Capítulo 8

3 0 0
                                    


"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder aquilo que com frequência poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar"

Willian Shakespeare

A noite que deveria ter sido perfeita acabou de forma dolorosa. Fui beijada pelo homem que amava, e a sensação que me envolveu naquele beijo foi de que ele sentia o mesmo por mim, mas a realidade me atingira como uma pedra, fazendo-me cair do meu cavalo de sonhos. Eu não o conhecia. E agora o temor de que ele fosse mesmo um assassino me fizera estragar tudo. Ele estava aborrecido comigo. Se fosse um assassino, talvez eu corresse riscos, mas... e se não fosse?

Miguel desceu da carruagem primeiro, e ao sair ofereceu-me a mão para que eu saísse também. Por um breve momento, hesitei. Não sabia se seria prudente tocá-lo. Aquele homem tinha um poder extraordinário sobre mim. Muito mais do que eu podia querer, muito mais do que eu podia explicar. O que eu sentia quando me tocava era demais, era além do imaginável, além do desejável... Eu não era capaz de controlar meus suspiros e, mesmo ali, com certo medo, não podia controlar o coração enlouquecido que batia dentro de mim.

Seu olhar estava distante e visivelmente aborrecido, e resolvi não aceitar sua mão. Eu não podia simplesmente esquecer que Miguel era um mistério para mim, não podia me entregar ao que meu corpo clamava tão ardentemente; e, definitivamente, tocá-lo não ajudaria nem um pouco. Desci sem me apoiar em sua mão e evitei olhá-lo nos olhos. Eu sabia que aquela minha pequena decisão o afetaria, a julgar pelo modo como me beijou na festa e... meu coração apertou, minha mente e minha vida estavam de cabeça para baixo, sem nenhuma coerência, sem nenhum norte! Em um momento eu fugia, em outro desejava pular em seus braços.

Mas eu escolhera não aceitar sua mão e sabia que no fundo aquilo iria feri-lo, então evitei enxergar a dor e me encaminhei diretamente para o quarto.

_____________________

Naquela noite o sono me trouxe pesadelos.

Eu via Juliana. Frágil, pálida, meiga. Via seus olhos negros... Ela me olhava profundamente e parecia prestes a me contar algo, mas então eu via Miguel; ele parecia não me ver e estava furioso com a irmã. Brigava com ela, sacudia-lhe os ombros... Eu era então transportada para o jardim e via o corpo sem vida de Juliana caído na grama. Olhava para a sacada e via Miguel com o olhar furioso... Então eu percebia que eu mesma estava caindo... Caindo em um penhasco profundo em direção ao mar.

Acordei assustada. Suada e gritando. Que sonho terrível! Que medo absurdo me invadiu! Eu não queria acreditar que Miguel fosse um assassino. Haveria provas de que fora ele? E, se sim, por que ele havia sido perdoado? Teria realmente vendido a alma? O que ele era? Quem ele era?

Um medo sombrio passou sobre mim e não consegui mais dormir. Eu tinha que descobrir a verdade. Precisava descobrir o que havia acontecido realmente.

Alguém bateu à porta e senti um gelo no coração. Era plena madrugada, seria Miguel? E se fosse, o que queria? Talvez, se eu ficasse em silêncio, ele pensaria que eu estava dormindo...

Novas batidas na porta. Eram batidas suaves, mas eu já me encontrava bastante assustada, então, imaginar o pior era fácil para mim.

— Eu sei que está acordada, Amanda, por favor, abra a porta. — sua voz parecia tranquila. Respirei fundo. O que estava acontecendo comigo? Eu estava com medo dele? Com medo do homem que me beijara horas antes? Aquilo era ridículo demais, até mesmo para mim.

Caminhei devagar e abri apenas uma brecha na porta.

— Oi... O que... O que quer? — tentei disfarçar minha agitação enquanto colocava os cabelos atrás da orelha.

Mistérios do Destino - Atemporais Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora