CAPÍTULO 4

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As 19h30min ela estava pronta. Encarava o espelho e pensava no que seria possível acontecer.
Lis tocou seu ombro e falou:
- Deixe seu telefone já com meu número na tela, caso correr perigo disque e deixe chamar. Eu vou atender, daí você fala onde está pra eu te ajudar, chamar a polícia ou algo assim.
Ela assentiu com a cabeça e olhando a amiga pediu:
- Caso alguém vier aqui, por favor, não atenda sem conferir quem é.
- Está bem! Não se preocupe comigo e tenha cuidado.
Ela balançou a cabeça, concordando e se esforçando para não chorar novamente.

A amiga acompanhou-a até a entrada do prédio e observou quando ela entrou no carro de aplicativo. Elly olhou pelo retrovisor, viu o carro se afastar até perder a amiga de vista. Uma lágrima correu pelo seu rosto e ela limpou rapidamente, piscando para que as demais não saíssem.
O motorista foi orientado por ela até chegar ao condomínio, entraram devagar e ela observava as casas até localizar a que seria seu destino. O carro parou, ela pagou ao motorista e desceu.
Ela hesitou. Pensava no que ele diria ou faria. Deu passos lentos e pequenos.
Respirou fundo antes de subir os poucos degraus até a porta.
Tocou a campainha.
A governante atendeu-a e antes que Elly mencionasse algo, ela orientou:
- Boa noite! O sr. Peter a aguarda.
Fez sinal para que entrasse. Ela entrou e seguiu a mulher até a biblioteca, onde ele bebia seu whisky observando a noite pela janela. Assim que entrou ela sentiu um calafrio quando ele girou sua poltrona e a alcançou com seu olhar sombrio.
Ela hesitou e ele levantando-se ordenou:
- Sente-se!
Ela permaneceu imóvel e com olhar baixo. Ele então alterou o tom de voz:
- Está surda ou esperando que eu a faça sentar a força?
Ela ergueu seu olhar, engoliu forte e caminhou até a poltrona mais próxima. Sentou-se e permanece de cabeça baixa.
Ele veio até o outro lado da mesa e recostando-se nela, pegou o envelope e olhando-a por cima dos olhos perguntou:
- Sabe do que se trata nossa conversa?
Ela negou com medo. Ele aproximou-se e foi para trás da poltrona, segurou forte no apoio e aproximou-se do ouvido dela e repetiu:
- Você realmente não sabe do que se trata nossa conversa? – Esperou resposta.
Ela insistiu em negar e ele erguendo-se soltou um riso. Caminhou de volta à mesa e apoiando uma das pernas nesta, olhou para o chão como se pensasse em algo e encarando-a:
- Você quer bancar a desentendida?
Esticou o envelope e ordenou:
- Pegue!
Ela levantou-se devagar, deu passos lentos e pequenos, pegou-o e aguardou.
- Abra! – Ele continuou.
Ela hesitou, então ele alterou a voz:
- ABRA!
Ela assustou-se com o tom. Abriu o envelope já tremendo nervosa.
Ao encarar o conteúdo, as fotos dela e Nathan, em seus olhos brotaram água. Ele continuou retomando tom suave, mas ainda intimidador:
- Qual a sua relação com esse homem?
Ela hesitou e quando começou a falar, gaguejou:
- E.. eu... Nós... somos... amigos...
- Por que está gaguejando? – Ele a encarava cético.
Ela não sabia o que responder sem causar problemas a Nathan ou a si mesma. Não conseguiu falar. Ele aproximou dela fazendo-a caminhar para trás até sentar novamente na poltrona, e dessa vez de frente a ela, apoiou-se nos apoios de braço arqueando o corpo, chegou seu rosto bem próximo do dela:
- Um gato comeu sua língua? – Ela o encarava com pavor e ódio. – Eu te fiz uma pergunta e quero uma resposta agora!
Ela engoliu forte e tentou:
- Somos... apenas amigos.
Ele riu e afastando-se começou:
- Lembra-se do contrato, não é mesmo? Em breve estaremos noivos, agora mais breve ainda, antes que vaze essa sua... “amizade". Pedi a meus advogados que fizessem uma ressalva, quando estiver pronta você assina. Até chegar nosso casamento você precisa segurar esse seu “fogo" e controlar seus hormônios.
Ele usou de sarcasmo malicioso para alfinetá-la. Ela corou e tentou corrigir o mal entendido:
- Nós não...
- Não me interessa se foi ou não pra cama com ele. O que importa é que você quase destruiu os meus planos e colocou tudo a perder. Se isso tivesse ocorrido, sinto lhe informar que esse seu “lance" não duraria muito... – Ele apoiou-se novamente à mesa e sorrindo ironicamente – Guarde com você essas fotos pra sempre se lembrar do que não fazer, especialmente em público.
Ela estava sem ação e sem ter como reagir, permaneceu sentada olhando o envelope. Ele levantou-se e caminhando em direção a porta chamou-a:
- Vamos! O jantar já está servido e estou faminto.
Ele percebendo que ela não se movia, voltou-se e puxando-a pelo braço com agressividade lembrou:
- Acho que você não entendeu quando eu disse que não tem escolhas aqui.
Ela foi arrastada pelo braço até a sala de jantar. Assim que a soltou, ele ajeitou seu paletó e caminhando em direção a cadeira do outro lado da imensa mesa brincou:
- Sinta-se em casa!
Ela pegou no seu braço dolorido pelo toque dele e sentou-se esforçando para não chorar.
Aquele jantar foi tão doloroso quanto tortura física e deixou uma grande marca em seu psicológico. Ele apresentou-a aos empregados com cordialidade:
- Essa é a Anna, minha fiel companheira e governanta dessa casa. Essa é a Ariel, sobrinha de Anna e nossa empregada. – A Anna não era jovem nem velha, mas sua fisionomia mostrava que tinha muita história pra contar. Ariel era jovem, mas também trazia consigo uma carga que parecia não ser leve. Peter continuou falando dos ausentes: - Você já conheceu o Rick, aliás ele te acompanhou a distância por algum tempo. Antony, meu motorista de muitos anos. Temos também um cozinheiro, o Ed, e quase não verá, ele é bem reservado. Por fim, temos o zelador e jardineiro, John, que vem algumas vezes na semana cuidar de nosso belo jardim e da piscina.
Ele comia e falava como se fossem bem próximos e ela com custo, comia a comida sem levantar os olhos. Ele fez um gesto para que as duas funcionárias os deixassem.
Assim que saíram,  ele depositou seus talheres ao lado do prato e falou:
- Você vai dormir aqui esta noite.
Ela assustou-se, erguendo o olhar espantado e encontrou os olhos dele. Ele sorriu maliciosamente:
- Não será nenhum problema pra você, não é mesmo?
Ela engoliu forte o pedaço de carne que mastigava e balançou a cabeça negando:
- Eu não posso... Eu... preciso voltar pra casa e... amanhã trabalho cedo.
Ele riu e comentou com tom de superioridade:
- Até parece que eu me interessaria por uma... qualquer.
- Se sou uma qualquer, por que implica em seguir com isso? – Escapou e ao perceber, ela tapou a boca e arregalou os olhos assustada.
Ele por sua vez, apertou seus olhos e encarando-a ameaçou:
- Mais uma de suas pérolas e eu arranco a sua língua.
Ela desviou o olhar para o prato e segurando forte sua faca, conteve-se para não soltar mais nenhum questionamento ou tacar aqueles talheres do outro lado da mesa.
O jantar seguiu silencioso após a ameaça. Ela estava com medo e ele estava se sentindo desafiado. Ao terminarem, ele chamou:
- Ariel? – A moca surgiu depressa – Pode retirar a mesa, não ficaremos para a sobremesa. Obrigado!
Ele levantou-se e caminhou até Elly, parou ao seu lado e ajeitando seu paletó informou:
- Vamos! Te levarei pra casa.
Ela ainda estava sentada, ao ouvi-lo adiantou-se e levantando-se agradeceu à outra moça e seguiu para a saída com pressa.
Ele observou-a quase correr em direção a porta, então caminhou devagar com as mãos no bolso até alcançá-la do lado de fora da casa.
O Antony abriu a porta de trás, mas ele fez sinal com a cabeça e falou:
- Eu a levarei Antony, pode deixar. Obrigado!
Então o motorista fechou a porta traseira e entregando-o a chave do carro abriu a porta da frente pra que ela entrasse.
- Obrigada, Antony! – Ela agradeceu e entrou com pressa.
Ele não teve pressa ao contornar o carro e entrar. Antes de ligar avisou:
- Coloque o sinto. – Então girou a chave na ignição e deu partida.
Ela ajeitou o cinto e receosa, evitou encará-lo, então manteve sua atenção voltada ao caminho observando pela janela.
Chegando no prédio de destino, ele parou e não destravou as portas. Ela tentou abrir e não conseguindo sentiu medo e voltou-se a ele:
- Não está abrindo.
- Eu sei! – Ele encarou-a e sorriu.
- O que foi? – Ela demonstrava seu medo e encarando-o aguardou a resposta.
Ele passou o braço por cima dos ombros dela e sussurrou no seu ouvido:
- Só queria te lembrar de que agora, você é minha! – Seu comentário era possessivo e malicioso, ela começou a se sentir acuada e sua respiração mostrava que entrava em desespero. Ele se afastou e ainda com um sorriso maldoso, destravou as portas e ordenou: - Agora vá!
Ela saiu com pressa e correu para dentro. Subiu desesperada as escadas e ao entrar no apartamento, encostou-se na porta e tentou recompor sua respiração e batimentos. A amiga não estava em casa, então poupou-a explicar-lhe o que ocorrera. Seguiu para o quarto e deitou na cama ainda amedrontada.
Aquele jantar foi um tanto assustador, mas pela manhã o que não saía da cabeça de Elly era como faria para dispensar Nathan sem magoá-lo. Enquanto se arrumava imaginava como iniciar a conversa e o que dizer para amenizar a situação. Quase perdeu a hora do metrô pensando.
Saiu com pressa de casa e seguiu quase correndo para a estação de metrô.
Ao chegar na lanchonete, reparou que Nathan evitava olhar em seus olhos. Sentiu-se mal pela mensagem do dia anterior e afligiu-se ainda mais pelo que estava prestes a dizer.
Esperou o melhor momento, o almoço.
Ela procurou-o pela cozinha, mas não encontrou, então seguiu para os fundos com seu sanduíche. E lá estava ele, sentado ao alto com as pernas soltas balançando-as como criança. Ao percebê-la pulou em um impulso e limpando as mãos na calça, começou sem jeito:
- É... eu não sabia se viria pra cá, então... espero que não se importe se eu...
- Não. Fique a vontade eu... – Ela fez sinal de retornar, mas ele pediu:
- Fique! Por favor! – Ela calou-se sem jeito e assentiu, caminhando depressa para o caixote sentou e começou a desembalar seu sanduíche.
Ele sentou-se do lado e puxou o assunto:
- Então... disse que precisava conversar comigo.
Ela engoliu forte sua primeira mordida e lembrou-se, mas ainda estava sem palavras para falar.
- Eu... vamos comer primeiro. – Ela mostrou o sanduíche forçando um sorriso.
Ele insistiu:
- Seja lá o que for, eu quero que saiba que eu... Eu gosto muito de você e... queria só uma chance pra que me conheça melhor, eu... não tenho muito a oferecer, como já percebeu, mas...
- Nathan... por favor... não vamos falar agora.
Ela estava sentindo em seu peito o coração apertar a cada palavra e queria poupá-lo, mas teria que resolver aquela situação o quanto antes.
Ele concordou cabisbaixo e comeram. Ao final da refeição, ela buscou palavras evitando encará-lo.
- Nathan, eu... preciso te dizer uma coisa.
- Espera! Antes de me dispensar, escute o que tenho a dizer.
Ele era tão sincero, tão meigo e tão bobinho. Ela calou-se.
- Eu sei que só saímos uma vez, sei que eu não sou nem um galã ou cara perfeito que faz qualquer garota enlouquecer, mas... eu gosto muito de você! Desde o dia que te vi pela primeira vez, eu... eu senti algo diferente, uma coisa boa... eu... não sei explicar, mas... eu queria muito te conhecer melhor, e que me conhecesse também... e quem sabe, se gostar do que vai ver, me dá uma chance de tentar... tentar não,  te fazer feliz.
Ela nunca imaginou receber uma declaração tão linda e profunda, tão verdadeira...
Sorriu com pena e não teve voz para responder.
- E então? – Ele tinha olhos de filhotinhos de gatos e seu semblante causava nela uma sensação de conforto e inquietação ao mesmo tempo. Seu coração batia forte e em sua cabeça as palavras ainda dançavam quando ela mal percebeu que estaria prestes a beijá-lo.
O beijo foi intenso, cheio de sentimento e calor. Durou longos segundos até que ao abrir os olhos, ela percebeu de longe que era observada. Afastou-se depressa e desculpou-se pegando seu sanduiche com pressa e entrando de volta à lanchonete:
- Me desculpe, eu... me desculpe, tenho que ir!
Ele não entendeu o ocorrido, mas sorriu e tocou seus lábios relembrando o beijo e a sensação gostosa que sentiu.
Ela trabalhou inquieta, pois não sabia o que fazer.
Enquanto isso, Peter analisava alguns relatórios quando seu celular vibrou.
Era o investigador Andrew, que contratara para seguir a Elly e investigar todos os seus passos e pessoas próximas.
“Alô?”
“ Sr. Peter tenho algumas fotos que te interessam de sua futura noiva. Providenciei que o fotógrafo que contratou as deletasse de sua memória e garanti que ninguém mais as tivesse.”
“ Ok. Mande-as por mensagem.”
“Tudo bem! Estou enviando agora mesmo!”
“Muito obrigado!”
Desligou e verificou seu aplicativo de mensagens instantâneas. Ao abrir, balançou a cabeça revirando os olhos e respirando fundo. As fotos de Elly beijando o Nathan já estavam em suas mãos. Ele mordeu o lábio encarando a tela do computador e pensou alto: “Vagabunda!”

As horas passaram e o fim da jornada chegou. Nathan estava sem jeito e enquanto ela limpava as mesas, aproveitou que os outros saíam e aproximou-se devagar.
Limpou a garganta para que ela percebesse sua presença. Ela notou-o e tentando disfarçar sua vergonha brincou:
- Também está de castigo hoje? – Continuou a limpeza.
Ele procurou o que fazer com as mãos, mas não teve êxito e as afundou nos bolsos da calça.
- Eu só... queria saber se quer companhia pra casa?
Ela olhou-o com ternura, mas engoliu forte antes de responder:
- Eu... adoraria, mas... tenho muito ainda a fazer.
- Eu espero.
Ela não sabia como dispensá-lo. Então, olhou-o com ternura, parando de limpar buscou palavras:
- Nathan... eu não posso! Eu... eu queria te dizer o porquê, mas...
- Tudo bem! Eu... eu já vou indo.
Ele percebeu que era dispensado por ela e constrangido, sem ter como reagir, forçou um sorriso e saiu disfarçando sua vergonha.
Ela sentiu-se mal pelo que fez, mas era necessário. Retomou suas atividades tristonha.


Ela saía pela porta dos fundos. Tirando o lixo, ela trancou a porta, colocou os sacos na enorme caixa de metal e ao se virar topou com Peter que caminhava devagar, de mãos no bolso, observando-a com atenção.
Ela parou e encarou-o. Ele se aproximou, observou o lugar onde ocorrera o beijo entre ela e Nathan algumas horas antes. Ele aproximou dos caixotes e ironizou:
- Ora, ora... Então é aqui o cantinho dos pombinhos!
Ele olhou-a e ela desconversando:
- Eu não sei do que está falando.
- Não sabe mesmo?- Ele chutou os caixotes derrubando-os com violência.
Ela assustou-se e afastando até a parede repetiu:
- Eu... não sei do que está falando. – Engoliu forte e ele se aproximou dela com raiva e pegando em seu pescoço com força ameaçou:
- Olha aqui garota, eu já te avisei... – Ele chegou pertinho do rosto dela, até que ela sentiu seu hálito saindo com as ameaças – Você não sabe do que eu sou capaz. E você não deve pagar pra ver.
Ela tentava livrar o pescoço e controlar sua respiração com dificuldade, pediu pegando na mão que segurava seu pescoço:
- Por favor, me solte. Está me machucando.
Ele apertou um pouco mais causando corte do fôlego dela e aumentando seu terror, com certo prazer sorriu e completou:
- Eu não vou te matar... ainda. - Soltou-a e virou-se.
Ela retomava o fôlego segurando no pescoço enquanto as lágrimas desciam pelo seu rosto.
Ele retornou e avisou:
- Espero que tenha entendido o meu recado. – Caminhou depressa saindo do beco em direção à rua e entrou no carro.
Ela estava em pânico, encostada na parede, deslizou até o chão chorando, abraçando sua pequena bolsa com pavor.
Poucos minutos depois ela foi pra casa com os olhos inchado, porém esbugalhados de medo.

Ela chorava abraçada ao travesseiro, deitada no sofá, enquanto a amiga cozinhava consolando-a:
- Não fica assim, tenho certeza que Nathan não ficou magoado. – Ela havia contado sobre Nathan, mas não sobre Peter.

Apesar de sua semana começar tensa, ela apegou-se a uma esperança enorme de se livrar da situação em breve e retomou seu sorriso na terça.

No grupo O&S, Peter recebia diariamente um e-mail com fotos do que ela teria feito no seu dia. Quase nunca parava para observar detalhes, mas naquela quarta pegou-se reparando no sorriso dela e no quanto ela parecia feliz. Passava devagar as fotos, olhando com atenção ao corpo e ao rosto dela. Mas despertou-se com a visita do amigo, Hector:
- Com licença! Está muito ocupado? – Ele entrou na sala, o Peter ficou sem jeito, fechando o arquivo de fotos limpou a garganta e respondeu cruzando as mãos como se estivesse fazendo algo típico de seu trabalho:
- Entre. Só estava olhando alguns relatórios. Então, alguma novidade?
- Bem... Depende do que espera que eu diga.... Sobre o seu noivado, podemos marcar daqui duas semanas, já pensou em algo?
- Bem... Pensei em um jantar só para os familiares mais íntimos. Acho que conseguimos reservar um local e o buffet...
- Ótima ideia. Quando vai avisar a felizarda e divulgar o rosto dela às mídias?
- Pensei em publicar uma foto no meu Instagram. O que acha?
- Muito romântico e aparentemente normal. Excelente! Mas que seja uma foto natural e aparentemente voluntária.
- Deixa comigo. E você e a Angeline, como estão?
- Ela não quer me perdoar, disse que não quer mais me ver e que tem outra pessoa, você acredita nisso?
- Acredito, a Angeline não iria te esperar por toda a vida.
- Ah sim, falou o especialista em mulheres e sentimentos...
Eles riram e prosseguiram com a conversa.

Pouco antes de sair do trabalho, Elly recebeu uma mensagem de Nathan:
“ Quer tomar um chopp? Sem segundas intenções, prometo!”
Ela soltou um suspiro e respondeu:
“ Não posso, prometi à Lis que arrumaria a casa por ela.”
Demorou alguns poucos minutos:
“Quer ajuda?”
Ela sorriu e respondeu:
“ Não precisa... Nosso apartamento é bem pequeno, dou conta sozinha.”
Nathan: “ Tem certeza? 🙈”
Ela parou e pensou, então sorriu e digitou:
“ Ninguém pode te ver chegando ao prédio. Vá antes de mim, deixarei a chave com vc. Mas por favor, seja discreto.”
Ele respondeu imediatamente:
“ Sim senhora!😍”
Ela sorriu e guardou o celular no bolso. Passou pela cozinha e deixou a chave discretamente próximo a ele, que disfarçando um sorriso pegou e guardou no bolso de sua calça.
Ele saiu antes e ela ficou para limpar e fechar a lanchonete.
Ela sabia que era arriscado, mas ela também se sentia bem com Nathan e se fosse discreta ninguém saberia do encontro.
Ao chegar em casa escutou um celular tocando e barulho da água da pia. Ele estava lavando a louça. Aproximou-se da bancada e observando-o brincou:
- Está empolgado com a faxina, hein!
Ele sorriu e secando as mãos no avental que usava, sorriu e falou:
- Você chegou! Espero que não se importe, eu trouxe umas cervejas e comida, coloquei na geladeira. Encontrei esse avental e aproveitei pra ir adiantando o trabalho.
Ela sorriu e aproximou da janela conferindo se era vigiada. Ela fechou as cortinas e observou:
- A diversão só vem depois da obrigação, portanto continue com as mãos à obra.
Andou em direção ao quarto e ele feliz, retomou à louça.
Pouco depois ela veio e começaram a arrumar a casa. Riam e falavam sobre diversos assuntos enquanto trabalhavam.
Ao terminar, ela sentou-se no sofá e pediu:
- Enquanto você prepara o jantar, se importa se eu tomar um banho e deixe você sozinho?
- Fique à vontade. Vou preparar uma macarronada pra você, tão especial que nunca vai se esquecer... de mim! – Ele sorria e sua alegria era sincera e transbordava pra ela.
Ela pulou do sofá e correu para o quarto.
Alguns minutos depois, ela atravessou correndo de toalha e ele riu, fingindo não ter visto.
Pouco depois ela surgiu, ele ficou admirado e não disfarçou. Parou e olhou-a dos pés a cabeça fazendo sinal de aprovação:
- Está linda! – Ela usava um short jeans e uma camisa branca solta. Estava descalça e seu cabelo estava preso em um coque alto. Sua beleza era tão natural, seu sorriso tão sincero, seus olhos brilhavam e havia um rubor leve nas maçãs.
- Para! Huuummm... que cheirinho bom!
Ela sentou-se na cadeira observando a bancada, ele tinha colocado o macarrão em uma travessa de vidro coberto com molho à bolonhesa e decorado com queijo ralado. Ele deixou dois copos de vidro vazios e ela:
- Cadê a cerveja? – Ele sorriu e foi até a geladeira.
- Eu pensei em trazer duas opções... A que mais combina com macarronada... Vinho! - Virou-se com uma garrafa de vinho e escondendo a lata de cerveja. – Caso não aceite, podemos optar pela cerveja mesmo.
Mostrou-a as duas opções para que escolhesse com um largo sorriso arqueando as sobrancelhas. Ela sorriu e fingiu estar indecisa, então apontou:
- Vou ficar com a escolha do chef!
Ele comemorou e guardando a cerveja na geladeira, retornou abrindo a garrafa.
Ele serviu-a com vinho, depois seu prato. E quando se servia comentou:
- Então... Sei que não tenho chances com você, mas... queria não perder a chance de sermos... amigos e fazer isso mais vezes.
Ele era tão atencioso e parecia sincero e despretensioso. Ela começou a comer e  brincou:
- Vamos ver se será aprovado na tarefa de me alimentar bem.
Sorriram e começaram a comer.
Após o jantar, lavaram a louça e enquanto ela guardava a comida na geladeira convidou-o:
- A gente podia ver um filme, o que acha?
Ele secou as mãos no avental e tirando-o perguntou:
- Tem certeza? Não quero incomodar mais.
Ela olhou-o com uma careta e brincou:
- Vai se fazer de difícil, é isso?
Ele riu e depositou o avental na bancada. Estavam próximos e ele aproveitou:
- Pra você sempre estarei fácil, você sabe disso!
Ele tocou seu rosto, ela soltou um suspiro e baixou a cabeça. Ele percebeu que ela ficara sem jeito, então tentou quebrar o gelo fingindo empolgação:
- Vamos ver o quê?
Andou em direção ao sofá e ela, retomando seu entusiasmo, correu para alcançá-lo:
- Comédia romântica.
- Eca... vamos ver um filme de ação, com muitos tiros, sangue...
- Não! -  Começaram a disputar o controle, mas quanto mais ele tentava evitar mais ficava difícil, pois sempre suas mãos se tocavam e seus olhos se encontravam. Ela soltou e desistiu:
- Tá bem, você escolhe.
- Você venceu! Vamos ver um romance. – Ele sorriu tentando manter o bom clima e não perder a chance de continuar ao lado dela.
O filme não era muito longo, mas ela pegou no sono a poucos minutos, deitada no colo dele. Ele admirava o rosto dela e acariciava seus cabelos, quando a porta se abriu.
Lis entrou e ao perceber que ela dormiu, fez sinal de silêncio arregalando os olhos e tirando seus sapatos com cuidado.
Ele ficou um pouco constrangido e sussurrou:
- Oi! Eu sou...
- Nathan, adivinhei?
Ele se surpreendeu:
- Como sabe?
- Elly já falou muito de você! – Lis o cumprimentou com um aperto de mão, observando a amiga dormir.
- É sério? Mas ela... falou como... o que ela falou?
A moça riu do entusiasmo e a cara de bobo dele e falou batendo em seu ombro:
- Fique tranquilo, falou super bem!
Ele sorriu e ajeitando-se para levantar-se sem acordá-la pediu:
- Eu não quero acordar ela, está dormindo tão bem... mas preciso ir.
- Tudo bem! Eu acordo ela... digo que teve que ir.
- Foi um prazer te conhecer e... tem comida na geladeira e cerveja... desculpe invadir assim a casa de vocês e obrigado por tudo!
Ela percebeu que ele estava tímido, convidou-o abrindo a porta:
- Será sempre bem vindo quando quiser! Afinal, meu namorado irá apresentar em um pub no sábado, vou pedir a Elly que te convide, mas já adianto que faço questão que vá!
Ele sorriu e falou saindo:
- Obrigado pelo convite e... se a Elly não se importar será um prazer! Boa noite!
- Boa noite!
Ela fechou a porta rindo da situação e acordou a amiga com cuidado:
- Ei! Dorminhoca! – Balançou com cuidado seu ombro. Elly despertou sonolenta.
- Onde está o Nathan? – Esfregou o olho sentando-se.
- Ele já foi. Pediu pra eu te chamar , pois não queria te acordar.
Ela sorria e Elly apertou os olhos perguntando:
- Ele falou mais alguma coisa?
Ela esperava que sim. E a amiga riu e falou indo para o quarto:
- E precisa?
Elly sorriu satisfeita. Ela não queria que momentos como aquele acabassem. Mas sabia que não podia mantê-los por muito tempo, e isso acabava com sua felicidade.


No dia seguinte, ela trabalhava feliz quando seu celular vibrou.
“Jantar amanhã, às 20 horas, no restaurante do Plaza Hotel. Sem atrasos!”
Ela respirou fundo e guardando o celular forçou um sorriso e retornou ao trabalho.
Enquanto isso, no Grupo O&S...
Peter enviou a mensagem e pensava, quando ergueu-se e avisou no telefone:
- Beth, remarque a reunião de hoje pra amanhã as 15 horas.
- Sim, sr. Octavius.
Ele desligou, pegou seu paletó e saiu com as chaves do carro nas mãos.
Ele dirigiu até o shopping, onde caminhava e observava as lojas. Entrou em uma grife.
Observava os vestidos da vitrine quando uma mulher bem arrumada e educada aproximou:
- Sr. Octavius, quanto tempo! A que devo a visita? Procura algo especial?
Ele sorriu e observando a loja respondeu:
- Sim. Quero um vestido, nada muito vulgar e nem formal demais!
- É presente? Precisa de ajuda ou já tem em mente as medidas?
Ele reparou em uma moça que arrumava um varal num canto da loja.
- Na verdade, ela tem as medidas daquela moça. Acha que ela se importaria em me ajudar?
A dona da loja, com cordialidade chamou a moça e falou:
- Nadya, venha cá, por favor! Ela terá o maior prazer em ajudá-lo!
A moça veio sorridente e foi orientada:
- Nadya, esse é um de nossos melhores clientes, então ajude-o no que for necessário.
- É claro!
Assim que a dona saiu de perto, ele esticou a mão se apresentando:
- Sou o Peter... Tem um nome muito bonito, assim Como  a dona é claro.
Ela sorriu e agradeceu:
- O prazer é todo meu! – Ela cumprimentou-o com interesse.
Ele sorriu com malícia e pediu:
- Gostaria que provasse alguns vestidos, estou a procura de um presente pra... uma amiga!
Ela sorriu também mal intencionada e chamou-o:
- Venha comigo, mostrarei nossa melhor coleção!
Seguiram para um lado da loja em que ela experimentou vários modelos.
A cada modelo ele observava seu corpo com interesse e sorria maliciosamente.
Escolheu três, um bem discreto, sem decote, em tom rosa claro, um vestido midi, na altura do joelho e que cobria todo o colo. O outro tinha um decote, que destacava os seios da vendedora, e que facilitava para que ela se insinuasse ainda mais. Era preto e tinha pequenos detalhes de pedras brilhantes próximo ao decote, destacava também as curvas, delineando a cintura e o quadril. Ele era um pouco mais curto que o anterior. E o terceiro, com uma cor mais vibrante, que a vendedora se identificou e elogiou, como o mais interessante dentre todos. Era estampado e tinha além de um decote pouco exagerado uma fenda que destacava suas pernas torneadas. Ele mordeu o lábio e falou:
- Acho que não ficariam tão bem em outra mulher.
Ela sorriu e aproximou-se entregando as peças a outra moça:
- Tem certeza que serão apenas os três?
Estava interessada não somente na venda, mas em continuar experimentando os vestidos e se insinuando pra ele. Então, ele levantou-se da poltrona em que estava e aproximou dela:
- Podemos continuar a falar dos vestidos em outro momento.
Ela tirou um cartão do decote e entregou-o:
- Será um prazer servi-lo.
Ele olhou para o cartão e após um breve momento de hesitação, pegou-o e falou:
- Como recompensa, o terceiro vestido será seu.
Ele colocou o cartão no bolso do paletó e saiu para o caixa.
Pagou e quando ela o acompanhou até a porta da loja, entregou-lhe as três sacolas e disse:
- Não posso aceitar presentes na loja, mas se estiver livre hoje a noite, podemos ir a outro local.
Ele sorriu, pegou as sacolas e antes de colocar os óculos escuros deu-lhe uma piscada.


Ao chegar no escritório, entregou as sacolas à secretária e pediu.
- Mande os vestidos para lavanderia e peça pra entregá-los no endereço que te passarei. Exceto o vestido estampado, que deverá ser entregue na minha casa. Até amanhã as 18 horas.
Ele entrou na sala e pegou uma pasta na gaveta, ligou para a secretaria e passou o endereço.

Naquela noite, ele recebeu marcou com a vendedora e recebeu sua visita em casa.
Passaram a noite juntos e pela manhã deixou-a no trabalho, vestida exatamente como vestido que a dera.

Os vestidos foram entregues na casa de Elly. Quando ela chegou do trabalho, Lis comentou:
- Seu pretendente mandou entregar isso.
Ela olhou a roupa coberta por uma capa de plástico preta. Abriu o zíper e retirou-os.
- Nossa! – Lis soltou admirada. – Ele realmente é exigente né?
Elly observou os vestidos e engoliu em seco. Balançou a cabeça e disse:
- Eu não posso aceitar isso... – Pegou seu telefone digitou uma mensagem.
“ O que significa isso?”
Peter já esperava a mensagem e respondeu com um sorriso debochado.
“O preto é pra hoje, o outro para nosso jantar de noivado!”
Elly: “Eu não posso aceitar, aliás eu não os quero.”
Ele hesitou e respondeu em caixa alta:
“ Infelizmente, NÃO É OPCIONAL!”
Ela sentiu vontade de lançar o telefone longe, mas apenas soltou grunhido.

As 19h30min ela estava vestida e encarando o espelho.
- O que houve? Vai se atrasar.
Lis lembrou-a.
- Eu não essa pessoa no espelho. O que estou fazendo?
- Amiga... logo, logo estará livre dele. Lembre-se, depois do casamento poderá pedir o divórcio e não terá problemas.
- Mas eu não queria que nem chegasse ao casamento. E quando Nathan descobrir?
- Calma! Vocês não tem nada agora, sei que ele entenderá e no fim vão poder ficar juntos.
- Você acha? – Ela queria se apegar a essa esperança e a amiga a apoiava.
- Sim! Tenho certeza.
Ela sorriu e balançando a cabeça decidiu:
- Tem razão! Esse pesadelo vai acabar logo. Eu tenho que ir! Me deseja sorte.
- Boa sorte! - Beijou-a na testa e acompanhou até a porta.
Ela pegou um táxi e chegou com antecedência de 10min.
Assim que entrou, de longe ele a percebeu e engoliu forte ao vê-la andando em sua direção admirado. Ela estava tão linda, ele se enganara, pois o vestido vestia melhor em seu corpo no que daquela mulher da noite anterior. Apesar de seu olhar triste, ela estava com uma maquiagem leve, mas que destacava sua beleza e sua boca, ah como ele sentia vontade de beijá-la. Mais uma vez engoliu forte, quando sentiu o desconforto da atração que sentira, aquele corpo tão frágil e tão esbelto, aquela cintura, o quadril e as pernas. Ele ajeitou a gola da camisa branca que vestia por baixo de seu blazer. Apenas o salto que ela usava, era antigo, mas não estragava seu look. Ele pensou em elogiá-la, mas não teve palavras:
- Bem... Não está nada mal! - Levantou-se e mostrou-a a cadeira em frente - Sente-se.
Ela sentou-se com cuidado e permaneceu quieta observando o restaurante.
- Chegou mais cedo do que o esperado.
- Pediu pra não me atrasar.
Ela não o encarava por muito tempo, apenas ao responder
- Quer pedir...
- Não. Fique à vontade e faça como sempre.
Ele percebeu que ela tentava se manter fria e inatingível.
- OK! – Chamou o garçom e fez o pedido. Ela mal ouviu e permaneceu com a atenção voltada ao ambiente e as coisas em sua volta.
Ele tentou puxar assunto em alguns momentos, mas ela não deixou que virasse um diálogo longo, respondia com monossílabos ou apenas um movimento da cabeça.
Apesar de irritá-lo, ele não demonstrou e seguiu o jantar.
Ao acabar, assim que Peter pediu a conta e pagou,  Elly levantou-se e perguntou:
- Vamos, agora?
Ele estranhou sua pressa, percebeu que algo vibrava na sua bolsa, mas concordou.
- Vamos! – Ajeitou o blazer e seguiram pra saída.
Ela estava a poucos passos a frente. Do lado de fora, antes que ela alcançasse o carro ele pegou-a pela mão e puxou-a pra si. Ela bateu em seu peito e confusa perguntou:
- O que...? – Mas foi interrompida por um beijo.
Um beijo que apesar de forçado, foi intenso, forte e quente.
Ela tentou empurrá-lo, mas não era forte o suficiente. Ele estava agarrado a ela pela cintura travando seus braços que estavam sobre seu peitoral. Seus lábios se separaram e ele encarando aqueles olhos esbugalhados, sorriu e falou:
- Agora sim, podemos ir.
Soltou-a e caminhou até o carto abrindo a porta pra ela.
Ela entrou ainda sem entender a situação.
No caminho, evitava encará-lo, então fingia observar as ruas. Ele fingia não perceber e disfarçava sua curiosidade quando o celular dela vibrava na bolsa.
- Então... esqueci de mencionar que daqui a duas semanas será nosso jantar de noivado. Estou acertando os detalhes, portanto procure informar aos seus pais. Já pensou nos seus convidados?
- Não.
- É melhor pensar com cuidado...
- Só terei uma pessoa.
Ele olhou-a curioso pela resposta.
- Quem?
- Minha amiga Elisa.
Ele arqueou a sobrancelha e questionou com deboche:
- Não vai convidar seu “amigo"?
- Se está falando do Nathan, não, nao3irei convidá-lo. Satisfeito?
Ela encarou-o determinada. Ele sorriu satisfeito e assumiu:
- Sim, apesar de achar que ver a cara dele na festa seria mais prazeroso... – Riu e olhou pela janela.
Ela revirou os olhos fazendo uma careta e também voltou-se à janela. Dessa vez, ela não resistiu e olhou o celular quando vibrou. Disfarçou um sorriso que iniciou no canto da boca. Ele olhou pelo canto do olho e fingiu não perceber.

Ao chegar em frente ao prédio, ela apressou-se em sair do carro:
- Boa noite, Antony! Boa noite!
Ela mal olhou-o ao despedir-se, e quando ele também saía, observou por cima da porta aberta quando ela quase que correu apressada e entrou no prédio.
Ele hesitou e entrou no carro pensativo. Fez sinal para que o motorista seguisse.



Era estranho para Peter pensar daquela forma, mas ele sentia a necessidade de vigiar os passos de Elly, não queria permitir que ela fosse de outro, não enquanto tivessem um trato. Ele observava as fotos com atenção em seu notebook, pensativo. Planejava algo, mas parecia errado mesmo pra ele. Não importava o que faria, ele não deixaria que ela o enganasse e ficasse com Nathan nem mais um segundo. Ele pegou o telefone e ligou para Hector:
- Hector?
“- Tudo bem, Peter?”
- Sim, está! Queria te perguntar uma coisa...
“ – Diga!”
- Você acha que o nosso TI consegue instalar um aplicativo espião no celular de uma pessoa?
“- O quê? Por quê?”
- Eu quero saber com quem e o que a Ellene está falando. Tenho a leve impressão de que ela está tramando algo com um amante.
“- Amante? Peter... que história é essa cara?”
- Descobri que ela tem um caso com um cara...
“- Peter... ela está namorando, você quer dizer.”
- Ela não pode namorar se já está comprometida comigo.
Uma pausa e o amigo observou:
“- Cara, você tem certeza que está bem? Essa notícia é excelente! Se ela manter esse “caso”, ficará mais fácil seu divórcio!”
- Mas o meu pai está acompanhando e disse que ira usar isso pra provar que o casamento é falso. Ou seja, ela não pode manter esse “caso”... Não por agora!
“- Faz sentido! Vou fazer uma ligação, acionar uma pessoa de confiança, mas... como vai conseguir o telefone dela?”
- Isso será o mais fácil. Caso não conseguir o dela, eu o faço desaparecer e dou um de presente já com o aplicativo instalado.
“- OK! Irei acionar meu contato e assim que tiver o telefone, me mande uma mensagem que iremos providenciar.”
- Tudo bem! Obrigado meu caro amigo.
“- Ah, Peter! Só mais uma coisa...”
- Sim?
“- Não se envolva demais com essa mulher, tá bem?”
- O quê? Do que está falando?
“- Não, nada... só... Não quero que tenha problemas futuramente!”
- Dessa mulher, Hector, eu só quero o dinheiro que me deve e uma assinatura. Apenas!
“- Tudo bem! Até mais amigão!”
- Tchau! – Ele desligou o telefone e soltando a cabeça para trás começou a refletir.

Naquela manhã de sábado ensolarada, ele corria pelo condomínio pensativo.
Enquanto Elly trabalhava e trocava mensagens disfarçadamente com Nathan.
Elly: “Jasper, namorado da Lis vai apresentar com a banda num pub hoje à noite. Quer vir com a gente?”
Nathan: “ Só se não for te incomodar!”
Elly: “Estou te convidando não é?”
Nathan: “Tudo bem! Com esse carinho todo não tem como recusar.”
Elly: “Rsrsrsrs. Te mando o endereço no almoço.”
Nathan: “Ok! 😍”
Ela sorriu e guardou o celular no bolso.

As horas passaram rápido, no final da tarde, Peter recebeu um telefonema de Hector:
“- Peter?”
- Diga!
“- Consegui o cara pra instalar o espião no celular da garota. Mas em troca, quero um favor.”
- Sabia que não sairia barato. Vamos, diga!
“- Hoje terá um show de uma bandinha aí, em um pub... Quero que vá comigo.”
- Mas você nem conhece a banda, conhece?
“- Não. Mas o cara que tá saindo com Angeline, toca ou canta nela. Quero ver a cara desse infeliz e... ver ela.”
Peter riu e observou:
- Agora sei porque se preocupa de eu me envolver com a outra lá. Realmente não queria ter atitudes patéticas como essa!
“- Vai me ajudar ou ficar criticando?”
- Vamos, então. Só aviso uma coisa: se essa banda for ruim e o bar for daqueles nojentos, eu juro que eu mato você!
“- Tudo bem! Pra ver a Angeline mais uma vez eu arrisco minha vida sim!”
Peter balançou a cabeça inconformado e praguejou:
- Você é ridículo! Eu vou desligar, me passa o endereço por mensagem. Tchaaau!
Desligou antes que o amigo respondesse e retomou sua leitura.

As 20 horas exatamente, Peter e Hector chegaram no pub.
Uma pequena fila estava formada e ao serem atendidos. Hector falou com naturalidade:
- Queremos uma mesa, por favor!
O homem que recepcionava informou:
- Tem reserva, senhor?
Peter olhou para Hector, e assumiu:
- Meu caro, não temos reserva, mas... a mulher que esse cara ama, está lá dentro. Portanto, seja compreensivo e nos consiga uma mesa, por favor! – Depositou no bolso da camisa do homem uma cédula, disfarçadamente, e deu uns tapinhas em seu peito sorrindo.
O homem encarou-o, observou o Hector e pediu:
- Aguardem um momento que irei verificar com o gerente. – Entrou no pub e conversou com um outro homem que estava próximo ao balcão.
Eles não ouviram, mas observaram as fisionomias de surpresa e interesse.
- Senhor, temos dois homens lá fora que não possuem reserva e querem uma mesa.
- Diga pra aguardar, se houver desistência...
- Senhor, se trata daquele milionário que está nas capas de jornais e revistas, do grupo O&S.
- O quê? – Ele olhou para Peter com atenção e falou com o empregado direcionando para entrada – Deixe que eu o atendo.
Ao recebê-los já fez sinal para que entrassem e começou a bajular:
- Meus caros, me acompanhem. Me desculpe o despreparo de meu funcionário. Temos uma mesa que muito irá agradá-los. Venham!
Chegaram a uma mesa, disposta a uma certa altura que dava pra acompanhar todo o movimento do bar e ter visão privilegiada do palco.
- Aqui. Nossa mesa VIP. Ela é reservada a presenças ilustres como a de vocês! Terão atendimento exclusivo e uma visão privilegiada. Ah, o cardápio também é diferenciado com as nossas melhores bebidas importadas. Fiquem a vontade!
O homem sorriu e saiu, deixando-os confusos, porém satisfeitos.
- É meu caro, agora estou vendo a vantagem em ser a cara nos jornais e revistas de fofocas. – Brincou Hector.
Peter ajeitou-se na cadeira e observou o local com atenção.
Apertou os olhos e informou ao amigo:
- Se você queria ver a Angeline, agora é seu momento. – Pegou o cardápio e começou a folheá-lo.
Hector olhou na direção da entrada e lá estava sua paixão, acompanhada de mais duas garotas.
Logo atrás, percebeu que outra pessoa conhecida entrava com uma outra garota, mas demorou para reconhecê-la.
- Acho que não sou o único que estará observando alguém aqui hoje.
Ele baixou o cardápio sorrindo com deboche e ao identificar a Elly, apertou os olhos como se não a reconhecesse e balançando a cabeça falou:
- Eu não acredito nisso.
Ele disfarçou seu interesse, mas ficou acompanhando de longe.
Os dois observavam suas garotas, rindo e conversando sem percebê-los. Mas algo os intrigou quando outros dois homens aproximaram delas.
Um era um músico que beijou a Angeline causando revolta no Hector, ele virou o copo de whisky num gole e bufou:
- Não vou ficar aqui vendo isso.
O outro homem aproximou de Elly, que demonstrando alegria, levantou-se e abraçou-o com vontade. Os dois se olhavam e sorriam como apaixonados adolescentes que tentavam esconder o relacionamento. Peter pegou seu copo e levando-o à boca observou:
- Agora não sairemos daqui tão cedo. – Bebeu seu whisky com vontade sem tirar ao olhos da cena de Elly rindo e conversando com Nathan.
Peter odiava a sensação de se sentir rejeitado, nunca foi rejeitado por mulher alguma, sempre as tinha a seu dispor, seja pelo seu dinheiro ou pela sua beleza, elas sempre o procurava, sempre se jogavam pra cima dele, e agora, aquela garota que não era nenhum exemplo de beleza, não tinha nada a oferecer estava o trocando por um cozinheiro. Aquilo era o cúmulo pra ele.
Nathan sussurrou alguma coisa no ouvido dela, que sorriu demonstrando certo acanhamento, mas respondeu-o também com um sussurro no ouvido, aquilo causou cólicas no Peter que fingindo não perceber comentou com o amigo:
- Acho que é uma boa hora de ser visto em público com minha querida noiva. - Levantou-se e ajeitando o paletó – Se incomodaria se a trouxesse para nossa mesa?
Hector observou a mesa de Elly e comentou:
- A amiga dela é comprometida?
- Eu não sei, mas mesmo que fosse, com certeza, você teria grandes chances!
- Melhor não tentar... Pode trazer sua noiva, não ficarei muito tempo mesmo.
Ele sorriu e desceu os poucos degraus e foi até a mesa de Elly. Ela acabava de sussurrar algo no ouvido de Nathan e o encarava sorrindo feito criança travessa. Peter parou ao lado dele e observou-a sorrindo. Ao percebê-lo, o sorriso de Elly desapareceu instantaneamente. Seus olhos congelaram no rosto dele com sorriso cínico. Ela estava muda e imóvel. Nathan estranhou a fisionomia de choque dela e voltando-se pra ele perguntou:
- Boa noite! Precisa de ajuda amigo?
- Não sei, eu preciso Ellene? – Ele usou de ironia para direcionar a questão à ela.
- Você o conhece Elly? – Nathan encarou a Elly.
Elly estava imóvel e Lis tentou ajudá-la, chamou Nathan:
- Nathan, que tal a gente ir buscar nossa bebida?
- Espera, vamos deixar a Elly sozinha com esse cara? – Nathan sentia que não era confiável, nem seguro a presença de Peter.
- Esse “cara”, meu caro, é o futuro noivo de sua “amiga Elly”! – Peter fez questão de enfatizar a informação.
Elly baixou a cabeça e Nathan decepcionado, buscou explicação:
- Noivo? Como assim... Esse cara... – Olhou pra Elly cabisbaixa e perguntou: - É verdade, Elly?
Elly encheu os olhos de lágrimas, ergueu a cabeça com olhar de culpa e assentiu devagar. Lis interviu:
- Nathan, vamos deixá-los a sós! Venha. – Puxou o rapaz pelo braço, este por sua vez, se deixou levar pela Lis sem ter reação. Estava decepcionado e triste.
Peter sorriu satisfeito e sentando-se ao lado dela, na mesma cadeira que Nathan ocupava e ironizou:
- Então é isso que faz com seus “amigos"? O que costuma sussurrar no ouvido dele para deixá-lo tão empolgado? Porque se depender de seu físico e estilo, com certeza não manifestaria nem um sorriso patético. – Ele olhou-a de lado.
Ela permanecia quieta e de cabeça baixa. Ele cruzou a perna sobre a outra e cruzando seus braços encarou o palco e disse:
- “Elly”... – Usou de sarcasmo para mencionar o apelido e voltou seu tom de ameaça- Elly, Elly, Elly! Não sei o que faço com você.
Ela olhou-o com medo e perguntou:
- O que veio fazer aqui? Pensei que só frequentasse bares da alta classe...
- Realmente! Mas graças a Hector, vim para esse projeto de pub e quem diria, era o lugar certo, na hora certa! – Ele encarou-a e questionou – O que estava sussurrando no ouvido daquele homem?
Ela desviou o olhar e respondeu baixo:
- Nada de importante!
Ele apertou os olhos e fez sinal de que não ouvira:
- Espere, eu não ouvi direito. Repita!
- Não era nada de importante! – Ela ergueu o olhar aumentando o tom da voz.
Ele riu e voltando o rosto para o palco ameaçou:
- Quer que eu pergunte diretamente a ele?
Olhou-a pelo canto dos olhos e ela encarando-o:
- Se quiser... – Ela arriscou.
Ele já esperava que ela o desafiasse, então falou olhando-a nos olhos:
- Então agora é corajosa? Pois bem, assim que ele retornar, falaremos sobre o assunto.
Ela não imaginava que ele teria coragem de se rebaixar a ponto de tirar satisfação com uma pessoa por causa daquela situação. Ele permaneceu olhando-a nos olhos e com cinismo brincou:
- Vamos ver quem sai ganhando nessa brincadeira de gato e rato.
Ela não entendeu o comentário e pediu:
- Por favor, deixe-o em paz. Não falei nada sobre seu contrato idiota e o fato de eu ser obrigada a me casar com um completo estranho. Somos apenas amigos e nada mais.
- Você é até meiga pedindo assim! Posso pensar no seu caso, mas teria que ter algo em troca. O que tem pra me oferecer?
Ela não entendia como tudo pra ele era oportunidade de tirar vantagem dos outros.
- Por que você é assim? Eu não entendo o que quer de mim, já aceitei esse maldito contrato, fui em todos os jantares idiotas nos restaurantes chiques, fui até na sua casa, já tem o que queria. Por que quer estragar a única coisa que ainda me faz bem?
Ele apertou os olhos impressionado com a informação e sentindo um certo prazer disse:
- Que bom que te “fez" bem, porque não fará mais. Você vai se afastar desse cara por bem ou por mal. Não vou deixar que uma “paixonite” idiota estrague meus planos. Se quiser que ele te faça bem algum dia, aguarde até o divórcio, caso contrário receio que possa não existir, uma possível chance disso dar certo, não enquanto eu puder evitar.
Ela estava surpresa com a tranquilidade com que ele a ameaçava e ainda com um sorriso no rosto. Engoliu forte e cedeu:
- Não precisa me ameaçar. Eu já entendi.
- Então, você vai se levantar dessa mesa, me acompanhar e passar o resto da noite sorrindo, como estava sorrindo pra ele, pra que tudo corra bem. Estamos combinados?
- Tá bem. Eu finjo. Mas não vai fazer nenhum mal a ele. – Ela impôs.
- Que lindinho! Isso é amor ou ainda são os hormônios? – Ele ironizou.
Ela respirou fundo e levantou-se:
- Sobre isso, não te interessa. – Ela era firme quando conseguia, tentava manter o controle emocional e encará-lo para que ele não se sentisse no poder. Mas ele estava e eles sabiam bem disso.
Ele sorriu e levantou-se. Caminhou de volta à sua mesa VIP acompanhado dela e a apresentou ao Hector:
- Hector, esta é a Ellene Wright, minha futura esposa!
- Prazer, Ellene! Sou Hector, amigo de infância do Peter. – Hector era mais gentil e educado. Cumprimentou-a com um sorriso e um aperto leve de mão.
Ela forçou um sorriso e falou baixo:
- O prazer é meu.
- Hector na verdade é como irmão pra mim, fomos criados juntos praticamente. – Ele puxou uma cadeira para que ela se sentasse, ela sentou-se e apenas soltou um sorriso demonstrando pouco interesse.
A noite parecia estar muito ruim, mas poderia piorar. Hector resolveu ir embora. Estavam agora sozinhos na mesa. Ela disfarçava e olhava para a mesa em que estavam Nathan e Lis, ele parecia incomodado, mas continuou fazendo companhia a Lis, o que mais comoveu Elly.
Peter percebia que ela estava desconfortável, mas não se incomodou, pelo contrário, o que ele podia fazer para piorar, ele tinha prazer em fazer. Pegou sua mão, e como se fosse um encontro romântico, beijou-a e começou a falar por entre os dentes, com um sorriso falso:
- Acho melhor você prestar menos atenção nos outros e fingir que está feliz comigo.
Ela encarou-o com repulsa. Ele fez-lhe um carinho no rosto e se aproximando avisou:
- Se você se mover ou desviar desse beijo, vai se arrepender.
Passou a mão por trás de sua cabeça, mergulhando em teus cabelos e puxou-a pra si beijando-a. Beijou-a com intensidade. Apesar de ter sido um beijo forçado, ela correspondeu. Não tinha nenhum sentimento, mas ainda assim causou certa inquietação. Ao soltá-la, ele encarou seus olhos tristes e olhando seus lábios, retomou o beijo. Dessa vez parecia mais gentil, mais doce, talvez mais delicado.
Aquilo bastou para Nathan, que foi embora desculpando-se com Lis. Ela por sua vez, observou o beijo e tentou não pensar demais no que poderia estar acontecendo ou prestes a acontecer.
Quando se soltaram, os dois se viram desconcertados. Peter soube disfarçar melhor e logo se recompôs, tornando ao seu jeito frio e indiferente:
- Vamos! Vou te levar pra casa. - Levantando-se esticou a mão pra que ela o acompanhasse. Ela hesitou, mas ele com sua brutalidade, pegou sua mão e com um leve puxão fez-a levantar-se e saíram.
Elly entrou no carro e permaneceu calada, olhando pela janela. Ele dirigia como se estivesse sozinho. O caminho todo o silêncio reinou. Ao chegar na porta do prédio em que Elly morava:
- Boa noite! – Ela falou antes de abrir a porta. Quando ela se movia para sair , ele pegou em seu pulso. Ela não se moveu, permaneceu de costas.
- Espere! – Ele buscou palavras – Eu... Eu queria te dizer uma coisa...
Ela voltou-se e encarou-o. Ele baixou o olhar e tentou parecer sincero:
- Eu... Não queria que as coisas fossem assim.
Ela apertou os olhos e com sarcasmo:
- Você tem certeza? Tá brincando comigo?
Ele percebeu que ela não acreditaria no que ele falasse, então buscou explicar:
- Eu... queria que não...
- Por favor! Eu preciso ir embora, não quero ouvir.
Ela estava o rejeitando, mais uma vez o orgulho dele foi ferido, então retomou seu ar autoritário:
- Você é mesmo uma... tola! Não sei porquê ainda perco meu tempo com você.
- Então me liberte! – Ela falou como se estivesse em um cativeiro e aquilo o incomodou tanto que as palavras lhe fugiram, ele engoliu forte e lembrou-a:
- Então pague sua dívida!
Ela balançou a cabeça e forçando um sorriso irônico alfinetou:
- Você é tão mesquinho! Não é a toa que tem que forçar alguém a se casar com você... No fim das contas morrerá sozinho, ah não... com a sua fortuna, é claro! – Saiu do carro e bateu forte a porta. Caminhou pra casa sem olhar pra trás.
Ele baixou os olhos pensando no que ela disse e ao levantá-los ainda pode vê-la entrar no prédio.
Engoliu forte, magoado com as palavras dela. Nunca se sentira incomodado por ouvir a opinião dos outros, especialmente quando o assunto era sua fortuna e seu futuro. Sabia que nunca esteve em seus planos se casar, ter alguém, e não se importava com isso, imaginava que não precisaria disso, tudo que queria, ele tinha e isso bastava.

Em casa, ele deitou-se e tudo repassou na sua cabeça. Mal dormiu, logo cedinho saiu para correr. Correu um pouco mais que normalmente correria. Chegou em casa e foi direto para a academia que ficava aos fundos, próximo à área da piscina. Malhou por mais de uma hora.
Tentou esgotar toda sua energia e ocupar sua mente, mas sempre voltava à sua mente o olhar e as palavras de Elly.
Após um demorado banho, se trancou na biblioteca e mergulhou na leitura.

Pouco depois, com seus olhos cansados, fez uma pausa para verificar seu celular. Ao abri-lo, recebeu uma mensagem e abriu o aplicativo com certa pressa, não queria assumir, mas naquele momento esperou que fosse da Elly. Não era. Era do Hector:
“ Como foi com a garota?”
“ Bem!”
Ele mentiu.
Hector: “Quando irá instalar o espião no celular dela? Depois de ontem até eu fiquei curioso pra saber o que ela tem com aquele cara. Kkkk"
Peter engoliu seco e respondeu como se não importasse.
Peter: “Não estou interessado na vida amorosa ou sexual dela, apenas em manter a discrição quanto a nosso acordo, aliás, tenho muito a perder.”
Hector: “Eu te entendo. Mas confessa que ela não é tão feia assim... eu entenderia se você se interessasse por ela, nem que fosse só pra uma noite.”
Peter: “Parece o Andy falando.”
Hector: “ Então, como faremos com o celular?”
Peter pensou um pouco antes de responder:
“ Vou dar um susto nela! Acho que matarei dois coelhos com uma paulada só.”
Hector se preocupou:
“ O que vai fazer?”
Peter: “ Nada de mais, fique tranquilo que não irei machucá-la... ainda!”
Hector: “ Olha lá hein!”
Peter fechou o aplicativo e fez uma ligação:
- Rick?
“- Sr. Peter!”
- Preciso de um favor...
Deu as orientações ao homem e desligando o celular encarou o nada pensativo.

Elly e Lis almoçavam em silêncio. Lis perguntou sem ser invasiva:
- Então... ontem não vi quando saiu. Você... chegou bem?
Elly só assentiu com a cabeça. Poucos segundos depois a amiga insistiu:
- Elly... Aconteceu alguma coisa que queira me contar?
Elly parou de comer sem encarar a amiga.
- Não. – Evitou comentar, mas estava na verdade evitando lembrar e que a raiva que sentira retornasse.
- Elly... – A amiga pegou em sua mão – Sabe que pode se abrir comigo.
- Lis... Eu agradeço sua preocupação, mas eu realmente não quero falar sobre isso.
Elly encarou a amiga com firmeza. Lis sorriu e cedeu:
- OK! Então... Convidei Nathan pra vir aqui, no início da noite, pra que possam conversar.
- Você fez o quê? – Elly preocupou-se.
Mas Lis tinha planejado:
- Eu pensei em tudo, pode ficar tranquila. Ele vai entrar pela escada de emergência dos fundos.
Elly sentiu uma ponta de felicidade, mas não sabia como explicar a Nathan a situação.
- Ele não vai querer me ouvir.
- Acho que sim. Ele gosta muito de você e agora sabe que gosta dele.
Lis sorriu terna e a amiga sem saber o que dizer agradeceu:
- Obrigada, Lis. Nem sei o que te dizer.
- Não diga a mim. Ainda que não conte nada a ele, viva esse romance. Seja feliz! Esse cara pode te ameaçar, mas se ele não souber, não poderá te impedir de ser feliz. Aliás, ele não merece fidelidade. – Riram.
Elly animou-se e se preparou para o encontro as escondidas.
E quando Nathan chegou, um pouco constrangido tentou quebrar o gelo:
- Eu... Nunca “pulei a cerca" literalmente! – Eles estavam sozinhos no quarto e ela também desconcertada, sorriu sem palavras.
Ela tentava achar uma forma de concertar o que fez, mas não sabia o que dizer.
Ele então tomou a iniciativa:
- Bem... eu não sei qual a sua relação com aquele cara, mas dá pra perceber que não está apaixonada. Se não quiser terminar com ele, eu entendo e... estarei do seu lado no que decidir.
Ela encarou-o e tentou:
- Eu... realmente não o amo e... gostaria de não me casar com ele, mas... eu preciso. Não posso explicar agora, mas preciso que confie em mim. É temporário.
- Por que não pode me contar? Ele te ameaça?
- Nathan... por favor... Não force.
- Tudo bem! – Ele sorriu e apoiou – O que for melhor pra você! Mas e quanto a nós? Lis me falou que... Você sente algo por mim e...
- Eu também gosto de você! – Ela assumiu e aproximando seu rosto do dele, testa com testa, fechou os olhos e pediu – Não desista de mim! Fique ao meu lado.
Ele, que também tinha seus olhos fechados, abriu-os e encontrando os dela sorriu e disse:
- Eu nunca desistiria de você! Estarei sempre aqui.
Os dois se beijaram, apaixonados. Passaram a tarde juntos, entre beijos, abraços, promessas e juras de amor. Aquela foi, se não a melhor, uma das melhores noites que passara ao lado dele, apenas conversando e trocando carícias, sem outras intenções, sem maldade, apenas com amor.

Eles não queriam se separar, mas era preciso. Nathan despediu-se dela com um beijo demorado e saiu pela janela que dava para as escadas. Ela ficou observando-o se afastar com um sorriso bobo.

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