Tatuagens

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Capítulo 1 - Tatuagens


"(...) sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda feira ninguém sabe o que será" - Carlos Drummond de Andrade.

O quarto de Sehun estava uma completa bagunça.

Havia roupas espalhadas por todo o recinto, enroladas, no avesso, misturando-se com uma cacofonia de cinzeiros e maços de cigarros, deixando aquele típico cheiro de tabaco preenchendo cada centímetro cúbico de ar, juntamente com algo que lembrava almíscar... Era o cheiro de Sehun.

A casa toda era Sehun.

No cheiro, nas roupas, nos cigarros, nas garrafas de cerveja e na cama, onde ele permanecia com aquele pedaço de câncer entre os lábios róseos, com os membros pendendo acima dos lençóis bagunçados, vestido apenas com a roupa íntima que deixava à mostra cada uma de suas tatuagens que coloriam sua pele em tons de caos.

Se não fosse por todos aqueles desenhos, Sehun seria todo neve.

A pele pálida, os lábios finos, os cabelos descoloridos... Era tudo muito branco, tudo muito puro. E tudo que era puro não combinava com ele.

Mas as tatuagens e os olhos escuros combinavam... Aquela imensidão infinita de detalhes que compunham o que ele era. A calma, o cinismo, a crueza e os vícios. Ele era a personificação dos pesadelos mais profundos de qualquer pai de família. Algo tão, mas tão errado, que me fazia ficar sem ar, afogado nele, envolto por ele.

Porque estar com Sehun era tão caótico quanto o quarto dele. Você não conseguia pensar, nem medir consequências. Você apenas o queria, ao ponto de oxigênio não parecer tão importante; como se, a despeito de todos os vícios dele, Sehun tivesse um talento especial para viciar outras pessoas nele. Mesmo sem querer. Mesmo sem nem perceber que fazia aquilo.

"Aonde você disse que estaria hoje, garoto?" Ele me perguntou, enquanto eu amarrava o nó da gravata que compunha meu uniforme de um colégio particular. Não era elite, mas era um bom lugar para se aprender. Como tudo na minha vida, o lugar no qual eu estudava era morno, nem rico, nem pobre. Assim como eu, nem feio, nem bonito; ou meus pais, que não ganhavam fortunas, mas que também estavam longe de passar fome.

Eu era meio termo, vivendo uma vida condizente com isso... Até conhecer Sehun.

Porque se minha vida era morna, ele era quente.

"Disse que tinha um trabalho de física pra fazer na casa de um amigo." Respondi, colocando meus óculos de aro escuro no rosto. Para fazer sexo eles eram bem desconfortáveis, mas eu havia esquecido minhas lentes e a sensação de tentar enxergar alguma coisa sem eles era ruim. Sehun riu baixo, apagando a bituca do cigarro no cinzeiro mais próximo de si, apoiado no criado-mudo.

"Quero ver quando você ficar sem desculpas para dar." Franzi o cenho quando ele disse aquilo. Eu sabia que eventualmente teria que dar um jeito na situação, mas quem poderia me culpar por ter dezesseis anos e querer me envolver com alguém?

"Meus pais trabalham o dia todo. Eles nem perceberiam se eu saísse de casa e voltasse antes de eles chegarem." Respondi, mesmo que estivesse incerto de minha própria frase. Não havia o que fazer... Eu meio que não queria abrir mão dele.

"Você sabe que não deveria estar trepando comigo, não sabe?" Ele perguntou, arqueando a sobrancelha ao mesmo tempo em que se sentava na cama, esticando os braços longos para segurar minha cintura e me colocar em seu colo. Senti toda minha pele se eriçar, enquanto ele tocava meu pescoço com os lábios.

AntagonismoOnde histórias criam vida. Descubra agora