Relações Estranhas

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Às vezes me pegava pensando no futuro e no quão misterioso e imparcial ele podia ser; eu tinha medo dele de certa forma, não saber o que te esperar no dia seguinte ou a 20 anos me causava um embrulho no estômago, mas da mesma forma que ficava assustada eu me sentia atraída a descobri-lo. Normalmente, ao invés de pensar anos a frente devia me concentrar nos que estavam próximos: meus tão esperados 18 anos estavam chegando rapidamente e logo mais eu deveria começar a montar minha vida adulta: faculdade, trabalho, casa, marido, filhos, morte... Sou só eu ou isso parece tão entediante?

A medida que as palavras apareciam na tela do computador, meus pensamentos circulavam meu quarto canto a canto, imaginando cenas, tendo pensamentos aleatórios sobre a vida, me perguntando como escrevia uma certa palavra ou o que eu tinha respondido na atividade estava certo ou não. A música tocava alto nos fones numa playlist infinita e diversa de faixas, o celular na mesa vibrava pelas notificações que eu não me dava ao trabalho de ver e meus olhos se fechavam lentamente me fazendo perder a consciência por alguns segundos. Passava das 10 quando a inspiração veio do nada e eu não podia perder isso.

Desde minha pequena conferência com Louise e Jungkook tive uma súbita vontade de pôr tudo que eu não era capaz de falar em palavras, cada sentimento das últimas horas saiam de mim e entravam na minha personagem a fazendo ganhar vida diante dos meus olhos, as linhas tinham mais profundidade e as ações que eu fazia causavam mais impacto do que eu havia planejado, era quase que um Deus naquele mundo imaginário.

No entanto, mesmo com uma explosão de criatividade, eu me pegava ansiosa para esse tal concurso. Louise tinha enchido meu ego ao falar que não me chamaria se não tivesse certeza que eu estaria entre os melhores e com o Jungkook concordando, o que me surpreendeu, foi o suficiente para eu realmente acreditar em mim mesma.

Mas é como dizem quanto mais alto o sonho maior é a queda.

Só foi quando o grave da música bateu que eu quase caí da cadeira em desespero. Tinha caído no sono, sentada em frente a tela do notebook sem ao menos perceber, era hora de dar um descanso.

Ainda sonolenta, salvei meu projeto na área de trabalho e desliguei aquele aparelho. Com meu pijama de coelho, me joguei de braços abertos no macio do meu colchão caindo em sono segundos depois.

•••

[...] as rodas da moto giravam numa velocidade absurda na estrada vazia de WesterBug, Joel estava perplexo com o que seus olhos tinham acabado de ver e por mais que tentasse bloquear, aquelas cenas iam e voltavam em sua cabeça o fazendo desejar ainda mais sua morte. Quem poderia imaginar que seu próprio irmão era capaz de algo tão frio como atirar em alguém. Joel podia ouvir a súplica daquela garota ainda em seus ouvidos, implorando pelo que lhe restava de sua medíocre vida, mas como tinha presenciando seu "por favor" em meio a lágrimas tinha sido suas últimas palavras [...]

—  Nossa! A reação de Julie tinha sido exatamente a que eu esperava, ela não gostava de coisas tão obscuras assim, mesmo lendo vários romances de época que envolviam mortes.

—  Gostou?

— É interessante, bem tocante e tals, mas eu não entendi o que o Joel tem a ver com a morte da protagonista.

Ah sim, a morte de Íris, bem nas primeiras linhas... num acidente de carro onde a mesma estava bêbada. Não sei se recordam, mas eu escrevi essa história já contando o final e desenvolvendo os motivos no decorrer da leitura. Uma tática ousada, mas se bem aproveitada era uma passagem direta para ficar entres os melhores.

—  Eles ainda vão se conhecer.

— Você sabe que não precisa fazer um livro de 500 páginas, não sabe? Julie se afastou do notebook se virando para mim. — É um concurso de escola, não é como se isso significasse algo no futuro.

Consequências de um Desafio | JK+18Onde histórias criam vida. Descubra agora