Sábados e Trovões

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________ P.O.V

O brilho da tela quase me cegou quando o peguei logo no começo da manhã, a notificação do grupo dos líderes piscou na tela e eu praticamente senti meu espirito sair de mim. Eram sete horas de um sábado e eu já tinha que lidar com a informação da maldita de uma reunião e que veria a cara de um certo ser que assombrou meus sonhos no dia anterior, se bem que assombrar não seja a palavra certa.

Ah cara, aquilo realmente tinha acontecido? Fui iludida e desesperada a esse ponto? Como vou olhar no rosto dele e agir indiferente, foi por causa da merda daquele rosto que fui do céu ao inferno em menos de um segundo. Foi pensando nele que eu cheguei num ponto que nem mesmo em 18 anos tinha conseguido.

Sentei-me na cama quando desisti de pensar no assunto e estiquei meus braços acima da cabeça, ouvindo alguns estalares dos meus ossos. Deixei um ou outro bocejo sair enquanto me obrigava a sair do véu quente que meu cobertor proporcionava, logo me arrependendo quando o vento frio do ventilador veio a ter com a pele exposta que meus shorts e minha camisa de pijama não cobriam, lembrar de usar moletom a partir de hoje. Foquei meu olhar no espelho do meu armário antes de abrir para caçar algumas roupas um pouco mais apresentáveis do que um pijama usado de dois anos, reparei no cabelo em pleno furacão de tão bagunçado que estava, nas bochechas ainda com uma coloração rosada por mais mínima que tivesse. Quando levantei a blusa alguns riscos vermelhos rodeavam meus seios em padrões diferentes, marcas de unhas, as minhas próprias unhas no caso. Quando isso aconteceu era uma das minhas muitas perguntas.

Puta merda ________, esse homem vai ser a causa de sua morte.

Rosto, dentes, banho frio, roupas limpas, remédios tomados. Eu estava mais que acordada quando encontrei meus pais na sala discutindo os últimos detalhes do seu dia fora, era a segunda vez depois de cinco anos que eles comemoravam o aniversário de casamento e sinceramente eu não podia estar mais feliz. Aqueles dois mereciam um tempo só para eles depois de tanto tempo convivendo lado a lado com a tristeza, apesar de ainda achar nojento e estranho vê-los agindo como dois adolescentes numa noite fora na cidade.

— ______, tem certeza que vai ficar bem sozinha hoje? Minha mãe perguntou assim que apareci na cozinha em busca de café. — Considerando as coisas que você anda fazendo nos últimos dias tenho minhas dúvidas. 

— Nossa nem um bom dia primeiro. Peguei uma caneca de café fumegante e corri para o sofá onde papai estava assistindo um desenho animado qualquer. — Mas respondendo, eu me viro sim, já sou uma adulta responsável. Não deixei de acrescentar uma pitada de arrogância na frase.

— Adulta? Agora era o meu pai que me provocava, o sorriso presunçoso dele me fez revirar os olhos enquanto bebericava o doce gosto do líquido quente nas minhas mãos, a fumaça entrou nas minhas narinas junto com o cheiro forte do café. Meu pequeno Shangri-lá em formato de cafeína encheu minha barriga num abraço quente e por um momento esqueci de quase tudo... quase tudo.

— Olha, perante a lei daqui a alguns dias eu sou considerada maior de idade, então sim, eu sou uma adulta.

Dei um olhar ríspido por entre os cílios para o homem sentando do meu lado que em troca beliscou a carne das minhas coxas de leve rindo quando eu saltei de susto do meu lugar.

— Ok, senhora adulta. Já tomou seus remédios? 

— Já pai.

— As duas doses? Por que quando sua mãe for olhar as cartelas é melhor que esteja pela metade.

— Tá tá. Não se preocupe, não vou desmaiar tão cedo.

— Bom mesmo, não quero ter um ataque se te encontrar caída no quarto.

Consequências de um Desafio | JK+18Onde histórias criam vida. Descubra agora