Prólogo | As imortais e a maldição

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Naquela noite de 31 de outubro, a pequena cidade de Oaxaca no norte mexicano preparava-se para mais um Día de Los Muertos

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Naquela noite de 31 de outubro, a pequena cidade de Oaxaca no norte mexicano preparava-se para mais um Día de Los Muertos. Porém, muito destoante do clima de alegria demonstrado pela cidade, o cemitério à frente do extenso pinheiral exibia duas mulheres de negro em eterno luto sul-americano. Um jovem rico acabara de morrer, e seus parentes mais próximos vieram selar seu enterro.

Os olhos da mãe do rapaz materializaram-se no caixão do filho, e depois, no pinheiral solitário ao fundo, o luto substituído por uma espécie de repreensão materna. Queria que o filho não houvesse sido tão distante e soberbo em vida.

Antes de ir, porém, a morena alta debruçou-se sobre o pequeno altar adornado, deixando ali uma miniatura de carro da coleção do filho falecido, o terno de cores neutras que mais usava e uma rosa vermelha. Ao depositar esta última, despejou seus desejos em sussurros.

— Espero que encontres o amor na tua vida posterior, meu filho, já que não o encontraste nesta. E quando acontecer, que não te feches, cariño.

E suspirou, enlaçando os braços com a mãe ao partir.

Não muito longe dali, num parque de diversões a tomar forma para o Halloween Americano, a madrugada seguia severa e misteriosa

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Não muito longe dali, num parque de diversões a tomar forma para o Halloween Americano, a madrugada seguia severa e misteriosa. Muito facilmente podia-se ouvir vozes advindas de dentro do local adormecido, caso algum pedestre desavisado escolhesse um passeio noturno àquela hora.

As vozes, envoltas num timbre sobrenatural e baixas ao ponto de se confundirem com sussurros distantes no escuro, entoavam um cântico em língua antiga, repercutido dentro da Casa Assombrada.

Nesse preciso momento, mais de doze mulheres cadavéricas se moviam em círculo sobre um altar ricamente decorado, atribuindo pequenas pausas para glorificar a lua cheia, que decidira atravessar as janelas espelhadas para espiar mais de perto aquele pontinho vermelho no centro da estranha seita.

Ali, um coração humano batia ao ritmo da canção.

— Que se inicie a cerimônia, servas.

Vinda do breu que circulava as extremidades da sala, uma voz ancestral se aproximava do altar, seus passos ecoando no espaço vazio. Pouco a pouco, os contornos de uma silhueta mulíebre se destacava ao aproximar-se das inúmeras velas dançantes no chão.

E ela trazia uma rosa entre seus dedos.

A deusa nem mesmo perdeu tempo, partindo para cima do coração humano latejante e espetando-o sem hesitação à rosa que trazia.

O órgão cardíaco ia sendo lentamente transformado em um ser humanoide, como a placenta de uma mulher grávida a formar o embrião. Por uma fração de segundos foi possível enxergar um rosto de beleza infindável contorcer-se, até uma faceta de crateras e pele cinzenta tomar o seu lugar. A criatura se debatia, suspensa do chão por uma força invisível.

— Enrique Hernández, filho da soberba, ouve atentamente! — Catrina rasgou o silêncio noturno, sendo saudada por um rugido feroz da criatura a sua frente. Como se a imagem de sofrimento lhe causasse muita satisfação, sorriu incontida. — Pela avareza que tiveste na tua vida serás castigado nesta forma monstruosa que agora lhe atribuo, mas se tua alma encontrar o amor inefável, serás libertado. À redenção te ordeno: vá!

Com apenas uma batida de suas palmas, os pés da besta humanoide encontraram o chão. Um último rugido desapareceu noite afora junto à criatura, as únicas evidências de sua presença apenas nas velas caídas e no sorriso livre da deusa.

— As bênçãos de tua mãe, Yolanda, te seguem.

Foi o último murmúrio da entidade asteca antes de dissipar-se em fumo verde no ar, levando também as servas consigo.

E assim, quando a madrugada dava início ao seu fim, tudo voltava ao normal como se nada houvesse acontecido.

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