Antes mesmo de abrir os olhos, ela sentiu as dores, todo o seu corpo doía. Nada havia sido quebrado, e pelas lesões que sofrera, ela era uma garota de muita sorte dada a gravidade do acidente, foi tudo o que o médico lhe falara antes de voltar a apagar.
Mas agora sentindo tantas dores, ela cogitou a possibilidade de ter sonhado com o diagnóstico de ser sortuda. E lembrou do paramédico.
"Apenas para registro, sorte não existe, existe a providência de Deus, Ele cuidando de cada um de nós."
Mexeu-se frustrada, e gemeu. A mãe imediatamente se materializou ao seu lado.
- Oi mãe! - Disse com um meio sorriso.
Parece que não importava, o quanto dizia a si mesma, que iria fazer o possível para não ir parar em um hospital, e deixar a mãe naquela situação, quando menos esperavam, lá estavam elas naquele quarto branco, impessoal, frio, e com a mãe destruída. Apertou os olhos para as lágrimas não escaparem.
- Está sentindo dor? - Perguntou a mãe preocupada, ela abriu os olhos triste, sua mãe parecia tão cansada!
- Não muito. Que horas são? A senhora parece cansada, eu sinto muito!
- É óbvio que eu estou cansada Claudia! Como você pôde fazer isso de novo? Você nos prometeu, o que é, a sua palavra não vale nada? Quando você vai crescer? Vai aprender que o mundo não gira ao seu redor? Que você vai sofrer decepções, que as coisas nem sempre serão como você quer? Quando minha filha? - Perguntou exasperada, indo sentar em uma cadeira de fibra.
Claudia ouviu cada palavra estupefata, por que nunca lhe perguntavam as coisas? Por que sempre tinham que pensar o pior dela? E quanto mais a mãe falava mais seu coração acelerava, sua boca ficava seca, e o ar mais demorava chegar em seus pulmões, ela tornou a fechar os olhos tentando respirar, então não ouviu mais a voz da mãe, abriu os olhos apavorada. Ela estava sentada com a cabeça apoiada nas mãos, parecia que chorava.
- A. Senhora. Acha. Que. Eu. Fiz. Isso. De. Propósito? - Falou pausadamente, pois estava difícil respirar.
- E não foi? Como você me explica, você ter ido parar debaixo de um caminhão? - Perguntou furiosa.
Tentou levantar, pois agora não respirava de jeito nenhum, mas as dores a impediam de se levantar. Viu a mãe correr até ela, e falar alguma coisa mas não compreendia, sua concentração estava toda em respirar. Chegou uma enfermeira, e ela fechou os olhos fortemente, talvez estivesse finalmente chegado a hora dela.
Acordou novamente, com dores e sonolenta, a mãe estava jogada na mesma cadeira, suspirou com pesar.
- Eu não me joguei debaixo do caminhão. - Conseguiu dizer baixo, mais a mãe ouviu, ela levantou e se aproximou da filha, de braços cruzados.
- Sério? Por que não é o que parece! - Disse sarcástica. - E se não pode ter uma conversa franca, é melhor não começarmos. - Concluiu irada.
- E desde quando eu não posso ter uma conversa franca? Vocês nunca me pouparam disso, por que fariam isso agora? - Perguntou confusa.
- Aparentemente você teve uma crise de ansiedade, era só o que faltava para o seu currículo de esquisitices. - Disse descruzando os braços, e andando de um lado para o outro. - Agora temos que ser cautelosos com você, porque você não aguenta a pressão! - Ironizou.
- Tem toda razão mãe! E quer saber não ligo a mínima para o que vocês pensam que aconteceu, é sempre assim. Vocês nunca me perguntam o que aconteceu, vocês deduzem o que houve e pronto, a minha versão dos fatos que se dane. E quer saber mais, eu acho melhor a senhora ir para casa, passar mais uma noite comigo em um hospital deve ser muito desgastante. Principalmente comigo cheia dos melindres. - Disse no mesmo tom que a mãe usara.
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Deus também estava lá.
RomanceClaudia é uma jovem traumatizada, protegida pelos pais, e descrente. Ela decide morar sozinha e trabalhar, e quer ser livre e independente. Mas a mãe dela contrata Luciana para trabalhar na casa dela e o primo Marcelo vai passar uns dias com ela, e...