Princesa Sakura [HIATUS - em revisão]

Sopa (não) é janta

Saí de lá o mais rápido que pude, fechando a porta do banheiro assim que entrei. O que diabos acabou de acontecer?

~Sakura

Ainda um pouco ofegante, me recostei na parede, tentando processar o que aconteceu. Não é nada de mais, ele mesmo me viu na Prova Real. Mas por que isso me abalou tanto?

Em meio a tantos pensamentos, apenas um se sobressaía em meio àquela bagunça que estava na minha mente: é o homem mais bonito que já vi na vida.

Tentando espantar essas divagações, comecei a me preparar para entrar no chuveiro. Me despi com menos dificuldade do que no dia anterior, uma vez que as memórias agora estavam muito mais distantes, e deixei a água quente correr pelo meu corpo, afastando tudo da minha mente. Eu realmente estava precisando daquilo.

Por isso, quando voltei para o quarto para guardar a roupa que tirei, não pude evitar corar ao olhar para ele deitado na cama, vestido com uma roupa fina que mostrava bastante do que eu vira minutos atrás. Respirei fundo. Não queria discutir esse assunto no momento, mas era melhor do que deixar para depois.

— Oi — ele respondeu, um pouco hesitante — Me desculpe por... por aquilo, eu tenho o costume de me vestir no quarto e nem imaginei que você estaria aqui.

— Tudo bem, acho que isso nos deixa quites — acrescentei em um tom mais baixo.

— Ah, claro — ele soltou um riso nasalado — Estava com medo de fazer essa piada.

Ri com ele, aliviada por ter quebrado a tensão do local. Foi mais rápido do que pensei que seria. É bem provável que eu nunca vá conseguir olhar para ele do mesmo jeito, mas o fato de estarmos conversando normalmente já indica um bom avanço. Não esperava que tudo voltasse ao normal em poucos minutos.

Voltamos para a sala e Naruto estava fazendo o jantar, enquanto Sasuke discutia alguma coisa com ele.

— Eu já falei que sopa não é janta!

— Quando você mora sozinho até pipoca vira janta, agora para de reclamar senão eu deixo você fazer seu próprio jantar.

— Por mim tudo bem, é só pedir uma pizza ou qualquer coisa que não seja essa água quente aí.

— Boa sorte para encontrar um lugar aberto domingo à noite. Mesmo que consiga, não vai ser uma comida tão boa quanto a minha, e não acho que vão aceitar entregar para um foragido.

— Hunf, você venceu. Eu como a não-janta.

— O que estão fazendo? — interrompi.

— Eu estou fazendo o jantar e o senhor emo aí tá reclamando — respondeu Naruto.

— E com razão! Se eu jantar sopa fico com fome em cinco minutos! — retrucou Sasuke.

— Problema seu! Que faça sua própria comida, então!

Ainda reclamando baixo, Sasuke voltou para a sala. Me virei para ir também e vi que Kakashi estava dando o máximo para segurar o riso.

— Eu moro com crianças — revirou os olhos, rindo.

***

Deitamos lado a lado no sofá, eu, Kakashi e Sasuke, para assistir à televisão enquanto Naruto terminava o jantar. Tentei não ficar encarando - de novo - os músculos que despontavam por debaixo da camisa do Hatake. Para com isso. Esse assunto já acabou. Então por que aquela imagem não saía da minha mente?

No fundo eu sabia a resposta para aquela pergunta, mas jamais admitiria isso para mim mesma; tinha gostado da visão.

— O jantar está pronto — anunciou Naruto, interrompendo meus pensamentos.

— A sopa, você quer dizer — retrucou Sasuke.

— Vão começar com isso de novo? — murmurou Kakashi, com um tom de cansaço na voz — Come logo essa sopa sem reclamar, Sasuke, nem que seja com um pedaço de pão.

No fim, ele acabou cedendo, e nós quatro comemos a sopa. Me perguntei como Sasuke podia ficar emburrado com uma comida boa como aquela, mas, pelo que pude perceber, ele e Naruto discutem até por causa da cor das paredes. No final das contas, Sasuke acabou fazendo um sanduíche uma hora depois de comer a sopa.

— Limpa-trilhos — ouvi Naruto resmungar.

~Kakashi

Depois de Sasuke e Naruto brigarem por meia hora por causa de uma sopa, - não que eles precisassem de algum motivo para brigar - fomos para o sofá e me cobri para ler.

Logo depois de eu me aconchegar na colcha, Sakura puxou a outra ponta e se cobriu junto comigo. Quando ela chegou mais perto, pude sentir seu cheiro inebriante, e meu coração errou um compasso em resposta.

Ah não. Não, não, não, não, só pode estar de brincadeira.

Não posso estar gostando dela, não com tão pouco tempo e depois de tudo o que passamos. Isso não devia estar acontecendo.

Mas está.

Tentei voltar minha atenção para o livro, não sem antes perceber um leve rubor no seu rosto. Será que... não. Deve ser só o frio. Estou imaginando coisas. Ou os dois.

Involuntariamente, meus olhos se seguiram para seu corpo. Não pensava na Prova Real até o momento que ela a mencionou. Agora, notava suas curvas por baixo do pijama. E que curvas. Em dado momento ela notou meu olhar, e o desviei rapidamente de volta para o livro. Rápido demais para que pudesse reparar, espero.

Controle-se, Kakashi.

Resolvi ir ler no quarto. Não conseguiria me concentrar com ela tão perto, mesmo que eu tentasse reprimir esse sentimento. Por mais que minha mente tentasse focar em outras coisas, meu corpo me traía.

Talvez teria sido melhor se ela tivesse escolhido dormir na suíte. Ao menos passaríamos menos tempo juntos e aquilo, o que quer que seja, esfriaria antes que interferisse nos nossos planos. Seria muito mais difícil manter tudo em segredo se acabássemos criando uma relação. Não que seja o que eu quero.

Depois de pouco mais de uma hora, Sakura foi ao quarto para dormir. Ela atraiu meu olhar assim que passou pela porta, mesmo com minha mente se empenhando em voltá-lo para o livro. Reparei que também lançou alguns olhares para onde eu estava, mas provavelmente só estava tentando não pisar em mim enquanto arrumava a cama. Era melhor ir dormir logo, antes que eu fizesse alguma besteira.

~Sakura

Percebi algumas mudanças no comportamento de Kakashi logo depois do jantar. Quando me sentei a seu lado embaixo da colcha do sofá, vi seu rosto corar levemente, e logo depois desviou o olhar para eu não reparar que estava me encarando. Juntando tudo isso com sua saída apressada até o quarto, eu diria que ainda não superou totalmente o que aconteceu. Tampouco eu superei, acrescentei mentalmente. Vez ou outra me pegava revisitando aquela imagem, me repreendendo logo depois.

Com toda a certeza, nunca mais vou olhar para ele do mesmo jeito.

Grande parte de mim estava completamente envergonhada por lembrar daquilo. Mas outra muito pequena, escondida bem lá no fundo - a mesma que eu não queria assumir - torcia para que ele esquecesse que eu estava lá mais vezes. Era uma parte tola e inconsequente, mas eu não conseguia ignorá-la por algum motivo.

Espantei aqueles pensamentos e fui dormir. Talvez no dia seguinte minha cabeça esteja em ordem. Sim, uma noite de sono resolveria tudo isso.

Sentindo o cansaço dos últimos dias me abater, não precisei de muito tempo para cair no sono.