogarem esses otome games de maneira tão apaixonada, Ochako torcia o nariz por achá-los um tanto bobos. Não que ela tenha mudado de ideia totalmente, mas... vivenciar um joguinho desses na pele é uma experiência completamente diferente. Sim, as histórias são meio sem pé nem cabeça. Sim, os pretendentes fazem coisas estranhas que a deixam com vontade de abrir um buraco no chão e se esconder de tanta vergonha. Sim, é cansativo ter que pensar no que dizer com medo de uma porcentagem aleatória, mas... — e é incrível até pra si própria que ela consiga pensar em um "mas" — tudo isso é... um tanto...

Desafiador.

E podem até pensar que não, mas Ochako adora desafios. E saber que conseguiu vencer pelo menos um desses lhe deixaria bastante satisfeita, mesmo que ainda ache tudo isso aqui muito bizarro.

— As fotos vão estar mesmo no meu quarto? — ela pergunta assim que avista o Bakugou, quase se esquecendo de cumprimentá-lo, talvez fosse melhor nem tem dito mesmo, já que ele, claro, nem se deu ao trabalho de responder ao seu "bom dia".

— Têm que ficar num lugar onde você pode ver fácil, ou então em algum lugar que não existia antes e existe por causa desse evento de merda. — ela o encara, muito curiosa — Que foi?

— Quantos joguinhos desses você já jogou?

— Que te interessa isso?

— Eu só tô curiosa, porque você realmente sabe bastante... — ela analisa — E sei lá, esses joguinhos podem ser bem... hã... como eu falo?

— Idiotas?

— Bom, não é bem essa a palavra, mas... é, não parece algo que você gostaria, sei lá, porque esses otome games são-

— Eu não jogo otoge, só galge. — ele a interrompe, desviando o olhar.

— Hum?

— Otoge é isso que a gente tá, galge é o contrário, um protagonista e um monte de menina no pé dele.

— Ah sim... — mesmo que ele não diga mais nada, Ochako analisa as implicações disso, e então entende — Ahhhh sim!

— "Ah sim" o quê, Cara de Lua? Tava achando que eu ia curtir otome game com um bando de moleque idiota indo pra cima de uma menina besta?

— Hã? — ah... então ele tá preocupado com isso? — Ah não, Bakugou-kun! Imagina, eu... bom, não teria problema se você gostasse de otome games, eu não... eu não tenho nada contra! — ele vai fechando mais a cara, só falta cruzar os braços pra parecer uma criança emburrada, então ela sorri nervosamente, tentando apaziguá-lo — Como eu disse, só... não é algo que eu te imaginaria gostando.

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