O domingo chega logo, como uma recompensa por todos os ensaios e estudos da semana. Encontro meus amigos no shopping, como de costume. Por alguns minutos, penso que será um dia de paz, já que Taehyung, aparentemente, não veio. Isso é bom, vai me ajudar a espairecer de fato. Vamos em direção ao paintball e começamos a nos preparar para mais uma partida, nos vestindo com os trajes protetores, enquanto um outro grupo de amigos finaliza sua partida. Termino de amarrar meus cadarços da bota, dando algumas olhadas vez ou outra para o grupo que dá risadas enquanto atiram bolas de tinta uns nos outros, parecem extremamente felizes e relaxados, nada como as competições que eu e meus amigos organizamos. O que não fazemos por meros milkshakes?
Olho para todos ao meu redor, os garotos conversam tranquilos, não parecendo preocupados com o fato de estarem em desvantagem por dois números, talvez tenham desencanado do jogo de vez. Achei injusto sermos cinco contra três, mas, se eles mesmos não estão reclamando, quem sou eu pra sugerir qualquer coisa? Não quero perder dinheiro hoje mesmo.
Desvio novamente a atenção ao vidro turvo e sujo de tinta a minha frente, que divide a pequena arquibancada, onde estamos, do ringue de tiros. Assisto mais um pouco da partida que se desenrola lá dentro, percebendo que os atiradores apenas disparam várias vezes, sem um alvo específico. Apenas por diversão. Tenho certeza de que eles não apostam ou fazem ranking disso. Não consigo esconder um leve sorriso ao ver a cena de duas amigas que se enfrentam, atirando várias bolas uma na outra. Parecem verdadeiramente felizes.
Finalmente, saio de minha bolha, notando uma conversa a alguns metros de mim. Júlia e Laysa me olham vez ou outra, como se estivessem preocupadas com algo, um tanto inquietas. Quando elas notam que eu as encaro, tentam disfarçar, mas ergo uma sobrancelha, como quem pergunta o que houve.
— O que foi?
Elas se olham de novo e minha melhor amiga dá de ombros, sei o que isso significa. Viro-me de vez, para encará-las e saber o que realmente está acontecendo.
— Você e Taehyung brigaram essa semana? — Laysa pergunta. Me sinto um tanto acuada com a pergunta, que soa mais como uma acusação. Penso em como poderia responder que não foi uma briga, apenas um desencontro de ideias, mas que não tenho raiva. Penso em mil e outras respostas tão boas que eu poderia ter dado nesse momento, mas minha boca fala mais rápido do que meu cérebro é capaz de pensar.
— Ele que veio falar besteira pra mim. — respondo na defensiva. As meninas parecem mais apreensivas ainda — Era só isso?
Eu deveria ter ficado calada na primeira vez. Na verdade, deveria ter ficado calada nas duas vezes. Assim que pergunto isso, Laysa e Júlia desviam o olhar para além de mim, para o portão do ambiente, virando-me a tempo de ver a entrada do asiático de olhos inocentes e sorriso encantador, indo em direção aos garotos e os cumprimentando.
Enfim, seu olhar caminha pelas minhas amigas, as cumprimentando com um aceno de mão, até que seus olhos param em mim e o mesmo sorriso, que antes esbanjava, se desfaz. Ele acena com a cabeça para mim, como o garoto educado que é, mas seus sentimentos ficam explícitos no rosto dele. Respiro fundo ao ver aquela cena.
— O Thiago...
Faço que não com a cabeça quando Laysa começa a tentar explicar a situação. Não quero que elas pensem que precisam me explicar. Eu não preciso disso, não preciso da pena de ninguém e muito menos da defesa de ninguém. Ora, não foi exatamente por isso que eu briguei com Taehyung essa semana? Ele quis pagar de superprotetor com relação ao Guilherme, em uma situação que nem lhe dizia respeito.
— Ele também faz parte do grupo. — afirmo, forçando um sorriso e desviando meu olhar para o senhorzinho que toma conta do paintball, que nos avisa que deveríamos entrar pois era nossa vez — Bom, vamos jogar. — apenas busco minha arma e me preparo para matar esse amor, mesmo que seja no sentido figurativo.
Tive apenas tempo o suficiente para vingar os tiros que tiraram Laysa e Júlia do jogo, antes que Taehyung acertasse em cheio minha cabeça com uma bola de tinta. Se eu não estivesse de capacete e de cabelo bem preso, provavelmente passaria uma semana inteira tentando tirar a tinta do mesmo, além dos hematomas. Claro, ainda sentia dor nela, pela pancada repentina, mas era menos pior do que ter uma coloração azulada e pegajosa no meu couro cabeludo.
A raiva havia tomado conta de mim mais uma vez, afinal, além de vir para o meio dos meus amigos e conseguir conquistar a todos com seu charme natural e simpatia, Taehyung havia sido o ponto de definição da vitória dos garotos no dia de hoje. Ele parecia bem melhor no tiro do que quando saímos de férias. Tento não demonstrar, mas, a essa altura, todos já perceberam o enfurecimento empregado em meu rosto. Eu e as garotas compramos os milkshakes para todos em silêncio, nenhuma delas ousa falar comigo, sabem que estou prestes a explodir de vez. Voltamos pra a mesa, apenas para ouvir as provocações de Thiago e André, que exaltam Tae até o último instante.
— Tá quieta hoje, Clarice.
— Tô cansada, só isso.
— Devia tentar sorrir mais — Thiago sugere.
— E você devia tentar ficar mais calado. Em boca fechada não entra mosquito. — respondo a altura, fazendo com que todos façam "uuh" na mesa.
Thiago tenta brincar e me provocar mais uma vez, mas eu apenas ignoro, puxando meu celular. Penso em mandar uma mensagem para Sehun, mas então vejo que ele ainda não acordou, pelo que entendi havia ido para uma festa na noite anterior.
Você me abandonou hoje. :(
Digo, sabendo que irá demorar mais algumas horas antes de me responder. Acabo mandando mais uma mensagem a ele, contando sobre a partida e sobre a derrota que obtive. Desligo novamente o celular, apenas fico calada o restante do tempo, não tento interagir ou permitir interações, deixado explícito meu desconforto por estar ali. Já Taehyung, não poderia estar mais confortável do que está. Ele sorri e até participa de piadas internas com os meus amigos. Penso em como isso é injusto, eles deveriam ficar do meu lado, certo? Será que eu estava tão errada assim? Será que eu tinha a obrigação de dar uma chance para o garoto que partiu meu coração? Eu deveria ouvir seu lado antes de realmente tomar uma decisão? Esses pensamentos correm como um devaneio em minha mente, enquanto termino minha bebida e encaro novamente o garoto.
Nossos olhares se cruzam por alguns instantes e sinto faíscas no ar. Ele não desmancha o sorriso, apenas continua conversando com todos da mesa, como se nada tivesse acontecido durante a semana, durante o mês. Por alguns instantes, sinto que na verdade, eu que sou a estranha que incomoda por aqui, e que, a atitude de se achegar justamente às pessoas mais próximas a mim, soa totalmente como um deboche escancarado e insensível da parte de Taehyung.
Não aguentando mais a dor de cabeça que, esses pensamentos e o tiro na cabeça, haviam me causado, junto minhas coisas na pequena mochila que levei naquele dia e me despeço rapidamente de todos, indo embora sem muitas explicações.
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Run
FanfictionEu estava tentando ajudar Taehyung com a matéria da prova de português, desde sua primeira semana ele havia demonstrado um tanto de dificuldade com as letras cursivas dos professores, me comprometi a ajudá-lo, mas quando ouvimos a batida na porta na...