Capítulo 2

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Deixei a mala de lado e me deitei, ainda olhando os pedaços de papel que estavam no chão do quarto do hotel.

-Estranho não é? - disse uma voz, a mesma voz que estava na estação de trem e em meus sonhos. Olhei para o lado e a mulher estranha que disse ser minha mãe estava do meu lado. Então eu gritei com toda a força e tentei correr, mas mulher tapou minha boca -Calma, quietinha! Anne, quando vai se acostumar comigo?

-Quando você parar de vir atrás de mim! - gritei e joguei um travesseiro nela - Saia daqui sua maníaca, perseguidora, maluca! Socorro!

-Ta bom, ta bom... Mas se você se acalmasse e parasse de gritar eu poderia te contar sobre seu passado e sobre essa tal de Meredith - ela disse fazendo uma careta no fim da frase. Cara, como ela consegue ser linda mesmo fazendo caretas?

-Meu... passado? - perguntei, abaixando a almofada e me aproximando dela.

-Sim, querida. - ela sorriu - Você nunca soube quem era sua mãe, seu pai nunca te deu muita atenção e você está perdidamente apaixonada pelo seu melhor amigo Terence embora tente se convencer do contrário.

-Como sabe que eu... - comecei, mas então notei o que estava dizendo - Eu não sou apaixonada pelo Terence.

-Acha que pode me enganar? Eu sou a deusa do amor, minha filha - ela riu de mim como se eu fosse uma piada muito, muito engraçada.

-Conte sobre meu passado ou saia. E pare de dizer coisas aleatórias - eu disse, irritada.

-Você se parece tanto comigo... Mas claro, conto do seu passado. Tudo começou em um shopping, na fila do cinema. Eu estava na fila para assistir Uma Lição de Amor mas aí eu esbarrei no seu pai e derrubei a pipoca. Seu pai foi, como um cavalheiro, comprar outra pipoca pra mim. - Ela sorriu como se aquilo explicasse tudo.

-E... - falei, pedindo que ela explicasse melhor.

-E depois assistimos o filme juntos e nos apaixonamos. Uns meses depois, eu engravidei e você nasceu. Mas eu precisava ir pro Olimpo, então deixei você com seu pai . Você seria importante, as Parcas previram. Zeus, Poseidon, Apolo, Ártemis e Atena lhe deram benção, sabendo de seu futuro.

-Nossa. E quem é você? Alguma maluca que faz um programa sobre deuses gregos na tv? - perguntei de modo sarcástico.

-Sou Afrodite, bobinha!

-Afrodite? Ah, chega né?- me irritei - Vá embora daqui e nunca mais se aproxime!

Ela simplesmente sorriu, um sorriso triste é significativo e abriu a porta do quarto. Ao fazer isso, acabou esbarrando em alguém que estava do outro lado dela. Esse alguém era meu pai.

-Ben! Quanto tempo! - ela disse com um sorriso feliz.

-Como achou ela? -respondeu meu pai

-Foi fácil... E já contei tudo para ela. - disse, sussurrando a última parte, achando que eu não ouviria - Bem tenho que ir. A gente se vê por aí.

Então papai entrou no meu quarto e eu o encarei como quem pede explicações. Afinal, ele esperava que eu lidasse normalmente com uma mulher dizendo ser minha mãe que havia me abandonado?

-Ah, oi pai - eu disse. -Quem era aquela maluca? Ela é Meredith?

-Não ganho nem um abraço? - ele perguntou, abrindo os braços para me abraçar. Eu o abracei mas sem vontade, eu queria mesmo era entender aquela história. - Passamos meses sem nos ver e você não mudou nadinha, filha!

-Agora sério pai, precisamos conversar - eu disse me sentando na mesa e pegando dois refrigerantes. - Aquela mulher era mesmo minha mãe?

- Sim.

- E... - a voz não saia da minha boca... - Ela me abandonou e depois voltou como se nada tivesse acontecido e vocês dois agiram normalmente como se ela não fosse uma louca que acha que é uma deusa e você não fala nada só fica aí me olhando e sorrindo como... como um idiota completo e eu estou agindo como uma louca agora! - ... e quando a voz saiu, saiu muita coisa de uma vez.

-Filha ela não é louca. Ela é a deusa do amor e da beleza. Ela é Afrodite. - ele disse, dando de ombros.

-Você acredita mesmo nisso? O que você fumou? - eu disse, com vontade de deixar tudo aquilo de lado. Mas eu não podia. No fundo eu sabia que aquilo tinha um fundo de verdade - Quem é Meredith?

-Meredith é a minha noiva.

-Noiva? - eu gritei - Como assim? Que noiva? Como eu nem a conhecia e vocês estão noivos?

-Filha, tem mais uma coisa...

-Oh, agora eu sou uma princesa de um reino distante e tenho que ir lá governar? - pergunte de maneira sarcástica, dando as costas pra ele.

-Não querida - ele disse rindo - Meredith está grávida.

-Grávida? - eu gritei muito alto. - Custava escrever uma carta? Mandar um e-mail? Telefonar? Conversar por código morse?

-Filha eu... - ele tentou me abraçar, mas eu me esquivei e caminhei para longe dele.

-Não encosta em mim! - quando disse isso percebi que estava correndo. Corri até o elevador e fui até o primeiro andar, correndo e tentando afas tar as lágrimas e os olhares das pessoas. Mas e daí? Esse hotel é meu mesmo.

Corri até um lugar vazio. Precisava ficar sozinha, organizar meus pensamentos. Minha mãe estava por aí, ela veio atrás  de mim. Fechei os olhos e respirei profundamente, e enquanto andava esbarrei em alguém.

-Precisamos parar de nos encontrar assim - exclamou o menino. Quando levantei o olhar vi aqueles mesmos olhos azuis e cabelos loiros me olhando com aquele jeito acalentador.

-Rob! - eu o abracei e ele me abraçou também.

-An, o que aconteceu? - eu balancei a cabeça negativamente e ele entendeu que eu não queria conversar. -Entendo. Muita informação. Foi assim comigo também.

-Como assim?

-Ora Anne, ligue os pontos: Sua mãe é uma deusa e seu pai um mortal. Isso te faz uma semideusa, assim como nos mitos do sr. Turny. Agora vamos, preciso que venha comigo.

-Espera - pedi, respirando fundo -Como me achou?

-Eu liguei pro seu pai - ele respondeu, dando de ombros.

-Como tinha o número dele? - perguntei desconfiada.

-Roubei dos arquivos da escola, mas isso não importa - ele respondeu.

Ótimo, agora um maluco vai tentar me sequestrar. Tem como esse dia ficar pior?

Diario da filha do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora