Eu queria poder dormir o sábado todo. Talvez ir até a loja do Jiraya para ajudá-lo durante a tarde, já que a praia sempre ficava movimentada aos finais de semana, e assim conseguir tomar um banho para tirar toda a tinta azul e laranja que eu sentia estar impregnada até minha alma.
Mas aparentemente, nas últimas semanas, o universo parecia que fazia esforço para deixar minha vida de cabeça para baixo.
Eu sabia que passaria por dificuldades no mesmo segundo que decidi mudar completamente o curso da minha vida.
Viajar pelo mundo...
Muito bonito em tese. Mas, no final das contas, eu tinha resumido o "mundo" a apenas "viajar pela Austrália", o que não era ruim, mas menos poético.
Pegar uma mochila e sair por ai sem rumo.
Me pareceu deslumbrante num primeiro momento. Porém, se alguém me avisasse que eu passaria tanta fome e dificuldades, talvez eu tivesse pensado duas vezes antes de transformar minha Kombi em minha casa/veículo.
Onde eu estava com a cabeça? Respirei fundo tentando acalmar o fluxo de pensamentos que não me deixaram dormir mais do que duas horas seguidas.
Eu estava começando a ficar ansiosa. De novo.
- Calma, Sakura. - sussurrei para mim mesma como uma prece. Eu tinha achado um trampo temporário como pintora de cenário de uma peça da universidade, e o dinheiro era o suficiente para me alimentar e guardar para a gasolina e uma futura viagem.
Ter encontrado Jiraya havia facilitado as coisas também. Ele me deixava tomar banho na loja, em troca de ajuda com a organização e limpeza do estabelecimento e às vezes, até pagava uns almoços para mim, o que me ajudava a economizar dinheiro. Além disso, tinha o aluguel e aulas de surf gratuitas que ele me dava, o que tinha me ajudado bastante! Não que eu fosse muito boa naquele esporte, vide que eu quase morri afogada quando Naruto me encontrou, mas surfar estava mantendo minha mente minimamente saudável, e isso era bom.
- As coisas já estiveram piores. - conclui em voz alta numa maneira torta de "olhar o lado positivo das coisas".
Ver a vida com a perspectiva de "um copo meio cheio" às vezes me fazia ter vontade de jogar o copo metafórico contra a parede só pelo prazer de vê-lo quebrar em mil pedacinhos.
2:58 – verifiquei no visor do meu celular as horas e, institivamente, me pus a calcular o tempo que eu tinha até que o dia amanhecesse. Uma mania minha, já que tinha pavor de ir dormir com o dia claro. Então eu tinha que dormir agora, ou senão acabaria fechando os olhos com o sol já apontando no horizonte.
Estralei a língua praticamente já aceitando a derrota de uma noite mal dormida quando, o que devia ser a vigésima notificação de áudio, apitou na tela do meu celular.
Resolvi ignorar como eu fiz com as ligações e as outras mensagens de Naruto, mas me assustei quando vi que a notificação não era do Whatsapp, mas sim do direct do Instagram.
- Sasuke...?
Eu sabia que eu teria ligações, mensagens e provavelmente até nudes recebidos de Naruto no mesmo instante em que eu ofereci meu número para ele.
Eu achava o loiro muito fácil de ler, como se ele transbordasse sentimentos. Naruto poderia ser facilmente comparado a uma de minhas telas coloridas e vivas onde qualquer um, desde uma criança até uma pessoa mais idosa, conseguia adivinhar a figura que eu desenhava quase que instantaneamente. Porque ele era isso, uma mistura de cores quentes, formas bonitas e temas felizes... Mas Sasuke? Sasuke, não.
A jogada dele já ter a porra do meu perfil do Instagram me deixou completamente em desvantagem! Aquele puto! Ele podia ser comparado a uma pintura abstrata que você fica olhando horas e horas para ela sem saber que opinião tem sobre a obra, sem saber que sentimentos ela te transmite. Pelo menos eu me sentia assim quando olhava para ele: uma espectadora fascinada pela sua complexa beleza, tentando desvendar seus milhares de significados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A três
FanfictionEla chegou de repente, não falou seu nome e nem o que fazia ali. O cabelo rosa, as tatuagens, o sarcasmo e sua habilidade para atividades pontuais e especificamente inúteis haviam cativado tanto Naruto quanto Sasuke. O problema é que eles poderiam e...