No dia seguinte, Elly trabalhou feliz.
Peter recebeu suas fotos do dia e as observou com atenção, tinha algo diferente com ela, estava mais radiante e sorridente. Imaginou o que poderia ser, mas não acreditou que ela seria capaz de insistir naquela história.
No final da tarde, Elly seguia feliz, então recebeu uma mensagem do Peter:
“ Iremos ao buffet pra escolher o menu do jantar de noivado. Antony irá te buscar na quarta as 18 hrs.”
E exatamente naquele momento, dois homens numa moto a abordaram:
- Passa o telefone! – O passageiro apontou uma arma pra ela, que apavorada entregou pedindo:
- Por favor, não atire! Leve o que quiser...
O homem arrancou o celular de sua mão e saíram na moto.
Ela estava em choque, tremia muito e seu coração estava a mil. Algumas pessoas a socorreram após o episódio.
Ela chegou em casa exausta. Deixou-se cair sentada no sofá e desmoronou. Aparou sua cabeça com as mãos e começou a chorar. Ela só imaginava no que poderia ter acontecido se reagisse.
Lis chegou pouco depois e mais uma vez foi seu amparo.
Na manhã de terça , ela contou ao Nathan antes de começarem o expediente. Ele abraçou-a e combinaram de dar um jeito de se falarem até que ela conseguisse outro aparelho.
Na quarta, ela se lembrou do compromisso com Peter, imaginou que algo bom naquela semana poderia acontecer e seria ele se esquecer ou ter que cancelar. Mas não aconteceu.
Quando ela terminava suas atividades, percebeu que o carro estacionou em frente a lanchonete. Então, soltou um suspiro desanimado e continuou seu trabalho.
Saiu e Antony antecipou-se abrindo a porta traseira do carro.
- Boa tarde, Antony! – Ela parou e sorriu, então agradeceu-o entrando – Obrigada!
Seguiram para um enorme ponto. Ao entrar, Elly lembrou-se da senhora Ernest que tanto a traumatizara em um evento, em que também estivera Peter. Mais más lembranças.
Lá estava ele, sentado numa poltrona conversando com uma bela moça que falava sobre bolos e tortas doces de sobremesa.
- Boa tarde!
Elly chegou e cumprimentou-os. Peter olhou-a dos pés à cabeça e ignorou o fato de ela estar ainda com seu uniforme de garçonete.
- Boa tarde! – Ele levantou-se e passando a mão pela sua cintura apresentou-a à moça - Esta é a minha noiva, Ellene Wright. Futura sra. Williams e Schmidt. Meu amor, essa é Lana, a responsável pelo buffet de nosso jantar de noivado.
Elly estava incomodada com a mão dele em sua cintura, mas tentava não demonstrar. Forçou um sorriso e cumprimentou a moça que encarava seu uniforme forçando uma cordialidade:
- Oi!
- Ah... Oi, srta. Wright. Estava mencionando ao sr. Williams que temos excelentes tortas doces em nosso cardápio que podemos incluir no menu do seu jantar.
A moça começou a falar sem parar e Elly sem prestar atenção em nada apenas forçava um sorriso incomodada. Peter limpou a garganta e interrompeu:
- Podemos passar para a etapa em que provamos as tortas, assim será mais fácil pra ela escolher. Se não se importa, querida, eu escolhi o jantar e deixei a sobremesa para você escolher. Tudo bem? – Ele fingia muito bem, já Elly tinha certa dificuldade.
- OK. Vamos provar, então! – Elly forçou um sorriso e deu um passo a frente para se afastar dele.
A moça a conduziu. Ele engoliu forte, disfarçando sua irritação com o comportamento dela e seguiu-as.
Passaram algumas horas provando bolos, tortas e doces. Elly não achou graça em quase nada, mas escolheu uma qualquer para acabar logo com aquela situação embaraçosa.
Logo que se despediram da moça, Peter abriu a porta do carro informando:
- Dispensei o Antony, pois te levarei pra casa. Pensei em passar mais tempo com você para conhecer sua amiga e... sua casa. – Ele sorriu.
Ela não entendia a intenção dele, então tentou se livrar:
- Não precisa. Pego um metrô, não quero tomar seu tempo. E a Lis também chega muito cansada, deve estar exausta. Se não se importar...
- Eu me importo. Faço questão... – Ele tocou seu braço e fez sinal com a cabeça pra que ela entrasse no carro.
Ela entrou, forçando um sorriso demonstrando sua insatisfação.
Seguiram para o apartamento dela. No caminho, permaneceram em silêncio.
Ela abriu a porta, para que ele entrasse.
Ele observou o local com atenção. Elly comentou mostrando a sala vazia:
- Não te disse... Lis deve estar dormindo. – Mas a amiga logo saiu do quarto falando animada.
- Elly que bom que chegou, comprei cerveja e... – Ela fez uma pausa ao ver o Peter.
- Boa noite! Ainda não fomos apresentados, eu sou Peter Octavius Williams e Schmidt. Você deve ser a Elisa! – Ele esticou a mão com cordialidade e certa simpatia.
Lis forçou um sorriso e correspondendo ao cumprimento, apertou a mão dele:
- Oi! É um prazer conhecê-lo.
- Elly disse que estaria cansada, não quero causar incômodo. Pensei em conhecer onde ela morava, aliás... Não sei se ela chegou a te contar, mas estamos prestes a ter um jantar de noivado. Estávamos fechando o menu com buffet.
Lis olhou surpresa para Elly e respondeu:
- Ah, sim! Sobre o noivado ela me contou...Aliás, estou surpresa, geralmente esses romances só são vistos em contos de fadas, não é mesmo? – Ela inventou para disfarçar que não sabia a verdade.
- Espero que esteja presente no nosso jantar e na nossa cerimônia. Pensamos em algo simples, que evite os holofotes.
- Ah sim. Sente-se. – Lis indicou-o o sofá. Elly estava chateada com a presença dele e não fazia questão de esconder. Lis ofereceu-o: - Bebe alguma coisa? Uma água, uma cerveja...
- Uma cerveja! – Ele aceitou. Elly nunca o tinha visto beber cerveja, imaginava que seu paladar só aceitasse whisky ou algo mais forte, ou caro.
- Achei que não gostasse de cerveja! – Ela indagou.
- Realmente não costumo beber, mas já que estamos em sua casa... – Ele fingiu ser romântico.
Lis trouce as cervejas e perguntou:
- Aceita um copo ou...
- Tomo na garrafa mesmo! – Ele aceitou a garrafa e deu um gole com vontade.
Elly sentou-se no braço do sofá pouco distante dele. Lis permanecia de pé.
- Então... Te liguei e mandei mensagens, o que houve com seu telefone? – Ele perguntou como se não soubesse.
- Bem, eu... – Ela hesitou ao se lembrar do ocorrido.
- Ela foi roubada! – Lis poupou-a.
Ele fingiu surpresa e preocupação:
- Mas como você não me fala nada. Te fizeram algum mal?
Ela olhou-o e ironizou:
- Até parece que se preocupa! – Lis arregalou os olhos e ela tentando corrigir – Eu quis dizer... Até parece que mudaria algo...
Ele riu e fingindo não ter levado a sério informou:
- Vou providenciar outro pra você. Quer que resgate seu antigo número?
Lis e Elly se olharam, e Lis lembrou:
- Seria ótimo, aliás os pais dela podem ter dificuldade de entrar em contato.
Elly concordou com a cabeça, mas tentou recusar:
- Isso é verdade, mas não precisa se preocupar.
- Eu faço questão! – O olhar dele já deixava claro que era uma imposição e não uma oferta.
- Tudo bem, então! – Elly forçou um sorriso e falou – Se não se importar, vou tomar um banho.
Ele sorriu e brincou:
- Se quiser ajuda... – Ela ficou constrangida e amiga segurou-se para não rir.
Elly saiu revirando os olhos. Lis sentou-se na cadeira, da bancada, e ficou quieta.
Peter puxou assunto:
- Então você trabalha no buffet da sra. Ernest?
- Sim. Você é um dos melhores clientes dela, sabia?
- Não me gabo por isso, as vezes tenho vontade de não contratá-la devido a forma como trata seus funcionários, mas não posso negar que o que me admira é a disciplina e o bom trabalho que executam.
- Sim, ela é muito exigente!
- Já pensou em ter seu próprio negócio? Com a experiência que tem trabalhando pra ela, tenho certeza que tem capacidade de se destacar tanto quanto.
Lis sorriu e se empolgou:
- Você acha? Eu sempre sonhei em ter meu próprio buffet, quero cursar administração de empresas na faculdade comunitária pra isso. O único problema é o investimento e o nome, pra criar concorrência, tenho que ter pelo menos isso.
- Verdade. Buscando os investidores certos e os contatos que irão te divulgar e ampliar sua clientela, tenho certeza que terá sucesso e quem sabe, tomar o trono de sua atual chefe.
Ele era um cara motivador e sabia conquistar a confiança das pessoas, isso ficou claro para Lis e para Elly que ao retornar secando seu cabelo com a toalha, notou que a amiga já estava à vontade e conversavam como antigos amigos.
Elly sentou-se em outra cadeira e observou-os falar de notícias de mercado e grandes investidores. Lis pegou mais três cervejas e distribuiu entre os três, sem perder o foco da conversa. Ela estava admirada com a inteligência e simpatia daquele homem. Elly ficou sem entender, pois ele era o carcereiro da sua única colega de quarto e agora, Lis e ele pareciam grandes amigos.
No fim da noite, ela o acompanhou até a porta.
Estavam parados na porta, sem ter o que te dizer um ao outro. Ele colocou suas mãos no bolso e olhando em volta comentou:
- Foi... bom... conhecer sua colega de quarto!
Ela se encolhia de frio e balançou a cabeça fingindo concordar.
- Amanhã mando Antony entregar seu telefone. Quer receber aqui ou no trabalho?
Ela deu de ombros:
- Tanto faz!
Ele então, se aproximou e colocando uma das mãos na parede cercou-a. Ela afastou a cabeça confusa. Ele riu e aproximou-se devagar para beijá-la, mas ela desviou:
- O que está fazendo?
Ele riu e provocou:
- Ora, nos casaremos em breve... Isso é o mínimo que podemos fazer.
- Como assim? – Ela apertou os olhos encarando-o.
Ele sorriu e aproximou do ouvido dela sussurrando:
- O que você acha que acontece na lua de mel?
Ela arregalou seus olhos e questionou:
- Mas... temos um trato de que serão quartos separados...
Ele deu uma risadinha irônica e afastando-se devagar concluiu:
- É o que vamos ver! – Deu um selinho e uma piscadela nela e afastou-se sorrindo.
Elly estava imóvel, pensando no que ele disse, seria um blefe? Seria uma tentativa de intimidá-la? Entrou balançando a cabeça para que os pensamentos a deixassem.
Ele de dentro do carro, observou sua inquietação e sorrindo satisfeito, girou a chave e mordendo o lábio inferior, girou o volante e partiu.
Elly tentou não imaginar o que ele queria dizer com aquilo, já Peter não parava de imaginar.
Na quinta-feira, uma encomenda a aguardava em casa quando chegou.
Ela abriu acompanhada da amiga que estava empolgada pra ver seu novo aparelho.
- Uau... Um Iphone! – Era um aparelho da versão mais recente.
Ela respirou fundo e comentou:
- Acho melhor devolver, isso vai me custar muito caro.
Começou a embalar de volta e a amiga tomando a caixa lembrou:
- Querendo ou não já está custando. Você acha que se devolver ele vai simplesmente aceitar com um sorriso e te dizer que tudo bem?
- Não. – Ela fez uma careta de criança emburrada e a Lis abrindo de novo a caixa, pegou o aparelho e desbloqueou a tela.
- Já está pronto pra uso, eles devem ter resgatado seu número, já deixaram tudo instalado, nem parece que acabou de sair da loja.
- Do jeito que ele manipula a vida das pessoas é certo de que tem tudo mesmo.
- Elly, olha pelo lado bom: teremos fotos maravilhosas pra postar em nossas redes sociais.
Riu para a outra que forçando um sorriso falou desanimada:
- Especialmente depois que me casar.
Tudo parecia sombrio quando ela se lembrava do casamento. Era toda uma vida de sonhos arruinada pela prepotência e egoísmo de um homem frio e calculista.
- Será que ele colocou algum rastreador? – Lis brincou.
Elly arregalou os olhos pensando na possibilidade e observou:
- Tenho que andar na linha ou estarei em apuros.
Lis aproveitava para tirar várias fotos fazendo poses variadas enquanto Elly lia o manual.
Na sexta-feira, Peter observava seu telefone ansioso para ver alguma mensagem comprometedora, mas Elly mal se lembrou do aparelho e não o levou para o trabalho.
Ele estranhou a falta de contato dela com Nathan, concluiu que estariam juntos no trabalho, em momentos como àquele de dias anteriores.
E realmente estavam, trocavam olhares e sorrisos e na hora do almoço, trocaram os fundos da lanchonete pela salinha em que guardavam os pertences. Lá podiam se esconder em um cantinho atrás dos armários, em que dividiam seus hamburgueres, entre olhares de cumplicidade e afeto. E trocavam também beijos apaixonados.
Para ela era um sonho, que muito em breve se tornaria um pesadelo.
No sábado, ela não saiu com Peter. Ele tinha uma viagem a negócios e passaria o dia e a noite em um resort, o que alegrou ainda mais o dia de Elly e Nathan.
No domingo, Peter analisava alguns relatórios em sua biblioteca. Já havia até se esquecido do aplicativo quando ouviu o toque da mensagem. Parou de ler e pegou o aparelho hesitante.
Pensou antes de desbloquear a tela, naquele momento teve receio do que encontraria. Abriu.
Elly: “😊”
Nathan:” 😍”
Apertou os olhos tentando imaginar o motivo dos emojis.
Elly:” Dormiu bem?”
Nathan:” Sim, mas seria melhor se estivesse ao meu lado!🙈”
Peter fez cara de negação para a cantada e surpreendeu-se com a resposta.
Elly: “ Teremos nosso momento ❤”
Ele arqueou a sobrancelha surpreso e pensou alto:
“Com certeza, Ellene!”
Ele fechou o aplicativo e retomou seu relatório.
Na segunda, tiveram um dia tranquilo. Sem mensagens novas e sem surpresas.
Peter resolveu visitá-la, passou em uma joalheria, tentando se convencer de que estava fazendo apenas por aparências, e comprou um belo conjunto de colar e brincos em pedras preciosas legítimas.
Seguiu para o subúrbio. Hesitou dentro do carro olhando para o embrulho no banco ao lado, mas criou coragem, pegou o presente e caminhou até a porta do prédio. Chamou no apartamento.
Elly e Lis estavam arrumando o pequeno apartamento, pois Elly receberia a visita de Nathan.
Lis atendeu ao interfone:
- Quem é?
- “ Boa noite, aqui é o Peter... A Elly está?”
Lis tapou o interfone e falou sem sair som pra Elly:
- É o Peter.
Elly surpresa apavorou-se, mas fazendo gestos para dispensá-lo:
- Não, não... Diga que não estou! – Sussurrou.
Lis fingiu:
- Ah... Peter, a Elly não está.
- “Como?”
- Ela foi a biblioteca. Quer subir pra esperar ela?
Elly fez de brava pra amiga e insistia nos gestos para que ela o dispensasse.
-" Bem, até gostaria, mas... você sabe se ela demora retornar?”
- Bem... Geralmente, ela fica bastante tempo lá... estudando!
Lis mentiu e temeu não ser convincente. Mas Peter, mesmo hesitando, desistiu:
-" Então... Diga que apareci aqui e... Só diga isso!”
- Tudo bem! Até mais.
-" Tenha uma boa noite!”
Ele deu passos lentos até o carro, com uma mão no bolso da calça e na outra o embrulho.
Lá de cima, Lis observava-o entrar no carro. Assim que ele partiu:
- Ufa! Que aperto! – Colocou a mão no peito aliviada.
Elly com a mão no peito, se recuperando do susto:
- Que bom que ele foi embora! Nossa, que susto! Imagine se o Nathan chega e ele estivesse aqui... – Ela não podia nem imaginar.
No carro, Peter passou pelo Nathan, mas viu que ele entrou em uma frutaria, apesar de estranhar vê-lo tão próximo do apartamento de Elly, não desconfiou de nada. Seguiu para a biblioteca.
Entrou e foi logo recepcionado por uma senhora simpática:
- Posso ajudá-lo?
Ele sorriu e com o embrulho nas mãos respondeu:
- Ah, sim. Eu vim encontrar uma pessoa.
- Por favor, assine no nosso caderno de visitações.
Ele olhou para o caderno e assentiu pegando a caneta. Observou que entre os poucos nomes não constava o de Elly, então questionou à senhora:
- Todos que entram devem assinar este caderno?
- Sim, é pra controle do município e apoiadores de nossos projetos.
Ele insistiu:
- Mas, não tem chance de alguém ter entrado sem assinar?
Ela sorriu e brincou:
- Eu trabalho aqui à dez anos, de segunda a sábado, durante a semana de seis da manhã até as vinte horas, saio apenas por duas horas no dia para almoçar. A dez anos, nenhum ser humano entrou sem assinar, a não ser que estivesse com alguma roupa pra ficar invisível.
Ele forçou um sorriso, depositando a caneta sobre o caderno, assentiu com a cabeça e agradeceu saindo:
- Tudo bem! Muito obrigado!
Entrou no carro e jogou no banco ao lado o embrulho. Respirou fundo para não perder o controle e retornar naquele apartamento, arrombar a porta e esganar aquela mentirosa.
Apesar de estar furioso, Peter ainda não suspeitou do encontro as escondidas.
Enquanto isso, no apartamento de Elly...
Ela e Nathan estavam sozinhos e trancados no quarto. Lis saíra para encontrar o namorado.
Nathan acariciava o rosto de Elly e a observava apaixonado. E durante um beijo intenso, ela sentou no seu colo e levantando sua blusa surpreendeu-o com um sorriso malicioso.
Ele correspondeu beijando-a, mas hesitou:
- Tem certeza de que quer isso?
Ela balançou a cabeça mordendo o lábio inferior. Então ele beijou-a ardentemente e começaram a se despir aos beijos e carícias apimentadas.
Peter entrou na biblioteca e já direcionou para a mesa de bebidas, servindo-se de um copo de whisky. Sentou-se na sua poltrona e olhou seu telefone, logo o pegou e discou:
- Oi? Está ocupada? – Houve uma resposta – Gostaria de vê-la. Antony irá pegá-la agora.
Em poucos minutos, Nadya entrava na sala. Colocou sua bolsa em uma poltrona e sentando-se, sorriu e falou:
- Achei que não o veria mais!
- Eu tenho um presente pra você! – Ele encarou-a sorrindo e colocou o embrulho à sua frente.
Ela pegou-o surpresa e provocou:
- O que tenho que fazer para merecer? – Mordeu o lábio sorrindo.
Ele recostou-se na poltrona e pediu:
- Abra e deduza. - Observou como ela abriu e ficou surpresa com as joias.
- Nossa! São verdadeiras?
- Eu nunca daria a uma mulher uma joia falsa. Pode levar a um especialista se quiser.
Ela encarou-o e fechando a caixinha aveludada, usou de malícia para falar:
- Então... O que devo fazer para agradecer pelo presente?
Ele sorriu e levantando-se, ajeitou seu blazer e caminhou até ela:
- Me mostre o que sabe... Me surpreenda! – Sussurrou ao seu ouvido e ela sorrindo satisfeita, levantou-se e caminhando na frente chamou-o:
- Acho que vamos precisar do seu quarto!
Ele sorriu e seguiu-a pelas escadas.
A noite findava quando Nathan e Elly desejavam não se despedir:
- Você bem que poderia ficar aqui... Lis não deve dormir em casa.
- Não seria bacana... Ela pode ficar brava depois, aliás, não é o certo, né.
- Você vai dizer que é tradicionalista? – Ela brincou, encarando-o deitada em seu peito.
- Não é isso. Eu só acho que não é certo eu aproveitar enquanto sua colega não está, devemos ter um lugar só nosso. Tipo, meu apartamento.
- Está me convidando pra ir a seu apartamento? - Ela sorriu surpresa.
- Estou. – Ele acariciou seu rosto.
- Teremos outras oportunidades...
- Desista desse casamento! Vem morar comigo.
Ela sentiu um aperto no peito e resolveu se abrir.
- Eu preciso te contar a verdade, mas tem que me jurar que ninguém mais saberá.
Ele franziu o cenho e concordou:
- Prometo!
Ela então contou-o a mesma história que havia contado a Elly, com riqueza de detalhes o que o deixou revoltado:
- Que babaca! Eu juro que se me permitisse, eu daria uma surra nele ou quem sabe até...
- Não diga, nem pense nisso. – Ela o interrompeu.
Ele então abraçou-a e falou confortando-a:
- Tudo bem! Por você, eu vou me controlar pra não quebrar a cara daquele... inútil.
Ela riu da expressão dele e abraçou-o feliz.
Já na mansão do Peter, Nadya terminava de se vestir quando Peter informou:
- Chamarei um táxi pra você.
Ela estranhou e questionou:
- Não vai me levar em casa?
Ele riu e repetiu:
- Vou chamar um táxi pra você.
- E seu motorista?
- Ele já está dormindo a essa hora. E eu... Estou um pouco cansado, tenho que acordar cedo.
Ela soltou um suspiro indignada, mas conteve-se:
- Também terei que pagar a corrida?
- Claro que não. Deixarei pago no aplicativo.
Ela encarou-o e forçando um sorriso perguntou, com receio da resposta:
- Nos veremos de novo?
Ele sorriu e abrindo a porta do quarto:
- Com certeza! Eu te ligo.
Ela pegou seu embrulho e saiu devagar, voltou-se e deu-lhe um selinho demorado.
Então desceu as escadas. Ele fechou a porta e se jogou na cama. Apesar do sexo, ele não conseguia entender como a Elly tinha o enganado e a sensação de rejeição que tomava seu peito, tornou a incomodá-lo.
Na terça, estava estressado e descontou no pessoal que por infelicidade teria atrasado um relatório.
Em meia hora de trabalho, chamou a secretária pelo ramal:
- Srta. Clark, informe ao pessoal do financeiro que eles têm exatamente cinco minutos para que a análise de riscos esteja no meu e-mail.
- Eles informaram...
- Exatamente cinco minutos, srta. Clark. - Ele interrompeu-a com a ordem.
- Sim, sr. Peter. – A moça desligou ansiosa e discou pra outro ramal.
Ele olhou no relógio e aguardou exatamente os cinco minutos, ao dar seis minutos de espera chegou o e-mail. Ele abriu, passou rápido os gráficos e discou novamente para a secretária:
- Srta. Clark, reúna os responsáveis por este relatório na sala de reuniões em cinco minutos.
- Sim, sr. Peter. – Ela adiantou-se levantando da cadeira e correndo para o elevador.
Ele voltou para o relógio e aguardou exatamente sete minutos para se levantar e ir até a enorme sala. A equipe estava reunida, as caras não negavam o pavor e a ansiedade. Observaram através das paredes de vidro, quando ele se aproximava da sala sério e cochichavam entre si.
Ele trazia uma pasta em suas mãos, ao entrar jogou-a na mesa e começou:
- Quem é o responsável por este lixo?
Todos se espantaram e hesitaram em responder.
- Alguém vai se manifestar?
- Sr. Peter estávamos terminando a análise quando...
- Terminando? – Ele interrompeu um moço que tentava se explicar. Arqueou-se sobre a mesa, apoiando as mãos e questionou: - Qual era o prazo pra entrega deste relatório?
Alguns se olharam e ninguém respondeu. Ele começava a demonstrar sua irritação com a situação:
- Já que ficaram mudos, eu vos respondo: o prazo para entrega, desta merda de relatório, era as 18 horas da segunda-feira, que por ventura foi ontem. E vocês me informam que hoje, exatamente as 08 horas e 36 minutos vocês ainda estavam terminando uma análise. Quem é o responsável... melhor dizendo, o irresponsável, o incompetente que deixou de fazer sua parte e atrapalhou toda a equipe?
Permaneceram calados.
- Existe apenas uma palavra que define o que fizeram hoje. Alguém pode me dizer?
Se olharam e começaram a sussurrar palavras. Ele respirou fundo:
- O que junta a incompetência, a negligência, o desleixo e a falta de compromisso...
As palavras não agradavam aos ouvidos dele, ele ria nervoso a cada palavra errada.
Então, alguém mencionou:
- Desídia?
Ele levantou a mão, fazendo sinal para que parassem de falar e escutassem.
- Esperem, alguém respondeu. Repita, meu caro.
Um jovem se encolhia e temeroso respondeu:
- Desídia?
Ele bateu palmas e concluiu:
- Parabéns! Anotem aí, para o próximo passo em falso da equipe, este será o único que restará no grupo. Mantenham seus currículos atualizados!
Ele se direcionou à porta, mas lembrou-se:
- Ah, preciso que refaçam esse relatório e entreguem impresso na minha mesa exatamente as 18 horas e 01 minuto de hoje. Boa sorte! Reunião encerrada.
Saiu com um sorriso sarcástico e diabólico, deixando a equipe desnorteada e desesperada debatendo e discutindo responsabilidades.
Ele retornou à sua sala e informou à secretária antes de entrar:
- Não quero que me perturbem até o horário do almoço. Nem que seja caso de morte.
Fechou a porta e sentando-se pegou seu celular, mas evitou desbloqueá-lo para não acessar o aplicativo que dava acesso às mensagens da Elly.
Logo após o almoço, ele acessou seu telefone e encarava o perfil da Elly pensando em mandar uma mensagem, quando Hector bateu à porta abrindo-a e perguntando:
- Tem um minuto?
Ele bloqueou rápido a tela do celular e sorrindo respondeu:
- É claro! O que houve?
Hector sentou-se na poltrona e questionou:
- Aconteceu alguma coisa que queira compartilhar comigo?
- Nada de muito interessante, por quê? – Ele respondeu com naturalidade.
Hector, que era diretor da área financeira, explicou:
- Meu pessoal estava extremamente assustado, pararam tudo que estavam fazendo para refazer um relatório entregue hoje e mencionaram até ameaças de demissão.
- Hum! – Ele fingiu interesse.
- Qual o problema? Não deveria falar comigo ou com o gestor do departamento antes de fazer uma reunião extraordinária?
- Se eu encontrasse esse seu “gestor" teria o demitido eu mesmo. A equipe gerida por ele é completamente desestruturada e sem compromisso. Eles deveriam ter entregue um relatório as 18 horas de ontem, e hoje eu pedi cinco minutos e sabe quanto tempo levaram pra entregar? Seis minutos. Um minuto é o suficiente pra uma bomba acabar com toda uma cidade. Qual é o problema em ouvir do presidente que eles são completos idiotas se chamando de analistas e assistentes?
Hector respirou fundo e forçando um sorriso falou:
- Eu não sei o que está acontecendo, mas tenha certeza que não irá se repetir. Só queria te pedir, que antes de abordar meu time dessa forma, pelo menos passe por mim. Tudo bem?
- Se deseja assim! – Ele recostou-se na poltrona com ar desafiador.
O amigo fez um gesto para se levantar com as mãos nos joelhos, mas hesitou e completou:
- Caso precise de mim, estarei na minha sala.
Ele acenou com a cabeça forçando um sorriso e nada respondeu. Observou o amigo sair da sala sem mencionar uma palavra ou um gesto.
Encarou a tela do computador por segundos e retomou suas atividades.
Ao sair do trabalho, resolveu passar próximo à casa da Elly. Observou do carro a janela, dava pra ver as duas amigas conversando, rindo e gesticulando. Ele ligou o carro e seguiu pela rua. Observou que Nathan passava pela mesma frutaria do dia anterior, então estacionou o carro e observou pelo retrovisor quando ele saiu do estabelecimento.
Peter pensou por segundos, então saiu do carro e seguiu-o com cuidado para não ser percebido.
Ele entrou em um beco e parou em frente a uma escadaria que dava no fundo de um prédio.
Peter escondeu-se e observou quando ele subiu as escadas, numa janela foi recebido com beijos e entrou. Peter pôde reconhecer aquele rosto feminino e engoliu forte recostando a cabeça na parede. Retornou pra casa incrédulo com o que vira.
Estava realmente incomodado com aquilo, então pensou em mandar mensagens interrogando-a, mas seria muito óbvio e seria muito fácil pra ela se livrar ou livrar Nathan de uma represália. Conteve-se e apertando o telefone afirmou para si mesmo: “ Isso não vai ficar assim!”
No dia seguinte, Elly trabalhava tranquila quando recebeu uma mensagem:
Peter: “Jantar hoje às 20 hrs no Plaza. Antony irá te buscar.”
Ela respirou fundo e não respondeu. Guardou o telefone e voltou ao trabalho.
No almoço, enquanto comia e conversava com Nathan, avisou:
- Hoje não podemos nos ver. Terei um jantar com o...
Hesitou e buscou uma forma de amenizar:
- Será rápido! Prometo te mandar uma mensagem assim que chegar em casa.
- Tudo bem! Minha vontade era te esconder num lugar seguro pra que ficasse bem longe desse idiota.
Ela sorriu e apoiando a cabeça em seu ombro brincou:
- Logo estaremos juntinhos, nem que for velhinhos, num cantinho só nosso.
Aproveitaram o tempo deles.
Ela se vestiu com sua saia lápis e uma camiseta branca. Lis brincou:
- É alguma fantasia dele? Você de secretária e ele de chefe...
Riu enquanto a amiga passava o batom revirando os olhos.
- Estou fazendo o meu melhor, não posso usar o mesmo vestido, muito provável ele me fazer voltar para trocar ou dar uma lição de moda.
- Ele é bem exigente, não é?
Ela arqueou a sobrancelha fazendo deboche. Lis pediu:
- Tenha cuidado, especialmente se ele te levar pra casa dele. Tenho medo que ele a force a algo.
Elly apertou os olhos e concordou:
- É o que mais me assusta.
Terminou o batom e se despediu confortando-a:
- Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Eu preciso ir. Boa noite!
Abraçou a amiga de leve e saiu.
O motorista a aguardava ao lado do carro. Ela aproximou e cumprimentou-o com um sorriso:
- Boa noite, Antony! – Ele abriu a porta respondendo com um elogio.
-- Boa noite, srta. Wright! Está muito bonita!
Ela sorriu satisfeita e entrando no carro agradeceu:
- Obrigada, Antony!
Seguiram para o grande hotel na parte central.
Assim que ela entrou, Peter a percebeu a distância. Sempre que a via, desfilando em sua direção, ele admirava e sem palavras, engolia seco sem tirar os olhos dela.
Ela aproximou e com um sorriso forçado cumprimentou:
- Boa noite!
Ele sorriu admirado e respondeu mostrando a cadeira para que ela sentasse:
- Boa noite!
Ela se sentou e observou em volta.
- Se não se importa, eu tomei a iniciativa de pedir um vinho e um prato à base de frutos do mar.
Ela encarou-o e informou:
- Hum! Frutos do mar! Nunca comi, mas espero que seja bom e que eu não seja alérgica.
Ele sorriu e agradeceu ao garçom que servia as taças.
- Obrigado! Pode ir agora.
O rapaz se afastou e ele percebeu que ela verificava seu celular que vibrava. Ela ajeitou-se disfarçando. Ele perguntou:
- Quem é?
- Ahm?? O quê? – Ela fingiu.
- Quem está te mandando mensagens? – Ele insistiu fingindo não saber.
- Ah, é a Lis... – Ela mentiu.
- Deixe o telefone encima da mesa.
- Não precisa, irei colocá-lo no modo silencioso...
- Deixe-o encima da mesa! – Ele ordenou.
Ela hesitou, mas colocou-o encima da mesa. Outro garçom veio e serviu-os com pratos bem montados e coloridos.
Pouco antes de começar a comer, o celular vibrou novamente e com agilidade ele pegou-o antes dela. Percebeu que estava bloqueado com a digital e pediu:
- Desbloqueie.
- Por que está fazendo isso?
- Desbloqueie.
Ela desbloqueou com medo e ele acessou as mensagens. Mostrou-a questionando:
- Então a Elly agora é do sexo masculino e se apresenta como Nathan?
Ela soltou um suspiro e baixou a cabeça:
- Não fazemos nada em público...
- Não me interessa. Eu te avisei que não deveria continuar com isso.
- O que você quer? – Ela ergueu os olhos encontrando os dele.
- Não me desafie. Bloqueie o contato dele agora!
Ela hesitou. Ele repetiu com tom mais agressivo, mas sem alterar o volume da voz:
- Bloqueie o contato dele agora!
Ela pegou o telefone e bloqueou. Entregou com lágrimas nos olhos:
- O que você pretende com isso?
Ele verificou e apagou a conversa. Acessou a agenda e informou:
- Caso você salvar o contato dele de novo... Saiba que eu vou saber! Aliás... Sei de todos os seus passos.
Excluiu o contato de Nathan do aparelho e a entregou com um sorriso sarcástico.
Elly pegou o celular devagar e guardou-o na bolsa encarando Peter com ódio nos olhos brilhantes devido às lágrimas.
Ele começou a comer satisfeito e ela permaneceu quieta.
- Coma! – Ele ordenou apontando o prato.
- Estou sem apetite. – Ela ainda o encarava sem se mover.
Ele engoliu o que comia e forçando um sorriso maléfico falou em tom baixo, porém ameaçador:
- Eu disse pra comer!
Ela pegou o garfo com má vontade e começou a comer com cara de desgosto.
Ela o tirava do sério com suas caras e bocas, mas ele se conteve para não ter alguma reação violenta ou de repreensão em público.
No fim do jantar, ela seguia para um táxi apressada, quando ele pegou em seu braço e a conduziu para seu carro:
- Eu quero ir de táxi.
- Você vai comigo.
Abriu a porta e quase a jogou dentro do carro. Ela respirava forte se sentindo revoltada. Ele começou a dirigir com seu jeito frio e indiferente.
- Pra onde está me levando? – Ela percebeu que o caminho estava diferente de seu usual.
- Vamos pra minha casa!
Ela encarou-o surpresa e insistiu:
- O que você pretende?
Ele riu e olhou-a pelo canto dos olhos:
- Temos que ser convincentes, agir como namorados normais, e namorados normais dormem juntos, ora.
- Eu... Por favor, pare o carro.
- Se quiser, se jogue dele. Não vou parar! - Olhou-a por segundos, determinado, e voltou-se ao trânsito.
Ela respirou fundo e voltou-se para a janela, observando a rua temerosa.
Ele estacionou do carro e a conduziu para a mansão, levando-a pelo braço.
Subiram as escadas e ao entrar no quarto, ele soltou-a sem nenhuma delicadeza e trancou a porta.
- Fique à vontade! – Ironizou. Elly sentou-se na cama, cruzando os braços em volta de seu colo, como se estivesse se aquecendo ou se protegendo.
Ele tirou seu casaco e desabotoando as mangas da camisa observou-a. Ao começar a desabotoar a frente da camisa insinuou:
- Vou tomar um banho, se quiser pode entrar comigo no chuveiro.
Ela evitava encará-lo e mantinha-se imóvel, encarando o chão.
Ele riu e desabotoando a calça informou:
- Use uma de minhas camisas, essa sua roupa não é nada confortável para dormir.
Ela olhou-o demonstrando seu ódio e nada falou, apenas voltou a encarar o chão.
Ele entrou para o banheiro. Enquanto ele tomava seu banho, ela apressou-se para usar seu celular.
Mandou mensagem pra Lis pedindo o contato de Nathan:
“Me mande o contato de Nathan, é urgente!”
Lis: “ O que houve? Onde você está? Está bem?”
Elly: “ Amanhã eu te explico, só me mande o contato e não pergunte mais nada.”
Lis: “ Tudo bem"
Lis encaminhou o contato, Elly salvou rapidamente com nome “Livros usados" e chamou-o:
“ Nathan, aqui é Elly. O Peter me fez apagar seu contato, não posso explicar agora. Apenas altere sua foto para um livro qualquer e não me mande mensagem até eu dizer que está seguro.”
Nathan demorou alguns segundos, mas respondeu:
“ Me fala o que tá acontecendo, quer que eu vá até você?”
Elly: “ Não. Só faça o que pedi. Preciso ir. Te amo!”
Nathan: “Tudo bem"
Ela apagou a mensagem rapidamente junto com a de Lis e guardou o telefone.
Ela disfarçou seu nervosismo quando ele saiu do banheiro observando-a suspeito.
Ela fingia mal, ele então aproximou-se da bolsa e perguntou:
- Espero que não esteja tentando me enganar.
Aproximou o rosto do dela e ela evitando que seus olhos encontrasse os dele respondeu:
- Não sei o que pretende, saiba que pode nos separar, mas não mudar o que sentimos.
Ele riu e erguendo-se ordenou:
- Vá se trocar. Melhor, tome um banho para se refrescar e ficar cheirosa para seu noivo.
- Não estamos vivendo nos tempos das cavernas. Não sou sua escrava...
- Deixe de ser tola! Eu só não quero dormir ao lado de uma mulher suada e cheirando a frutos do mar. Vá!
Ela levantou-se e com todo ódio que poderia demonstrar, abriu o guarda-roupas e arrancou uma camisa do cabide. Seguiu para o banheiro sem olhar para trás.
Não tomou banho e em poucos minutos saiu tentando ajeitar a camisa para cobrir suas coxas.
Ele sorria maliciosamente e observava a timidez dela. Ela deitou-se e cobrindo, quase que dos pés à cabeça, virou-se de costas pra ele. Ela observava sua bolsa e torcia para que seu celular não vibrasse e colocasse tudo a perder.
A noite demorou passar, Elly insistia em ficar acordada, mas seus olhos involuntariamente se fechavam e em pouco tempo ela apagou. Peter demorou pouco mais, pois não estava acostumado a ter alguém em sua cama e isso o incomodou.
Ele se ajeitava procurando uma posição para relaxar, mas a presença daquele corpo, aquele cheiro, aquelas curvas, isso o inquietava. Elly começou a se mexer confortavelmente.
Ela se virou e ajeitou a mão por baixo da cabeça. Naquele momento, como se entrasse em transe, Peter admirou-a. Com cuidado, tirou uma mecha de cabelo que cobria seu rosto e pescoço. Aproximou de seu rosto devagar, pensou: “Seu cheiro é tão bom!”. O cheiro dela, aquele rosto, aquele corpo, aquela boca, ah aquela boca! Ele sentiu seu coração bater forte e seu corpo ansiar pelo dela. Aproximou devagar sua boca da dela, tocando seus lábios com delicadeza. Aquela boca era doce, era suave e delicada, como ele nunca provara antes. Aproximou seu nariz para sentir o cheiro que vinha de seu pescoço, mas teve que se afastar com agilidade e cuidado, pois ela se moveu com o desconforto causado. Ele soltou um suspiro de alívio ao perceber que ela não tinha acordado.
Ele queria tê-la em seus braços, como mulher, como sua mulher, mas não poderia forçá-la. Ele ansiava em tocá-la, em beijá-la e tomá-la para si, fazer amor loucamente até que alcançar o clímax para dois. Em sua mente, imaginava ela contorcendo-se de prazer e cada movimento que passava na sua cabeça aumentava ainda mais seu desejo. Mordeu o lábio excitado e observou-a por mais alguns minutos. Ela mexeu-se novamente, então ele repousou sua cabeça e fechou os olhos fingindo dormir. Ela abriu os olhos e assustou-se ao encará-lo. Virou-se depressa e embrulhou-se dos pés à cabeça.
Ele abriu um olho e ao perceber que ela virara-se, sentiu em seu peito o desconforto novamente da rejeição e suspirou chateado. Virou-se e encarou o teto, passando o braço por debaixo da cabeça.
Ainda era bem cedo quando ele acordou-a. Tentou ser gentil, mas ela não acordou, então foi um pouco mais bruto e sacudindo seu ombro acordou-a:
- Acorde!
Ela assustou-se. Ainda sonolenta, esfregou os olhos e perguntou:
- Que horas são?
- Ainda é cedo, mas precisa ir. Vou te levar em casa para se arrumar e te deixo no trabalho para não se atrasar.
- Não precisa, eu pego um táxi. – Ela desviou para o outro lado da cama.
Ele molhou os lábios com a língua e insistiu:
- Não seja ridícula. Eu disse que levo você, então eu a levarei.
Ela olhou-o pelo canto dos olhos e abraçando suas roupas concordou:
- Está bem! – Caminhou depressa para o banheiro.
Ele não pode deixar de reparar o quanto ela estava atraente naquela camisa, amassada, cabelos desarrumados, caminhando descalço nas pontas dos pés em direção ao banheiro. Engoliu forte por se lembrar que ela nunca seria dele, não como ele desejava.
Pouco depois, ela saiu com um coque improvisado e ajeitando sua blusa por cima da saia.
Ele riu e comentou:
- Perdeu todo o charme de secretária! – Observava a blusa por cima da saia.
Ela forçou um riso com deboche:
- Vai dar dicas de moda agora? Não sou obrigada a ter etiqueta quando acordo.
Ele pegou seu casaco e cobriu-a pelos ombros. Primeiro ato de carinho e atenção , que muito impressionou a Elly, mas se quebrou pelo comentário:
- Não quero que pegue um resfriado próximo ao nosso jantar de noivado. Imagine uma noiva com cara de doente! Não, eu não quero que seja essa a imagem que sairá nos jornais e revistas.
Ela se desviou do casaco e falou:
- Pode ficar tranquilo. Não será minha cara de doente que irá estragar seus planos.
Caminhou em direção à porta. Ele riu e pegou o casaco que caíra ao chão
Pelo caminho seguiram calados. Em frente ao apartamento dela, ele informou:
- Não demore!
- Já disse que posso pedir um táxi!
- E eu já disse que te levo. Vá! – Ele retrucou imperativo.
Ela saiu do carro e bateu forte a porta, o que o incomodou. Algum tempo depois, ele já estava ansioso olhando o relógio e observando a janela do apartamento inquieto com a demora. Ela saiu e a passos largos veio até o carro e entrando:
- Me desculpe pela demora! – Ela forçou um sorriso ironizando.
Ele ligou o carro, se segurando para não responder.
Ela pediu a um quarteirão da lanchonete:
- Pode me deixar na esquina, por favor?
Ele apertou os olhos e estacionou em frente.
- Prontinho!
Ela quase afundou no banco quando percebeu que os poucos funcionários que entravam ou já estavam lá dentro repararam. Então, forçou um sorriso e ironizou:
- Muito obrigada! – Abriu a porta.
Ele tocou em seu braço e sorrindo lembro-a:
- Não está esquecendo de nada?
Ela voltou-se confusa e conferindo sua bolsa, balançou a cabeça:
- Não!
De repente, ele beijou-a. Ela afastou-se num impulso e saindo do carro despediu-se:
- Tchau!
Ela estava muito envergonhada, ainda mais que tinha um caso com Nathan. Sentiu-se pior por saber que ele logo saberia daquela cena. Entrou e foi direto para a salinha em que ficavam os armários guardar suas coisas. Peter foi embora satisfeito.
A manhã seguiu tranquila.
Peter apresentava melhor humor no trabalho e Elly se sentia desconfortável.
No almoço...
- Então agora eu sou o vendedor de livros?
- É só por enquanto. Iremos usar códigos. Exemplo, quando for lá pra casa, vai informar que irá mandar a entrega dos livros no horário conforme combinarmos aqui. Se por exemplo, precisar falar comigo, puxa assunto perguntando o que achei do livro novo, daí podemos inventar uma história e conversar através dela. Entendeu?
Ela tentava criar o plano perfeito e ele enlaçou-a com um braço e puxando-a para si brincou:
- Então, vamos começar com uma linda história de amor em que um vilão tenta separar os mocinhos...
Ela riu e insistiu:
- Temos que ser convincentes.
- Tudo bem! Vamos testar.
Ele digitou uma mensagem:
“ Vai querer algum livro hoje?”
Ela riu e respondeu:
“ Claro. Quero dois romances, você mesmo pode escolher e entregar as 19 hrs. Tudo bem?”
Livros usados: “ Claro!”
Eles se beijaram rindo do plano mirabolante, mas que trazia esperança.
Enquanto isso, Peter acompanhou através do aplicativo e se perguntou:
- Livros? O que está aprontando agora, hein, srta. Wright?
Ele pensou e discou:
- Rick, preciso de um favor...
Passou as orientações e pouco depois, o telefone de Nathan tocou:
- Número desconhecido. Atendo?
- Atende!
Ele atendeu a chamada:
- Pois não?
- “Quem fala?”
- Com quem gostaria de falar?
- “Uma amiga me indicou seu número, você trabalha com livros usados?”
Ele estranhou e disfarçou:
- Sim! Quem te indicou esse número?
- “Ellene Wright, conhece? Ela até mencionou seu nome...”
- Ah, eu já vendi livros pra ela, inclusive tenho uma entrega pra ela hoje. Me chamo Paul.
Elly observava ansiosa para saber, pela cara de Nathan, boa coisa não seria.
- “Ah sim! Paul, é que eu tenho que dar a ela um presente, então queria saber qual indicaria!”
- Então... eu não passo informações sobre meus clientes, mas ela curte muito romances, pode apostar nesse gênero.
- “Tudo bem, eu entendo. Muito obrigado!”
Desligou. Nathan ainda estava surpreso e comentou:
- Seu aparelho está sendo monitorado. Esse cara é louco!
Ela arregalou os olhos e preocupou-se:
- Você acha que estamos encrencados?
- Não. Acho que dá pra disfarçar, mas temos que pensar em outra coisa urgente.
Ela deixou-se cair no colo de Nathan preocupada e frustrada por sempre estar um passo atrás de Peter.
Peter obteve sua resposta imediatamente:
- “Sr. Peter, parece se tratar de um vendedor de livros, nome Paul. Terá uma entrega pra ela hoje. Quer que confira?
- Não, não. Eu vou pessoalmente. Obrigado, Rick!
Desligou o telefone e pesquisou algo na internet.
Mais tarde, estacionou próximo aos fundos do apartamento e observou.
Ficou impressionado ao ver que realmente era um disfarce, quando Nathan chegou e foi recebido por ela na janela.
Retornou à sua residência, pensativo.
Passou um longo tempo na biblioteca até que teve uma ideia e ligou novamente para o Rick.
Como todo vilão tem seu fiel escudeiro , Rick era o de Peter. Fazia trabalhos sujos, lidava com pessoas de todo tipo para atender as ordens do chefe. E nunca falhava.
Na sexta, todos os funcionários ficaram curiosos com a visita de um homem muito bem vestido e educado. Ele passou quase uma hora com o sr. Bill em seu escritório. Ao término da reunião, o sr. Bill parecia empolgado e acompanhou o homem até a saída com um largo sorriso.
Até mesmo os cozinheiros espreitaram do balcão que separava a cozinha e a lanchonete.
Pouco antes do almoço, o sr. Bill chamou o Nathan em sua sala e passou pouco mais que vinte minutos conversando. Nathan saiu cabisbaixo e seguiu direto para o puxadinho. Todos observavam atentos e disfarçavam fingindo estar fazendo alguma coisa para que o sr. Bill não notasse a dispersão.
Elly ficou preocupada com a fisionomia de Nathan, parecia ter recebido uma péssima notícia. Ela esperou o chefe entrar para o escritório e seguiu Nathan.
Ele tirava suas coisas do armário e guardava em sua mochila.
- O que houve? – Ela encostou-se no armário ao lado observando-o.
Ele hesitou por alguns segundos e respondeu:
- Fui demitido! – Baixou a cabeça preocupado – Não sei o que fazer.
Elly soube naquele momento que tinha o dedo de Peter.
- A culpa é minha. Tenho certeza que aquele homem de mais cedo... ele trabalha para o monstro do Peter, ele...
- Não é sua culpa. O sr. Bill disse que acabou de fechar um grande negócio, mas que para isso terá que reestruturar o time e... se desfazer de alguns funcionários.
- Como assim?
Ele hesitou, não queria magoá-la, mas desabafou:
- Aquele desgraçado foi comprado. Um grande empresário propôs patrocinar e bancar uma franquia da lanchonete em um bairro bem movimentado além do centro, em troca... a minha demissão. Eu não quero que fique chateada com isso, provavelmente foi uma forma de tentar nos afastar, mas somos mais fortes que isso.
Ela baixou o olhar e sem saber o que fazer:
- Eu vou falar com o sr. Bill, peço pra me demitir no seu lugar...
- E fazer as vontades daquele idiota? – Ele segurou-a pelos braços com determinação – Eu vou conseguir outra coisa. Ele não vai conseguir dominar a cidade toda. E precisamos um do outro, não vamos ceder por causa dessa brincadeirinha de gato e rato.
Ele estava determinado a enfrentar as consequências de estar com Elly, mas ela não demonstrava tão segura com aquela decisão. Porém, ela o apoiou:
- OK! Eu... eu farei o que for preciso pra ficar com você.
- Então... hoje, vamos nos ver na sua casa e pensar numa forma de nos comunicar e encontrar sem que ele saiba.
Ela cabisbaixa lembrou:
- E amanhã... Será oficial o noivado! Estou com tanto medo e tanta raiva de mim...
- Calma! Você vai ficar bem. Neste jantar, faça sua parte para evitar que ele a machuque... Se quiser que eu vá...
- Não, não acho uma boa ideia. Seria constrangedor pra mim e perigoso para nós dois.
O sr. Bill apareceu e lembrou:
- Nathan, se já pegou as suas coisas, preciso que deixe as áreas restritas a funcionários.
Nathan encarou o homem com raiva no olhar e abraçando a Elly pediu baixinho:
- Por favor, não faça nenhuma bobagem! E não se esqueça de mim.
Encarou-a com um sorriso sofrido e saiu. Elly soluçava chorando. E o chefe ordenou:
- Volte ao trabalho, srta. Wright. Precisa garantir suas horas de hoje, já que amanhã terá que sair mais cedo.
Ela parou de chorar e encarou-o confusa, mas logo se lembrou do que se tratava. Tentou rejeitar a proposta:
- Não será necessário...
- Não estou pensando no que você quer e sim no pedido de seu noivo.
Saiu deixando-a ainda mais angustiada e perturbada com as atitudes de Peter.
Voltou a trabalhar com esforço para não desabar em choro.
Enquanto isso, Peter encerrava uma chamada que o deixara satisfeito. Mas uma mensagem o intrigara. Abriu o aplicativo e era de Nathan e Elly.
Livros usados: “Não se esqueça de sua encomenda as 19 hrs"
Elly: “ Nunca esqueceria!”
Peter bloqueou o celular intrigado e encarando o nada, soltou um suspiro carregado de raiva.
Ligou para Rick.
As horas demoraram passar, tudo parecia mais sombrio e sem graça sem Nathan. Elly já não conseguia sorrir para os clientes e suas atividades pareciam tortura.
Terminada sua jornada, correu para chegar logo em casa.
Parecia que era o encontro mais desejado de sua vida, o mais importante. Ela estava empolgada, então se preparou. Tomou um banho relaxante, vestiu sua camisa branca como da primeira vez, um short jeans, ajeitou um coque no alto da cabeça. Preparava pipoca quando bateram à porta. Ela pensou logo na colega de quarto:
- Será que Lis esqueceu as chaves? Ela nunca esquece...
Desligou o fogo e foi abrir a porta. Para sua surpresa, era Peter que sorria como se estivesse prestes a fazer algo:
- Boa noite!
Elly encarou-o surpresa e questionou sem permitir sua entrada:
- O que está fazendo aqui? Como você entrou?
Ele forçou a porta entrando e falando com naturalidade:
- Sua vizinha, muito simpática diga-se de passagem, perguntou se eu queria subir... deveria se preparar para visitas inusitadas, afinal é muito fácil entrar no seu prédio.
Ela não conseguiu detê-lo na porta, mas permaneceu segurando-a aberta e tentou disfarçar seu nervosismo:
- Eu já estava de saída...
- Desse jeito? – Ele apontou-a dos pés à cabeça – Onde ia?
Ela tentou:
- À biblioteca... E não importa como me visto pra sair, eu me sinto bem assim.
Ele sentou-se no sofá e falou com tranquilidade:
- Então se calce, te acompanho.
Ela não sabia como dispensá-lo, mas não iria desistir:
- Não é necessário...
- Eu faço questão.
Ele parecia saber o que estava fazendo, parecia prever algo ou planejar algo. Ela pensou, então antes que Nathan chegasse, ela concordou indo até o quarto:
- Eu vou pegar meu livro e calçar meus chinelos.
- Estou aguardando.
Ele reparou na sala, procurando algo, reparou na bancada uma tigela grande de pipoca, então riu e ajeitou-se confortavelmente no sofá.
No quarto, ela olhou pela janela para certificar de que Nathan não se aproximava. Procurou por um livro velho e pegando o primeiro que avistara, calçou os chinelos e saiu apressada.
- Vamos! – Pegou sua bolsa e aguardou-o com a porta aberta.
Ele sorriu e levantou-se devagar, saindo sem tirar os olhos dela.
Ela trancou a porta e desceu as escadas com pressa, já ele caminhava com paciência.
De dentro do carro, no caminho, ela olhava pela janela procurando sinal de Nathan, ele olhou-a pelo canto dos olhos e perguntou:
- Está procurando alguma coisa?
Ela disfarçou e respondeu:
- Não. Estava só observando o movimento da rua, posso?
- Claro. – Ele sorriu com ironia.
Na biblioteca, ela apressou-se na frente dele, que não teve pressa em acompanhá-la, mas observou a cena com atenção.
- Boa noite! – Ela forçou um sorriso para a recepcionista. – Eu vim devolver meu livro.
- Boa noite! Assine, por favor, nosso livro e me informe sua identidade.
- É... Eu vou olhar na bolsa, mas acho que deixei em casa. – Ela fingiu procurar na bolsa.
- Pelo código do livro eu posso identificar... – A mulher observou o livro e informou – É esse mesmo livro que quer devolver?
- Sim. Por quê?
- Este não é um de nossos livros. - Mostrou-a a capa.
- É claro que é... – Elly tentava convencê-la, dando as costas para que Peter não percebesse.
- Srta... Ele não possui código de identificação, e todos os livros foram catalogados por mim.
- Então receba-o como doação... – Elly falou entre os dentes.
A mulher percebeu seu desespero, porém foi categórica:
- Já que é uma doação, aceitarei...
- Obrigada! – Elly forçou um sorriso e virou-se em direção à saída.
Peter que assistira a tudo com um sorriso de satisfação, acompanhou-a.
Nathan se aproximou da escada e deu um assobio. A janela não se moveu, tentou novamente. Mas percebeu que dois homens se aproximavam, pensou que poderiam abordá-lo, então desistiu e ao se virar para retomar seu caminho de volta, outros dois homens surgiram do outro lado do beco. Ele estranhou, mas percebeu que aquilo era uma emboscada, então tentou se livrar:
- O que vocês querem? Eu não tenho nada...
Um dos homens riu e enquanto outro o segurava por trás falou antes de começar a golpeá-lo com socos:
- Você deixou alguém bem furioso, e viemos passar um recadinho!
Vários socos seguiram golpeando o rosto e seu abdômen. Uma joelhada nas suas partes íntimas fez com que ele arqueasse o corpo com a dor. Um golpe em suas costas o fez cair de joelhos.
Logo veio outro golpe no rosto e um chute que o levou ao chão. Ele tentava proteger seu rosto, mas era ineficaz. Os chutes em seu corpo, espalhavam dor e o fazia se contorcer, descobrindo outras partes que eram golpeadas com mais violência.
Peter parou o carro em frente ao prédio e encarou-a com frieza dizendo:
- Você é uma péssima mentirosa.
Ele acariciou seu rosto e segurando seu queixo completou:
- Está na hora de ver do que eu sou capaz.
- Do que está falando?
- Você sabe muito bem.
Ele sorriu e abriu a porta.
- Até amanhã, no nosso jantar de noivado. – Ela se virou pra sair, mas sentiu uma pontada no peito ao ouvi-lo – Espero que esteja tão feliz quanto estava hoje. Não sei qual motivo mas, terá que estar deslumbrante se quiser vê-lo novamente.
Ela se virou com olhar assustado e ele sorria, como sempre com seu jeito diabólico.
Ela saiu apressada e correu para casa. Ele riu e saiu satisfeito.
Ao entrar no apartamento, trancou a porta e correu para o quarto.
Olhou pela janela e procurou pelo Nathan, mas percebeu um corpo jogado ao chão próximo ao início das escadas. Assustou-se e saindo pela janela, pedia a Deus que não fosse ele.
- Não, não... – Ela desceu as escadas com pressa e para seu sofrimento, reconheceu-o.
Ela congelou por segundos, correu para ele, sem saber como tocá-lo ela começou a chorar e tentar acordá-lo.
- Na... Nathan... Por favor, fale comigo. – Ela tremia nervosa e as lágrimas desciam sem controle.
Ela tocou seu ombro e empurrou devagar para que ele se virasse e viu a poça de sangue em que sua cabeça repousava. Ele estava desacordado e todo sujo de sangue. Ela então começou a gritar desesperada:
- ALGUÉM ME AJUDE, PELO AMOR DE DEUS! SOCORRO! ME AJUDEM!
Ela gritava e procurava por algum ser que passasse por ali. Estava desesperada, em prantos. Vieram duas pessoas de um dos apartamentos e enquanto um ligava para a emergência o outro amparava Elly.
No hospital, Elly aguardava notícias. Um investigador veio:
- Boa noite! Deve ser a Ellene, a moça que encontrou o rapaz desacordado.
Ela levantou-se surpresa e respondeu:
- Sim. Sou eu. Quem é você?
- Sou o investigador Harold Armstrong.- O homem esticou a mão cumprimentando-a.
Ela correspondeu ao cumprimento dizendo:
- Como sabe meu nome?
- Você informou-o aos socorristas que acionaram a polícia. Estou aqui para averiguar o caso, aliás pelo estado do rapaz, podemos dizer que seria uma tentativa de homicídio. Você tem ideia de quem teria feito isso?
Ela respirou fundo, sua vontade era de dizer o que queria, mas seria arriscado, então falou:
- Nathan não tem inimigos.
- A senhora é próxima a ele?
- Sim, eu sou... – Ela hesitou – Amiga. Uma grande amiga.
- Entendo. – Ele falou com suspeita – Então, viu alguma coisa? Onde estava no momento da agressão ?
Ele perguntava e fazia anotações, ela olhou para a caderneta e disse:
- Eu não estava em casa. Quando fui abrir a janela, vi ele caído no chão e corri parra socorrê-lo. Eu não vi nada.
- Entendo. Vamos aguardar até ele acordar, vamos achar quem fez isso.
- Obrigada! – Ela forçou um sorriso, apesar de não acreditar que seria possível, ela tinha uma esperança que pudesse acontecer.
O investigador foi em direção a outro homem e conversaram.
Pouco depois, um médico veio:
- Srta. Wright? O Nathan acordou e deseja vê-la.
Ela levantou-se rapidamente e acompanhou o médico.
Ela entrou no quarto e comovida pelo estado dele, que estava com a cabeça enfaixada, braço engessado e uma faixa enrolada nas costelas e abdômen, aproximou-se da cama com lágrimas nos olhos:
- O que fizeram com você?
Ele mal podia vê-la, pois um dos olhos estava vermelho de sangue e o outro inchado pelo ferimento.
Ele deu um sorriso com sofrimento e tentou falar com dificuldade:
- Elly! – Saiu quase que em um sussurro.
- Não se esforce, precisa repousar. Eu estou aqui! – Ela sorriu tentando conter as lágrimas.
O investigador entrou acompanhado de outro:
- Boa noite! Podemos falar com a vítima?
Nathan arregalou o olho cheio de sangue e tentou se mover inquieto, porém sentiu dor nas costelas:
- Calma! Não precisa se mexer. Eles são investigadores... – Elly tentou acalmá-lo.
Ele balançou a cabeça e pediu:
- Não quero falar agora.
Ela então, pediu aos investigadores.
- Vocês podem voltar depois?
Os homens assentiram com a cabeça e o Harold respondeu:
- Deixaremos um guarda durante a noite na sua porta, para garantir sua segurança.
Os dois saíram e Nathan chamou a Elly próximo a si, sussurrou:
- São eles... Eles fizeram isso.
Elly chocou-se e tentando buscar explicação:
- Não pode ser, eles são da polícia...
Ela caiu sentada na cadeira ao lado da cama e preocupada falou:
- Não posso deixar você sozinho. E se...
- Fica calma. No hospital nada irá me acontecer.
Ela queria acreditar nele, mas seu medo era tão grande que mal podia respirar.
Peter chegou ao hospital e logo se encontrou com o investigador Armstrong:
- E então?
- Sr. Peter, ele está internado. Está estável, mas já garantimos que soubesse que estamos acompanhando ele.
- Ótimo! E ela?
- Está no quarto com ele. A essa hora, já deve saber quem foi o responsável pelo ocorrido.
- Maravilha! Eu quero falar com ele...
Caminharam em direção ao quarto. Enquanto subiam em um elevador, Elly descia no outro. Ela acordara com Nathan que passaria a noite no hospital, mas antes iria comer algo e comprar uma revista para ler.
Peter entrou no quarto, enquanto o investigador ficou na porta de guarda.
Nathan tentou mexer-se na cama, mas tudo lhe doía.
- Não se incomode comigo. Só vim lhe fazer uma visita.
- O que quer? - Nathan falava baixo.
- Então, sinto muito pelo que houve. Vou garantir que tenha um tratamento especial enquanto estiver no hospital.
Nathan olhava com ódio, enquanto Peter permanecia frio e indiferente:
- Então... Eu também vim para lhe propor algo...
- Se for sobre Elly... Desista! – Ele fazia pausa devido a dor que sentia.
- Ora, ora... Veja seu estado rapaz! Sabe aquele homem lá fora? Você o conhece... eu também... e sabemos do que ele é capaz. - Peter sentou-se na cadeira, cruzou as mãos e encarando-o prosseguiu – Não quero que a pobre Elly sofra uma perda tão grande e pior... se sinta culpada por isso.
- Seu desgraçado...
- Você deve se afastar dela. Imediatamente.
- Eu não...
- Você vai dispensá-la, hoje de preferência. Diga a ela que não quer que ela sofra e que está fazendo mal, sei lá... Invente algo. Só acabe com isso e evite sofrer e fazer com que ela sofra junto. Estamos conversados?
Nathan respirava com dificuldade e queria reagir, mas Peter era incisivo. Ele levantou-se da cadeira e ajeitando seu blazer, sorriu maléfico e concluiu:
- Bem... Eu preciso ir. Espero que pense no que falei e que faça o que é melhor para todos. Tenha uma boa noite e melhoras para seu estado.
Saiu do quarto e foi acompanhado pelo investigador. Nathan observava o outro homem de guarda na porta enquanto tentava recompor sua respiração.
Elly voltou sorridente:
- Comprei uma revista com palavras cruzadas. – Ela reparou no semblante dele que estava desanimado e triste – O que houve?
Ele não sabia como dizer, mas precisava:
- Elly... Eu não quero que nenhum mal lhe aconteça... Sei que estou lhe fazendo mal...
- Do que está falando?
Ele baixou o olhar e concluiu:
- Acho que temos que acabar com isso!
Ela sentou confusa e surpresa:
- Mas... O que houve? Por que está falando isso?
- Elly... Por favor, entenda!
- Nathan, pare! E aquela história de que juntos somos mais fortes?
- Eu imaginei que... Poderia te proteger... Que daria certo mas, vejo que não sou capaz...
- Nathan... Você é a única pessoa que tenho do meu lado pra encarar isso tudo... Não pode me deixar...
- Preciso que vá embora, por favor!
- Nathan... Pelo amor de Deus, diga que isso tudo é uma brincadeira. – Ela pedia com os olhos transbordando de lágrimas.
- Elly, por favor... Vá embora! E me esqueça. – Ele forçava-se para não chorar, virou o rosto para que ela não visse o sofrimento em seus olhos e insistiu – Vá!
Ela levantou-se da cadeira, limpando desajeitada as lágrimas que corriam pelo rosto, colocou a revista na cadeira e pegou sua bolsa. Antes de sair de cabeça baixa, da porta, ela voltou-se pra ele e sem dizer mais nenhuma palavra, saiu depressa.
Em casa, chorou por horas até apagar-se.
Naquele sábado, nublado e sombrio, Elly desejou não ir trabalhar. Ela pensava na cama em como seria seu dia, o que poderia fazer para não ir ao trabalho e nem ao maldito jantar de noivado.
Levantou-se desanimada e caminhou, em passos arrastados, até a cozinha. Reparou pela janela que o céu estava nublado, então desejou que caísse a pior tempestade para acabar com aquele dia. Soltou um suspiro e resmungou:
- Pena que só uma tempestade não acabe com a dor que tenho no peito.
Ela ligou o fogo e colocou uma chaleira com água para aquecer.
Retornou ao quarto e começou a se arrumar.
Alguns minutos depois, saiu de casa sem pressa e caminhou até a estação.
O período da manhã passou devagar e Elly não conseguia disfarçar sua tristeza.
Pouco antes de seu intervalo para lanche, o chefe a chamou:
- Ellene. Venha até o escritório, por favor!
Ela respirou fundo e obedeceu. Esperava qualquer notícia ruim.
- Sente-se, por favor!
Ela sentou-se.
- Hoje é um grande dia, hein!
Ela forçou um meio sorriso irônico que mais pareceu um grunhido.
- Quero que leve este presente ao seu noivo. Lembre-se dizer que fui eu quem mandou. - Entregou-a uma caixa, provavelmente de vinho, com um laço de fita.
Ela pegou a caixa com cuidado e agradeceu:
- Agradeço em nome dele, entregarei sim e direi a ele.
- Então... pode ir. Está liberada por hoje. Aproveite a tarde para se preparar para seu jantar.
Ele fez sinal para que ela saísse e não precisou insistir, ela se levantou e saiu com um sorriso falso.
Elly caminhava triste pelas ruas, em direção à estação de metrô. Cabisbaixa, repassava em sua mente a cena em que encontrara Nathan na noite anterior, e como em um filme, um flash de cenas em que se encontravam, trocavam carinhos e promessas, até chegar à triste cena do término. Ela não namorara tantos rapazes, justamente para evitar o fim.
Seus olhos brotaram lágrimas, mas ela as conteve respirando fundo e encarando o caminho que tinha pela frente.
Em casa, desabafou com a amiga. Na noite anterior já tinha lhe contado, superficialmente o que ocorrera com Nathan, por mensagem, mas o término não teve tempo. Ao sair do hospital apenas chorou. Lis abraçou a amiga como forma de consolo e falou:
- Isso tudo vai passar! – Acalentava suas costas e apertava-lhe de leve.
Poucas horas depois, Elly encarava o espelho. Se sentia inútil, tão frágil, tão impotente e tão idiota. Piscou várias vezes para evitar que as lágrimas que insistiam em acumular nos olhos corressem pelo seu rosto. No celular, várias mensagens de Peter informando horários e salões de beleza em que ela deveria se preparar. Mas ela ignorou, vestiu o vestido que ele lhe mandara, maquiou-se, penteou seus cabelos e os manteve soltos, calçou seu salto e permaneceu imóvel em frente ao espelho. Encarava o que ela mais odiava em si naquele momento.
Lis avisou:
- O motorista está lá embaixo. - Encostou-se na porta observando a triste fisionomia da amiga.
- Obrigada. – Elly não conseguia disfarçar seus sentimentos, entre piscadas tentando disfarçar suas lágrimas , um sorriso forçado – Promete que vai aparecer?
- Sim. Eu vou ao hospital e assim que chegar me arrumo.
Elly balançou a cabeça assentindo e saiu cabisbaixa.
Caminhou em direção ao motorista que a aguardava com a porta aberta.
- Boa noite, srta. Wright! Está deslumbrante esta noite! – Falou com simpatia.
Ela forçou um sorriso e agradeceu, entrando no carro.
- Obrigada, Antony!
No caminho, ela tentava conter as lágrimas, mas algumas teimavam em escapar. Ela limpou o rosto rapidamente e sem jeito.
- Vai estragar sua maquiagem, srta. Wright, não devia chorar. – Antony observou olhando-a através do retrovisor.
Ela olhou-o e com um sorriso falso, concordou com a cabeça. Tentou se distrair observando o caminho, mas muitas coisas não a ajudavam, casais, homens com flores, encontros, pessoas chorando.
Chegaram ao local do evento.
Ela saiu do carro e encarou aquele enorme salão. “Era pra ser um jantar simples!” pensou.
Entrou devagar, com a caixa na mão. Já haviam alguns convidados e Peter conversava com outro homem. Ao percebê-la , sorriu e veio em sua direção.
- Ora, você é a dona do evento, não deveria trazer presentes. – Ele sorriu pegando a caixa.
- Não é meu. O sr. Bill pediu que o entregasse. – Ela falou sem nem mesmo a tentativa de um sorriso.
- Ora, ora... Um bom homem! Deveria estar feliz...
- Não tenho motivos. – Ela o encarava com ódio.
Ele sorriu, aproximou do ouvido e ameaçou:
- Você viu só uma pequena demonstração do que sou capaz. Então sorria como se fosse o dia mais importante de sua vida. - Afastou-se e completou – Aliás, não queremos ter uma péssima notícia na nossa noite, não é mesmo?
Ela sabia que ele se referia a Nathan, engoliu forte e forçando um sorriso falso, ironizou:
- Assim está bom?
- Elly, Elly... – Ele acariciou seu rosto com os dedos e segurando seu queixo de leve – Não me faça perder a paciência com você!
Ela desviou do gesto e baixou a cabeça. Para sua sorte, foram interrompidos por uma senhora, simpática e de olhar intrigante:
- Meu sobrinho querido, como esperei por esse dia!
- Tia Natalie! – Ele abraçou a senhora e voltando-se à Elly apresentou-a com um largo sorriso: - Conheça a Ellene Wright, a minha querida noiva! Ellene, essa é a irmã de minha querida mãe, a tia Natalie.
A mulher se aproximou de Elly e encarou-a como se estivesse enxergando sua alma:
- Ora, como é linda! É um prazer conhecê-la. – Ofereceu a mão para cumprimentá-la.
Elly forçava um sorriso, falso e sofrido, respondeu cumprimentando a senhora:
- O prazer é meu.
A senhora ainda observando o semblante perguntou:
- Não devia estar triste, querida. Hoje é um dia muito importante! Aconteceu alguma coisa?
Peter interviu:
- Ela está cansada, não é querida? – Passou o braço por detrás de Elly e tocou suas costas. Ela sentiu-se intimidada e concordou.
- É... O dia foi bem cansativo.
A mulher apertou o olhar, observando que Elly evitava encará-la e quando ia mencionar algo mais, Peter informou:
- Ah, titia, me esqueci de dizer que o tio Ethan procurava pela senhora.
Ela percebeu que algo acontecia e o sobrinho estava incomodado, então resolveu deixá-los.
- Ah, claro! Foi um prazer querida, teremos outras oportunidades para nos falar mais.
A senhora observou mais uma vez o olhar triste de Elly e sorrindo para o sobrinho afastou-se.
Ele limpou a garganta e falou entre os dentes:
- Melhore essa cara de velório, ou terá motivos para usá-la.
Ela piscou rápido e tentou sorrir, em vão.
- Primo querido, como vai? Então essa é a sortuda? – Veio uma moça falante e extrovertida. Essa não reparou no sorriso forçado de Elly.
Durante o evento, eles passavam por mesas cumprimentando os convidados. Recebiam outros e tinham breves apresentações.
Um em especial chamou a atenção.
- Angeline, que prazer!
- Peter, querido... – Ela abraçou-o.
- E esta deve ser... – Ela encarou Elly com surpresa – Elly? É você mesmo?
- Ah, oi Angeline! Sim, sou eu!
- Vocês se conhecem? – Peter perguntou curioso.
- Ah, sim... Eu e Elly já passamos alguns verões juntas. Meus pais tinham uma fazenda próximo à fazenda em que os pais de Elly trabalhavam...
- Trabalham ainda. – Elly interrompeu sem jeito.
- Sério? Quanto tempo não é mesmo? Engraçado que nos vimos em uma festa do Peter, se não me engano... Vocês se conheceram nela?
Peter forçou-se para lembrar, então recordando-se da cena na sala do salão de eventos, mentiu:
- Bem... Lá nos vimos a primeira vez sim, mas... tudo começou numa lanchonete em que Elly trabalhava, não é mesmo querida?
Elly olhou-o pelo canto dos olhos e balançando a cabeça, concordou:
- É. – Um sorriso falso.
Angeline, que também observara seu semblante, disse:
- Não parece tão feliz assim... Pode me contar a verdade, o Peter está obrigando você a se casar com ele?
Todos se intrigaram, Elly arregalou os olhos surpresa e Peter engoliu forte franzindo o cenho.
Ela riu encarando-os:
- Como vocês são bobos! Estou brincando... – Ela riu e completou – Muitas morreriam pra se casar com ele, devo admitir que tem muita sorte.
Elly forçou um sorriso decepcionada. Angeline localizou outra pessoa de seu interesse então pediu:
- Se me dão licença, vou falar com uma pessoa...
- Fique à vontade! – Peter sorriu e liberou a amiga.
Respirou fundo aliviado e mais uma vez ameaçou:
- Já disse pra tirar essa cara de funeral ou terá um.
- E qual deveria usar? – Ela soltou.
Ele encarou-a e novamente em seu ouvido:
- Talvez quando eu acabar com aquele seu casinho! – Deu um beijo no seu rosto e saiu.
Ela soltou um suspiro de raiva misturada ao medo e fechou os olhos por um segundo, ao abrir identificou a Lis. Foi ao seu encontro.
- Que bom que chegou, por que demorou tanto?
- Eu estava no hospital! – Ela estava com olhar triste e Elly temeu uma notícia ruim.
- O que houve com Nathan?
- Ele terá alta amanhã, mas está muito triste e machucado. Ele está um caco! – Lis encarou a amiga e pegando sua mão - Mas, ainda mais por dentro!
Elly sentiu seus olhos encherem de lágrimas e baixando os olhos para contê-las sussurrou:
- Eu preciso beber alguma coisa, venha.
As duas seguiram para um lado do grande salão, Elly pegou duas taças e saíram para um corredor. Peter observava de longe, então disfarçou e as seguiu. Ouviu através de uma pilastra.
- Ele falou sobre a noite passada? O que deu nele?
- Ele só mencionou que fez o que era preciso pra te proteger.
- Eu não acredito.
- Posso ser sincera? – Pausa – Acho que isso é coisa desse Peter.
Ele arqueou uma sobrancelha impressionado com o fato de que agora, haviam testemunhas em favor da Elly. Então resolveu aparecer:
- Você está aí! – Fingiu que a procurava, aproximou e abraçando-a pela cintura sorriu fingindo alegria em ver Lis – Oi, Lis! Que bom que veio. Estamos quase na hora do brinde. Vamos querida, tenho que te apresentar uma pessoa ainda.
Ele cutucou-a de leve, Lis percebeu a intimidação e então disfarçou:
- Também estou feliz em vê-lo. Eu vou procurar um lugar pra me sentar, mais tarde conversamos, tudo bem? – Sorriu pra Elly e saiu.
Peter segurava uma taça, afastou-se colocando a outra mão no bolso da calça e se colocando em frente à ela, tomou um gole de sai bebida e falou:
- Acho que agora, tem mais pessoas com quem se preocupar. – Começou a andar e avisou – Te espero lá dentro.
Ela soltou um suspiro, quase entrando em desespero e tomou toda sua bebida em um gole só antes de segui-lo.
A noite parecia não acabar, o jantar foi servido, o brinde foi feito, fotos e mais fotos. Elly tentava sorrir, ainda que forçado, tentava não transparecer seu desespero e sofrimento. A cada vez que seu sorriso se desfazia, ele apertava sua cintura para que ela percebesse e retomasse sua farsa.
Era torturante. Mas estava quase acabando. Ela soltou um suspiro de alívio quando só restaram ela, Peter, Lis e o pessoal do buffet. Lis estava sentada numa mesa observando o casal se despedir dos últimos convidados. O pessoal do buffet retiravam os copos e pratos que restaram nas mesas.
Elly soltou um suspiro assim que a última pessoa afastou-se. Voltou com pressa para o interior no salão, comentou com a amiga indo em direção à cozinha:
- Só vou pegar uma água e já vamos, tá bem?
Peter que viera logo atrás sem pressa, observou a cena. Quando ela veio abrindo uma garrafa de água e chamou a amiga:
- Vamos! – Ele estava parado em frente a ela e questionou.
- Onde pensa que vai?
Ela parou e olhando para Lis:
- Vou aproveitar e ir embora com a Lis. Por quê?
- Antony, vai deixar Lis em casa. Você vem comigo.
Ela franziu o cenho e questionou:
- Por quê?
Ele aproximou dela e sem se importar com a presença de Lis falou firme, encarando-a:
- Porque eu estou dizendo.
Lis se surpreendeu com o tom e receosa com a situação, tocou o braço de Elly e perguntou:
- Se quiser, eu posso ficar e chamar...
Elly baixou o olhar e Peter rindo, pegou a mão de Elly e ironizou:
- Você pode ficar tranquila, Lis. Não faremos nada antes do casamento. Vamos!
Ele puxou sua mão sem força. Elly olhou para a amiga, hesitante e pediu:
- Pode ir, Lis. Eu vou ficar bem!
Acompanhou-o sem olhar para trás.
Lis ficou observando a amiga ser levada e temeu o que poderia acontecer.
As últimas coisas que Elly se recordaria desta noite, era chegar na mansão e ser levada até o quarto, onde tiveram uma breve conversa sobre Nathan, Lis e o contrato.
Ele entregou-a um copo com whisky e ordenou:
- Beba!
Ela pegou o copo e deu um gole, quase cuspiu quando sentiu a bebida queimar em sua garganta.
Ele falava e falava, ela apenas observava seu jeito sombrio e aterrorizante, gesticulando e falando. Pouco depois, começou a sentir-se zonza. Agarrou-se ao lençol e caiu deitada na cama.
Ele aproximou-se, ela ainda podia sentir, mas não conseguia se mover. Ele deu dois tapinhas de leve no rosto dela e soltou as últimas palavras que ela pôde identificar:
- Boa menina! – Sorriu maliciosamente e ela fechou os olhos.
No dia seguinte, acordou se sentindo estranha. Esfregou os olhos e levou um susto ao vê-lo sentado em uma poltrona, observando-a com uma caneca de café.
- Achei que não acordaria mais, Bela Adormecida!
- O que houve?
- Eu a dopei!
- O quê? – Ela chocou-se e cobrindo o corpo – O que fez comigo?
Ele fez uma careta de deboche:
- Não seja ridícula! Estava com uma cara péssima, só te ajudei a dormir. Pedi à Anna que a trocasse, aliás, ela mesma providenciou suas roupas de dormir, de banho e do dia a dia para quando vier pra cá.
- O quê?
- Ah, esqueci de mencionar. A partir de agora, dentre seus compromissos estão algumas coisinhas como, não se falar demais com outros homens, em especial o Nathan. Usar seu anel de noivado sempre, até para dormir se possível. E vir dormir aqui algumas noites da semana, claro conforme sua agenda. Ah, me esqueci! - Ele fingiu se lembrar de algo e ironizou – Garçonetes como você não precisam de agenda, não é mesmo?
Ela encarava-o com rancor. Ele sorriu e levantando-se concluiu:
- Espero que tenha gostado do quarto que preparamos para você com tanto “carinho"! – Tomou um gole de café - Só passei pra te lembrar que a partir de agora deve se comportar como pede o figurino. Tenha um ótimo dia!
- Quando eu posso ir embora? – Ela apressou-se para perguntar antes que ele saísse.
Ele parou na porta e sem se voltar respondeu:
- Agora mesmo se quiser.
Saiu sem mais uma palavra. Ela olhou em volta e percebeu que o quarto estava planejado para ela. Desceu da cama e foi ate o armário. Ao abri-lo, percebeu várias peças de roupas femininas bem organizadas em cabides e dobradas. Abriu as gavetas e tinham várias peças de lingerie separadas em conjuntos de sutiã e calcinhas combinados em rendas e tecidos finos. Em outra porta percebeu um porta joias, mas não abriu. Na penteadeira, pequena mesa com um enorme espelho, haviam produtos femininos com maquiagens, demaquilante e perfumes. Ela pensou em ir ao banheiro, mas seu interesse logo passou. Ela viu suas roupas dobradas com zelo, encima de uma das poltronas. Pegou-as e se vestiu.
Ao descer as escadas, torcia para não vê-lo mais. Andou em passos apressados pela entrada e saiu tentando não fazer barulho.
Da porta da biblioteca, ele a observava. Engoliu forte quando ela saiu sem notá-lo. Infiltrou-se na biblioteca com sua caneca na mão.
Em casa, Elly desabafou com Lis. Que ficou ainda mais chocada:
- Elly, você está correndo sérios riscos... Imagina se esse cara te faz algum mal dopada?
- A parte mais aterrorizante foi acordar e vê-lo me encarando.
- Será que ele está obcecado por você? Como naqueles filmes de psicopatas...
- Claro que não. Ele é louco por dinheiro!
Lis pensou um pouco e comentou:
- Se o que importa é o dinheiro, exclusivamente o dinheiro, você estará livre assim que se casar.
- Parece que tem mais pessoas interessadas nessa herança... Então, temos que “ser convincentes".
- Então... Basta você fazer o que ele quer, vai aos encontros, jantares, finge a noivinha dedicada em público, não precisa ter nenhum contato... E após o casamento, assim que ele receber essa bendita herança, você se divorcia! – Parecia tão simples ouvindo ela planejar.
Elly sorriu e respondeu:
- Basta isso, não é? Como se fosse fácil encarar sua vida desse jeito.
Elly foi para a cozinha e Lis acompanhou-a encorajando:
- Pense bem! Se você resistir, além de ser perigoso, será mais doloroso, sofrido... - Sentou-se completando – Se você entrar no jogo dele, em um relacionamento de aparências, terá suas vantagens, como quitar sua dívida e sair ganhando alguma coisa.
- Eu não quero nada que venha dele, apenas pagar o que devo. Se possível farei com meu trabalho, dinheiro do meu próprio suor.
- Tudo bem , Alice! – A amiga usou sarcasmo na brincadeira e concluiu – Ainda acho que vai mudar de ideia.
Elly olhou irritada para a amiga, que numa reação de defesa ergueu as mãos em sinal de paz.
No fundo, Elly sabia que Lis tinha razão, era mais fácil ceder e fazer as vontades do Peter até que tudo tivesse fim.
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Amor que queima
RomanceEla era só uma garçonete com a intenção de salvar seu emprego... Ele, um grande empresário, mal intencionado e ganancioso... Seus caminhos se cruzam e uma história intrigante se inicia... Até onde a obsessão pode levar alguém? Quanto suporta o amor...