Última noite

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Capítulo 16 - Última noite


Naquele dia, quando Sehun disse - pela primeira vez - de maneira tão despreocupada que me amava, eu comecei a chorar. Não foi uma atitude nem um pouco razoável, obviamente, mas depois de passar uns bons dez segundos apenas encarando-o como se uma nova cabeça estivesse crescendo em seu ombro, a crise de choro me tomou inteiro, fazendo com que meu corpo todo tremesse conforme eu segurava sua camiseta, como se o tatuador fosse sair correndo de perto de mim depois de ver como eu era ridículo quando estava comovido com alguma coisa.

Mas ele não fugiu.

Na verdade, Sehun me abraçou forte contra o peito e deixou que o silêncio de sua presença me confortasse no chão do quarto do nosso filho, que a essa altura estava todo pronto, com os personagens da Disney em aquarela pintados por toda a parede e móveis, transformando o próprio cômodo - em todos os seus nuances - numa das maiores obras de arte do Oh.

Nosso filho cresceria no meio da arte e eu não poderia ser mais feliz por isso, porque assim ele poderia ficar constantemente exposto ao pai, que havia externado um eu te amo para mim com todas as letras, mesmo que há algum tempo eu já entendesse que aquele sentimento era real em suas ações.

Ainda assim, aquela noite foi particularmente memorável, porque como se estivéssemos aproveitando os momentos finais de nossa vida à dois, que logo seria completamente abalada pela presença de mais um integrante que provavelmente exigiria tudo de nós pelos próximos anos.

Eu ainda tinha medo disso... Medo de precisar sempre pensar em outra pessoa primeiro, medo de saber que Sehun provavelmente daria cem por cento de atenção ao nosso filho e que talvez me sobrasse muito pouco, mesmo quando a criança estivesse dormindo. Talvez pais que planejavam seus filhos não tivessem esse tipo de medo, mas eu não tive esse luxo na vida.

Ainda assim... Agora era só respirar fundo e simplesmente compreender que não havia mais nada a ser feito.

Em três semanas haveria uma nova vida me acordado de madrugada por tempo indeterminado e eu teria de lidar com isso.

Ponto final.

• •

Quando faltava apenas quatro dias para que eu finalmente fosse internado para a cesárea, minha barriga estava tão incômoda que eu mal conseguia dormir, acordando sempre que acabava mudando de posição na cama.

Eu sentia dores horríveis nas costas e estava honestamente andando como um patinho, com os pés para fora, sem contar que passava noventa por cento do tempo com vontade de fazer xixi por causa da pressão que o bebê causava em minha bexiga, que estava começando a me irritar toda vez que entrava no banheiro. A pele da minha barriga também não estava mais aguentando aquele lance de ficar esticando para que o bebê tivesse mais espaço, porque duas estrias haviam aparecido - uma de cada lado - na altura de meu umbigo, coisa que estava me deixando em total e completo desespero, já que todo mundo dizia que aquilo não desaparecia depois nem com macumba.

Só ficava rezando para que mais nenhuma aparecesse nos próximos quatro dias ou eu iria começar a chorar que nem uma criança.

As malas já estavam arrumadas, o quarto já estava esperando pelo novo hóspede, os nomes estavam mais ou menos escolhidos e tudo parecia na mais completa ordem... Exceto minha cabeça, mas isso também teria de ficar no lugar eventualmente. Minha mãe costumava dizer que quando a água chega na cintura ou aprendemos a nadar ou morremos afogados; e eu não pretendia morrer afogado.

"Me lembre de nunca mais fazer sexo sem estar completamente em dia com todos os métodos anticoncepcionais do mundo, Sehun." Reclamei, naquele mal humor que andava me perseguindo desde as benditas duas estrias terem completado meu ciclo incansável de insônia. Aquele literalmente seria filho único, a não ser que Sehun quisesse carregar da próxima vez.

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