4 - Sol

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Soliloque

          Era tão bom papai estar em casa. A festa de ontem não foi como planejado, pelo menos a Suzi mandou uma mensagem de manhã dizendo que amou os presentes, e que vai lembrar de cada uma quando usá-los. Eu amo como a Ade se esforça para ajudar os outros, e a paciência que ela têm, eu sei que ela ficou decepcionada ontem no começo da festa, eu quero que ela converse comigo sobre as coisas que ela guarda, mais não quero pressioná-la. 

          Papai nos fez um café da manhã de hotel hoje, tudo caseiro, ontem eu sei que não foi fácil pra ele ceder e fazer com que a gente se vire mais sozinha, mais ele tem sido tão bom, e a Mari nem implicou com ele. Está dando tudo tão certo.

         — Meninas tenho uma ótima notícia — A Mari fez uma careta tão feia, que eu a chutei por baixo da mesa, papai só deu uma risadinha e continuou — Não se preocupe Mari eu acho que você vai gostar. Eu vou embora amanhã, mais eu aluguei aquela casa no litoral a partir de quinta-feira, vocês podem ir na quinta, mais eu só vou chegar na sexta. Como eu sei que você não se dá muito bem com o litoral Sol — Mari tentou esconder a risada, provavelmente lembrando das outras vezes — Eu aluguei um apartamento pra você em uma cidade lá perto que tem excelentes bibliotecas e picos para você escalar.

        — Papai! Eu nem sei como agradecer! Mais como vai ficar as aulas? — Eu fiquei bem empolgada mais temos compromissos aqui, e as férias ainda estão longe.

       — Vê se relaxa Sol! O perfeito do Bevron já deve ter cuidado disso — Pronto, estava indo tudo bem...

        — Mari ele é nosso pai! Que dificuldade você tem de entender isso?!

        — Não é só isso que eu tenho dificuldade de entender, se ele é tão bom porque não temos nenhuma mãe aqui? A Sol nunca te falou? Ela viu nossas mães indo embora, não conseguiram, ficar nem uma semana aqui. E ele é tão perfeito, você nunca estranhou isso? A gente não nem nenhum primo, tio, nada! Ele vem banca o perfeito, compra tudo pra gente. Pergunta pra ele se ele sabe em qual matéria você tem dificuldade! Ele já se importou? Já te ajudou? A única aqui que tem motivos aqui pra gostar dele é a Sol que teve a infância junto com ele, mais ela também tem que acordar, por que o que ele faz por você agora Loirinha?

         Meus olhos estava, lagrimejando, a Ade já estava chorando e papai estava com uma expressão indescritível, Mari tinha uma crueldade... Papai se levantou sem nenhuma palavra e foi para o seu quarto, pelo barulho ligou o chuveiro, ele sempre faz isso quando vai chorar, pra misturar suas lágrimas com a água do chuveiro, pelo que eu lembro esse é a quarta vez, as outras foram quando cada uma das nossas mães foi embora.

        — Satisfeita Mari?! Você não tem noção? Ele alugou a casa pra você! Ele se preocupa com a gente e se ele não conta alguma coisa pra gente ele deve ter motivos! — Ade concordou e foi para o jardim onde ela sabia que iria encontrar um pouco de paz. 

           Eu fui para meu quarto, abri a janela de teto e fui para o telhado, eu sempre me sinto bem com altitudes, a brisa, o vento, o céu e sua magnitude. Meu quarto é cheio de polaroides que eu tiro do céu, das escaladas que eu faço ou em qualquer dia que eu olho para o céu e vejo a plenitude dele (no caso, todos os dias).

        — Oi Soli — papai descobriu que eu vinha aqui em cima escalando as paredes e colocou a janela de teto faz alguns anos, ele está cheirando a fumaça e brisa, e amêndoas do sabonete dele, não sei se o cheiro de brisa vem dele, a Mari tem razão nessa incerteza, porque cada uma sente um cheiro diferente dele.

       — Oi papai, ainda magoado? Como você ficou? Você sabe do jeito que a Mari é, não da muita bola pra ela não.

       — Eu entendo sua irmã, ela tem razão pra fazer aquelas perguntas, eu acho que  a Ade está pior que eu, ela parece que ficou mais chateada comigo por causa do que a Mari disse. Eu queria conversar com você sobre sobre aquelas coisa, espero que você entenda

      — Pai se o senhor não quiser não precisa contar nada você deve ter seus motivos.

      — Não Soli, eu estou errado eu não contar pra vocês — Esse apelido... ele me chama assim desde criança, eu em sinto tão pequena quando ele me chama assim — A mãe de cada uma... elas não podiam ficar aqui e elas não podiam levar vocês, as famílias delas não aceitariam vocês muito bem. Quando eu olho pra vocês eu vejo cada uma delas, vocês são iguaizinhas a elas tirando os olhos. A sua mãe não pode ficar nem uma semana aqui que nem as outras, ela não conseguiu pegar você no colo senão ela não conseguiria te deixar. 

       — Pai eu não estou entendendo, as famílias delas não aceitavam você? O que você fez? Ou vocês se envolveram muito jovens? E por que três mulheres? Parece que você não têm consideração por nenhuma.

        — Soli, por favor você precisa me entender, eu não fiz por mal ou porque eu não tenho sentimentos. Elas são de famílias importantes e nós éramos jovens sim, e erramos, fomos descuidados, as famílias delas não sabem de vocês e se souberem eles vão querer que vocês vão embora e se separem.

       — E qual o problema nisso? Podemos viver todos juntos.

       — Não podemos Soli, vocês são diferentes que nem suas irmãs, cada família é de um jeito. Vocês não vão simplesmente se separar, vocês vão ter que se voltar uma contra a outra. E minhas viagens... não são bem a trabalho, elas são da minha família que também não sabem de vocês, se eles souberem vão separar vocês e eu também vou ter que me voltar contra vocês, e... Ouvi isso? Tem mais alguém aqui? Fique atrás de mim — ele se levantou foi até a beirada do telhado que dá pro jardim e arrancou uma planta que eu não tinha reparado lá.

Amor de irmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora