XIX

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— Deve ter uma maneira de tirar isso dela — Hadan disse e Anpu assentiu.

O general estava mais calado que o normal, perdido em seus pensamentos. Hadan havia percebido que nos últimos dois dias, ele ficara distante. Anpu nunca foi muito sociável, mas só o tinha visto dessa forma, quando perdeu a mãe. Estava distraído, como se estivesse em uma batalha interna.

— Rá expulsou de Sekhmet, então deve existir uma forma — Hadan insistiu.

Anpu abaixou a cabeça para olhar suas mãos. Eles estavam sentados no sofá do apartamento dele, névoa negra surgiu e ele fechou as mãos em punho.

— Todo esse tempo fiquei me perguntando pelo que ela passou, como conseguiu vencer Azures, fico imaginando tudo que teve que suportar, mas não cheguei perto...

Ele olhou para Hadan, envergonhado.

— Estava mais interessado que ela escolhesse um de nós e acabasse logo com essa confusão. Depois do que eu vi, isso não tem a menor importância.

Hadan se afundou no sofá, pensativo.

— Talvez ela seja mesmo diferente, talvez consiga mesmo amar nós dois ao mesmo tempo e provavelmente seja essa facilidade em amar, que a tem sustentado até aqui. Uma vez ela me disse que a magia se alimenta da sua raiva, das suas tristezas. Ela está se agarrando com todas as forças nos pilares que permite que ela controle essa coisa e não o contrário — Hadan disse.

— Viu como ela se movia? Como se tivesse libertado um demônio, mas o mantivesse em correntes, limitando até aonde poderia ir — Anpu disse e voltou a olhar para a névoa em suas mãos, tentando imaginar se ele conseguiria controlar aquele tipo de magia.

Hadan olhou para ele em silêncio. Anpu estava sentado com a cabeça baixa, não havia barreiras para impedir seu cheiro e Hadan podia sentir a confusão de sentimentos que o atormentava.

— Eu a amo, Hadan, e sei que você também a ama. Queria poder dizer que não sinto ciúme dos sentimentos dela por você. Eu sei que não deveria, você é como um irmão para mim, mas eu sinto. Estava disposto a dar um tempo para que ela convivesse conosco, mas um dia iria cobrar uma decisão dela.

Hadan assentiu, para ele era mais fácil. Sempre soube dos sentimentos dela por Anpu, então tudo que foi destinado a ele, foi inesperado e bem-vindo.

— Mas depois do que eu vi — ele suspirou —, ela precisa de você, precisa de todos que ama. Então, tenta facilitar as coisas e vê se não me provoca tanto. Eu vou me esforçar mais para compreender e vamos ajudá-la a controlar essa coisa, até acharmos um jeito de tirar isso dela.

Hadan sorriu e assentiu.

— Já a acalmei uma vez, se ela perder o controle, posso fazer isso de novo, e depois, eu posso me curar, caso ela queira fazer um lanchinho — ele disse, fazendo Anpu bufar.

— Quando você foi até as profundezas, buscar um parceiro, o que viu quando olhou para Abbas?

— Eu vi a morte, com toda certeza ela queria me comer no jantar — ele disse.

— Exatamente, foi o mesmo que eu vi nos olhos de Amut. A ligação mudou isso, mas depois de um tempo, surgiu algo maior do que a ligação de magia podia oferecer — Anpu disse.

— Amizade, confiança e respeito — Hadan sussurrou e Anpu assentiu.

— Fukayna se recusa a matar, mesmo com o elo de magia. Mas já a vi pegar objetos para Mica e fazer coisas que não tem nada a ver com a magia de ligação. Nefertari pode tentar controlar essa coisa, pode alimentá-lo aos poucos, soltar as correntes sempre que for para fazer algo permitido, mas segurá-las em outro momento. Talvez ganhe seu respeito.

Oráculo O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora