Capítulo Quinze

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Victor Decker:

Faço um esforço consciente para não deixar minha curiosidade sobre meus avós me dominar enquanto o rapaz direciona seu olhar para Puck.

— Vejo que trouxe seu pequeno mascote de Nevernever — o rapaz diz, e Puck rosna em resposta.

— Ele não é meu mascote — eu respondo, minha voz soando firme.

— Ele deveria estar grato por ter alguém como você ao seu lado — o rapaz diz, a fala dele saí em baforadas de uma fumaça acinzentada. Sua atenção volta-se para Puck. — Você, por outro lado, deve se curvar diante dele para mostrar respeito.

A fumaça voa em direção a Puck e se transforma em uma rede no ar, envolvendo-o. O peso faz Puck cair de joelhos, enquanto ele se debate violentamente e tenta se transformar, mas nada parece funcionar.

— Por que está fazendo isso com ele? Liberte-o agora — digo, com um tom áspero.

— Mas ele é apenas um feérico sujo e sem alma — o rapaz diz, como se tivesse feito uma descoberta extraordinária.

— Um homem sem alma! — As fadas nas paredes guincham, com vozes tão doces quanto sinos tilintantes. Elas mergulham dos seus poleiros como radiantes flocos de neve, enxameando em volta de Puck enquanto ele tenta se livrar da sua prisão de fumaça. As fadas tiram a adaga de suas mãos e depois entram pela rede, cobrindo-o por completo.

Dou um salto, empunhando a espada com firmeza.

— Saiam daqui! — grito.

— Oh, não estraguem a diversão — sussurra o rapaz na minha direção. — Não vamos quebrar seu soldadinho de brinquedo.

A raiva me consome, e a magia das sombras começa a tomar forma sobre meus dedos. Os espinhos surgem, e as cordas desaparecem com um simples toque, liberando Puck, que solta um enorme suspiro de alívio enquanto as fadas fogem assustadas.

— Estou admirando como você controla bem seus poderes — diz o rapaz, e me viro na sua direção. Ele veste um terno preto de couro com botas utilitárias, e segura elegantemente a mangueira do narguilé entre dois dedos enquanto descansa sobre o chapéu de cogumelo. Calças desgastadas cobrem suas pernas. Seu casaco, aberto até quase o abdômen, revela um peito liso e alvo, assim como sua pele recém-barbeada.

As fadas nos abandonam, correndo para se reunir ao redor do rapaz. Elas adornam seu cabelo e alisam suas roupas, arrulhando e rindo.

— Ainda vejo que você é alguém muito raivoso — ele diz, balançando o dedo na minha direção com um certo desapontamento. — Imagino como sua avó ficaria ao ver você se misturando com essas criaturas sem alma. Imagino como ela reagiria ao presenciar uma cena dessas.

Puck rosna e se move na direção dele.

— Ele está apenas provocando você, sabendo que não pode retaliar com magia, especialmente quando ele é mais rápido em atacar — eu digo, e o rapaz sorri.

Ele se senta novamente, olhando-me com perspicácia, com um certo toque de orgulho.

— Parece que você consegue ver as coisas do jeito que elas realmente são. No entanto, não vou elogiar sua inteligência neste momento. Meu nome é Morfeu — ele diz, pulando do cogumelo e flutuando na nossa direção.

O nome ecoa nas minhas memórias como se algo dentro da minha mente tivesse sido desbloqueado. Lembranças da minha infância inundam a minha mente, com a voz do meu avô mencionando esse nome com raiva e desgosto.

Permaneço alerta aos movimentos de Morfeu. Alguém que fez o meu avô demonstrar tanta raiva e tristeza todas as noites era alguém que eu deveria observar com cautela.

Anjo das sombras | Livro 3: O País Das MaravilhasOnde histórias criam vida. Descubra agora