— Ela não veio hoje. – Jackson sussurra encarando a porta da academia enquanto retira a faixa das mãos.
— Será que...
— Sim. Provavelmente. – Jackson responde pensando na hipótese mais óbvia. Ela foi agredida novamente.
O tempo lá fora fechou. Tomas recolhe apressado suas coisas e retira as faixas das mãos.
— Sabe. Se eu pudesse... eu bateria tanto naquele cara que faria todos os dentes dele cair. – Tomas rosna cabisbaixo.
— Eu bateria nele até vê-lo morto.... – Jackson sussurra voltando para dentro do escritório.
Em cima da mesa, vários papéis, boletos e avisos da hipoteca atrasada.
— Eu já vou indo! – Tomas avisa jogando a mochila nas costas e saindo da academia. Ele escora a porta enquanto um fino chuvisco já começa a cair.
O jovem gosta de correr sempre durante o pré e pós-treino. Desde que conheceu Elise passou a correr pela rua dela apenas para ver a movimentação.
Está tudo quieto...
Jackson suspira recolhendo os papéis e analisando um por um. A noite caiu lá fora, assim como uma forte chuva.
Ele escuta passos no beco.
— Seria ela caminhando a essa hora?
Deixa tudo na mesa e vai em direção a porta, o beco está quieto.
Controla o susto que tomou ao ver a pequena figura feminina amuada no canto ao lado da porta, coberta pelo moletom encharcado, cabelos escorridos e cabeça baixa. Ele observa as mãos delicada e magras que abraçam as pernas encolhidas, mãos que sangram por cortes.
— O que vai ser na próxima? – Jackson pergunta seco encarando a parede a frente da porta do outro lado do beco, enquanto as gotas da chuva chicoteiam o chão.
— Não se incomode. Eu só preciso de um momento no meu próprio espaço... – A garota diz e Jackson assiste o momento quando uma gota de coloração diferente toca as mãos da garota.
— Vai pegar um resfriado. Entre!
— Não quero incomodar...
Jackson se abaixa, pegando Elise nos braços com se fosse um objeto tão delicado que o mínimo impacto poderia quebra-la, e a levando para dentro, fecha a porta com o pé e a coloca sentada no banco frente ao ringue.
O lutador afasta o capuz, revelando o corte na testa que sangra por todo rosto.
— Fique aqui. Eu ja volto.
Jackson se afasta, deixando Elise sozinha na academia. Ela se da o luxo de deixar uma lágrima escorrer.
Ela queria ter conhecido alguém como Jackson para cuidar dela depois do acidente que matou seus pais e a deixou desamparada. Tudo que lhe restou foi aceitar o convite de namoro do primeiro cara que ofereceu abrigo.
Maldito dia!
Elise toca a testa, sente a dor ao toque e afasta seus dedos, observando o próprio sangue que banha os banha.
Jackson retorna apressado, com uma maleta em mãos e mais algumas coisas. Se ajoelha frente a garota, sentando sobre os calcanhares e usa uma toalha para limpar o sangramento que banhava o rosto da garota. Ele leva as mãos ao ziper do moletom velho e encharcado, mas Elise o impede.
Jackson a encara sem expressão, buscando nas íris castanhas com fios verdes a alma da garota que parecia ter abandonado seu corpo.
Ela desiste e Jackson prossegue, ao abrir a blusa, seu estômago se encolhe com um frio que o passa. Respira fundo para não chorar por ela.

VOCÊ ESTÁ LENDO
No Limite
AcakApós muito tempo sofrendo o próprio inferno e cansada de sua situação, Elise toma uma atitude contra seu agressor. Mas não foi fácil tomar essa decisão, não tendo para onde ir ou com o que viver, ela se sujeitou por muito tempo a Sebastian, com...