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Acordou sentindo falta de ar, o suor escorria em suas têmporas, enquanto lutava para respirar. Nefertari olhou para os dois guerreiros dormindo tranquilamente ao seu lado e suspirou, aliviada. Pelo menos, não gritou durante o sonho, fazia tempo que não tinha pesadelos. Desceu da cama com cuidado e se deparou com um par de olhos verdes a encarando.

Abbas estava completamente oculta na escuridão. Ela passou pelo Neteru e acariciou sua cabeça, ainda estava de camisola e seguiu a passos largos para fora dos aposentos. Uma sensação sufocante martelava em seu peito, um pressentimento de que algo ruim pudesse acontecer.

O Neteru de Hadan a seguiu pelos corredores. Ela queria caminhar, talvez sentir ar puro, mas parou diante do antigo apartamento de Domec e entrou. Tudo parecia do mesmo jeito, já tinha entrado ali. Logo após as execuções, havia procurado por documentos e provas que indicasse a interferência dos deuses durante a guerra que pôs Sebak no trono. Mas não encontrara nada.

O apartamento havia ficado vazio, Danna não quis retornar, tinha apenas retirado suas coisas às pressas. Provavelmente o lugar lhe trazia lembranças ruins. Caminhou até o escritório e abriu as mesmas gavetas que tinha procurando antes, talvez tivesse passado algo despercebido.

A caligrafia de Domec era elegante, havia uma porção de relatórios, mas nenhum registro antigo. Parecia um desperdício de tempo ficar ali revirando uma porção de papéis sem sentido.

— Se você fosse Domec, onde guardaria os documentos importantes? — ela perguntou para Abbas, que a observava da porta do escritório.

Abbas entrou, passou por ela e farejou o lugar, fazendo Nefertari sorrir. O Neteru de Hadan sempre lhe pareceu indiferente, mas desde que havia se aproximado de seu parceiro ela passou a estar mais presente. Abbas farejou uma parede e se sentou diante dela olhando nos olhos de Nefertari.

— O que foi? Tem algo atrás dessa parede? — ela perguntou e o animal não se moveu.

Mas Abbas era assim, inexpressiva, na maioria das vezes. Embora fosse extremamente observadora. Nefertari se encostou na parede e bateu com a mão fechada em punho. O som era maciço de pedra sólida. Ela seguiu até a próxima pedra e bateu novamente, o mesmo som. Ela suspirou, frustrada, deveria estar imaginando coisas.

Olhou para Abbas uma última vez, ela continuava lá, sem mexer um único músculo. Nefertari bufou e soltou os braços, desanimada.

— Vamos sair daqui — ela disse, caminhando em direção da porta, mas Abbas continuou lá. — Você não vem?

Abbas bufou, as garras afiadas saíram entre os pelos da pata e ela se virou para a parede, passando as garras exatamente onde estava. A marca ficou esbranquiçada na pedra. Três riscos profundos, como se um metal afiado tivesse esculpido.

Os olhos ficaram estreitos para aquela marca, de longe era possível ver uma coloração mais escura ao redor da pedra. Nefertari se aproximou, trazendo a esfera de luz para perto. A pedra parecia selada com uma argamassa diferente, ela pegou um abridor de cartas e começou a retirar a argamassa ao redor da pedra. O composto se esfarelou com facilidade. Nefertari olhou para Abbas e piscou.

— Muito bem, garota.

Abbas piscou lentamente de volta, era como se dissesse: eu sei que sou incrível. Por um momento, ela ficou feliz por Abbas não poder falar, embora tenha demorado a entender o que ela queria dizer, talvez Abbas não fosse tão diferente assim de Hadan. Os pelos sempre lustrosos, silenciosa, espreitando na escuridão onde ficava completamente invisível. Mas lá estava aquele quê de arrogância.

Quando a pedra mexeu, ela sorriu para Abbas. Circulou a pedra com o abridor para soltá-la por completo e a retirou. Cinco centímetros de espessura e depois um cofre. Uma caixa de metal sem nenhuma tranca, parece que Domec confiava apenas na discrição do local. Ela pegou a caixa e viu um livro de couro transpassado, amarrado com cordões de couro.

Oráculo O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora