Capítulo 7

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O cômodo está vazio, mas Narem consegue ouvir uma respiração pesada no local. Lá fora os sons abafados da cidade continuam constantes.

- Devia ter esperado mais para entrar na cidade, talvez de madrugada.

Observando o local, girando em torno de si mesma, ela percebe estar num quarto de criança e, pelas paredes decoradas com umas poucas pelúcias, um tanto velhas, de ursos e unicórnios, pertence a uma menina.

Saindo cautelosamente do quarto, ela entra num corredor estreito que leva a outro cômodo, pelo lado direito e para uma escada no lado oposto. Narem decide descer.

A escada dava para uma sala ampla com um tapete redondo no centro e duas poltronas grandes, uma ao lado da outra, viradas para a lareira, apagada, mas ainda soltando um pouco de fumaça. Pelo estado das coisas, pôde-se perceber que os moradores tinham um pouco de dinheiro, provavelmente o dono devia ser comerciante. Dessa sala via-se a cozinha, esses ambientes eram separados apenas por uma cortina que já fora azul, lá havia um forno na parede a frente, apagado, ainda com algumas brasas teimosas que teimavam em esquentar a última refeição do dia, uma sopa. Na parede esquerda Narem viu numa mesa um pano grosso e escuro, quase preto e decidiu pegá-lo e usar como um manto.

Com receio de sair pela porta da sala e dar de cara com um Guarda na Avenida Principal, a drow decide voltar pela escada e sair por onde entrou, pela janela do quarto da criança.

Mas, agora, a menina está lá, e está acordada.

Um grito de susto e terror acorda a casa inteira quando Narem passa direto pela menina e se prepara para saltar pela janela.

- Sshhh! Quieta! – Diz ela, fazendo sinal de silêncio.

Quando o pai da menina aparece, com o rosto vermelho de raiva, por ter sido acordado daquela forma e nitidamente confuso, talvez pelo mesmo motivo, Narem já havia saltado para o chão lamacento e, aproveitando-se de uma sombra no muro a frente, cheio de caixotes, ela se esconde ali, envolvendo-se no manto recém roubado, enquanto o pai da menina vai até a janela olhar, de um lado para outro, procurando algo ou alguém, mas só consegue enxergar os bêbados de costume, a drow estava perfeitamente imóvel e as sombras lhe proporcionavam uma camuflagem perfeita. Sem encontrar nada, o homem volta e Narem consegue ouvir ele questionando a filho sobre o que havia acontecido e mandando ela dormir logo após.

Depois de alguns minutos de espera, para garantir que ninguém na casa fosse olhar novamente pela janela, Narem sai de seu esconderijo e volta a caminhar na lama até que, atrás dela, um Guarda grita:

-Ei, você! Você todo coberto! – no escuro ele não conseguia discernir se era homem ou mulher – Fique onde está!

Desrespeitando totalmente a ordem, ela corre, provavelmente já estão procurando por ela, os Guardas devem estar mais atentos a qualquer pessoa estranha na cidade e as ruas mais escuras são os melhores lugares para encontrar pessoas estranhas. O Guarda, contrariado parte em perseguição, gritando para alarmar mais companheiros, coisa que funciona. Narem consegue dois outros Guardas correndo para lá e a rua onde ela estava já chegava ao fim, numa curva fechada para a direita, ela pôde ouvir que seria dali que viriam os outros Guardas.

- Ótimo... – Então, subitamente, ela gira e começa a correr pelo caminho de volta, em direção ao Guarda que a perseguia e este, pego de surpresa pela mudança repentina, estanca no lugar, dando a oportunidade que a drow queria para aplicar uma joelhada certeira no seu estômago, fazendo o ar escapar dos pulmões do Guarda, desmaiando-o.

- Agora só faltam dois.

Então, uma porta se abre um pouco atrás de Narem e exatamente no local onde o Guarda estava caído e de lá sai um anão careca e barbudo.

- Ora, ora! O que temos aqui?

Ascensão Vermelha - Os Tomos dos Deuses: Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora