Não sou um insensível

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...Andressa...

O ensaio da peça foi normal e acho que vou conseguir decorar tudo até lá,Kayan ia ficar com o papel principal mas como ele sofreu o acidente Mateus vai tomar o lugar dele nos principais comigo. A cena que ensaiamos foi normal e achei que tudo estava bem de boas pra mim.  Chegamos no hospital e avistamos Kayan sentado.

- Você voltou,eu achei... - ele para ao ver Mateus atrás de mim. - Ah,trouxe visitas. Obrigado por vir,realmente não precisava se preocupar. Estou legal.

- Claro que precisava. Acha que eu vou deixar você aqui sozinho,se vai ficar sentado aí até amanhã sem fazer nada é melhor ter alguém pra fazer companhia, não acha? É bem mais divertido assim. - ele sorri e assente.

- Ago que sim. - concorda.

- Eu trouxe mocotó pra você. - digo pegando a mochila da mão de Mateus e tirando um potinho e uma colher de lá.

- Eu não mereço você. - ele brinca e eu dou um sorriso. Kayan volta seu olhar pra Mateus e ele não parece saber o que dizer. Quando eu acho que vai ficar aquele silêncio desconfortável, Mateus o quebra:

- Eai cara? Tudo dez? Melhoras pra você - Olho para Mateus surpresa. - Como foi? Bateu de frente ou foi por trás?

- Por trás,valeu cara. - responde Kayan também de boas e fico aliviado que eles estão tentando se entender. Sento na poltrona e fico conversando com Kayan um pouco,Mateus também entra na conversa e logo os dois estão imersos em uma conversa muita chata sobre futebol e acabo ficando boiando enquanto eles ficam falando sobre "os jogos daquele ano" ou algum jogador que saiu ou se feriu. Não compreendo nada mas fico feliz de tudo estar bem.

Depois que a visita termina,dou um leve abraço em Kayan e Mateus faz um comprimento de mãos. Saindo de lá,eu começo a falar.

- Você não disse que não gostava do Kayan? - Pergunto no caminho pra casa.

- Não disse isso,disse que não acho que ele te merece,ainda acho mas ele tá mal e eu não sou um insensível. - assinto e fico calada. Assim que chegamos na porta de casa,eu não sabia se ele iria querer entrar ou não então me virei e esperei.

- Dressa... - Começa.

- O que foi?

- Eu estive tendo... - ele faz uma pausa e me encara seriamente,dá um sorriso fraco e passa as mãos nos cabelos lisos por sobre o boné. - Ah...nada,deixa pra lá,é bobagem.

- Ah,agora fala né Mateus. - Incentivo.

- Você já sentiu...quer dizer,não é nada! Até amanhã, tchau! - ele se vira pra ir embora mas volta e me dá um rápido abraço,depois se vira e vai embora apressado. Ah? O que acabou de acontecer? Aí,aí não vou suspeitar porque Mateus é louquinho as vezes.  Entro em casa e sei que minha mãe está trabalhando,dou uma faxina em casa porque não tem nada pra fazer e começo a ler meu livro que Mateus me deu. Depois me dá uma enorme vontade de jogar então mando mensagem pra Mateus mas ele não responde,então ligo logo porque não tenho paciência.

- Jesus,Maria,José. Sabe que horas são Andressa? - olho o relógio e me deu conta que são quase uma da manhã. Ah é, tá bem tarde mesmo! Mas quero jogar.

- É que tô querendo jogar. - ele suspira do outro lado da linha.

- Você ouviu que eu disse que já são uma da manhã? Você tem vídeo game em casa,porque tá me ligando? - diz com voz de sono.

- Porque eu quero jogar com você,uai. Vem pra cá. Por favor,você nem mora tão longe. Vem Mat,por favoooor! - o outro lado da linha fica mudo por muito mais tempo que o necessário,penso em pedir de novo mas ele responde:

- Taa,já to indo pra aí. É melhor a gente passar a noite acordado pra você ter me ligado a essa hora. - diz ele escuto o barulho dele levantando da cama. - Marca 20 aí que eu tô chegando.

- Marcado,se atrasar não entra mais.

- Uai,tu que tá me pedindo pra andar dois quarteirões a essa hora,nem vem querer por limite de tempo. - solto uma risada alta.

- Tô brincando né,tô esperando e traz Life is strange também.

- Taa,agora deixa eu me arrumar.

- Xau.

- Xaau.  - ele desliga e eu corro pra ligar o vídeo game e deixar o primeiro jogo da noite já ligado. Ele demora vinte minutos e chega,não preciso atender porque ele tem a chave,chega com cara de sono,os cabelos molhados,usa um moletom preto e shorts jeans claro.

- Eu só quero dizer que eu não faria isso por mais ninguém, não funciono direito depois de meia noite. Ah,já ligou? Ele se senta comigo no sofá e pego o outro controle.

- Espera aí. - ele põe o controle na mesinha e me abraça sentada mesmo. - Tá bom,bora jogar. Se tu começar a usar especial toda hora vou começar a apelar também, vou logo avisando. Não começa a roubar,falo?

- hahaha,eu não roubo! - Me defendo.

- Sei,sei. - o jogo começa e começamos a brigar por quem séria o vencedor,com muita luta eu ganhei e comecei a fazer minha dancinha da vitória.

- Sorte,foi sorte. - diz ele emburrado.

- Sorte? É assim que você desfarça sua derrota? Hahaha. - ele me puxa pro sofá de novo.

- Tá,tá sossega aí ,Dressa. Vamo jogar FIFA pra você ver se eu não ganho?

- Ah,não vale,eu não sei jogar futebol.

- Eu te ensino.

- Então tá. Mas não é pra me passar a perna.

- Hiii a lá, tu acha que eu sou esse tipo de pessoa? Tá me tirando? - ele brinca e eu solto uma risada.

- Olha só, você tem que apertar bola pra chutar e esse aqui... - ele me ensinou todos os chutes e desvios e começando a jogar. Viramos a noite acordados e eu tenho certeza que iria dormir na sala de aula hoje.  Acabei dormindo e quando acordei vi que ele estavamos dormindo os dois no sofá com as pernas entrelaçadas. Hum,tudo bem,acho que estaria muito tarde pra ele ir embora aquela hora. Perai, eu acordei primeiro! Ah,não que horas são? Olho a hora no meu celular é arregalo os olhos. Merda!

- Mat! Estamos muito atrasados! Acordaaa! Precisamos nos arrumar. - ele abre os olhos lentamente e fico em alerta.

- Aí caramba! Vai lá tomar banho que eu vou correndo pegar meu uniforme em casa. Acabei dormindo aqui,desculpa.

- Tudo bem Mat,você já dormiu aqui tantas vezes que nem é mais estranho. - ele parece pensar sobre isso.

- É verdade. Volto depois! - eu o paro,o segurando pelo braço.

- Mat está louco?! Pode ir já dá sua casa pra escola hoje,eu vou também se não a gente não vai conseguir chegar a tempo.

- Mas quero ir com você.

- Prefere perder aula? - ele parece pensar,ia responder mas o interrompo.

- Só vai! A hora tá passando! - O empurro.

- Taa mas vou te esperar na esquina! - ele sai apressado e eu vou correndo me arrumar.

Somos só amigos (Pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora