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- Isso é um batom novo, Seulgi? - Jennie perguntou, roubando o objeto das mãos de Seulgi antes que esta pudesse impedir.

- Sim. - ela respondeu, tomando o objeto de volta das mãos da amiga - E não, não pode usar.

Jennie formou um bico, franzindo o senho.

- Porque não? - quase miou, dramática.

- Jen, uma coisa era dividir um batom com você. Agora, eu divido com você e todas as pessoas que você anda beijando. Não quero ficar doente. - Seulgi explicou, guardando seus pertences na necessaire e levantando-se do banco em que estavam sentadas.

– Estou pensando em uma resposta pra você ainda. Aguarde. – Jennie também se levantou, deixando o vestiário com a amiga em seguida.

– Enquanto você pensa eu estarei ali – Seulgi apontou para um canto qualquer fora do ginásio – me escondendo da professora de educação física.

– Nunca vou entender como você não se mete em encrenca por matar essa aula. É impressionante, Kang Seulgi. – Jennie disse, juntando os cabelos em um rabo de cavalo baixo.

– Prós de ser filha da diretora. – Seulgi franziu o nariz, se afastando da amiga – Até o intervalo.

– Sortuda do caralho. – Jennie murmurou, acenando para Seulgi enquanto esta deixava o ginásio.

Seulgi, já com os airpods brancos no ouvido e com uma música alta tocando, fez seu caminho habitual até o terraço de um dos prédios escolares, vez ou outra comendo um pedaço dos biscoitos que havia enfiado em seu bolso do moletom.

– Ah, a paz. – ela disse ao chegar, erguendo os braços para o alto e sentindo a leve brisa gelada batendo em seu rosto. O inverno já estava dando os seus sinais, o que significava também que um recesso escolar estaria logo chegando. Seulgi mal podia esperar para passar seus dias de baixo da coberta, maratonando filmes de natal e se empanturrando de seus biscoitos favoritos com a companhia de ninguém além de si mesma. Um sonho de princesa.

Ao decidir que já havia passado tempo o suficiente parecendo uma idiota sentindo o vento de braços abertos, a Kang enfiou as mãos nos bolsos mais uma vez, dessa vez apenas mantendo-as em contato com os poucos biscoitos restantes. Andou até o velho e comprido banco de madeira que havia no local, deitando completamente sobre ele e fechando os olhos, fazendo parecer como se estivesse dormindo para qualquer um que passasse ali.

Bom, não que alguém passasse ali além de Seulgi com frequência. Eram ocasiões extremamente raras. Seulgi, pelo menos, havia experienciado a presença de outra pessoa aqui com ela no terraço apenas 2 vezes. Todas acidentais.

Naquela manhã, no entanto havia sido diferente.

– Garota, acorda.

Seulgi abriu os olhos instantaneamente ao sentir duas mãos em seus ombros, sacudindo-a levemente.

– Ufa, você ta viva. – disse Irene, a dona de tais mãos que acordaram Seulgi de seu quase cochilo, jogando seus cabelos pra trás.

– Irene, que merda? – Seulgi se sentou rapidamente, um pouco irritada. Não gostava da presença de Bae, e muito menos de ser acordada.

– Eu que pergunto. Por que estava desmaiada num banco público? – Irene disse, franzindo as sobrancelhas e cruzando os braço.

– Banco público...? – Seulgi fez uma careta – Irene, olhe ao redor. Ninguém vem aqui. E onde eu estou desmaiada não é bem da sua conta.

– Estamos tendo aula de educação física. – Irene disse, ignorando as palavras anteriores de Seulgi, como de costume. A Kang suspirou, revirando os olhos.

– E?

– Devia estar lá. – Irene praticamente arregalou os olhos, tentando mostrar que estava dizendo o óbvio.

– O que você quer, Bae? – Seulgi perguntou em outro suspiro, enquanto se levantava do banco. Irene havia estragado completamente seu momento, então não havia mais motivo para ficar ali.

– Nada. Só acho injusto que você fique matando aula por ai enquanto o restante dos alunos, que não são filhos da diretora, tem que correr atrás. – Bae respondeu, e Seulgi revirou os olhos tão forte que jurou ter visto uma parte de seu cérebro.

– E o que você não esta fazendo na aula? – Ela perguntou, ao perceber a certa hipocrisia na fala da mais velha.

– É diferente. – Seulgi, que já andava em direção a saída, virou-se bruscamente na direção de Irene ao ouvir essas palavras.

– O que é diferente? – Perguntou, franzindo as sobrancelhas.

– Eu... eu me machuquei. – Irene respondeu, um pouco hesitante. Seulgi inclinou a cabeça para o lado, tentando entender a garota. Para Kang, Irene parecia estar como sempre – Acho que torci o tornozelo. – explicou.

– Por que não está na enfermaria, então? – Seulgi perguntou, mesmo que desinteressada.

– Ah, eu não posso. Estou me escondendo até a dor passar. Não deve ser nada. – Ela disse. Seulgi ficou ainda mais confusa.

– Se escondendo...? – Perguntou, mas parou ao perceber que aquilo estava se tornando uma conversa grande demais entre as duas, o que, definitivamente, não era do interesse de Seulgi – Quer saber? Nem me explique. Eu não tenho nada haver com você matando aula ou não. Então, ehr, eu vou nessa.

– Uau, você é impressionante rude. – Irene murmurou, alto o suficiente para que Seulgi ouvisse e se torna-se a ela mais uma vez – Sei que não gosta de mim, mas pensei que tivesse algum senso de educação.

– Você é completamente insuportável, Bae Irene. – Seulgi disse, olhando fundo nos olhos da outra garota. Irene engoliu em seco quando a mesma começou a se aproximar – E eu estou a isso aqui – Seulgi juntou o mindinho e o dedão da mão direita, deixando um mínimo espaço entre eles enquanto erguia a mão na altura do rosto – de te dar um tapa. Por pura diversão.

– Ahm... – Irene tentava não mostrar-se afetada por Seulgi enquanto começava a dar pequenos passos para trás, na intenção de não deixar a mais nova se aproximar. Porém, toda a pose que Irene mantinha no momento foi completamente pelo ralo quando, em uma de suas pisadas para trás, acabou colocando peso demais em seu tornozelo machucado, deixando um grito dolorido escapar e debruçando no chão.

Seulgi arregalou os olhos, surpreendida pelo grito e queda repentinos de Irene. Por um segundo, até se esqueceu que estava sendo corajosa o suficiente para enfrentar a Bae pela primeira vez.

– Caralho. – Irene disse alto, gemendo de dor em seguida. Estava com os joelhos abraçados contra o peito, enquanto segurava com força o tornozelo direito.

– O que aconteceu?! – Seulgi perguntou.

– Não esta vendo, sua idiota? Eu cai, por sua causa. – Irene choramingou – Puta merda, acho que eu to vendo estrelas.

– Ta doendo tanto assim? – Seulgi fez uma careta, lutando contra a vontade de abaixar e analisar o tornozelo da garota para confirmar se estava machucado de verdade.

– O que você acha? – Irene levantou o olhar e murmurou, baixinho dessa vez. Sua voz e rosto estavam afetados pela dor que sentia, e agora, Seulgi podia notar que Irene chorava de verdade.

Kang não sabia o que fazer.

Bae era praticamente sua inimiga.

Mas também era uma humana, assim como ela. E naquele momento, precisava de ajuda.

– Vamos, levante. – Seulgi estendeu sua mão direita, desviando o olhar da garota no chão – Antes que eu me arrependa e te deixe aqui sozinha.

– Eu... – Irene já ia dizer que não precisava da ajuda da mais nova, porém parou. Ela não tinha nada melhor no momento, e a dor que sentia falava mais alto que seu orgulho. Sendo assim, Irene pegou a mão estendida de Seulgi, se levantando com a ajuda desta. – Obrigada.

𝗰𝗵𝗲𝗲𝗿 𝘂𝗽! | seulgi + ireneOnde histórias criam vida. Descubra agora