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Julho. Caminhava pelo sol ainda escladante de verão á ida para casa depois de mais uma tarde passada na esplanada do costume. Estava cansada e o que mais queria no mundo, naquele momento, era um bom banho quente e a minha cama. Mas achava que tal não ia acontecer uma vez que nessa noite de sexta-feira iria haver uma festa mesmo no bar a poucos metros de minha casa. Porque é que eu tinha de morar mesmo no centro da cidade? Quer dizer, por um lado é ótimo porque estou sempre perto de tudo, mas por outro lado... enfim. De qualquer das formas não pretendia ir á tal festa, a minha disposição era nula.

Quando cheguei a casa, não era tarde, até pelo contrário. O meu pai já tinha saído para trabalhar, mas a minha mãe ainda não tinha chegado. Costuma ser sempre assim, nunca passamos grande tempo em família, já é o normal. Para além do jantar (e ás vezes nem aí), é bastante raro estarmos os três juntos ainda que estejamos todos em casa. O meu pai é bastante distante, usualmente ou trabalha, ou passa a vida a ver televisão ou concentrado no computador. Não posso dizer que me dou muito bem com ele. Como temos o mesmo feitio estamos sempre a chocar, passamos a vida a discutir. Já com a minha mãe é o contrário. Falo muito com ela, sobre tudo e até passamos tempo juntas o que é ótimo.

Entretanto fui tomar banho, quando saí ouvi a minha mãe chegar. Fui ter com ela á cozinha. Já começava a preparar o jantar.

- Olá, mãe - cuprimentei.

- Oh, olá. Não sabia que já estavas em casa. - respondeu-me não tirando os olhos do frigorífico.

- Cheguei á um bocado. - encolhi os ombros enquanto me sentava no balcão que dividia a cozinha propriamente dita e a zona de jantar. - Como foi o teu dia?

- Oh, o costume, sabes... - respondeu hesitante. Achei a resposta estranha.

- Mãe, está tudo bem?

- Sim, porque perguntas? - olhou-me fixamente, mas o olhar dela pareceu-me distante.

Encolhi os ombros.

- Deixa lá...

- E então? - sorriu-me - Frango ou douradas para o jantar?

- Hum... douradas.

Nunca fui muito fã de carne, assim como a minha mãe. Apenas compramos carne por causa do meu pai, porque nós conseguíamos aguentar bem sem ela. Quando estamos as duas sozinhas em casa preferimos fazer uma boa salada a cozinhar um naco de carne.

- Fazes a salada por mim? - perguntou-me.

- Claro.

Dirigia-me para a bancada para ajudar a minha mãe quando ouvi o meu telemóvel tocar em cima da mesa de jantar. - Deixa-me só atender esta chamada, mãe, já te ajudo! - disse-lhe. Dei meia volta e dirigi-me para a música que tocava num tom médio, mas que invadia a cozinha.

Peguei no telemóvel. O ecrã piscava: Uma chamada a receber: Catarina. Atendi.

-Sim?

"Oi! Vens á festa logo á noite?" - a voz dela soava animada. Mas eu não estava mesmo no mood.

- Sinceramente não estou com muita vontade...

"Oh, vá lá. Vai ser divertido, vais ver."

- Não sei, Cat. Não estou com disposição...

"Estás sim, é tão perto de tua casa... se não gostares do ambiente vens embora, vá lá, faz isso por mim!" - implorou-me com a voz doce.

- Hum, está bem. Vou ver se consigo ir, já te digo alguma coisa, ok? - cedi, não muito animada.

E se pudesses voar?Onde histórias criam vida. Descubra agora