Capítulo Vinte e Dois

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Victor Decker:

Quando voltei ao castelo, deparei-me com um caos indescritível. Dentro do Salão, um bramido monótono ecoava, o murmúrio baixo de centenas de vozes que se assemelhavam às batidas de um coração gigantesco. As luzes das tochas, combinadas com o brilho das pedras enfeitiçadas que todos carregavam, atingiam meus olhos e fragmentavam minha visão; eu só conseguia distinguir formas vagas e cores. Branco, dourado, vermelho, e o céu noturno acima, gradualmente desbotando do preto para um azul mais claro.

A rainha estava em uma conversa acalorada com Puck e alguns de seus cavaleiros, visivelmente ansiosos. Sua voz se perdia no caos das dezenas de outras vozes que aumentaram e diminuíram como ondas quebrando.

Puck finalmente notou minha presença e surgiu ao meu lado, cuidadosamente afastando Caleb de mim para que fosse levado até um curandeiro.

— O que aconteceu aqui? — perguntei, preocupado, enquanto examinava seu rosto marcado por cortes e ataduras que iam do abdômen até o ombro. — Você deveria se deitar — continuei, segurando sua mão. — Puck?

Com um esforço visível, ele forçou um sorriso.

— Estou bem — disse ele, embora seus olhos ainda procurassem ferimentos em mim.

Então, ele notou as ataduras no meu ombro e seu olhar se escureceu enquanto seus pensamentos se voltavam para Caleb, que tinha sido levado pelos curandeiros.

Permanecemos em silêncio por um momento, observando o caos que nos rodeava.

— Onde estão os outros? — perguntei finalmente.

— Consegui salvar Pauline e Caroline — Puck começou, apontando na direção das meninas. — Grimalkin e Bruno foram levados, junto com a parte construída do cetro. — Ele sussurrou que havia escondido a mochila com a jóia em algum lugar do castelo.

— Puck, então precisamos resgatar os outros. Você sabe como a Rainha Vermelha pode estar planejando algo — falei, virando-me para ir em busca da jóia e escondê-la.

Ele hesitou por um momento.

— Do que adiantará? Parece que ela sempre sabe quando estamos próximos.

Sua voz diminuiu à medida que ele parecia cada vez mais tonto. Apoiou-se em um pilar próximo para se equilibrar, e eu me aproximei, acariciando suas costas. Ele começou a murmurar palavras sem sentido, ansioso. Sua voz se misturava com dezenas de outras, criando um murmúrio tumultuado que pairava em torno da Rainha Vermelha.

— Nunca vi nada igual. Os guardas vermelhos simplesmente viraram as costas e se foram, desapareceram. — Uma mulher com ramos de flores no lugar do cabelo falou.

— Ela deve ter conseguido o que queria, talvez devêssemos simplesmente entregar todo o poder sobre este mundo para a Rainha Vermelha de uma vez por todas — disse um duende.

— Não diga isso; não há motivo para pensar assim. A Rainha Branca nos protegerá, e nós reconstruiremos nossas forças — um cavaleiro respondeu, tentando manter a esperança.

— E o exército vermelho simplesmente os derrubará novamente. — Pauline disse, surpreendendo a todos com suas palavras. — Talvez seja o que mereçam. Deveríamos entregar o poder a ela de uma vez por todas.

— Cale-se! Mostre respeito pela Rainha Grenadine. — Um cavaleiro repreendeu-a bruscamente.

— Fique longe, duende demoníaco! — Caroline exclamou, apontando um pedaço de madeira que encontrara no chão, pronta para se defender.

Antes que a situação pudesse se descontrolar, a Rainha Branca deu um passo à frente.

— Não podemos nos dividir por causa disso. Ainda há muitos mortos no castelo e feridos que precisam ser atendidos — ela falou com firmeza. — Brigar uns com os outros não nos levará a lugar nenhum, apenas fortalecerá o domínio da Rainha Vermelha sobre nós.

Anjo das sombras | Livro 3: O País Das MaravilhasOnde histórias criam vida. Descubra agora