Dia 1

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🗽

Vou partir do princípio de que você se lembrou de quem eu sou, não jogou a carta fora em desespero e continuou lendo. Obrigado por confiar em mim, agora vamos voltar para a história.

Você chegaria de tarde naquele dia, o que significava que eu não precisava me preocupar com a sua recepção em relação à aula. Fui normalmente logo cedo e, quando o curso de inglês terminou, no horário do almoço, encontrei-me com Taehyung na frente do armário dele.

— A filha dos meus host parents achou que seria uma boa ideia fazer uma festa do pijama lá em casa ontem. Num domingo. — Ele falou, esfregando o rosto em um sinal claro de cansaço. — Sabe como é insuportável ouvir meninas de oito anos cantando trilhas sonoras da Disney a noite inteira, enquanto você só pensa em como precisa descansar pra aula do dia seguinte?

— Muito insuportável, eu imagino.

— Muito insuportável.

Ele enfiou o material que segurava dentro do armário e bateu a porta com força. Sortudo era eu, que só recebia adultos em casa, que se não eram legais apenas ficavam longe do meu caminho.

Taehyung era da sua idade. Na verdade, ele é. Sei que vocês não mantiveram contato — assim como eu e você —, mas Tae ainda mora em Daegu e continua solteiro e caseiro. Como sempre foi.

Seguimos para a cantina da escola e observamos os vários alunos novos daquela semana, que se reuniam em mesas vazias e demoravam a puxar assunto com os demais. Eu já estive no lugar deles e sabia o quão difícil era chegar em um país extremamente diferente do seu, sem ninguém que você conhece, e ter que se virar para fazer amizades e curtir a viagem. Eu tinha Tae e apenas Tae, mesmo depois de meses naquela cidade. Mas ele já era o suficiente e saber que ficaria em Nova Iorque por ainda mais tempo que eu era um baita de um alívio.

— Por falar em hosts, vamos receber um novo lá em casa. — Falei, porque achei que era o momento certo.

— Ah, é? Semana que vem? — Taehyung perguntou, fingindo se importar.

— Hoje.

— Ele sabe que perdeu a introdução aos novos alunos, não é? — Tae perguntou mais uma vez, olhando para o grupo de alunos novos enquanto entrávamos na cantina e aguardávamos na fila do almoço.

— Deve saber. Ele vem passar só uma semana...

— Uma semana?

— Sim. — Respondi, e me perdoe se as informações a seguir foram dadas de forma incorreta. — Pelo que eu entendi, ele vai estudar na UCLA e vem pra Nova Iorque só pra dar uma melhorada no inglês. Isso só em...

— Uma semana? — Ele repetiu a pergunta, de propósito.

— Pois é.

Pegamos nossa comida e nos sentamos na mesa em que sempre sentávamos. Ela era perto o suficiente de outros intercambistas coreanos, mas longe o suficiente para não parecer que estávamos querendo nos grudar neles e manter essa aparência de "apenas entrosamos com pessoas do nosso país".

Até porque, no fim das contas, isso era uma das coisas que menos queríamos. Não que quiséssemos nos entrosar com qualquer outra pessoa, para ser sincero...

— Pelo menos você não vai ter mais o francês chato na mesma casa que você.

— Nem me fala. — Eu soltei o ar profundamente antes de dar uma garfada grande no meu purê de batatas.

Eu sei que nunca conversei sobre ele com você, Jimin, até mesmo porque nós tínhamos pouco tempo para conversar sobre gente que não me importava nem um pouco. Mas o tal "francês chato" tinha nome — Marlon — e longos cinquenta anos nas costas. E, além de não gostar de mim por motivo algum, ele fazia questão de deixar isso óbvio.

STILL WITH YOU • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora