Capítulo 5

59 1 1
                                    

                                          " O verdadeiro nome do amor é cativeiro" - Willian Shakespeare

Acordei quando o dia já ia alto. Mas naquela manhã – ou tarde –, não acordei pensando em voltar para casa. A noite anterior tinha sido no mínimo curiosa. Primeiro o tal Conde me considerou uma prostituta e me irritara ao máximo com sua arrogância, depois, como se nada tivesse acontecido, me tratou como uma dama.

O que falavam sobre ele, afinal? Lembrei-me de seu semblante sereno e, também, me arriscaria a dizer, um pouco triste, e me perguntei por que aquilo parecia atormentá-lo tanto. A primeira impressão que tive do Conde Di Ângelo foi de um homem autoritário, cheio de si, que não se importava com o que pensavam dele, mas depois daquela conversa, durante a madrugada, notei que, de fato, deveria haver motivos para deixá-lo tão inquieto quanto a sua reputação.

Um frio percorreu minha espinha. "Ele não me parece perigoso" – concluí. Mas como confiar num homem como aquele, que em um momento grita comigo e no outro me oferece chá?

Espreguicei-me na cama e senti meu corpo amolecer. Era o segundo dia que passaria longe de casa. Como estaria minha vida em 2012? Se eu fechasse meus olhos, conseguiria ver os rostos de papai e mamãe, além de seus olhares preocupados com a minha ausência. Deviam estar sofrendo, e eu gostaria de poder dizer que estava bem.

Mas eu estava realmente bem? O que foi aquilo que senti na noite anterior, quando fui amparada pelos braços fortes do Conde? O coração disparado, a tristeza por pensar que em breve ele não mais existiria... Como fui deixar que ele mexesse tanto comigo? Eu que sempre tive a cabeça no lugar! Não podia me permitir ter esse tipo de pensamento sobre ele, meu foco deveria

ser voltar para casa. Então, balancei a cabeça rapidamente para desanuviar os pensamentos.

Levantei da cama disposta a esquecer as sensações que o Conde despertava em mim. Queria voltar para casa, para minha vida. Em 2012, muitos problemas me esperavam: fui demitida, minha melhor amiga estava em apuros, eu tinha que dar um jeito de conseguir outro emprego para garantir a faculdade... Mas nada disso fazia sentido se eu não resolvesse o maior dos meus problemas: meu próprio desaparecimento. Eu precisava encontrar um jeito de voltar.

Olhei para a banheira e senti falta do meu chuveiro quente. Não que não fosse bom mergulhar meu corpo naquela água morna, mas a praticidade de se abrir uma torneira e deixar que a energia fizesse o resto era algo mágico. A água era fria demais para que eu enfrentasse um banho sem água aquecida, e eu decidi que não queria incomodar ninguém naquele momento. Abri o guarda roupas e escolhi o vestido mais simples que encontrei. Um pensamento engraçado me fez sorrir. Por que um homem que mora aparentemente sozinho teria um quarto cheio de vestidos? E o mais curioso, todos eles pareciam feitos sob medida para mim.

Vesti-me devagar, dando atenção aos pequenos detalhes da vestimenta; por mais simples que fosse, era um belo vestido, e eu nunca teria um daqueles em minha época. Apreciei minha imagem no espelho e me lembrei dos romances de banca que tanto li. Aquele acontecimento em minha vida daria um bom romance, com um Conde atraente e uma desvairada que viaja no tempo. Pensando nisso, não pude conter uma risada. Os ares daquele tempo estavam me afetando mais do que supus.

Balancei a cabeça, reprovando meus pensamentos, enquanto um sorriso tolo se formava em meus lábios. Romance... Lá estava minha mente fértil colocando o Conde novamente onde ele não deveria ficar.

Sentei em frente à penteadeira e penteei meus cabelos lisos. O que se poderia fazer com um cabelo como o meu? Abri uma pequena caixa sobre o delicado móvel e encontrei várias fitas de cetim. Uma delas combinava

perfeitamente com o vestido que usava. Passei pelos meus cabelos e arrematei com um pequeno laço. Girei para que o laço ficasse escondido em minha nuca, transformando a fita numa tiara. Fitei meus próprios olhos. Eles brilhavam em um tom de azul intenso, e a moça no espelho pareceu querer me dizer algo.

Mistérios do Destino - Atemporais Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora