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Tem recadinho no final para explicar o que está entre parêntese.

Não esqueçam de votar!!! 

Com os tornozelos afundados no pântano borbulhante, ela ouvia as batidas descompassadas do próprio coração. Na mão direita trazia uma Khopesh que tremia devido o estado de topor. Anpu afundava entregue ao lodo deslizante que o envolvia, enquanto criaturas esguias e sussurrantes chamavam por ele. Os olhos negros agora estavam sem vida, vítreos diante o chamado das almas amaldiçoadas.

Ela lutou para mover seus pés, mas a lama os segurava no lugar, abriu a boca, queria falar e dizer-lhe: Não vá! Queria gritar sobre os sussurros que o amava, mas sua boca não se movia. Estava na (Alverca de Pehur, Explicação no final) impotente diante o horror. Não houve resistência, como gado que caminha lentamente para o abate, ele se afundou nos braços das criaturas.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Nefertari, atingindo o solo pantanoso com tamanha força que a jogou para trás. Estava agora na Terra, seu vestido sujo e rasgado, o frio que queimava suas bochechas redondas era nada diante da sua tristeza profunda. Ela possuía outro nome e estendeu a mão pequena com um soluço segurando a mão de um menino moribundo que desfalecia na calçada.

O corpo estirado do menino magro e quase sem vida não se mexia mais, havia entregue a ela o último pedaço de pão que roubara três dias antes. Ainda possuía o mesmo olhar protetor, ainda era Edward que a encarava com decepção por ter falhado em protegê-la mais uma vez. A morte não demorou para ele e a menina permaneceu abraçada ao seu lado até que a escuridão dolorosa a levou.

Os olhos se abriram com dificuldade sob a luz fraca, a dor do seu corpo sendo retalhado repetidas vezes enquanto uma risada vitoriosa ecoava na pequena sala. Ela sentiu a mesa fria e a lâmina que enterrava com maestria em sua carne. Era Hasani que trabalhava obstinado em seu corpo nu, como um pintor que dá vida a sua arte. O sangue borbulhava em sua garganta produzindo um ruído engasgado de dor. Ela gritou, tão alto quanto pôde e mãos em concha seguraram seu rosto.

— Ali acorda! Ali, eu estou aqui.

Ela abriu os olhos aterrorizada, ainda se debatendo contra as mãos de Edward que tentava acalmá-la.

— Ali sou eu, sou eu. Shhhh. — Ele sibilou embalando-a como um bebê. — Foi só um pesadelo, eu estou aqui.

Ela envolveu o pescoço de Edward com suas mãos e o puxou para um abraço, seu corpo tremia contra ele, enquanto apertava os olhos para afastar a dor que a cometia. Queria dizer a ele que não era apenas um pesadelo e sim, lembranças de vidas onde ambos enfrentaram tantas vezes a morte que ela não podia enumerar. Pensar que logo ele recuperaria essas lembranças e então seria ele quem lutaria para não adormecer. Edward era seu Itemu, seu protetor e pensar nele sofrendo embrulhava seu estômago.

Ela se sentou sobre o colchão e a porta do quarto se abriu, Anpu entrou com passos largos e parou diante dela.

— O que aconteceu? Por que você gritou?

— Eu estou bem, foi só um pesadelo. — ela disse ainda com lágrimas nos olhos.

— Eu vou descer para buscar um copo de água. — Edward se levantou e saiu do quarto.

Anpu ainda vestia o uniforme de treino, ela olhou para ele parado diante dela e imaginou que eles deveriam ter chegado da caçada recentemente.

— Nesert?

— Está vigiando o celeiro com os outros, ele se saiu bem. — Anpu caminhou até o colchão e se sentou ao lado dela. — Você me assustou.

— Desculpa não foi minha intenção. — ela falou em um sussurro, passando as mão no rosto.

Oráculo O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora