CAPÍTULO 2

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O domingo iniciou com muito trabalho e muita reclamação do chefe na lanchonete, mas a Elly se sentiu grata por estar lá e não em outro evento com pessoas arrogantes como o do sábado.
E assim seguiu a semana.
Na sexta-feira, por ironia do destino uma visita indesejada tanto pela Elly quanto pelo Josh.
Três homens bem vestidos entraram na lanchonete, um deles era o Peter Octavius Williams e Schmidt, o dono e presidente do Grupo O & S, responsável por uma rede de empresas de grande porte e alguns correspondentes bancários. Ele falou algo a atendente, Amy, e sentou-se à mesa com os amigos observando o local.
Elly não tinha percebido de quem se tratava até o chefe, desconcertado unir-se a eles e acenar para que ela os atendesse. Ela se aproximou sem jeito e perguntou, com papel e caneta à mão:
- Boa tarde, senhores! O que vão pedir hoje?
Um dos homens era o Andy, aquele que a abordara e assediara na biblioteca.
- Essa pergunta incluiria você? Só que eu quero que embale para comer em casa.
Deu um sorriso malicioso, mas o outro interviu:
- Deixe a moça em paz seu tarado. Não dê atenção a ele, queremos uma porção de batatas e três cervejas.
- Duas! Eu quero um whisky! – O terceiro, Peter, levantou os olhos e ao reconhecê-la apertou os olhos e observou – E sem gelo!
Ela ficou sem graça, pois relembrou seu episódio ridículo do sábado. Então anotou o pedido e virou-se ao chefe:
- Não temos whisky aqui, chefe.
- Pegue o da minha sala. Vá!
Ele fez um gesto pra que ela saísse. Ela obedeceu e saiu apressada.
Pouco depois retornou com a garrafa de whisky e um copo, sem gelo, e duas cervejas.
- Você não bebe Joshua? Aproveite, afinal não temos tantas oportunidades de nos reunir assim.
O Josh parecia desconfortável e forçava um sorriso, pareceu obrigado a pedir:
- Me traga outro copo, por favor!
Elly estranhou a educação do chefe, mas obedeceu. Trouxe o copo junto com as batatas e se colocou a disposição:
- Tenham um bom apetite, se precisar basta chamar.
Peter olhava cético para Josh, que evitava encará-lo, enquanto os outros dois homens se dedicavam as cervejas e batatas. Elly saiu sem nenhuma resposta ou agradecimento.
Ela parou no balcão e comentou com a Amy observando o diálogo, de longe, que iniciava naquela mesa:
- O que acha que querem?
Amy passava um pano no balcão e respondeu receosa:
- Boa coisa não parece, o sr. Josh não parece a vontade.
- Eu daria tudo pra ser um mosquito agora pra ouvir...
- Se fosse um mosquito estaria morta de tão sonsa que é!
Ela se surpreendeu com a fala da colega e saiu indignada para atender a outra mesa.



- Joshua, Joshua! Acredito que tenha noção do que viemos tratar aqui, não é mesmo?
- Eu imagino, sr. Octavius...
- Pra você , Peter, afinal já somos grandes amigos, não é verdade?
- Sr. Peter... Eu estou me esforçando ao máximo.
- Seus esforços não são suficientes até o momento. Se nosso banco te cobrou por dois anos e não conseguiu pagar metade de sua dívida, creio que está precisando de um “empurrãozinho”.
- Mas sr. Peter...
- Estou aqui para fazer uma proposta! – Ele tirou um papel dobrado delicadamente do bolso do seu blazer, abriu-o, colocou a mesa e direcionou ao homem que sentava a sua frente. – Uma semana para resposta, o que acha?
- Isso é um contrato de penhora? – O Josh lia incrédulo o contrato em suas mãos.
- Sim. É um estímulo para que se esforce mais e pague sua dívida. Nosso banco tem a vantagem de oferecer condições facilitadas para pessoas como você. Não deveria receber tamanha ingratidão como retorno.
- Eu tive dificuldade com os juros, se de repente...
- Se de repente... A sua lanchonete pegar fogo, você não tem seguro pra isso,  estou certo? – O tom da conversa mudou e tomou rumo pra ameaça.
- Como assim?
- Uma semana... Ou você assina este contrato, que te dá seis meses para quitar sua dívida e na pior das hipóteses este “estabelecimento” passa a ser do nosso grupo. Ou a segunda alternativa. Mas eu não gostaria de ser você caso não assine, porque uma semana é o prazo máximo e eu odiaria incendiar um local tão promissor e de repente, com o senhorio dentro. – Deu um sorriso sarcástico.
Um calafrio subiu pela coluna do Josh.
- A menos que já tenha uma resposta pra me dar... – O homem se levantou e ajeitando seu blazer concluiu – Imaginei que iria preferir o prazo de uma semana. Vamos rapazes. Joshua, obrigado pela bebida e até breve! – Esticou a mão cumprimentando o homem que permanecia sentado e incrédulo.
Josh levantou-se devagar e cumprimentou Peter:
- Em uma semana terei sua resposta! – O aperto de mão era como um pacto com o diabo para Josh, ali sabia que assinava sua sentença, seja de falência ou de morte, era seu fim.
Os homens saíram. Josh tornou a sentar-se e serviu-se de um copo com whisky pela metade.
Elly veio preocupada:
- Tudo bem, sr. Josh? – Parou a beira da mesa.
- Este é o meu fim. A menos que tenha trezentos mil dólares pra nos salvar. – Ele ergueu os olhos. A Elly não sabia o que dizer, então ele pegou a garrafa e saiu – Aproveitem esta semana para atualizar o currículo de vocês, é o que irei fazer acompanhado de meu whisky.
Entrou na sala abraçado à garrafa e trancou-se por todo o resto da tarde.
Elly e Amy ainda sem entender seguiram com a rotina de trabalho,  hora ou outra batiam à porta pra ver se o patrão precisava de algo, porém sem sucesso.



Elly sentou-se na cama e ajeitou o travesseiro em seu colo:
- Foi sinistro, nunca vi o sr. Josh daquele jeito... Parecia que tinham ameaçado ele e forçado a algo, tipo naqueles filmes de gângster, máfia, sabe?
- Nossa, te ouvindo assim parece que foi maior “climão" – Lis achava exagero da amiga, mas ela prosseguiu.
- Estou falando sério, ele ficou a tarde toda no escritório, não reclamou de nada e na hora de irmos embora não conferiu o caixa, ele nunca deixa de conferir o caixa. Além disso, o lance do currículo... Sei lá! Achei sinistro!
- Talvez esteja exagerando um pouco... Não você, ele, digo que ele esteja exagerando um pouco... Talvez seja fácil de resolver... – Lis tentava acalmar a amiga.
- Lis... Ele falou em trezentos mil dólares. – Lis ficou boquiaberta incrédula.
- O quê? Trezentos... Mil? Como... – Ela não sabia o que dizer.
- E o pior... Se ele nos demitir, não sei o que farei se não encontrar outro emprego.
- Calma! Vamos aguardar, ainda nem sabemos se isso realmente será necessário, pode ser que ele passe para outro dono e não demita ninguém... – Lis tentava ser otimista.
- Não acredito muito nessa possibilidade. Mas a única alternativa que tenho é esperar... – Elly parou pensativa e a amiga a despertou dos pensamentos.
- Elly! – Estalou os dedos diante dos olhos fixos da Elly, que despertou sorrindo.
- Talvez eu possa ajudá-lo. E se fizéssemos uma caixinha pra ficar no balcão e arrecadar moedas?
Lis sorriu admirada com a ideia inocente.
- Amiga, são tre-zen-tos mil dólares, não pode arrecadar moedas em uma semana.
- Verdade! Tomara que o senhor Josh consiga uma solução. Por mais que odeie o mal humor dele, eu gosto de trabalhar lá! – Ela deitou-se na cama, olhando triste para o teto.
Mudaram o rumo da conversa para outros assuntos e ali ficaram parte da noite.



O final de semana passou rápido.
No pequeno apartamento Elly e Lis se arrumavam pra ir a uma festa sábado a noite.
Na pequena lanchonete o sr. Josh observava o que mais amava em tom de despedida.
No Grupo O&S finalizando uma reunião importante, homens bem vestidos com ternos caros sorriam satisfeitos se cumprimentando enquanto outros saíam não muito felizes.
Enquanto Lis e Elly dançavam e sorriam felizes, o sr. Josh fechava sua lanchonete e seguia pra casa caminhando desolado e o Peter observava da janela de seu escritório a cidade dormir aos poucos, as últimas luzes de prédios comerciais se apagando e as ruas se tornando desertas.
- O senhor precisa de mais alguma coisa sr. Williams? – A secretária perguntou da porta.
Ele olhou pelo canto dos olhos sem tirar as mãos dos bolsos e respondeu:
- Não, obrigado srta. Clark, está dispensada.
- Boa noite, sr. Williams! – Ela fechou a porta e ele tornou-se à janela.


No domingo, enquanto as meninas ainda acordavam já tarde, o sr. Josh afogava suas mágoas enchendo a cara em um bar, a Amy almoçava com os filhos e na mansão do Peter, ele era servido por empregados em uma mesa farta e requintada.
A tarde, no apartamento as meninas assistiam a um filme de terror, enquanto o sr. Josh se apagava em seu sofá, Amy passeava no parque com a família e o Peter corria pelas ruas de seu condomínio de luxo.
A noite, calma e estrelada não teve outro movimento a não ser uma breve refeição e o repouso.
A segunda, representava o início de uma mudança abrupta na vida de todos, especialmente da Elly e do Peter.

Elly e Amy riam de uma piada do cozinheiro, Ralph, e comentavam como era sem noção.
O sr. Josh chegou sério e anunciou:
- Teremos uma reunião as 17 horas. Se preparem para finalizar as atividades até este horário. Irei ao banco na parte da manhã e espero que não fiquem batendo papo. – Ele entrou em seu pequeno escritório e alguns minutos depois saiu.
Amy e Elly se entreolharam estranhando o patrão de óculos escuros e roupa formal, mas permaneceram quietas e o viram sair da lanchonete sem se despedir.

O movimento foi pouco e às 17 horas, já estavam todos os três aguardando o chefe que ate o momento não retornara do banco.
- O que será que ele tem pra nos dizer? – Elly estava inquieta e ansiosa.
- Provável que estamos no olho da rua. – Amy por sua vez estava mais pessimista que o normal.
- Eu acredito que teremos um aumento! – Ralph torceu.
Elly sabia que não seria boa a notícia, mas não queria acreditar, então preferiu não falar mais nada.
Atrasado em vinte minutos, o sr. Josh entrou na lanchonete com aspecto de quem teria bebido algumas cervejas antes de retornar.
- Vocês estão aí! – Ele sentou-se no balcão como se estivesse cansado de caminhar.
- O senhor está bem, sr. Josh? – Amy perguntou com receio da resposta.
- Sim, Amy! Estou muito bem! Exceto pelos meus pés que doem por eu ter andando milhões de quarteirões em busca de um empréstimo para pagar uma dívida de trezentos mil dólares para que eu não perca minha lanchonete ou morra tentando salvá-la. – Ele forçou uma risada, porém em vão. Seus olhos estavam brilhando cheios d’água e sua fisionomia remetia a um cansaço mental e físico. Ele estava totalmente esgotado.
Eles se olharam e o pavor começou a surgir entre eles, cada um tinha seus motivos para se preocupar com aquela notícia, mas não poderiam transparecer aquele sentimento, não com o chefe naquele estado.
Eles deram um abraço coletivo no chefe e assim ficaram por alguns poucos minutos.
Sem mais o que dizer e fazer, Josh os liberou e foi para seu escritório. Aos poucos, deixaram a lanchonete, receosos pelo que Josh poderia fazer e preocupados com futuro.
Quando Lis chegou em casa, se deparou com Elly chorando no sofá.
- O que houve? – Jogou sua bolsa no chão e correu pra socorrer a amiga.
- O Josh vai fechar! – Ela falou chorando e se jogando no colo da outra.
- Oh, querida! Que pena! Mas você já imaginava isso...
- Eu queria que não fosse verdade! – Ela explicou aos soluços.
A amiga a abraçou e escutou-a relembrar momentos felizes e motivos pelos quais não queria que a lanchonete fechasse.
Era difícil conseguir trabalho sem qualificação e experiência, Lis entendia a amiga, ela precisava ajudar os pais e se manter até realizar seu sonho.


Na terça-feira, o sr. Josh continuou à procura de empréstimo, passou todo o dia fora e no fim da tarde retornava com sintomas de quem bebera frustrado.
Elly e Amy se olhavam triste ao vê-lo se trancar na salinha.
Na quarta, as mesmas cenas. Amy e Elly tentaram resgatá-lo da sala para comer algo, mas sem sucesso.
Na quinta, ele resolveu se pronunciar:
- Boa tarde, pessoal! – Parecia sóbrio e ainda mais desanimado e cansado. – Então... Depois de tentativas frustradas, resolvi que é hora de desistir. Não consegui o empréstimo, portanto, acho justo compartilhar com vocês o que está prestes a acontecer. Amanhã assinarei um contrato em que tenho prazo de seis meses para quitar minha dívida, do contrário perderei a lanchonete. Acho melhor cada um já ir se arranjando em outro lugar, vou entender se abandonarem o barco antes que ele afunda de vez. O que ainda tenho, creio que pode ajudar em alguma coisa, mas não tenho como dar muito...
- Estamos com você Josh, e iremos até o fim. – Elly falou em um impulso.
Amy e Ralph se olharam, mas não discordaram.
Naquela quinta, Josh percebeu que tinha um time ao seu lado, não era a solução para o problema, mas pelo menos não fora abandonado naquele momento difícil.

Na sexta, Josh sumiu por algumas horas e retornou com sinais de embriaguez.
E dali em diante, nada mais foi como antes.

Após dois meses de completa tortura psicológica, Elly bateu à porta do chefe:
- Sr. Josh!? Posso entrar?
- Entre. – Ele guardou um envelope na gaveta e ajeitou-se em sua cadeira.
Ela entrou, e sentando-se devagar na cadeira em frente buscou palavras:
- Então, sr. Josh, eu andei pensando... Temos ainda quatro meses pela frente e ainda não tivemos um faturamento expressivo já que o movimento vem caindo nas últimas semanas e...
- Onde quer chegar? – Ele adiantou.
- Eu quero tentar ajudá-lo. Sei que não é possível levantarmos todo o dinheiro, mas se de repente arrecadarmos uma quantia com doações, mais o que vendemos e um empréstimo talvez, podemos ganhar tempo... Mais tempo!
Ela estava otimista, mas ele forçou um sorriso e observou:
- Já tentei ganhar tempo, não é algo possível. E um empréstimo está fora de questão. Banco nenhum irá sujeitar empréstimo a um mal pagador como eu.
- Mas e se for outra pessoa? Como... eu! – Ela estava disposta a ajudar o chefe.
Ele apertou os olhos e teve uma ideia.
- Você? Você estaria disposta a pegar um empréstimo?
Ela estava com medo, mas em seu coração tinha sensação de que era seu dever ajudar.
- Sim! Inclusive já simulei pela internet, outro dia estava na biblioteca municipal e acessei algumas páginas de bancos. Na cooperativa eles disponibilizam até trinta mil e no banco... no banco em que o senhor já foi cliente, informa que qualquer valor pode ser avaliado.
- Eles são uns golpistas e... – Ele hesitou e retomou com outra ideia – Podemos tentar cem mil!
Ele tinha planos, mas não compartilhou naquele momento, apenas informou que ganharia tempo com esse valor.
- Vou fazer uma ligação, conseguir uma negociação e mais tempo... Com essa entrada, você salvará minha vida Elly.
Ela sorriu satisfeita e levantou-se:
- Então amanhã mesmo eu vou visitar o banco para dar entrada nos papéis , assim que avaliar e me derem resposta eu ligo para o senhor.
Ele assentiu sorrindo e ela deixou o escritório empolgada.

No dia seguinte, sem demora ela foi ao banco, Josh a liberara em folga para que pudesse ir com tempo e especificou em detalhes o que ela diria, documentos necessários e o gerente que deveria procurar no banco do Grupo O&S, seria mais fácil assim conseguir.
Ela se preparou e o entusiasmo que trazia consigo facilitou a conversa com o gerente, um senhor bem humorado e bondoso. Era conhecido pelo maior número de empréstimos liberados e também tinha um marco de clientes inadimplentes.
- Eu sinto muito srta. Wright, mas o valor que você solicitou infelizmente não foi aprovado. Eu estou com uma trave nas minhas liberações, devido a alguns probleminhas que tive com os pagamentos de clientes....
Ela forçou um sorriso e desconversou:
- Que pena... Tudo bem sr. Andrew! – Ela ia se levantar quando ele fez um gesto pra se sentar conferindo se alguém os observava.
- Espere um minuto... Vou pedir uma exceção e colocar a garantia de credito que me restou. – Ele olhou algo no computador por cima de seus enormes óculos e sorriu.
Ela sorriu nervosa com a resposta, então ele cruzou as mãos e com um sorriso largo informou:
- Srta. Wright, creio que até a próxima semana poderá iniciar as obras no seu estabelecimento de moda. Meus parabéns ! – Ele levantou-se e esticou a mão para cumprimentá-la.
Ela sorriu a princípio de nervoso que se misturou a sensação de orgulho pela conquista. Seus olhos cheios d’água brilhavam e ela ergueu-se e abraçou o senhor, um braço apertado de gratidão.
- Obrigada, sr. Andrew! Obrigada mesmo! – Ela o soltou disfarçando pois as pessoas começavam a notar. Então sentou-se – E o que precisamos para concluir?
- Tem uma conta bancária? Irei concluir o processo, com minha garantia será aprovado em três dias e até a segunda da próxima semana o dinheiro cairá na sua conta. – Ele falou sentando-se e voltando para o computador.
Ela sorria feliz e afirmando com a cabeça, buscou em sua bolsa a carteira, de onde tirou um cartão  e entregando-o:
- Aqui! Estou tão feliz que mal consigo respirar!
- Fique calma, aliás agora terá o que precisa pra realizar seu sonho. Essa é a parte deste trabalho que eu adoro sabia? – Ele olhou-a por cima dos óculos e sorriu.
- É somente o início sr. Andrew. Em breve outras conquistas surgirão, tenho fé.
Ela não conseguiu parar de sorrir. Estava orgulhosa de ajudar o sr. Josh e com isso manteria seu emprego por um bom tempo até se formar na faculdade e tirar os pais da pobreza.

Ao chegar na lanchonete, sua felicidade transbordava e o sr. Josh apesar de comemorar com ela e os outros funcionários, parecia incomodado ainda.
- Sr. Josh, não está feliz? – Amy perguntou ao percebê-lo pensativo.
- Sim, sim. Estou muito feliz. Obrigada Elly! E me desculpe fazê-la passar por isso.  – Ele baixou a cabeça e ela aproximou-se e falou pegando em seu ombro:
- Sr. Josh, essa aqui é minha segunda casa e vocês minha segunda família.
Ele engoliu forte e se deixou abraçar pela moça, tão entusiasmada e alegre.

Na semana seguinte, assim que recebeu a mensagem informando o depósito foi ao banco realizar o saque, e com segurança seguiu direto para a lanchonete. Entregou o envelope ao sr. Josh que a agradeceu e deu-lhe mais um abraço. E como recompensa deu-lhe mais uma folga.
Ela estranhou a bondade do chefe, mas imaginou que seus laços estariam se estreitando e com isso, teria algumas regalias. Aceitou a folga e retornou para o apartamento.


Os dias de sono calmo, de alegria e esperança de Elly acabaram, quando no dia seguinte chegou a lanchonete e se deparou com a Amy e o Ralph:
- Ora, por que ainda não abriram? O sr. Josh vai ficar uma fera com esse tempo que deixamos de vender.
Os dois se entreolharam e Amy falou de forma bem direta:
- Isso se ele ainda estivesse aqui, não é mesmo? Ligamos para a casa dele e informaram que ele saiu com as malas ontem a noite. Pensamos que ele já estaria aqui, mas já tem mais de meia hora que estamos batendo na porta, nas janelas e não tem nenhum movimento. A fechadura foi trocada, então não temos como entrar.
- O que será que aconteceu?
Elly ainda não tinha entendido, mas Amy não a poupou:
- Garota, não percebeu ainda? – Ela arqueou as sobrancelhas e concluiu – Ele deu o fora com a grana. Ele fugiu!
Elly sentiu uma pontada no peito, mas não quis acreditar. Engoliu forte e procurou explicação:
- Não,  não... Ele não faria isso... Eu... Eu consegui o dinheiro pra que pudéssemos ter tempo e...
Amy se comoveu com a surpresa da garota, Elly estava com os olhos pingando lágrimas e sua voz tinha entalado na garganta. Amy a abraçou e tentando acalmá-la falou:
- Calma! Iremos encontrá-lo.
- Não pode ter acontecido isso, ele não pode... Não pode ter feito isso...
Ela desabara de joelhos na calçada e a colega tentava consolá-la com abraço materno e palavras de conforto. Ralph estava tentando ligar no celular e informou desacreditado:
- O telefone dele não chama. Tentei o celular da mãe e ela informou que ontem ele ligou e disse que viajaria a trabalho e que não sabia quando entraria em contato de novo. Ele realmente sumiu.
Elly desatou a chorar de desespero. Além de seu emprego, ficaria com uma dívida que não sabia como pagar.
Aos poucos, Ralph as deixou e Amy a ofereceu ajuda pra ir pra casa, mas ela não aceitou. E ali permaneceu por longas horas chorando desesperada, com esperança de que Josh retornaria e aquilo acabaria.
Mas ele não retornou e quando sua cabeça doeu de tanto chorar, ela levantou-se devagar sem se importar com as pessoas a observando e saiu andando devagar e desolada.

Em casa chorou mais.
A amiga Lis tentou consolá-la durante a noite, mas nada a tirava do poço de desespero que se encontrava, não por ter perdido o emprego apenas, mas pela trapaça e prejuízo que o Josh deixara.

Ela passou uma semana inteira tentando contato, ia até a lanchonete na esperança de encontrá-lo, mas descobriu que ele entregara o ponto ao Grupo O&S como pagamento da dívida e ali seria construído uma outra loja. Foi diversas vezes à casa onde ele morava, mas já haviam outros inquilinos. Entrou em contato com Ralph e pegou o telefone da mãe de Josh, mas já não era o mesmo número. Procurou na lista telefônica com o nome sobrenome do ex-chefe, não encontrou. Presumiu então, que não havia como encontrá-lo.

- Amiga, você precisa comer alguma coisa. – Elly já não comia direito e Lis sempre insistia para que jantasse ou comesse uma fruta, algumas vezes ela cedia, mas na maior parte do tempo dormia sem se alimentar.
- Como ele pôde fazer isso comigo? Eu o considerava da família... Fiz o empréstimo...
- Elly, será se não teria como cancelar esse contrato? Alegar que foi roubada, aliás realmente foi.
- Eu não sei. Amanhã eu vou ir ao banco e tentar isso. Vou dormir um pouco, obrigada Lis, por tudo.
Ela levantou-se do sofá e foi para o quarto. Deitou-se mas não dormiu.



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