Prologo

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Passaram-se duas semanas desde que te foste, tem sido horrível suportar esta dor, todo este tempo e só de pensar que poderei suporta-la ate ao fim dos meus dias, está a dar cabo de mim.

Como pudestes ir embora assim desse jeito? Pior, como pudestes ir embora sem me dizer nada antes? Eu estava aqui para te ajudar, estava aqui para te apoiar, estava aqui, como um melhor amigo sempre faz, mas decidistes ir sem mais nem menos e deixar-me aqui a sofrer. Como pudestes? Como pudestes pensar que a tua morte não causaria tristeza? A tua mãe está mal, muito mal, estas feliz por isso? Como pudestes ser tão egoísta a este ponto? 

 Porque? É a única palavra que me atravessa os pensamentos todos os dias, e tento encontrar as respostas, para isso todos os dias, mas o único que podia mas dar, já não está entre nós. Tento perceber o motivo que te levou a fazer isso, uma zanga? Um desentendimento? Eu?

Mas por mais que eu tente não consigo encontrar as respostas é um beco sem saída, não tinhas razões para fazer o que fizestes, eras feliz...ou pelo menos aparentavas sê-lo, tinhas uma mãe que te amava, ama muito, tinhas amigos, tinhas-me a mim, tinhas alguém que te amava (embora não gostasse muito dela), porque? Porque que pusestes fim á tua vida?


Talvez aí no céu, te tenhas perguntado como estou, eu estou bem, quer dizer dentro dos possíveis, a primeira semana foi difícil fiquei o dia fechado no quarto a chorar, nem saia para comer, não tinha fome nem apetite, a minha mãe tentava reconfortar-me o máximo possível, não gostava de a ver preocupada comigo com aquele olhar triste, foi ai que me lembrei da tua mãe, como é que ela estaria naquele momento? Provavelmente muito pior que eu e provavelmente sem ninguém para a reconfortar e com esse pensamento chorei ainda mais. Já o meu pai...sabes como é, não é muito ligado a afetos.

Numa manhã, ouvi os meus pais a conversar, estavam a falar o que haviam de fazer comigo. A custo levantei-me da cama e abri um pouco a porta do meu quarto para ouvir melhor a conversa.

-Temos de o levar a um psicólogo-afirmou a minha mãe.

Após uma longa pausa o meu pai finalmente falou.

-Não temos nada, ele está otimo, em breve isso lhe passa, não vale a pena gastar dinheiro nisso-típica resposta do meu pai.

A minha mãe suspirou.

-Ele já não come á 3 dias, Frank.

-E o que eu tenho a ver com isso?

-Ele é teu filho, Frank, tens muito a ver com isso-ripostou a minha mãe, levantando um pouco a voz

 -Faz o que quiseres, eu já não quero saber.

-Otimo, então vou pô-lo num psicólogo.

-Então pagas tu do teu dinheiro a esse psicólogo.- gritou o meu pai.

-Com muito gosto-gritou de volta a minha mãe.

Voltei a fechar a porta e voltei-me a deitar. Sabes que a relação dos meus pais foi sempre bonita, pelo menos pela historia que a minha mãe contava, mas desde que o meu pai perdeu o emprego, tem andado a vida a discutir, preferia que eles acabassem, como os teus pais fizeram, assim não teria de ouvir louça a partir e gritaria, mas a minha mãe ama-o, ama-o demais, sei disso pois ela chora no quarto abraçada á fotografia de casamento (em que ambos sorriem), sei que ela deve desejar muitas vezes que volte o velho Frank, mas o velho Frank está cada vez mais longe de aparecer. Ainda por cima, agora o meu pai tornou-se um alcoólatra viciado no sofá e em football, que já não quer saber de nada.

E lá fui, no dia seguinte para o tal psicólogo, que na verdade era uma psicóloga, chama-se Dra Jenny, não é muito velha mas também não é muito nova, talvez esteja na casa dos cinquenta, digo isto por apresentar alguns cabelos grisalhos e rugas na testa ela é simpática e com um sorriso caloroso, que me pôe à vontade.

-Então, o que te trás por cá, Josh?-perguntou calmamente, embora já soubesse a resposta.

Arranjei coragem para falar e quase num sussurro respondi:

-O meu melhor amigo morreu...-dize-lo em voz alta pela primeira vez, fez com que se tornar-se real, que já não era uma coisa da minha cabeça, que inventei.

-Como isso te faz sentir, Josh?

-Triste, mal, desamparado e um pouco enraivecido.

-Porque enraivecido?-levantei os olhos, para olhar para ela, de seguida recostei-me na cadeira.

-Não sei- respondi num encolher de ombros.

-Será que é por não saberes o que o levou a fazer isso?

-Talvez.

Após uma breve pausa ela ajeita os óculos, escreve algumas notas no seu bloco e de seguida pousa a caneta e entrelaça os dedos.

-Sabes Josh, nós nunca chegamos a saber o que é que outro pensa e sente verdadeiramente, se calhar o teu melhor amigo já se sentia assim à muito tempo, ou se calha só se sentia assim á pouco tempo, sabes pessoas depressivas não se suicidam porque querem, suicidam-se porque querem se livrar da dor que transportam, e elas também são boas a esconder os seus sentimentos, para não preocupar os que mais ama, a culpa não é de ninguém e muito menos tua, infelizmente as vezes não conseguimos contornar isso e incidentes destes acontecem mas isso ninguém tem culpa. Percebes onde quero chegar?-acenei afirmamente com a cabeça enquanto lágrimas gordas escorriam-me pela cara. -Por isso não te massacres com esse sentimento de culpa, de certeza que tu fostes um bom amigo para ele, como ele foi para ti e de certeza que ele levou esses momentos consigo- comecei a soluçar e automaticamente tapei o meu rosto encharcado com as mãos -Vou-te deixar um bocadinho a pensar e entretanto vou chamar os teus pais- e saiu, deixando-me ali sozinho.

A partir desse dia acabei por ir 2 vezes por semana e na ultima sessão ela disse-me:

-Josh, tenho uma surpresa para ti-anunciou, estendendo-me um bloco de notas, olhei para ela para que ela me disse-se o que era para fazer com ele-Vais, escrever para o Mateo, através desse bloco, como se estivesses a falar com ele-fácil, pelo menos pensava eu, quando cheguei a casa não sabia como começar, mas sabia por qual palavra havia de começar:

PORQUE?..

Ao meu melhor amigo.Onde histórias criam vida. Descubra agora