Capítulo 16

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"Há instantes em que os homens são senhores do seu destino."

Willian Shakespeare

Eu sabia que estava sonhando quando vi Juliana; estava vestida modestamente, caminhando em meio a uma horta. Parecia ter uma vida simples, diferente de quando vivera sob os cuidados do irmão, mas ela irradiava felicidade. Desenterrou uma raiz com as mãos delicadas e pareceu notar minha presença, então, levantou o olhar e sorriu. Eu me aproximei lentamente e ajoelhei-me ao seu lado.

— Obrigada. — ela sussurrou.

Abri os olhos e notei a luz da manhã. Era dia, apesar da chuva que caía lá fora. Uma chuva torrencial e insistente que permaneceu por toda a manhã. Eu me sentia numa leveza que era impossível de explicar. Estava terrivelmente curiosa sobre o que haveria na carta que Juliana deixara para Miguel, mas, ao mesmo tempo, parecia não me importar. A sensação de dever cumprido me preenchia e, apesar de boa, me causara certo medo ao dormir. Eu senti medo de acordar em minha casa, de partir tão inexplicavelmente como havia chegado, e a alegria que me invadiu ao abrir os olhos e perceber que ainda estava ali, que ainda poderia ver o homem que eu amava, me fizera enxergar o quanto tudo aquilo era importante para mim, o quanto a minha felicidade estava ligada aquele lugar.

Arrumei-me naquela manhã com o vestido mais delicado que encontrei; queria demonstrar o quanto estava leve de espírito, até mesmo através da minha aparência. A paz que me invadia merecia ser compartilhada, merecia ser revelada em toda a sua glória e eu me sentia prestes a sair rodopiando pelos corredores daquela mansão.

Nada mais me parecia estranho ali, tudo era perfeitamente agradável. Não me importava a falta de energia elétrica, não me importava o desconforto natural por não ter a tecnologia a minha disposição. Tinha aprendido muitas coisas naquele lugar, como, por exemplo, dar valor às coisas simples da vida, em todos os sentidos, porém, a mais importante delas foi a descoberta do amor verdadeiro. Não digo nem mesmo o amor romântico, mas o amor sacrifical, puro, aquele que não vê apenas as suas vontades, mas que age pelo benefício do outro. A conversa que tive com Miguel na noite anterior me revelou muitas coisas. Ele não era egoísta como havia julgado que fosse; tudo que fez e falou foi para proteger as pessoas que ama. Preferiu ser julgado e desprezado por toda a cidade a permitir que a irmã tivesse a honra manchada. Mentiu para mim, porque, a seu ver, não havia outra saída além de me mandar de volta ao meu lar e para que eu não sofresse, preferiu que eu sentisse raiva dele.

Eu tinha compreendido! As entrelinhas de nossa conversa estavam tão visíveis quanto as palavras que foram verdadeiramente pronunciadas. Eu amava Miguel, e ele me amava! Saber que o havia ajudado me trazia um sentimento de paz que parecia inesgotável. E paz era uma sensação inexplicável. Adorável. Era a felicidade mais genuína que alguém poderia sentir. Os sentimentos de paz em meu coração se misturavam a um carinho sem tamanho por Juliana, e o amor que sentia naquela manhã por Miguel parecia tão grande, que não poderia ser contido, e transbordava em pequenas lágrimas que escorriam timidamente pelo canto dos meus olhos.

Eu queria vê-lo, precisava olhar em seus olhos negros e sentir a leveza que provavelmente estaria sentindo depois de ler aquela carta. Com certeza era algo bom, que o faria feliz e finalmente livre! Eu precisava ouvir a sua voz, me derreter em seu abraço... Eu queria vê-lo e definir meu futuro.

Saí do quarto sem saber direito por onde deveria começar a procurar por ele. Resolvi descer para o almoço, mas quando cheguei à sala de refeições, não havia ninguém; nem Miguel, nem Guilherme, e a mesa não estava posta. Senti um aperto no peito e procurei por Nanette. Encontrei-a dando ordens a algumas criadas na cozinha.

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