Todos me avisaram, mas eu sou teimosa. Não escutei.
🎭
Após o almoço animado, pelo menos para uma boa parte dos órfãos, a mama - como todos se referem a Isabela - chamou a mais nova moradora para lhe explicar algumas regras do lugar. Coisas básicas para o convívio social com as outras crianças, mas uma regra em especial fez com que Emma ficasse mais curiosa ainda sobre o local.
Regra 14: Não se deve entrar no quarto do fim do corredor esquerdo, muito menos desacompanhado e nem mesmo acompanhado. O quarto deve se manter fechado, sendo aberto apenas pela diretora.
- Porque não se deve entrar lá? - a ruiva questionou.
- É uma história triste, e o dia está muito bonito para isso - "Por favorzinho" a ruiva fez carinha pidona até Isabela concordar. A mulher levou o dedo indicador a boca e pediu segredo - Não conte aos outros, apenas os maiores de 8 anos sabe disso. - Emma concordou repetidas vezes com a cabeça. - A alguns anos atrás, Norman, um órfão aqui do Grace House, sofreu um grave acidente dentro daquele quarto e acabou perdendo a vida, desde então o quarto se mantém fechado.
Emma não engoliu aquela simples explicação, ainda mais com a frase do senhor eu não quero amigos rondando em sua cabeça "pergunte para a Conny".
- Quem é Conny? - "Eu falei isso em voz alta?" Emma quase se bateu por ser tão burra e não conseguir controlar a língua.
Mas ao ver o rosto de Isabela perder a cor, ela soube que havia feito a pergunta certa. Mas isso era bom ou ruim?
- Q-quem te falou dela? - Mama questionou, fazendo a ruiva se questionar sobre contar a verdade ou mentir.
Optou pela verdade, Ray parecia ser chato de mais para que ela o protegesse.
- Aquele garoto emo, o tal de Ray - a garota gesticulou com as mãos.
- Ray - Isabela ficou pensativa, mas por pouco tempo, logo colocou um sorriso no rosto e disse para Emma ir brincar com o resto das crianças. Após a garota sair Isabela desfez o sorriso e fechou a mão, apertando a palma da mão até ficar branca. - Teremos uma conversinha mais tarde, Ray.
Já do lado de fora Emma passava a mão pela parede, entediada, mas sem prestar a devida atenção, o que fez ela levar um susto ao passar a mão na cara de um dos outros moradores.
Ela gritou e ele xingou.
- Você não presta atenção no que faz? - Ray questionou, ele havia acabado de sair da biblioteca.
- Você que aparece do nada, parece um gato, sorrateiro e misterioso - ela murmurou cruzando os braços em frente ao peito - sabia que eu odeio gatos? É, eu os odeio. Sempre se achando melhor do que os outros, com um ar de superioridade. Egocêntricos, é essa a palavra.
- E o que eu tenho haver com isso? Eu apenas perguntei se "você não presta atenção no que faz?" - Ray revirou os olhos. - Não perguntei sobre o que você gosta ou não.
- Chato - a ruiva mostrou a língua para o moreno.
- Não ligo.
🎭
Já era tarde da noite e Emma ainda não havia conseguido dormir. A ruiva se sentou na cama e olhou em volta, as outras crianças dormiam profundamente, menos ela.
A garota ouvi ruídos vindo do lado de fora, olhou para a porta que estava aberta e pode ver um rato correr pelo corredor e atrás dele um gato preto. Emma agora ainda mais acordada, calçou as pantufas que havia ganhado, e foi até a porta na ponta do pé para não acordar nenhuma das outras meninas.
Assim que ela chegou no corredor viu apenas o rabo do gato passar pela porta do quarto que não se deve entrar.
Ficou dividida entre ir atrás ou voltar para a cama.
Decidiu ir atrás dos dois animais, ela não conseguiria dormir mesmo. Foi em passos lentos e silenciosos até a porta do quarto e colocou a mão na maçaneta. "Eu não deveria fazer isso" pensou "Isabela disse para não entrar" se alertou novamente, mas a curiosidade era muita "Só uma olhadinha não faz mal" se convenceu.
A ruiva, agora finalmente, pronta para abrir a porta foi impedida novamente.
- Mais caramba! - exclamou a ruiva logo levando a mão a boca, com medo de ter falado alto de mais.
- Shiiii - Ray estava saindo do quarto que não se deve entrar. - quer que todos acordem?
- Não, mas você me assustou saindo daí quando eu ia ent- ei? O que você estava fazendo aí dentro? - perguntou ao se tocar que o garoto estava saindo daquele quarto.
- Nada que seja da sua conta - ele deu de ombros e Emma se segurou para não lhe dá um tapa. - mas e você, não deveria estar na cama?
A ruiva pensou em ser grosseira, mas lembrou que sua mãe sempre lhe dizia para tratar os outros como queria ser tratada. Não sabia se isso funcionaria com o senhor não quero amigos, mas pelo menos tentaria já que precisaria conviver com o mesmo.
- Vi um gato preto correndo atrás de um rato - disse ela. Depois apontou em direção ao quarto - depois vi ele entrando aí.
- Achei que não gostasse de gatos, anteninha - o garoto debochou de seu cabelo desarrumado.
Emma bufou irritada. Não dava para manter uma conversa civilizada com Ray, o garoto não deixava.
- E não gosto! - deixou bem claro. - apenas fiquei curiosa, já que estava sem sono. - Emma parou de falar e se questionou o porque de estar respondendo o garoto - quer saber, não te devo satisfação sobre o que eu faço ou deixo de fazer.
- É, realmente não deve - Ray concordou. Emma novamente ponderou sobre lhe dar um tabefe - mas deixa eu lhe dizer uma coisa, anteninha.
Novamente o garoto se aproximou fazendo a ruiva se arrepiar, e então bem perto de sua orelha Ray lhe disse:
- A curiosidade matou o gato.
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O outro lado | TPN
Fanfiction𝐎 𝐎𝐔𝐓𝐑𝐎 𝐋𝐀𝐃𝐎 | OBRA CONCLUÍDA. Emma havia acabado de perder os pais para um acidente de carro, a garota acabou sendo mandada para o orfanato Grace House, o lugar a princípio parecia ser só um lugar normal, para órfãos normais. Mas não era...