CAPÍTULO 3

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O falecimento do senhor Schmidt, avô do Peter, causou grande rebuliço na família e no grupo a que pertenciam. O sr. Schmidt era dono de uma grande rede de fábricas de produtos farmacêuticos e também de um pequeno grupo de farmácias, mas que estavam em crescimento e representavam milhões de dólares. Tudo que tinha estava em testamento, porém com condições. A leitura do testamento, que ocorreu dois dias após o funeral chocou a família, em especial o neto Peter. Ele era o único neto, filho do sr. Peter Octavius Schmidt, que por sua vez era filho único do falecido.
Peter não mantinha bom relacionamento com o pai e a leitura do testamento causou um certo prazer em vencê-lo novamente. Quando alcançou idade suficiente, Peter assumiu seu lugar nas empresas que pertenciam à família, a mãe era sócia majoritária e com seu falecimento passou o poder ao filho que por sua vez, comprou as ações do pai, deixando-o apenas com uma pequena parcela de participação no grupo e agora, estava vencendo-o novamente.
Mas um detalhe do testamento o enfureceu, especialmente porque o pai sentiu prazer com aquilo:
- Isso é impossível.
- Sr. Peter, podemos prosseguir?
Ele estava revoltado, então assim que concluiu a leitura e as testemunhas assinaram, ele saiu direto para seu escritório na empresa. O amigo de longa data e irmão de criação, Hector, o seguiu:
- Como seu avô é criativo.
- Criativo? Isso é muita ousadia, ele não podia fazer isso. – Ele sentou-se arrancando a gravata.
- Como ele pensou nisso? Impor a condição de que se case, para receber a fortuna... – Ele riu.
- Qual a necessidade de ter uma esposa para administrar alguns poucos milhões? – Ele levantou-se e foi até uma mesinha que ficava no canto da enorme sala, serviu-se de whisky retornando com dois copos. Entregou um copo ao amigo e voltou a sua cadeira.
- Mas isso é mais fácil de resolver que imagina.
- Claro! Mando matar o advogado dele e recebo minha herança por direito. – Ele riu e bebeu.
- Não seja tolo, matá-lo causaria um rebuliço e com certeza, tem outras pessoas do grupo envolvidas com esse desejo do seu avô. Se não se casar, tudo irá para seu querido papai.
Aquilo causava uma certa revolta e ele soltou um suspiro forte :
- Como “EU", Peter Octavius Williams e Schmidt, posso simplesmente “me casar"? – Ironizou.
- Eu tive uma ideia! Seu avô quer que constitua família e seja feliz, não que se afunde em trabalho e dinheiro... Então, ele não está aqui pra ver em que estará se afundando... Com um casamento por conveniência, terá o que é seu e é claro, ninguém precisa saber o que se passa entre as quatro paredes de seu quarto.
Até que era uma boa ideia, um pouco perigosa, mas boa. Peter sorriu pensando no que o amigo dissera.


Enquanto isso, no banco Elly tentava convencer o gerente que a ajudou a conseguir o empréstimo a encontrar uma saída para seu problema:
- O senhor não entende, eu fui roubada. Ele fugiu com meu dinheiro. – Ela dizia desesperada se segurando para não chorar.
- Srta. Eu fiz o que pude para te ajudar a conseguir, eu não tenho o que fazer.
- Cancele a transação, o contrato...
- Como cancelar uma transação em que você já sacou o dinheiro? Como cancelar o contrato se não tem o valor para devolver? – Ele tentava explicar, mas se recusava a acreditar que não tinha como resolver. – Srta. Infelizmente não posso ajudá-la! Vou pedir que pare de chorar ou se retire, está causando rebuliço na agência e se chamar tanta atenção poderá me prejudicar, pois meu gestor irá descobrir que a ajudei a conseguir este empréstimo que agora não tem pagar.
Ela não conseguia conter as lágrimas, mas não queria prejudicar aquele bom senhor, então balançou a cabeça e se levantou. Saiu devagar e sem direção.
Aquilo não passou desapercebido e logo o senhor foi abordado por um outro gerente que o orientou a comparecer à sala do chefe do departamento.

Ao chegar em casa, nem foi percebida pela colega que lia um jornal com muito interesse e sentou-se no sofá.
- Minha vida está arruinada.
- Amiga, veja isso! - Mostrou-a o jornal, na manchete da capa uma foto do Peter e o letreiro destacava: “ Herança x Casamento: Bilionário em busca de esposa!”. Ela não percebeu do que se tratava, apenas levantou-se e foi para o quarto, a amiga estranhou, mas voltou ao jornal.


No Grupo O&S, Hector entrou no escritório de Peter e jogou o jornal na sua mesa questionando-o:
- O que significa isso? - Sentou-se na cadeira em frente e aguardou resposta.
Peter pegou o jornal e leu a manchete, soltou um sorriso e respondeu:
- O Andy conseguiu... Pensei que se divulgasse poderia ser mais fácil conseguir o tal casamento por conveniência.
- Você está louco? Se seu pai souber disso pedirá ao advogado pra anular o testamento ou requerer a herança por você estar forjando o casamento...
- Ele não seria louco.
- Meu caro... Estamos falando da família Schmidt! A sua família! – Ele ergueu-se sobre a mesa e continuou – Você quer perder a chance de se tornar o mais novo bilionário da cidade e região?
Ele pensou e respondeu:
- Então o que sugere?
- Vamos fingir que essa informação vazou e se trata de difamação. Você como um cara solidário e pacífico não irá processar o jornal que divulgou isso sem a sua autorização, até mesmo porque ainda está sofrendo com a perda de seu avô. Outra informação que deixará no ar é de que já existe uma pessoa em sua vida e não quer causar nenhum transtorno na vida dela. Assim, todos saberão que já existe um “relacionamento" as escondidas, quando a bendita cuja aparecer não poderão te acusar de forjar nada. Nem acusar a moça de interesse.
- Você sempre pensa essas coisas ou realmente surgem na sua cabeça somente quando necessário? – Ele se aproximou do amigo por cima da mesa sorrindo.
- Temos que encontrar uma moça fácil de manipular, de preferência que tenha algo a perder caso abra a boca. Além disso, faremos um contrato nupcial e uma das cláusulas é o casamento sem comunhão de bens ou acordo de fidelidade, pois em caso de infidelidade a pessoa sai sem direito a nada. Que tal?
- Contrato nupcial... E podemos incrementar algumas outras exigências?
- O que você quiser. – Hector era a mente genial por trás da maioria das trapaças que Peter precisava, mas no fundo era uma pessoa confiável.
- Vou pensar no que quero colocar. Já temos que adiantar isso. E um prazo...
- Não. Não temos prazo para casamentos. Você vai ser visto algumas vezes por um fotógrafo, que iremos contratar para vazar seus “encontros" com a tal moça, pra render algum ibope. Depois seguiremos com um casamento às escondidas por causa dos holofotes que você sempre evita. Ninguém saberá do contrato nupcial. Por volta de um ou dois anos de casado você descobre uma traição que acarretará o divórcio e a moça” Puff" desaparece dessa história. Claro, que daremos uma boa quantia para que ela cale-se e suma.
Peter viajava nas ideias e adorava cada detalhe que Hector passava.

Na semana seguinte, os jornais sempre repetiam a mesma pergunta: “ Quem será a sortuda?”
Elly acabou acompanhando involuntariamente, já que usava o jornal para buscar emprego, já superara os episódios anteriores e estava determinada a conseguir outro emprego e pagar a dívida. Pra sua alegria, um anúncio de vaga de atendente em lanchonete na região central. Mais do que depressa, foi até a agência que estaria captando candidatas à vaga.
Enquanto iniciava um processo seletivo, sua ficha caía na mesa de Peter:
- Talvez tenha encontrado a sua candidata perfeita! – Hector sorria de pé em frente ao amigo.
Peter abriu a ficha e leu poucas linhas:
- Uma garçonete? É isso mesmo? – Perguntou arqueando uma das sobrancelhas.
- Leia tudo. Ela é uma garçonete desempregada, que ajuda os pais do interior, com dois irmãos, vive num apartamento com uma amiga e o melhor, deve cem mil dólares ao grupo e recentemente foi implorar o perdão da dívida por não ter como pagar. Quer mais detalhes?
Ele entendeu o que o amigo explicou e com olhar fixo num ponto qualquer sorriu, um sorriso maléfico e traiçoeiro. Tinha a presa perfeita, a laranja perfeita para seu plano de receber sua herança, e a qualquer custo teria aquela esposa e aquela herança.
Então, retomaram as ideias sobre o plano.


Uma semana se passou, Elly encerrava o expediente em seu novo trabalho feliz apesar de cansada. Colocou o lixo na lixeira dos fundos da lanchonete cantarolando, percebeu que do outro lado da rua estava um homem estranho, recostado a um carro preto e a observava. Ela balançou a cabeça se convencendo de que era apenas impressão sua e retornou a suas últimas atividades.
Ao caminhar até a estação, teve a sensação de que seria seguida então, apressou o passo.
Em casa, ao fechar a janela, percebeu que aquele mesmo homem estaria parado e olhando na direção dela. Chamou a Lis se escondendo:
- Lis, tem um homem estranho olhando pra nossa janela. – Falou quase num sussurro fazendo sinal pra janela.
Lis abriu a cortina e não percebeu nada.
- Tem certeza amiga? – Procurou aos arredores.
Elly olhou e ele havia sumido, então concluiu que seria coisa de sua cabeça.

No sábado, daquela mesma semana, ela saiu do trabalho e seguia ao encontro da Lis. Ela se trocara no trabalho, pois combinara de tomarem um drink para comemorar a nova conquista e o melhor, por conta do novo namorado da Lis. Se encontraram em um pub e tiveram a ideia de sair pra dançar, Elly estava desanimada mas a amiga insistiu tanto que quase a sequestrou.
Na boate, ela dançava para extravasar todo estresse que havia absorvido e estava preso em si. Um homem se aproximou e a ofereceu uma bebida, ela sorriu e recusou, mas ele insistiu e sussurrou ao seu ouvido um elogio que ela mal distinguiu. Ela aceitou a bebida para satisfazê-lo e fez sinal de que iria falar com a amiga, mas ele pegou em seu braço e pediu:
- Dança comigo! Só uma dança, prometo te deixar ir. – Ele afastou-se e sorriu.
Ela estava um pouco tonta, mal o reconheceu e sorriu assentindo. Dançaram juntos parte da noite. Volta e meia, ele se aproximava dela e sussurrava algo em seu ouvido fazendo-a rir. Lis estava com o namorado em uma mesa pouco distante e não percebeu quando ela saiu agarrada ao braço do homem que a abordara.
Saíram da boate e ele segurando-a falou:
- Venha, te levarei pra casa. Está muito bêbada e é perigoso ficar aqui assim.
- Ownt! Você é atencioso! – Ela estava muito inebriada e falava quase que por sílabas – Não precisa, minha amiga...
- Venha! Meu carro está logo ali.
- Mas não sabe onde moro... – Ela tentava não segui-lo, mas era impossível já que não tinha controle de suas pernas e coordenação motora zero.
- Venha gatinha. Comigo estará segura. – O homem a conduziu até  um carro e ela desabou em seu colo no banco de trás.
Ainda sentiu quando ele deu uns tapinhas de leve no seu rosto e comentou:
- Ela está dopada! Vamos!
Ela queria recobrar a consciência e se manifestar, mas nada no seu corpo respondia. Apagou.

Eram quase 10 horas da manhã, quando Elly despertou. Sua cabeça doía e ela se esforçava para identificar onde estava e o que acontecera. Forçou-se para lembrar e nada. Sentiu a colcha que a cobria macia, então percebeu que estava com uma camisola branca de cetim, as alças caíam em seus ombros e era curta, seu tecido liso fazia com que subisse até altura do bumbum. Então, num susto ela se cobriu abraçando a colcha contra o peito, fechou seus olhos e apertando-os falou para si:
- Não, não,  não... Ellene sua idiota o que você fez? – Ela apertou suas têmporas afim de tentar se lembrar ou acordar daquele sonho, mas permanecia no mesmo lugar e sem nenhuma lembrança.
Ela levantou-se, puxando a colcha para cobri-la, verificou no quarto se havia alguém, percebeu que suas roupas estavam em uma poltrona nada convencional que mais parecia um divã, então aproximou-se devagar para pegá-la. Quando se erguia abraçando a roupa, levou um susto e deixou a colcha cair, quando uma voz forte e marcante:
- Onde está indo? Depois de ontem, não iria nem se despedir... Que feio! – Ele ironizou.
Ela ergueu-se num impulso pressionando suas roupas contra si, apertou os olhos e tentou se desculpar com certo acanhamento:
- Eu... Me desculpe, pois... O que houve ontem... – Ela buscava palavras para se explicar.
- Não vai me dizer que a noite foi tão ruim, que não se recorda de nada! – Brincou sentando-se na cama.
Ao atravessar o quarto, o cheiro dele invadiu a cabeça dela e a desestabilizou. O corpo semi nu, causava arrepios, os ombros largos, peitoral e abdômen bem definidos se destacavam com o brilho da água que ainda restava. As pernas grossas e fortes eram delineadas pela calça de linho branca. A mão no bolso causava mais impacto, pois ela não sabia se aquele volume era mesmo a mão dele ou outra parte do corpo despertando.
Ela tentou conter sua respiração que perdia o compasso. Ele sentado observava seu nervosismo nítido. Ela buscou palavras:
- Eu... Eu sinto muito! Eu... Preciso me vestir e... – Ela tentou apontar para a porta do banheiro, porém seu corpo no máximo se moveu de leve.
- Engraçado. Ontem você estava tão livre e leve... Por que está tão nervosa? – Ele sabia como causar mais impacto nela. Dessa vez, ela assustou-se com a porta. Alguém bateu e anunciou.
- Café da manhã! – Ela soltou um gritinho baixo e colocou a mão no coração.
Ele soltou um riso de prazer e levantou-se, foi até a porta e abriu-a. Enquanto um rapaz entrava com um carrinho e arrumava o café da manhã na pequena mesa do canto do quarto, Elly procurava sua bolsa e seu telefone.  A bolsa localizou, mas seu telefone não estava ali.
Assim que o rapaz saiu, o homem fechou a porta trancando-a e abriu uma gaveta de um móvel que havia ao lado da entrada.
- Está procurando por isso? - Mostrou-a seu aparelho. Ela olhou e começou a ter mais medo da situação. – Pode ir se vestir, te aguardo para nosso café. – Ele caminhou até a pequena mesa e sentou-se depositando o aparelho na mesa próximo a si. Voltou-se sorrindo pra ela e cruzou os braços.
Ela engoliu seco e direcionou-se devagar para o banheiro. Fechou a porta devagar e começou a reclamar pra si em frente ao espelho:
- Droga, Ellene! O que você foi fazer? Onde se meteu? Droga, droga, droga... Como vou sair daqui agora? – Ela observou o banheiro a procura de uma janela. Mas era pequena demais pra ela passar e a voz que vinha de fora alertava:
- Não tente se imaginar saindo pela janela, eu odiaria te ver quebrando todos os ossos! – Ele avisou e riu.
Ela soltou um suspiro e se olhou no espelho desesperada. Respirou fundo e se orientou:
- Mantenha a calma! Vai dar certo, você vai se vestir e voltar lá, seja lá quem for não irá te machucar... – Ela cruzou os dedos e voltou-se a sua roupa.
Após vestir-se e ajeitar os cabelos, ela saiu devagar, olhando-o com receio.
Ele bateu em uma das cadeiras vagas e chamou-a:
- Venha! Tome o café da manhã enquanto conversamos...
Ela se aproximou devagar e forçando um sorriso sentou-se.
Ele pegou uma torrada e recheando-a com Nutella sorriu e a entregou:
- Prove! Está divina! – Ele parecia amigável, mas não confiável.
- Estou sem apetite. – Ela forçou um sorriso que demonstrou que sua insegurança só aumentava.
Ele riu de prazer, não tentava esconder que se divertia com a situação e isso causava mais terror na pobre moça. Então, pegando uma pasta na cadeira vaga do seu outro lado começou:
- Não está me reconhecendo de algum lugar? – Enquanto lia a ficha percebia que ela estava assentindo com a cabeça, porém muda. – Não é uma pergunta retórica.
Ela engoliu forte e respondeu baixinho:
- É o sr. Octavius, dono do Grupo O&S? – Esperou a confirmação com um sorriso falso.
- Boa! E sabe o que quero? – Ele aproximou-se dela por cima da mesa.
Ela o encarava com medo estampado no olhar, mas não imaginava o que responder, então lembrou-se de que aquele era também o responsável pela trapaça do sr. Josh e a quem agora ela devia.
- Oh, meu Deus! Você... Você é o dono do banco...
Ele sorriu e recostou-se novamente abrindo a pasta. Então repetiu a pergunta:
- Então... Sabe o que eu quero? – Olhou pra ela por cima da pasta.
- Quer... Me cobrar uma dívida? – Ela respondeu com insegurança.
Ele apertou os olhos e começou a ler as informações da pasta:
- Ellene Mey Wright, filha de John Wright Jr e Penélope Mey Wright.  Morava no interior, onde ainda vivem os pais e irmãos Arthur e Andie, de doze e oito anos respectivamente. Os pais trabalham na fazenda Almirante da sra. Abgail Fontneill. Rotina da família: Os pais saem as 04 horas da manhã para o campo e retornam as 19 horas. Os irmãos saem para a escola municipal local as 06 horas e 40 minutos e retornam pra casa as 15 horas de segunda a sexta, brincam no campo de futebol até o retorno dos pais no fim do dia. Sobre a sua rotina: Acorda as 04 horas e 30 minutos, sai de casa as 5 horas, vai para a estação de metrô da rua 45 e segue ate a Quinta com a rua Leonidas, de onde segue caminhando até a lanchonete do Bill na região central. Inicia sua jornada as 06 horas e 30 minutos, faz uma pausa as treze horas para um lanche rápido nos fundos do estabelecimento e encerra as atividades as 18 horas de segunda a sábado. Tem o desejo de cursar Direito na faculdade comunitária da cidade. – Ele arqueou a sobrancelha com sarcasmo.
Ela sentiu seu corpo começar a tremer ansiosa e perguntou com dificuldade:
- O que você quer? Eu... Eu tenho a intenção de pagar...
Ela uniu as mãos como se implorasse. Parecia que quanto mais o pavor dela aumentava, mais ele sentia prazer. Seu sorriso chegava a ser diabólico e ele se movia na cadeira como se o prazer chegasse a ser físico. Ela balançou a cabeça e implorou:
- Por favor, não faça mal a minha família! Eu o imploro... Faço o que quiser! – As lágrimas começaram a descer dos seus olhos e sua voz fraquejar.
Ele sorriu e disse:
- Até que enfim a frase que eu queria ouvir! – Ele levantou-se, caminhou até ela e apertando seus ombros por trás, aproximou do seu ouvido – Já que está disposta a qualquer coisa, tenho uma proposta indispensável. Indispensável!
Ela engoliu forte novamente e sentiu as lágrimas aumentarem.
Ele retornou à sua cadeira e prosseguiu:
- Você tem até a sexta pra me dar a resposta, isso se já não a tiver... Iremos almoçar neste restaurante... - Entregou-a um cartão constando nome de um restaurante aparentemente caro, com horário e um nome à caneta – Esteja lá neste horário e informe reserva neste nome.
Ela pegou-o, tremia tanto e seus soluços faziam sua mão balançar. Ele pegou a pasta, reabriu e como não se importasse com quem estava à sua frente, ele iniciou:
- Então, srta. Wright, como deve ter lido nos jornais, tenho uma herança a receber. – Ele largou a pasta e recostando-se na cadeira, cruzou as mãos e encarou-a – Mas para isso, preciso de você!
- De mim? – Ela falou entre soluços.
- O meu querido avô tinha o desejo de me ver casado, constituir família e todo aquele drama de “homem feliz"... Porém, eu não desejo o mesmo. Mas esta é a condição para que eu receba alguns poucos milhões. – Ironizou – Então, como forma de atender ao pedido de meu falecido avô e ter direito à minha herança, é claro... Conto com a sua colaboração. E de que forma poderá me ajudar? – Ele aproximou-se por cima da mesa – Quero me casar com a srta.!
Ela chocou-se e seus olhos se fixaram nos dele incrédula. Ele riu e explicou:
- Fique tranquila! Não estou apaixonado, nem pretendo ter alguma relação com você... Esse é nosso negócio. Você se casa comigo, dessa forma terá direito a uma mesada que ajudará a quitar sua dívida e ajudar seus pais, eu recebo minha herança e em poucos meses me torno o mais novo bilionário da região. Claro que esse será nosso segredinho, aliás, caso não aceite devo lembrá-la de que tenho todas as informações de sua rotina e de sua família, eu odiaria ter que usar da violência para garantir isso ou te castigar. Posso contar com a sua discrição sobre nossa conversa? – Ele sorriu e ela ainda chocada com a proposta,  apenas assentiu.
Ele caminhou até a porta e abriu-a despedindo-se:
- Então, aguardo você no nosso almoço de sexta com a resposta! Espero que seja “Sim"! – O sorriso diabólico dele causava um terror sem igual e o coração dela já não tinha um compasso certo, ela mal conseguia se levantar, mas criou forças para aproveitar aquela porta aberta e fugir daquele pesadelo. Pegou seu telefone, sua bolsa e abraçando-a com força saiu temendo que ele voltasse atrás e a trancasse novamente.
Ela caminhou até o elevador ainda em choque. Mantinha seu olhar fixo, abraçada à sua bolsa como se agarrasse a sua última esperança, aterrorizada. Saiu do hotel e nem teve interesse de identificar onde fora seu cárcere . Ela caminhava como se não tivesse destino,  suas pernas a conduziam, mas sua mente ainda estava inerte. Ela chegou em casa por volta das 11 horas e seguiu direto para o quarto. Lis havia dormido na casa do namorado e ali Elly permaneceu deitada, sozinha e ainda aterrorizada. Adormeceu.

Elly acordou com o barulho da colega de quarto na cozinha. Esfregou os olhos sonolenta, deu um suspiro ao perceber que estava em casa. "Teria sido um terrível pesadelo?”, pensou esperançosa. Mas ao ouvir uma voz masculina, seu coração palpitou e ela teve certeza de que não fora. Levantou-se assustada e encostou na porta, como se quisesse impedir que alguém entrasse. Ela tentou reconhecer a voz que vinha da sala e soltou um suspiro de alívio por identificar que a voz pertencia ao namorado de Lis. Saiu do quarto e se espreguiçou enquanto seguia para a cozinha.
- Acordou a bela adormecida! – Lis brincou entregando uma cerveja ao namorado enquanto sentava-se no sofá – Onde se meteu a noite passada?
Ela queria contar à amiga e pedir socorro, mas o que aquele homem seria capaz de fazer, ela não podia nem imaginar. Ela segurava um copo com água e pensou antes de responder:
- Eu... Saí com um... amigo!
- Eu percebi... Quando saí da boate vi o carro dele, sua danada de sorte!
Ela preferia não ter aquela sorte, forçou um sorriso e brincou:
- E que sorte! – Relembrou da ameaça que sofrera a poucas horas atrás. – Vou arrumar minhas coisas.
Retornou para o quarto enquanto a amiga retrucava:
- Quero saber tudo viu, tudinho!
Ela fechou a porta e recostou-se respirando fundo, fechou os olhos desejando que tudo aquilo não passasse de um pesadelo. Ao abri-los, sentiu uma lágrima quentinha descer no seu rosto enquanto um vento frio entrava pela janela. Naquele momento, só podia pensar na família, em tudo que fizera por eles, em tudo que suportaria por eles.

As horas custaram a passar, ela procurava coisas para fazer para não pensar no que havia acontecido, arrumou seu baú onde guardava suas poucas peças de roupas, arrumou sua parte do pequeno armário onde haviam alguns livros e alguns pares de sapato na parte inferior, trocou a roupa de sua cama e até tentou estudar.

Enfim, tomou um banho e dormiu.

No meio da madrugada acordou. Levantou-se para tomar água e sentiu um vento frio entrar pela janela, ao aproximar-se para fechá-la percebeu que havia um carro preto parado próximo ao prédio, apertou os olhos e reconheceu-o do dia em que um homem a observava no final do seu expediente. Ele a estava seguindo a pedido daquele homem diabólico? Seria como garantia que ela não fugisse? Como ela despertara a atenção daquele homem? Por que ela? Pensava reparando por entre as cortinas.
Voltou para o quarto depressa e embrulhou-se como uma criança que teme o escuro. Tentou dormir de novo, mas em vão. Aquela manhã passava em seus pensamentos como filme de terror que te acompanha horas após assisti-lo.

As 04 horas da madrugada, seu celular despertou e ela levantou-se com dificuldade. Foi até a janela da cozinha e lá estava o carro, estacionado no mesmo lugar. Ela tentou não pensar muito e foi se arrumar. Tomou um banho frio e se vestiu depressa. Fez um café e tomou-o à beira da janela observando o carro. Resolveu sair mais cedo de casa para identificar o motorista.
Desceu as escadas depressa e saiu em passos largos para alcançá-lo antes que o motorista a percebesse e arrancasse. Ela bateu no vidro da janela e aguardou. O motorista falou no telefone e após alguns minutos baixou o vidro:
- Pois não?
- Sei que está me seguindo... O que o senhor quer? – Ela sentiu-se corajosa, mas não gostaria da resposta.
- Tenho ordens expressas de segui-la e caso tente fugir tomar medidas drásticas que incluem te levar à força ou atirar.
Ela chocou-se, como ele poderia ameaçá-la em plena luz do dia?
- O senhor está me ameaçando? – Retrucou, ainda que com medo.
- Não. Estou respondendo a sua pergunta, srta.
Aquele homem era ousado, ela imaginou que se o encarasse ele fugiria ou simplesmente a deixaria em paz, mas na verdade apenas teve certeza de que corria grandes e sérios riscos.
- Diga a seu chefe que eu não tenho medo dele! – Ela tentou parecer firme e saiu.
Seu coração bateu em disparada, seu desejo era correr e chorar fora do alcance daquele homem.
Mas conteve sua ansiedade e suas lágrimas. Entrou na estação de metrô.

Sua semana começava atordoada.

E o tempo não a ajudou mais uma vez...
Os dias passaram rápido e ela ainda não tinha coragem de ir àquele almoço.
Na véspera, quinta-feira, em uma conversa com a amiga Lis...
- Lis... Posso te fazer uma pergunta? Hipoteticamente! – Ela estava abraçada ao seu travesseiro em sua cama e a colega fazia as unhas na outras cama.
- O que foi? Está grávida daquele “amigo"... Não deu tempo pra sentir nenhum sintoma, ora...
- Não é isso... É uma outra coisa... Mais delicada.
- Deixa adivinhar: você tem um namorado? – A amiga levantou o dedo e brincou.
- Posso perguntar? – Ela falou séria.
- Ih... É sério mesmo? – Voltou à unha enquanto Elly procurava palavras.
- Então... Caso... Você tivesse que se casar... Com um cara rico, mas que não o amasse...
A colega parou o que fazia e franzindo a testa comentou:
- Isso tá parecendo enredo de filme ou novela... O que tá acontecendo?
- Me responda! – Ela agarrou os joelhos e abraçou-os junto ao travesseiro.
- Assim... Um cara rico, casamento, sem amor? – Ela fez cara de quem refletia sobre o assunto e sorriu – É claro! Imagina, a vida que você pediu à Deus, um homem rico como esposo... Amor? Você pode se divorciar dele e encontrar depois, especialmente “ri-ca"!
Elly pensou e a colega insistiu:
- Mas isso realmente é hipotético, não é? Ou você tá usando algum medicamento?
Ela riu e fingiu:
- Hipotético! – Falou pra sair do assunto e mudou o rumo da conversa.
Ali ficaram horas conversando e a colega nem percebeu que algo a incomodava.


Na sexta no horário do almoço, ela procurou seu patrão e pediu:
- Sr. Bill, eu gostaria de pedir uma coisa! Sei que acabei de chegar e... Ainda nem tenho créditos na casa, mas... Eu preciso sair para resolver um problema. É importante! – Ela apertou a toalha que segurava e forçou um sorriso.
- Claro, claro... Só avise a outra garçonete pra te cobrir. – Ele fez sinal para que saísse e observou – Só não demore muito porque o movimento está aumentando.
Ela assentiu e saiu. Tirou seu avental e comunicou a colega, que olhou-a com indiferença e revirou os olhos desviando-se dela. Ela entrou numa salinha que era conjugada à cozinha e pegou sua bolsa, saindo pelos fundos.
Ao sair da lanchonete, respirou fundo e deu alguns passos até perceber que o homem ainda a seguia, então apressou seu passo até a estação de metrô.
Ela olhou para seu relógio de pulso e percebeu que estava atrasada. A ansiedade retornava, mas ela tentou conter-se.
Saiu da estação de metrô e procurou pelas ruas o restaurante indicado no cartão.  Enfim encontrou. Era um restaurante grande e bonito, representava tudo que ela mais temia que fosse, luxuoso e requintado. Entrou desajeitada, um segurança olhou-a de cima abaixo e quando ia se aproximar, uma moça muito bem vestida e educada fez sinal de que a atenderia.
- Pode deixar! Srta. Wright? - Chamou-a sorrindo. – O sr. Williams a aguarda, por aqui por favor!
Ela fez sinal para que Elly a acompanhasse. Seguiram pelo espaço repleto de mesas bem distribuídas, todas possuíam arranjos de flores em vasos de cristal, a toalha era de tecido fino e as cadeiras possuíam almofadas em tons pastéis e madeira fina. Elly observava o ambiente com clima confortável, possuía iluminação uniforme e lustres enormes com cristais pendurados que brilhavam e trazia um ar mais requintado.
Ela quase esbarrou na mesa, quando a moça parou ao lado mostrando-a com delicadeza. Um homem veio mover a cadeira para que ela se sentasse. Ali estava ele, bem vestido com ar superior e aquele perfume, ah aquele perfume marcante e inebriante. Ele levantou-se ajeitando seu terno e sorriu:
- Ora, ora... Achei que havia desistido. – Apontou à cadeira para que ela se sentasse.
- Obrigada! – Elly agradeceu ao outro homem com um sorriso e sentou-se.
Peter fez um sinal aos dois com a cabeça para que saíssem sentando-se.
Fez-se um breve silêncio.
- Então, quer fazer o pedido ou prefere que eu peça? – Ele pegou o cardápio e ofereceu-a. Ela negou com a cabeça e foi direto ao ponto:
- Estou sem apetite, então,  vamos direto ao ponto. – Estava decidida a fazê-lo desistir, mas não tinha muitos argumentos. – Não sou a pessoa ideal para o seu plano. Eu não me interesso pelo seu dinheiro e garanto que quitarei a dívida que tenho de forma honesta e pagamentos em dia.
Ele riu e abrindo o cardápio lembrou:
- Eu acho que você não entendeu quando eu disse que era uma proposta indispensável. Você “É" a pessoa ideal e eu não estou te convidando, tão pouco está aberto a discussão... Caso não aceite, terá consequências drásticas. Lembra-se de nossa conversa? – Olhou por cima do cardápio e sorriu.
- Olha... Eu não sei porquê o senhor me escolheu como vítima...
- Vítima? – Ele franziu o cenho e riu – A vítima aqui sou eu. Quando o nosso casamento for amplamente divulgado e souberem que você não passa de uma garçonete vinda do interior, sem nenhuma origem de renome, acha mesmo que vão acreditar que é uma vítima? Garota, estou lhe proporcionando a oportunidade que muitas desejariam ter... Casar-se com um homem rico que lhe dará a vida dos sonhos de toda mulher!
- Interesseira você quer dizer, não é? Eu não sou esse tipo de garota...
- E é por isso que se torna tão especial... Se não se interessa por meu dinheiro, não deseja se aproveitar da fama que isso irá lhe proporcionar e preza pela vida de seus familiares, é a garota perfeita! – Ele se referia a ela como se referia a um objeto ideal para decoração de sua sala.
- Pelo amor de Deus, eu não quero participar disso.
- OK! Então façamos o seguinte combinado, você liga para os seus pais e despeça dos seus irmãos!
- Como assim?
- Ah, eu não mencionei as consequências caso rejeite, não é mesmo? Então... Eu estava pensando o quão doloroso seria para seus pais se soubessem que você se envolveu com pessoas barra pesada e devido a uma dívida, seus irmãos tivessem que pagar com a vida! Ah... Outra opção que eu teria, era deixá-los tetra ou paraplégicos e você não conseguisse mais emprego em lugar algum aqui na cidade. O que você faria? Retornaria para o campo? Mas e se o campo não existisse mais pra vocês? Eu posso comprar a fazenda onde seus pais trabalham, posso acabar com o fim de mundo que chamam de lar, posso destruir a sua vida! – Ele enfatizou essa última parte trazendo à tona o terror que ela sentiu naquela manhã aterrorizante de domingo.
Ela baixou a cabeça tentando conter as lágrimas e ele prosseguiu:
- Não ouse chorar, pois ainda nem comecei...
Ela ergueu o olhar e perguntou:
- Por que eu? Por que?
Ele bateu na mesa em um impulso, impaciente. Alguns poucos clientes presentes olharam, ela olhou ao redor da mesa com vergonha e ele olhando-a firme falou em tom baixo, porém ameaçador:
- Chega! Eu já disse que isso não é uma negociação.
Recostando em sua cadeira ajeitou novamente o paletó e chamou o garçom com um gesto.
- Eu vou querer costelas ao molho agridoce e uma salada Baruk, e pra moça pode trazer salada Caeser com frango. – Ele olhava o cardápio e concluindo, entregou-o ao garçom e forçando um sorriso dispensou-o – Traga o seu melhor vinho, pois estamos em uma comemoração. Pode ir.
O garçom saiu depressa.
Ele olhou pra ela, estava cabisbaixa, piscava rapidamente para evitar que as lágrimas caíssem, sua boca tremia e apertava seus lábios a medida que apertava também a alça de sua bolsa que estava no colo.
Ele não sentiu nenhum pingo de empatia ou qualquer sentimento em consideração a situação daquela pobre moça, mas estava decidido.
- Então, vou lhe explicar como irá funcionar... Iremos ter uns dois ou três encontros como este antes de revelar publicamente nosso “relacionamento", em uma ou duas semanas teremos um breve jantar em que a apresentarei como minha “noiva". Em cerca de dois meses iremos nos casar, uma cerimônia simples, para familiares e íntimos, deve pensar com cuidado nos seus convidados. Amanhã pela manhã, meu motorista irá buscá-la exatamente as oito horas da manhã, portanto esteja pronta no horário correto, eu odeio atrasos. Iremos assinar uma espécie de contrato nupcial, onde definiremos alguns pontos a serem observados nesse nosso “relacionamento". Ninguém, exatamente “Ninguém” deverá saber de nosso negócio ou já sabe o que pode acontecer. Estamos entendidos? – Ele cruzou as mãos sobre a mesa e aguardou resposta.
Ela balançou a cabeça de leve e devagar, mas não olhou-o, não conseguia encarar aquele monstro. Ele forçou um sorriso e observou à sua volta, falando em tom baixo:
- Deveria estar feliz, aliás... Não encontraria melhor partido! – Riu sarcástico.
Ela olhou-o com certo rancor e ele provocou:
- Vamos, dê um sorriso!
Ela desviou o olhar para um vaso de flores que havia próximo e soltou um suspiro. Sentiu uma lágrima descer e rapidamente a limpou sem desviar o olhar das flores.
Logo surgiu novamente o garçom com dois pratos bem elaborados e coloridos, serviu as taças com vinho e saiu.
Ela não precisou de nenhuma palavra, apenas o olhar dele ordenava que comesse.
Apesar de ter um sabor indescritível, aquela fora a refeição mais dolorosa. Ela estava se sentindo pressionada e temia que qualquer atitude por impulso causasse qualquer dano à sua família.

Naquele dia extrapolou no horário do almoço e quando retornou, sua cara de velório não poupou-a da hostilidade da colega de trabalho que reclamava e gesticulava enquanto ela vestia seu avental. Ela não escutara nada mas assentiu com a cabeça e pediu desculpas.
Ela não sabia como pediria mais uma vez ao chefe que a autorizasse atrasar, então preferiu não falar, deixaria para o dia seguinte.

Em casa, a TV ligada, sentada no sofá com a poltrona no colo, ela olhava para as imagens, mas não prestava atenção e nem conseguia se concentrar nas falas daquele filme. A colega de quarto falava sobre o jornal que lia, então despertou-a:
- Elly... Acorda! – Estalou os dedos diante dos olhos fixos na TV. Elly despertou piscando forte e disfarçou.
- Estou tão concentrada... O que foi? – Lis não se convenceu.
- O que aconteceu com você? Não está bem essa semana... É aquele cara da boate?
- Cara, que cara? – Ela já havia esquecido do episódio da boate, mas recobrou-se – Ah! Não, não... Estou apenas preocupada com umas coisas... Nada sério! O que você dizia? Sobre o jornal?
Ela pegou o jornal fingindo interesse, mas ficou realmente chocada ao ver a imagem: uma foto de um casal almoçando, o rosto da moça estava disfarçado com pixels e o rapaz era o Peter. Mesmo não identificando o rosto,  aquele uniforme era familiar...
- Oiii! – Mais uma vez Lis chamou sua atenção - Reconhece esse uniforme?
Ela não tinha voz e a colega interessada no furo:
- Então... Qual das suas colegas acha que pode ser?
Ela olhou pra amiga e disfarçou seu choque fingindo que não tinha noção:
- Nem imagino... – Ela voltou a ler a coluna que fazia calúnias a seu respeito, chamando-a de “Golpista ou Cinderela?” e com perguntas sobre os artifícios que teria usado para conquistar o mais novo bilionário.
Não conseguiu dormir imaginando se fosse possível aqueles comentários chegar aos seus pais.
Pelo menos não tinha sido identificada, ainda. Aquilo começou consumi-la por dentro.


Naquele sábado, ao ouvir seu despertador as 04 horas ela desligou-o preguiçosamente falando para si:
- A Cinderela aqui terá direito a mais algumas horas hoje! – Então enfiou a cabeça debaixo do travesseiro e voltou a dormir.
As seis a Lis levantou-se e estranhou a presença de Elly àquela hora.
- Ei! Está atrasada! Ou não vai ao trabalho hoje? – Falou balançando o ombro da sonâmbula.
Elly custou a acordar, perguntou preguiçosa sem abrir os olhos:
- Quantas horas?
- Já são oito e meia da manhã! – Lis brincou e riu ao vê-la levantar assustada e descabelada.
- Não pode ser! Estou frita... Preciso correr. – Ela ergueu-se num impulso, calçou seus chinelos e agarrando a toalha, estava prestes a sair do quarto desesperada, quando a amiga rindo, falou:
- Calma, sua louca! São seis horas! – E continuou a rir.
Ela olhou incrédula pra amiga que ainda ria e falou colocando a mão no peito:
- Quer me matar?
- Que compromisso importante é esse? Não me diga que arrumou outro emprego...
- Não! Mas também não é importante... Só não posso me atrasar! – Falou sentando-se na outra cama ajeitando seus cabelos.
Lis levantou-se e lembrou-a:
- Ótimo! Porque serei a primeira no banho. – Saiu do quarto ainda rindo.
Elly suspirou de alívio, menos um problema com aquele crápula.
Ela vestiu-se com uma saia lápis preta com uma pequena fenda lateral, que ganhara da mãe para entrevistas, uma blusa social branca e seu salto. Arrumou o cabelo testando-o num rabo de cavalo, um coque ou solto, preferiu solto e saiu.

As oito horas, lá estava o motorista naquele carro de luxo preto.
Assim que ela aproximou-se o motorista abriu a porta, o que a fez sentir-se em filme de cinema, sorriu e entrou agradecendo-o.
No carro, ainda que temendo seu futuro, ela tentava buscar pensamentos otimistas para aquela situação.
Quando entraram no condomínio de luxo, ela ficou hipnotizada com os jardins e as enormes mansões. Desceu um pouco o vidro da janela do carro e observou os detalhes. O ar parecia mais fresco e havia canto de pássaros. Uma mulher passeava com seu cão distraída , usando óculos escuros Louis Vuitton, uma bermuda de linho e uma blusa solta de tecido fino com detalhes delicados na estampa. Até mesmo os chinelos dela eram de marcas caras, imaginou Elly. O cachorro, um Borzoi, tinha sua pose Invocada tanto quanto sua dona.
Aquele não era seu mundo, sentiu vontade de pedir ao motorista que contornasse, mas percebeu que havia chegado ao seu destino. Ele entrou em um desvio, a entrada da casa, passou por um chafariz enorme e atrás de alguns arbustos e uma parede de flores muito bem cuidados estava a mansão. Ela se perguntou pra quê tanto luxo, tanto dinheiro se queria ficar sozinho. Teria o prazer de perguntá-lo pessoalmente, mas não aquele dia.
Saiu do carro disfarçando seu receio de entrar naquela casa. Logo na entrada, uma senhora muito simpática, mas de semblante marcante a recebeu:
- Seja bem-vinda srta. Wright! O sr. Peter a aguarda na biblioteca. - Mostrou-a a entrada para que a seguisse.
Seguiram por uma enorme sala, em um dos lados havia um enorme e acolchoado sofá, uma mesinha de centro de vidro e madeira e enorme TV logo à frente. Do outro lado havia uma mesinha com bebidas, duas ou três poltronas e uma lareira com quadros na parede acima. Haviam fotos na parede da escadaria que dava para o andar de cima. Havia uma porta que dava para o que a Elly identificou como cozinha, mas também poderia ser a sala de jantar, não conseguiu definir já que pararam em frente à grandes portas de madeira, a senhora que a conduzia abriu-as e fez sinal para que entrasse.
- Fique a vontade! Sr. Peter já está descendo.
Ela entrou sem jeito e aguardou de pé a senhora fechar as portas. Então começou a observar os quadros e a enorme estante que cobria todo um lado daquela sala. Havia uma enorme mesa, com livros, um notebook e uma poltrona, que seria a dele deduziu. Logo atrás desta, uma grande janela, com cortinado em tons pastéis , delicados e de fino gosto. Haviam outras poltronas do lado oposto da mesa, todas em couro e tons escuros de marrom.
Ao abrir as portas devagar, ele observou-a dos pés a cabeça. Sorriu e assustando-a, limpou a garanta para ser percebido.
Ela virou-se num impulso e falou desconcertada:
- Bom dia! – Ela segurava sua bolsa em frente as suas pernas tentando as manter firmes e não demonstrar fraqueza.
Ele arqueou uma de suas sobrancelhas e falou com ironia:
- Veio a caráter, não é mesmo? Leva muito a sério todos os seus negócios ou este é especial? – Riu seguindo para sua poltrona. Sentou-se e apontou para que ela também se sentasse.
Ela sentou com cuidado ajeitando sua saia justa ignorando o que ele havia dito.
- Então, srta. Wright...
- Eu queria perguntar uma coisa antes de começar.
- Pergunte. – Ele colocou as mãos cruzadas sobre a mesa e arqueou-se demonstrando atenção.
- Sobre a noite da boate... O que houve?
Ele riu e brincou:
- Realmente não se lembra?
- Não estaria perguntando se me lembrasse! – Ela arriscou.
- Petulante você, não? – Ele recostou-se na poltrona e contou – Não a culpo. Somos geniosos! Então... Foi bem fácil doparmos você, meu grande amigo Hector, ofereceu-a uma bebida que havíamos “batizado" com um sonífero forte e perigoso, arriscamos sua vida com isso, hein, então dê valor! – Riu e prosseguiu se divertindo com a fisionomia dela – Ele levou-a para o hotel, te despiu... Brincadeira, ele pagou uma camareira pra te trocar. No dia seguinte, cheguei bem cedo, mas como você dormia feito uma porca, roncando e babando, resolvi tomar um banho a observar a cena horripilante, então você acordou. O resto já sabe, creio que já estava em plena consciência, não é mesmo?
Ela estava aliviada, mas sentia-se ofendida pelas palavras, mas não o confrontou.
- Então... – Ele abriu uma gaveta, tirou uma pasta com o contrato e jogando-o na mesa prosseguiu – Vamos ser bem objetivos, aliás...
O celular dela vibrou, já era a quarta vez que o seu chefe ligava. Ela desculpou-se e atendeu, encolhendo-se à direita.
- Alô? – Dava pra perceber que ele esbravejava e Peter percebeu que ela estava encrencada, então apenas observou aguardando. – Me desculpe, sr. Bill, estarei aí em poucas horas. Tive um contratempo... – Ela fazia pausas para escutar os berros que o chefe dava – Me desculpe eu... – Ele desligou e ela, disfarçando sua cena, forçou um sorriso.
- Está atrasada?
- Um pouco.
- Quer que eu mande alguém ir conversar com seu chefe? – Ela recusou com a cabeça temendo a forma como aquilo ocorreria.
- Não precisa, converso assim que retornar. Então, são muitas cláusulas, pode resumir pra que eu assine logo?
- Se não quiser ler, não há problemas, não há nada de mais.
Ela suspeitava daquele sorriso diabólico, então tentou ler rapidamente, mas já nas primeiras percebeu que precisava de tempo para ler e entender.
- Posso levar e assinar em casa?
- Não! – Ele falou com estranheza.
- Terei uma cópia pelo menos? – Ela lembrou-se de um detalhe e olhando à volta questionou: - Por que não temos a presença de advogados, aliás é um contrato sério.
- Está com medo de que, srta. Wright? – Ele aproximou dela por cima da mesa – Não se preocupe, este contrato é apenas para garantir que nosso casamento tenha algumas particularidades respeitadas. Exemplo, você será processada caso seja infiel, não terá direito a nenhum bem caso nos separemos a seu pedido e em caso de infidelidade, deverá se apresentar bem diante da sociedade prezando pelo nome da família e do grupo O&S, e outras coisas do tipo.
- Processada? Infidelidade? Mas... – Ela não entendia porquê um casamento daqueles deveria ter tanta exigência - Está com medo de que eu tome seu dinheiro?
- Isso são só... Cuidados!
- Não precisa temer, me libere dessa função se for o caso, não irei mencionar esse episódio a ninguém...
- Srta. Wright, assine. Não me faça ser rude e arrancar a sua mão para que tenha que assinar com as digitais da outra.
Ela arregalou seus olhos e gaguejou:
- Não... Não seria... capaz disso... Ou seria? – Aguardou uma resposta, mas ele desviou o olhar para os livros ignorando-a.
- Apenas assine.
Ela viu que nada o faria mudar de ideia, tentou ler novamente, mas seu celular vibrou novamente, dessa vez uma mensagem: “ Você tem meia hora pra aparecer ou não volte mais.”
Então assinou com pressa e falou levantando-se:
- Só queria pedir uma coisa.
Ele arqueou a sobrancelha novamente como se já esperasse e pegando o contrato concordou:
- Desde que não seja dinheiro... Fale!
- Eu... Quero quartos separados! – Ela desabafou.
Ele apertou os olhos, franzindo o cenho com surpresa:
- O que? – Riu do pedido e concluiu – Que seja! Imaginou mesmo que eu tentaria algo com você?
- Não é isso, eu...
- Garota, se eu quisesse tentar algo com você o teria feito naquela noite da boate... Aliás, tem muita sorte de eu confiar no Hector, poderia ter enviado um tarado.
Seu olhar de zombaria a deixou brava, então ela despediu-se:
- Já resolvemos tudo, não é? Tenho que ir, passar bem. – Ela virou-se com pressa.
- Meu motorista, Antony, irá levá-la até o seu trabalho.
- Não é preciso, passarei em casa pra me trocar...
- Ora, por que não vai assim... Está preparada para qualquer trabalho, ora bolas. – Ele sorriu sarcástico.
Ela encarou-o e saiu a passos largos.
Ele observou-a sair mordendo os lábios, sentia prazer em ver o desespero alheio e o dela parecia especialmente prazeroso.
O motorista mais uma vez abriu a porta pra que ela entrasse. Mas dessa vez, isso irritou-a.
No caminho ela tentou:
- Será se poderia fazer um desvio até a minha casa? Preciso me trocar.
- O sr. Peter deu ordens expressas pra seguir o seu trajeto direto para seu trabalho senhora.
- Ele não precisa saber! – Insistiu.
- Temos GPS pra localizar o carro senhora, ele sabe de todos os passos. - Mostrou-a o GPS no suporte do carro próximo à marcha.
Ela deixou-se abater e soltou um suspiro chateada.

Ao chegar na lanchonete, despertou a atenção de todos, especialmente do Nathan um dos cozinheiros que sempre fora gentil com ela desde seu primeiro dia.
- Olha só... Tem uma vida secreta de madame e não sabemos? – Ele brincou e ela retrucou.
- Quase isso! – Forçou um sorriso com simpatia.
- Ai está a folgada. – Veio a colega Dayse – O sr. Bill está lhe aguardando no escritório.
Ela soltou um suspiro desanimada e seguiu para a sala do chefe.
Bateu à porta abrindo-a:
- Sr. Bill? – Ele já a aguardava.
- Entre e feche a porta.
Ela fechou temendo o pior. Mas ele jogou um jornal na mesa, na mesma página que ela vira antes.
- Ontem no almoço você tinha algo especial para resolver, não é mesmo? Era isso? – Apontou para a foto.
Ela engoliu forte sem palavras.
- Por que não me contou? – Ele esperou e esbravejou – Estou perguntando.
- Eu... Eu não sei... – Ela procurou uma forma de se livrar.
- Ora... As outras não saíram no almoço no mesmo horário que você e na história do jornal enfatiza o horário da foto. Por que não me contou?
- Sr. Bill eu posso explicar...
- Estamos correndo risco de ser atacados pela mídia ou ser largamente anunciados sem custo. Temos que aproveitar as chances que temos para publicidade, mas de forma positiva. Portanto, temos que fazer com que seu namorado venha aqui e fale de nossos lanches. Outra oportunidade é que ele invista em franquias para crescermos. Tudo bem?
Ela não acreditava no que estava ouvindo, além de ser obrigada a um casamento por conveniência agora seria usada para publicidade e interesses pessoais do chefe. Forçou um sorriso e balançou a cabeça:
- Entendi! Tudo bem! Farei o possível para ajudá-lo!
- Ótimo! Pode ir... Ah e da próxima vez que tiver que encontrar com ele, avise que coloco outra pessoa para cobri-la.
De repente, tudo facilitaria pra ela por causa deste caso, mas ela era orgulhosa e queria conquistaras coisas por mérito próprio.

O restante do dia seguiu na sua normalidade.

A noite ela assistiu a um filme, enquanto Lis estava na casa do namorado.
Peter e os amigos bebiam em um dos bares de classe alta.

No domingo, a calmaria se seguiu. Enquanto Lis, o namorado e Elly almoçava em casa. Na mansão do Peter o silêncio reinava e ele lia em sua biblioteca.

Na segunda, de volta a rotina, enquanto Elly atendia aos clientes sorridente, Peter participava de reuniões e verificava relatórios na sua empresa.
Na terça, uma mensagem tirou a paz de Elly, na sexta-feira teria outro “encontro" com o Peter em mais um restaurante luxuoso. Ela soltou um suspiro demorado e carregado de desanimo. Devolveu a mensagem com um emoji de polegar (👍), indicando que havia entendido.
E a semana passou rápido...
Na sexta, ela chegou rápido em casa e começou a se arrumar.
Vestiu seu melhor jeans, uma camisa Polo rosa e seu salto. Desta vez, prendeu o cabelo em um coque armado e colocou seus brincos de argolas. Fez uma maquiagem básica com um batom claro. Lis brincou ao vê-la sair do quarto:
- Olha só ela... Encontrinho, é?
- Mais ou menos... – Ela deu um giro – Estou bem?
- Pra um encontro casual, sim. Sugiro que solte os cabelos.
- Mas quero destacar minhas argolas. – Ela mostrou os brincos e a amiga sorriu.
- Está ótima!
Ela beijou a amiga, despediu-se e saiu com pressa.
Ao sair do prédio, avistou o motorista a poucos metros e foi na sua direção. Aguardou com um sorriso ele abrir a porta e agradeceu-o:
- Obrigada! – Entrou no carro.
Seguiram para região nobre da cidade e pararam em frente a um enorme prédio, a entrada era mais luxuosa que o restaurante anterior, ela parou e observou o prédio. Pensou em voz alta:
- Eu não pertenço a esse mundo! O que estou fazendo?
Antony, o motorista, parou ao seu lado e comentou confortando-a:
- Vai dar tudo certo, srta. Wright!
Ela olhou-o surpresa e sorriu.
- É. Você tem razão! Obrigada, Antony! – Então encorajou-se e entrou.
Dessa vez havia um homem em um balcão:
- Boa noite, srta. Sinto informar que não estamos atendendo hoje.
- Tem uma reserva em nome do sr. Peter ...
- Ah sim, a srta. é a srta. Wright que sr. Williams espera? – Ele a interrompeu com surpresa e mudando seu comportamento de profissional frio para extremamente cordial saiu detrás do balcão e a orientou a segui-lo:
- Siga-me, por gentileza!
Ele entrou por grandes portas de vidro e passou pelo enorme salão com mesas bem distribuídas e arrumadas, porém vazias. Mais ao fundo do restaurante, uma área exclusiva, com uma mesa reservada e bem ornamentada. Haviam rosas vermelhas ao centro, taças e iluminação especial.
À meia luz, com velas à mesa, o ambiente se tornava romântico se não fossem aquelas as circunstâncias.
O som agradável até trazia paz, porém a sua companhia não era bem o que ela chamaria de tranquila e pacífica. Ele ergue-se admirando-a dos pés à cabeça, mas não foi um elogio que resultou daquele olhar:
- Bem... Da próxima vez me avise que providencio um vestido ou algo mais adequado para a ocasião. – Ele ajeitou seu paletó e convidou-a – Vamos, sente-se.
Ela deveria se acostumar com aquele jeito rude, mas enquanto isso procuraria uma forma de incomodá-lo tanto quanto a incomodava.
- Esse é o meu melhor jeans, se soubesse teria realmente gasto seu rico dinheiro com uma roupa que usaria apenas uma vez.
- Pelo menos estaria cumprindo umas das cláusulas, de boa apresentação. – Ele rebatia.
Ela sentou-se e como se já esperasse a resposta sorriu forçadamente. Ele sentou-se e chamou o sommelier.
- Traga o melhor vinho de sua adega, hoje é um dia especial para mim e a minha... amiga!
Ele enfatizou a última palavra entregando-o a carta de vinhos, ela apertando os olhos imaginou que faria parte de algum plano maléfico.
- Que bom que me considera “amiga", devo considerar isso um bom sinal para mim?
Ele riu antes de responder:
- Sempre minha cara!
Pouco tempo e o homem serviu-os de um vinho de aroma atraente e cor marcante, um tom sangrento e suave ao mesmo tempo. Ele ergueu a taça e ordenou:
- Vamos brindar, sorrindo e depois beba.
Ela forçou um sorriso e questionou por entre os dentes:
- Onde está o fotógrafo?
Ele bebeu um gole e sorriu:
- Se incomoda em ser fotografada?
- Não. Só quero saber se está pegando meu melhor ângulo.
- Fique tranquila,  ainda não terá seu rosto divulgado.
- Sério? Estava tão ansiosa pela perseguição de paparazzi e a fama. – Ela ironizou.
Ele gostou da reação dela, mas não admitiria que ela tivesse qualquer poder naquela relação.
- Gosto de sua petulância, mas sinto lhe informar que não será sempre que me encontrará em um dia assim, tranquilo e resiliente. – Sorriu.
Ela respirou fundo e procurando o cardápio na mesa perguntou:
- E aí, fará as honras novamente ou posso pedir?
Ele entregou-a o cardápio falando:
- O pedido já está feito, mas se quiser acrescentar algo...
- O que pediu? – Ela pegou o cardápio e começou a folheá-lo.
- Como entrada: camarão marinado. Principal: Salmão com castanhas. Acompanhamento: Arroz de couve-flor. A sobremesa: Grand Gateau com molho de chocolate.
Ela apertou os olhos e tentando segurar um riso, brincou:
- Acho que não vou arriscar. – Riu forçado tomando um gole do vinho.
O jantar estava saboroso e seguiu-se silencioso.
A sobremesa estava ainda mais saborosa e Elly desfrutou cada pedacinho sem se importar com a presença dele, enquanto ele a observava intrigado com seu apetite.
Ficaram mais alguns minutos na mesa, após a refeição. Então ele decidiu:
- Podemos ir agora. - Entregou-a uma caixinha – Tome.
- O que é? – Ela pegou e antes de abrir aguardou a resposta.
- Uma pastilha para o hálito! – Ele riu da expressão dela.
Ela tirou uma e jogou na boca, com expressão debochada.
Caminharam a pouca distância até a saída.
Ela já estava a pouca distância do carro, quando ele pegou em seu braço e puxou-a de volta pra si.
- Espere!
Ela estava bem próxima de seu corpo, sentia seu perfume e começava a se intimidar. Encarou-o:
- O que foi dessa vez?
Ele aproximou para beijá-la e ela tocou seu peito detendo-o.
- O que pensa que está fazendo?
Ele hesitou e explicou:
- Tem um fotógrafo a nos observar, e como todo casal, precisamos fazer isso.
- Isso não estava no contrato...
- Cale-se e me beije, apenas.
Ele falou e beijou-a. Apesar de ser frio e sem nenhum sentimento, ela sentiu seu coração disparar, afinal de contas ele era um homem muito atraente e seus lábios, causou-lhe sensações surpreendentes. Ela ficou extasiada e mal conseguiu se mover quando ele a largou e sorriu:
- Agora sim, está dispensada!
Ela não podia acreditar que aquele cara pudera ser tão idiota e cruel, e ela mais idiota ainda de se deixar levar por um minuto de atração e achá-lo bonito. Se ajeitou, como se não a tivesse abalado:
- Sim, senhor! - Virou-se pegando o celular.
- O que está fazendo?
- Chamando um táxi, por quê?
- Antony te levará de volta pra casa. Direto pra casa. – Ele arqueou a sobrancelha como se fosse uma ordem e ela forçou um sorriso e ironizou:
- Claro, meu caro senhor! Boa noite!
O motorista abriu a porta e ela entrou no carro contrariada. Ele seguiu para um carro logo à frente. No caminho, ela tentou não pensar naquele beijo, mesmo que não representasse nada, havia mexido com ela. Como pudera ser tão burra, estava sendo usada como boneca e ainda o deixava incomodá-la.



No sábado, ela parecia distraída e cansada. No seu intervalo para almoço um telefonema interessante:
- Amiga, por que não me contou quem era seu affair secreto?
Lis parecia empolgada e chateada ao mesmo tempo.
- Do que está falando? – Elly estava prestes a abocanhar seu sanduíche quando veio a resposta.
- Ora quem... O Peter Williams e Schmidt.
- É... Não sei do que está falando. – Ela mordeu um pedaço pequeno com receio de não passar segurança na resposta.
- Ellene Wright, você é uma péssima mentirosa. Eu estou te vendo no jornal de hoje.
Ela engasgou-se e tentou se livrar:
- Lis... Estou um pouco ocupada agora... o sr. Bill está me chamando, mais tarde nos falamos...
Desligou o celular antes mesmo da amiga continuar. O sanduíche que parecia tão saboroso no início, perdeu o sabor, ela estava preocupada e mastigava pensativa, buscando alternativas para desmentir aquele fato. Alguém aproximou-se despertando-a de seus pensamentos:
- Tá bem?
Ela arregalou os olhos como se realmente acordasse de uma distração
- Ah, oi... Estou bem sim...
- Parecia preocupada! Posso me sentar com você? – Ele mostrou o caixote ao seu lado e ela concordou com a cabeça.
Nathan sentou-se e abrindo o seu sanduíche brincou:
- Achei que só eu usava os fundos como restaurante...
- Apesar de não ser o melhor lugar, é confortável. Digo, não tem ninguém pra incomodar ou reparar em você.
- Verdade!
Fez-se silêncio por alguns segundos e ela foi surpreendida pelo convite inesperado:
- Então Elly, sei que nos conhecemos a pouco tempo, mas... Pensei se aceitaria sair comigo, pra comer alguma coisa ou... Só pra conversar mesmo.
Ela engasgou-se de novo e dessa vez precisou da ajuda dele, que com leves tapinhas em suas costas a recuperou o fôlego:
- Bem... Eu nem sei o que te dizer...
- Eu vou entender se não quiser, aliás...
- Não é isso! É que eu...não posso...
- Oh, me desculpe... Eu não sabia que... cara, que idiota! – Ele deu um tapa na cabeça constrangido.
- Não é bem isso... Eu... Não sei como te explicar...
- Me desculpa, eu não sabia que tinha namorado, mas saiba que minha intenção não era assediá-la, era só sairmos pra nos conhecer e... Sermos amigos, quem sabe!
Ele parecia ser um bom rapaz, era meigo, gentil e bonito. Ele não se parecia com o Peter, sua beleza era mais bruta, ele era um cozinheiro de mão cheia, um homem que sempre teve que trabalhar duro para conquistar o que queria, era real e estava ali pra ela.
- Aceito! – Ela falou num impulso enquanto o observava buscar  palavras desconcertado.
Ele parou e olhou-a surpreso:
- Verdade?
Ela sorriu e balançou a cabeça mordendo o sanduíche.
- Ah... Então... Podemos ir a algum lugar que goste ou quem sabe...
- Sair pra dançar! – Ela se animara em saber que teria um amigo, uma pessoa a quem se apegaria e que poderia protegê-la caso precisasse. Ela não lembrou-se do Peter, deixou-se levar pelo sorriso sincero e amável que transmitia paz e tranquilidade.
- Eu não sou muito bom, mas... Podemos improvisar! Que tal hoje?
- Por mim, tudo bem!
Continuaram a conversar, ele parecia feliz pelo convite aceito e ela mais empolgada e aliviada, pois adiaria a conversa com a amiga. Assim poderia pensar em como explicar a ela que nada era real, sem comprometer seu contrato e a vida das pessoas mais próximas.

Tudo parecia conspirar a seu favor. Chegou em casa e a amiga não estava. Correu para o quarto e começou a procurar um vestido para usar. Tomou um banho depressa e terminava de se arrumar quando a ouviu chegar.
- Droga! – Tentou procurar um lugar para se esconder, mas era tarde.
- Ora, ora... Está se arrumando pra outro encontro as escondidas com um bilionário?
Ela forçou um sorriso e tentou:
- Eu realmente não sei do que está falando...
A amiga jogou o jornal na cama e na primeira página um casal se beijando. Eram eles, Peter e Elly, mas ela estava com o rosto coberto com sinal de interrogação.
- Acha mesmo que a coincidência de você sair pra jantar vestida exatamente como essa moça da foto me confundiria?
Lis era muito esperta e sempre sabia quando Elly mentia, estava bem, preocupada ou encrencada.
- Vai me contar o que tá rolando?
Elly queria contar, mas não sabia como.
- Não é o que está pensando, eu...
- Ele não é o mesmo cara da boate. E aquele papo de casar com um cara sem amá-lo...
- Não,  não... Eu...
- Amiga, eu estava brincando quando te respondi aquilo, não deve se vender...
Ela não podia contar a verdade, seria julgada e quem sabe repudiada pela amiga.
- Eu... Eu preciso sair... Podemos falar sobre isso outra hora?
- Vai sair com ele? Pode pelo menos me falar a verdade?
Elly respirou fundo e respondeu baixando a cabeça:
- Não.
- Não? Não é com ele ou não pode me falar a verdade?
Elly buscou palavras e algum lugar pra olhar para evitar encarar a outra:
- Não é com ele. É com Nathan, meu colega do trabalho.
- O que? – Ela sentou-se na cama confusa – O que tá acontecendo com você? A poucos dias não tinha vontade de sair pra dançar e agora... O que se tornou?
- Não, não é isso. – Ela tentou se defender sentando-se ao lado da colega de quarto – Eu não sei como te explicar, mas não é nada disso que está pensando, eu... Eu não me tornei esse tipo de mulher!
- Tem certeza? – Lis olhou-a de cima abaixo e levantando-se concluiu: - Só não machuque ninguém e nem saia machucada disso, seja lá o que for.
Ela saiu do quarto e Elly soltou um suspiro chateada por ter sido julgada e mal interpretada pela amiga, mas quando as próximas notícias surgissem seria pior, então precisava contar tudo a ela.
Saiu sem graça do quarto e antes de sair de casa:
- Não vou chegar tarde!
- OK. – Lis nem olhou-a ao responder.
- Lis... Confie em mim, eu não sou...
- Quando me contar o que está acontecendo... Talvez eu possa entender!
Encarou-a firme e ela sem ter o que dizer, apenas saiu.
Encontrou-se com Nathan em um bar próximo e conversaram por algum tempo. Logo partiram para a boate que costumava ir com Lis.
Dançaram e se divertiram muito. Ela sentiu-se a vontade com ele, tão a vontade que teve medo de beijá-lo quando em um momento da noite, rolou um clima. Estavam na porta do prédio e antes de entrar ela sorriu:
- Foi muito legal... Devíamos repetir!
- É. Eu também gostei muito de sua companhia.
Ele estava com as mãos nos bolsos de sua calça e desviava o olhar desconcertado.
Ela ria de sua timidez e da situação. Então tentou quebrar o gelo:
- A mulher que te conquistar terá muita sorte!
Ele olhou-a ainda de cabeça baixa e sorriu.
- O cara que te conquistar também terá a maior sorte do mundo!
Os dois estavam flertando, sorrindo desconcertados. Ele então aproximou-se:
- Posso te dar um abraço de boa noite?
Ela sorriu e assentiu com a cabeça. Ele abraçou-a com delicadeza. Ela correspondeu apertando-o. Durou alguns segundos, o suficiente para que ela inspirasse seu perfume e ele o  dela. Ao soltá-la com cuidado e devagar, ele encarou-a. Tirou uma mecha de cabelo que caiu sobre o rosto dela com delicadeza e observando sua beleza, sorriu.
- Boa noite! – Ela sussurrou, olhando-o nos olhos.
Ela sentiu seu coração acelerar e naquele momento, mordeu seu lábio, tentando conter a vontade de beijá-lo. Ele aproximou-se de leve o rosto do dela e quando seus lábios iam se tocar, ela virou o rosto recobrando a consciência de que não deveria deixar-se levar. Ele então, em um momento de hesitação beijou-a na testa e falou afastando-se:
- Boa noite! Te vejo na segunda?
- Ah, sim. É claro.
Ela evitava encará-lo, mas era impossível.
Ele afastou-se devagar e ela observou-o seguir e virar a esquina no final da rua.
Naquela noite, ela dormiria sem se recordar do Peter e o que seu contrato representava. Sorria feliz, sentia-se feliz. Ao deitar-se, abraçou um travesseiro lembrando do quase beijo que fizera seu coração disparar.


No domingo, após sua corrida matinal Peter recebeu em sua mansão uma visita inesperada e pra lá de desafiadora, seu pai.
- Sr. Peter, o sr. Schmidt acabou de chegar e deseja vê-lo. – Anunciou a governanta.
Peter estranhou a visita e depositando seu livro na mesa pediu:
- Obrigado, Ana! Deixe-o entrar, por favor.
A mulher saiu e retornou pouco depois acompanhada de um senhor, ele era alto, forte, cabelos castanhos com mechas grisalhas e seu porte era de atleta aposentado a pouco tempo.
- Bom dia! Que visita inusitada... A que devo a honra? – Falou com sarcasmo.
- Bom dia! Tenho algo que muito lhe interessa. – O homem jogou um envelope pardo sobre a mesa e sentando-se à poltrona de frente ao filho, observou: - Mas antes de abrir, gostaria de negociar quanto ao conteúdo.
Ele olhou para o pacote, com as mãos sobre a mesa curvado, encarou o pai:
- Não me importa o que seja, dispenso!
- Não quer mesmo saber do que se trata?
O pai cruzou as pernas e se encostou confortável na poltrona sorrindo. Peter hesitou e ele atacou:
- Desista desse casamento fajuto e darei uma parte da herança pra você, como prêmio de consolação.
Peter riu e observando o pacote cedeu:
- O que você quer?
- Já disse. Desista desse casamento! Já sabemos que não passa de uma farsa. – O pai sorria com prazer, e Peter olhando-o por cima dos olhos, apertou-os com raiva e riu ironicamente.
- E perder o prazer de ver essa sua cara de perdedor? Jamais.
- Abra o envelope. – O pai aproximou da mesa e desafiou-o.
Peter sentou-se na poltrona e antes de pegar o envelope ironizou:
- Não importa o que seja, ainda assim terá casamento e estou pensando se te convido ou não depois dessa sua visita.
Pegou o envelope e abriu-o. Engoliu forte ao ver as fotos da Elly com Nathan. Fotos num bar sorrindo e bebendo, na boate dançando e se divertindo, tão próximos. Fotos de um momento íntimo na porta do prédio onde ela mora. O quase beijo.
Jogou-as na mesa e riu, tentando manter sua expressão fria e calculista:
- Era isso? O que pretende, divulgar em jornais e revistas para caluniar nossa relação?
- Que relação? – Ele recostou-se novamente cruzando as mãos sobre seu colo.
- Não me importa o que acha ou pretende, será apenas mais um caso de pais preconceituosos que não aceitam que o filho se case com uma moça de outro nível social. É moda! É dramático!
Peter não assumia quando se sentia intimidado, não demonstrava medo e não aceitava ceder nunca. Característica essa que herdou da família.
- Já pedi aos meus advogados que solicitem a anulação deste testamento. Providenciei um investigador pra descobrir tudo sobre essa moça e essa sua “relação” com ela. No menor deslize que tiverem, terei o que é necessário para acabar com essa farsa e tomar posse do que é meu.
O pai riu e fazendo menção de se levantar, lembrou:
- Ah... Já ia me esquecendo... Não tem a minha benção para seu “casamento”!
Levantou-se rindo e antes de sair observou a biblioteca e comentou:
- Espero que todos esses livros sejam suficiente para incrementar na sua criativa ideia de casamento.
Olhou para o filho que já respirava forte, com os olhos vermelhos e apertados de raiva. Sorriu e saiu despedindo-se:
- Até breve!
Ao sair da biblioteca, ainda pode ouvi-lo gritar e socar a mesa. Riu satisfeito e foi embora.
Peter deixou-se cair na poltrona e fechando a mão com força, fixou seu olhar vermelho e apreensivo naquelas fotos. Então, pegou o telefone e pensou antes de digitar uma mensagem.
“Você me paga, sua... “, começou a digitar freneticamente e enviou.

Apesar de estar um clima estranho, Lis não tratou Elly mal naquela manhã. As duas preparavam o almoço de domingo e conversavam. Elly ouviu seu celular tocar.
Mensagem de Nathan:
“ Bom dia! Dormiu bem?😺”
Ela sorriu e respondeu:
“ Muito! E vc? 😊”
Nathan: “ Não dormi muito, não consegui pregar os olhos.😅”
Elly: “ Por que? Está bem?”
Nathan: “ Sim! É que vc não sai da minha cabeça 😍”
Ela sorriu encantada e respondeu com emojis:
“ 🤭🙈☺️”
Ela apertou o celular contra o peito e sorriu. Lis perguntou:
- Nathan!?
Elly olhou-a sorrindo e com receio de ser criticada:
- Não me critique! - Sentou-se numa cadeira e depositando o celular sobre a bancada suspirou.
- Por que te criticaria? Todo mundo tem um crush e já teve um caso com ricaço. – Brincou.
- Sobre isso... – Ela respirou fundo e resolveu contar à amiga, mas seu celular vibrou de novo e ela apressou-se pensando que fosse Nathan, mas seu olhar mudou de brilhante e empolgado para triste e preocupado.
“ Precisamos conversar!” e uma foto dela com Nathan.
Ela não percebeu, mas seus olhos demonstravam que algo lhe trazia medo e Lis notou:
- O que houve? Aconteceu alguma coisa? – Limpou as mãos no pano de prato e aproximou da colega que estava imóvel olhando o telefone.
- Eu... Eu não sei...
Lis viu a mensagem e estranhou a situação:
- O que está acontecendo? Por que esse homem quer conversar com você e tem essa foto?
Ela engoliu seco e começou a chorar. Lis abraçou-a solidária e preocupada.
- Elly... O que houve? Me fala pra que eu possa te ajudar?
Elly percebeu a dimensão de seu problema e começou a tremer nervosa. Lis espantou-se como estado da colega de quarto e correu até a geladeira, pegando uma jarra d’água procurou um copo e ofereceu-a água.
- Tome! Fique calma e me fale o que está acontecendo! – Ela com muito custo pegou o copo e tremendo bebeu a água em goladas fortes.
Lis acalentou suas costas e pediu com tom suave:
- Respire fundo! Relaxa.
Elly tentou respirar fundo, mas seus soluços começaram e seu tremor não reduzia.
- Elly... Você precisa desabafar!
Ela levantou os olhos cheios de lágrimas e tentou:
- Eu... Eu não posso!
- Como assim? – Lis pensou e concluiu: - Esse homem está te ameaçando? Porque se estiver, você precisa de ajuda. Se não me falar, não tenho como te ajudar.
Seu olhar brando e reconfortante deu forças à Elly para desabafar. E ela contou à amiga o que passara desde aquela noite da boate.
Lis estava chocada e preocupada com destino da amiga. Sentou-se ao seu lado pensativa.
- Poxa! Nem sei o que te dizer... Eu aqui te julgando e... Não sabia do que estava passando.
- Eu não sei o que fazer! – Elly estava realmente nervosa e intimidada.
Lis a abraçou confortando-a:
- Vamos achar uma solução!
Após algum tempo nos braços da amiga, que revezava entre as panelas no fogão e os carinhos, Elly decidiu que iria para o quarto e pediu:
- Por favor, não conte a ninguém. Não sei o que ele é capaz de fazer e não quero causar mal à ninguém .
- Ok. Seu segredo estará bem guardado. – Lis tentava imaginar a dor que Elly sentia naquele momento de estar de mãos atadas e com a vida de quem mais amava nas mãos.
Elly dormiu por algumas horas e quando acordou, conferiu as horas no telefone. Haviam doze ligações perdidas e algumas mensagens. Respirou fundo e abriu-as.
Nathan:
“ Quer almoçar comigo? Faço aquele super cheeseburguer com molho picante que sempre pede no almoço.😊”
“Se não tiver afim do almoço, podemos tomar um sorvete a tarde, o que acha? 🙈”
“ Não?”
“ Um chopp a noite?”
“ Não tá afim! Desculpe a insistência. Gosto muito de sua companhia!”
“ Até mais 😔”
Peter:
“ Te espero as 20hrs na minha casa, não me importa como, mas deve chegar no horário! Espero que seja pontual pelo seu próprio bem e do seu amigo!”
“ Até mais tarde!”
Ela podia imaginar ele falando com seu tom ameaçador e seu olhar frio.
Sentiu vontade de chorar, mas respirou fundo e respondeu.
Para Nathan:
“ Precisamos conversar! Amanhã no horário do almoço! 😔”
Para Peter:
“ Tudo bem!”
Ao receber a mensagem dela, Nathan desanimou-se enquanto Peter se preguntou:
- Tudo bem? Quem ela pensa que é pra me responder assim?
Largou o telefone e voltou ao seu notebook.

Amor que queimaOnde histórias criam vida. Descubra agora