CAPÍTULO 7

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Chegaram tarde da noite. A tia os aguardava na porta, com seu xale em detalhes de crochê e um largo sorriso. Estava frio e Elly se encolheu ao sair do carro. A senhora, simpática veio ao seu encontro e cobrindo-a com outro xale reserva que trazia brincou:
- Peter... Não avisou que estaria frio pra que ela pudesse se agasalhar melhor?
Ela olhou-o pelo canto do olho, pensando que aquele era o motivo de estar com uma jaqueta no colo, no carro. Ele se vestira assim que saiu do carro e aqueceu as mãos brincando:
- Ela é uma mulher quente tia, não se esfria com facilidade.
Caminhou na frente entrando na casa.
Era uma casa grande, cercada de um enorme e belo jardim. Parecia ficar no meio do nada. Em uma estrada repleta de árvores à volta.
Na enorme sala, havia uma lareira acesa que aquecia o ambiente, um enorme estofado, um modelo de sofá colonial em cor bege claro. Havia uma mesa de centro com um pequeno arranjo e sob estes um enorme tapete delicado e rústico.
Elly ficou admirada com a arquitetura e detalhes da casa. Antony trouxe logo atrás a mala do Peter e a pequena mochila que Elly trouxera.
- Deixe aí mesmo, por favor! - Pediu a senhora indicando o canto da sala.
Logo veio um outro empregado e pegou-as, subindo as escadas depressa. Antony aguardou as ordens de Peter:
- Pode ir, Antony. Aproveite a sua folga e esteja aqui no horário combinado na segunda-feira.
- Tudo bem, sr. Peter. Até mais! Senhoras? – Fez uma reverência e saiu.
Elly sorriu e despediu-se com um aceno. A senhora convidou-a.
- Venha querida, sente-se comigo. - Sentou-se no sofá e indicou-lhe um lugar a seu lado. Peter observava a cena, em sua clássica posição, pernas entre abertas, ereto, cabeça erguida e mãos nos bolsos.
Elly sentou-se evitando encará-lo. A senhora tocou seu rosto frio e comentou:
- Como está fria... – Tocou suas mãos e prosseguiu – Pedirei que lhe preparem um chá!
Acenou e uma empregada veio:
- Elsa, prepare um chá verde com gengibre, mel e limão, por favor!
A empregada acatou sua ordem e seguiu para a cozinha. A tia Natalie segurava-lhe a mão cobrindo-a com a outra e sorria olhando-a nos olhos.
- Como foi sua viagem?
Havia algo naquele olhar simpático que causava um desconforto em Elly, parecia que estava sendo analisada através do olhar, e estava.
Peter percebeu seu desconforto e sugeriu:
- Acho melhor ela se recolher, deve estar cansada! – Não saiu de sua posição.
A tia interveio:
- Claro. Após tomar seu chá pra aquecer. Se quiser, tome um banho quente de banheira, temos hidromassagem na suíte que preparei pra vocês.
Aquela frase a incomodou ainda mais. Ele riu e falou se retirando:
- Eu vou me retirar... Se quiser me acompanhar Elly... – Caminhou para as escadas sem olhar pra trás.
- Já conhece o caminho,  querido, fique à vontade que eu levo sua noiva até você.
Ele soltou um riso irônico e seguiu caminho. Elly estava cabisbaixa, demonstrava um cansaço físico e emocional perceptível, a tia percebia mais além:
- Está difícil não é mesmo?
Ela ergueu o olhar assustada com a expressão e encarou a mulher que sorria com cumplicidade:
- Eu sei... Você não pode falar o que se passa nessa cabecinha e coração.
- Como sabe disso? – Perguntou temendo que a resposta fosse que aquela senhora também estaria contra ela.
- Eu apenas sinto! Através do olhar consigo perceber muita coisa. Peter nunca lhe contou?
Ela balançou a cabeça curiosa e a senhora prosseguiu:
- Eu e a mãe dele, minha adorada irmã, temos um dom em comum: conseguimos enxergar através dos olhos das pessoas, o que elas sentem, temem e as vezes, até mesmo almejam.
Elly desviou o olhar, baixando a cabeça novamente. Mas ela tocou seu queixo erguendo-a e fazendo-a encarar seus olhos:
- Você se sente atormentada por algo, um segredo que envolve Peter. Isso te assusta, mas algo em seu peito a incomoda ainda mais. Um amor... Mas não é por Peter! Acertei?
Elly assustou-se e engoliu forte afastando-se:
- Eu...
- Não se preocupe... Eu não digo nada se não disser.
Elly forçou um sorriso e a empregada as interrompeu com o chá. Assim que serviu e se retirou, a senhora entregou-lhe uma xícara e pegando a outra comentou:
- Você parece uma boa moça. Minha irmã adoraria ter-lhe conhecido.
Elly tomou um gole e comentou:
- Ele não gosta de falar sobre ela. Por quê?
- É uma história longa...
- Ela teve câncer, não foi?
A senhora evitava falar, mas percebeu nos olhos de Elly que realmente se interessara e começou:
- Então... Peter era muito pequeno quando descobriram. Ela reagiu bem ao tratamento a princípio, foi muito forte e superou as expectativas dos médicos . Ela sempre cuidou da saúde, apesar de estar sempre trabalhando e cuidando de Peter. Ele a amava tanto quanto ela o amava. Eram a dupla perfeita! – Pausa – Até que ela se entregou. Alguns eventos contribuíram para isso.
- O pai dele?
- Eles não possuem um bom relacionamento, mas é herança da família paterna. Parece que pais e filhos são como rivais em uma disputa de poder. Minha irmã era uma mulher de poder, sempre à frente dos negócios que construiu com muito esforço. Claro que o pai de Peter ajudou, mas sua contribuição foi bem inferior à dela. – Ela riu – Minha adorada irmã, era dona da maior parte do grupo que Peter lidera hoje. O pai dele, após o câncer, começou a afastar-se dos dois. Era como se ela já não estivesse mais na vida dele. Saía com outras mulheres, não estava presente em nenhum momento especial da família... – Nova pausa – E daí só aumentou o rancor de Peter por ele. Peter acompanhou a luta da mãe durante sua adolescência, enquanto deveria estar curtindo com os amigos, a acompanhava a sessões de quimioterapia, radioterapia e até terapias psicológicas. Quando jovem, a mãe já estava debilitada e o nomeou presidente para assumir seu lugar. Fez o pedido que arruinou o psicológico dele após sua morte. – Uma longa pausa para um gole de chá - Ela o pediu que não deixasse que o pai destruísse tudo. Pediu-o que garantisse que ele não acabaria com o negócio da família na vida fútil que tinha. Então, Peter mergulhou no trabalho e numa batalha sem fim contra o pai. Conseguiu comprar a maioria de suas ações, deixando-o com uma pequena parcela de participação a pedido da própria mãe, para que ele sobrevivesse com conforto. Peter acatou. E no dia da morte de minha irmã, eles estavam em uma dessas batalhas. Era um dia triste, eu pressentia o pior, mas algo me impediu de avisá-lo. Liguei diversas vezes e a secretária informava que estavam em reunião. Fui até a casa dela, encontrei-a muito debilitada, então a levei ao hospital. Seu último pedido é que chamasse o Peter para estar com ela naquele momento sombrio. Queria partir de mãos dadas com o filho. Mas Peter não veio. – Ela olhou-a com lágrimas nos olhos e retomou – Liguei para o pai de Peter, pedi que o avisasse do estado da mãe. Prefiro acreditar que ele tenha tentado, mas... Peter não chegou a tempo. Quando ele retornou minhas ligações já era tarde. – A tia Natalie forçou um sorriso e depositou a xícara na mesa, pegando em sua mão pediu à Elly – Cuide bem dele. Ele sofreu muito depois disso. Ele precisa superar essa dor, que ainda o acompanha. Aprender a perdoar o pai para seguir em frente.
- Eu... Nem sei o que dizer! – Elly colocou a xicara na mesa e retribuindo ao toque de suas mãos falou – Eu não sei se sou a pessoa certa pra isso.
A mulher sorriu e tocou seu rosto, com um aceno de cabeça, afirmou:
- Você é!
Peter surgiu nas escadas e interrompeu o momento:
- Está lendo a alma de minha noiva, titia? – Brincou.
Ela disfarçou com um sorriso e retrucou:
- Eu não preciso, ela parece um livro aberto.
Largou Elly e falou levantando-se:
- Espero que ela lhe dê o que merece! – Caminhou até o sobrinho e tocando seu rosto comentou – Sei que sim, mas espero que as turbulências que virão não os abale.
Subiu as escadas se despedindo de Elly, que permanecia senta pensativa:
- Boa noite, querida! Lembre-se de nosso segredo.
Ele caminhou até ela e a observou sentada, cabisbaixa e pensativa.
- Ela lhe assustou com as visões?
Elly ergueu o olhar e falou levantando-se:
- Não. – Encarou-o por alguns segundos, então se retirou.
Ele a seguiu. Ela subiu as escadas, caminhou depressa e entrou na primeira porta aberta que percebeu. Ele acompanhou-a  fechando a porta.
- O que falaram?
- Eu não contei nada, se é isso que te preocupa! – Ela desabafou.
Ele balançou a cabeça em aprovação e retornou ao assunto da carta:
- E então... Vai me falar o conteúdo da carta?
Ela encarou-o e respondeu sem medo:
- Não!
Ele surpreendeu-se com a ousadia e ameaçou:
- Elly, Elly... – Ele ironizou – Você tá brincando com fogo.
- Eu não tenho medo de você. – Ela o encarava.
- Mas deveria... – Ele soltou um riso cínico.
- Por quê? Pode me matar? Me machucar como está acostumado a fazer com quem entra no seu caminho? Me torturar até a morte enquanto observa?
Ele riu e desviou o olhar balançando a cabeça.
- Você está acostumado a fazer as pessoas sofrerem porque tem remorso...
- O quê? - Virou-se pra ela surpreso.
- Isso mesmo. Tem remorso por ter deixado a sua mãe morrer sozinha e tudo por causa de dinheiro... E agora desconta nas pessoas, machucando-as, fazendo-as sofrer...Você é um mesquinho e não tardará e terá o mesmo destino que ela... Morrer sozinho!
Ele não aguentou ouvir aquilo, sentiu subir uma revolta à cabeça e avançou na direção dela com agressividade. Pegou-a pelo pescoço e pressionou contra a parede, apertando-o enquanto dizia com ódio:
- Dobre essa sua língua imunda antes de falar da minha mãe. Você não sabe nada sobre ela, muito menos de mim. – Ele apertava e ela tentava se livrar, batendo em sua mão quase sem força – Você não me provoque...
Recobrou sua consciência e largou-a, afastando-se. Ele passou a mão pelos cabelos e recompondo-se voltou a ela. Ela caiu ao chão, tentando recuperar o fôlego. Pegava em seu pescoço dolorido, encolhendo-se no canto. Chorava assustada. Ele esticou a mão e pediu:
- Eu... sinto muito, eu não queria...
Ela se encolheu mais assustada e desviou o rosto com medo que ele a atingisse. Ele observando seu estado de terror, fechou a mão devagar, engolindo forte e saiu com pressa.
Ele perdera o controle, pois não suportava falar ou se recordar das circunstâncias em que perdera sua mãe.
Ela pensou em ligar pra Lis, mas assustaria ela e não queria deixá-la preocupada. Ficou ali encolhida pensando. Falava para si, balançando enquanto abraçava seus joelhos:
- Vai ficar tudo bem... Você vai ficar bem... – Ela tapou os ouvidos com força e fechando os olhos repetia mais e mais vezes baixinho tentando esquecer aquele episódio.

Ela estava deitada quando ele retornou. Arrastou uma poltrona, colocando-a ao lado da cama em que ela estava deitada. Sentou-se e apoiando os cotovelos nos joelhos, arqueou-se aproximando dela, cruzou as mãos e buscou palavras, sem encarar seus olhos, ainda assustados:
- Então... Eu queria me desculpar por... Por aquilo! – Fez uma pausa. Ela não o olhava, voltou seus olhos para o chão evitando encará-lo – Eu... Não sou nem um exemplo de pessoa paciente... Na verdade não é algo que eu tenha praticado, então.. Sinto muito!
Ele observou-a, ali parada, encarando o chão, percebeu que apenas palavras não bastariam. Mas prosseguiu:
- Acho que preciso praticar mais! E você pode me ajudar... Estou te pedindo pra que seja mais...
- Obediente? – Ela citou sem desviar o olhar.
Ele encarou-a e desviando o olhar para o chão também concordou:
- É. – Fez uma pausa e prosseguiu – Só tente não me tirar do sério. Quando eu te disser algo, não me provoque... Não faça besteiras...
- Seja submissa. – Ela falava sem nenhuma reação conjunta, apenas citava sem demonstrar qualquer sentimento contrário.
- Bem... Não necessariamente... Eu só quero que... Passemos por isso de uma forma pacífica, mas pra isso preciso que colabore. – Ele reparou se ela se manifestaria, mas a única reação dela foi assentir com a cabeça.
Ele respirou fundo e fez menção de se levantar. Mas concluiu olhando-a:
- Vou tentar... Não te machucar! Ok?
Ela olhou-o pelo canto dos olhos por alguns segundos, mas não esboçou nenhuma reação, apenas voltou a encarar o chão.
Ele percebeu que só teria aquela resposta, então levantou-se e deitou do outra lado sem falar mais nada.

No dia seguinte, o dia estava lindo. Outros familiares chegaram e uma bela reunião se formou.
Após o almoço, mais conversa, jogos de baralho, xadrez e outras atividades em pequenos grupos.
Quase no final da tarde, alguns repousavam em redes dispostas em uma grande área verde, com arvoredos e grama fresca.
Enquanto Elly fingia acompanhar uma conversa entre moças de sua idade, algumas primas e namoradas de primos dele, ele conversava com um outro homem e era cercado por duas crianças que brincavam com ele e riam divertidamente. Ela observou como ele tinha jeito com eles e se perguntava como ele podia ser tão diferente, ao mesmo tempo em que representava tudo se pior, demonstrava ser um homem divertido e carinhoso. Ela tentava esquecer o ocorrido da noite anterior, quando reparou em um trecho da conversa que se seguia entre as moças:
- Eu acabo cedendo sempre porque o Arthur é impossível. – Uma relatou – A única forma de manter ele sob controle.
- Eu acho que não se deve ser submissa sempre, claro que não devemos bater de frente a todo momento, mas ser submissa também não deve ser sua única alternativa o tempo todo.
- O único momento que sou submissa é no sexo. – Riram. – E você Elly, o que acha?
- Eu? – Ela perguntou sem graça e tentou expressar sua opinião - Bem eu...
Uma criança a interrompeu puxando sua roupa, sugerindo trazer um recado. Ela arqueou-se para atendê-la e ela sussurrou algo, apontando para Peter. De longe ele sorriu e acenou com a cabeça, indicando-a segui-lo. Ela ficou sem graça e concluiu:
- Com licença! - Levantou-se e acompanhou a criança. Acompanhou-o até  os jardins dos fundos.

Caminharam alguns passos em silêncio. Ela observou o lugar:
- É muito lindo! O lugar...
Ele sorriu colocando as mãos nos bolsos e convidou:
- Quero lhe mostrar um lugar. – Ela hesitou, mas ele garantiu – Fica tranquila, não farei nada com você.
Ele caminhou na frente e ela ainda hesitante, demorou para acompanhá-lo.
Caminharam por alguns minutos e ela reclamou:
- Já estamos muito longe, não acha?
- Estamos quase chegando. – Ele informou, enfiando-se numa mata. Ela parou e observou o ligar com receio do que a esperava. Ele retornou e perguntou – O que está esperando?
Ela respirou fundo e acompanhou-o.
Caminharam mais um pouco e chegaram. Era o topo de uma pequena montanha. A paisagem era espetacular. O pôr do sol mais lindo que ela já vira. Ela aproximou da beira do penhasco, assustou-se com a altura, mas equilibrou-se de forma segura para observar a vista. O céu estava numa mistura de azul e laranja, com o sol sumindo entre as montanhas ao longe. O vento fresco soprava-lhe o rosto, jogando seus cabelos para trás. Enquanto ela admirava sem palavras, ele a observava quieto. Aproximou devagar e colocando-se ao lado dela contou:
- Ela sempre me trazia aqui quando criança. – Engoliu forte ao relembrar, fixando os olhos no sol que se recolhia.
Elly observou que havia algo naquele olhar, encarando o pôr do sol com pesar. Desviou o olhar e falou:
- É um lindo lugar!
Evitou o assunto da lembrança para não incomodá-lo, ele assentiu com a cabeça e falou olhando-a:
- Você é a primeira garota que trago aqui. Digo... Neste lugar, em específico.
Ela encarou-o confusa. Ele aproximou-se devagar, tocou seu rosto e perguntou:
- O que você está fazendo comigo?
Ela não entendia. Mas não pode dizer nada. Ele deslizou a mão por detrás de sua cabeça, mergulhando-a em seus cabelos e trouxe-a para si, beijando-a intensamente. Ela correspondeu involuntariamente. Ao soltá-la, encarou seus olhos castanhos e suspirou dizendo:
- Eu...
Ela o interrompeu:
- É melhor retornarmos... Vai escurecer e...
Ele ficou sem jeito e concordou, largando-a:
- Você tem razão. – Encarou a vista novamente e avisou – Vamos passar em outro lugar antes de voltar.
Ele olhou-a e forçou um sorriso, retomando o caminho de volta. Ela o acompanhou confusa.
Andaram por poucos minutos na mata, adentrando cada vez na mata fechada. Logo, avistaram uma cabana. Por fora, parecia abandonada, ela parou e pensou, seria ali seu cativeiro? Seria seu último destino? Ele pegou sua mão e garantiu com um sorriso sarcástico:
- Não é nada disso que está pensando. - Conduziu-a.
Ele destrancou a porta e abriu, mostrando-lhe o caminho. Ela entrou com medo.
Por dentro estava conservada e trazia um ar de aconchego. Ele acendeu as luzes e comentou fechando a porta:
- Esse foi meu refúgio por muitos anos. – Direcionou até a lareira e começou acendê-la contando – Eu e minha mãe tínhamos o hábito de passar alguns feriados aqui quando eu era criança. Depois que ela... morreu... Eu percebi que não vinha aqui a muitos anos, então... Resolvi retomar a prática.
Limpou as mãos e observou o fogo consumir a madeira. Ela aproximou do fogo e perguntou com receio da resposta:
- E seu pai?
Ele hesitou, mas engoliu forte e encarou-a:
- Ele nunca demonstrou interesse por nós dois. Acho que a única coisa que o interessava era o dinheiro.
Ela baixou o olhar, antes que seu pensamento se tornassem palavras e saíssem de sua boca.
Mas não precisou palavras, ele entendeu. Soltou um riso e comentou:
- Está pensando que sou como ele. – Ele desviou-se para o sofá – Não a culpo.
Sentou-se e pediu:
- Pode me servir um copo de whisky?
Ela procurou na pequena sala e obedeceu. Entregando-o o copo perguntou:
- Por que precisa tanto dessa herança? Já não é rico o suficiente?
Ele bebeu sem olhar pra ela, encarava o chão quando respondeu:
- Você não entenderia.
- Tente!
Ele olhou em seus olhos, depois voltou-se ao copo e observou:
- Eu não sei... É como se fosse uma questão de honra tirar tudo dele, como ele fez com minha mãe. – Ele encarava o copo com olhar triste, apesar de se manter firme – Ele sugou as energias dela como um sangue suga. Tirou-lhe toda a vida! – Ergueu o olhar alcançando a janela e mudou de assunto – Devíamos abrir as janelas. Não é saudável manter a lareira acesa sem ventilação.
Ela o encarava com piedade, aquilo gerava um desconforto nele, em outra ocasião reagiria com hostilidade, mas aqueles olhos o consumia toda energia e a única coisa que ele desejava, era que ela não os desviasse dos seus. Mas assim que ela desviou, ele procurou outra coisa para se fixar. Ela caminhou até as janelas e abriu-as com um sorriso complacente.
Ele encarava o chão de novo, com o copo na mão,  cabisbaixo. Ela agachou-se próximo a ele, tocando suas mãos, ofereceu:
- Se tiver algo que eu possa fazer... Digo, além do casamento...
Ele apertou sua mão e aproximando o rosto do seu falou:
- Sim! – Hesitou e concluiu – Fica comigo!
Ela não esperava aquilo, então largou sua mão e buscando palavras, ergueu-se procurando mudar o assunto.
- Bem... A sua tia pode estar preocupada...
- Ela tem muita gente para distraí-la.
Ele observou depositando o copo na mesa que estava ao lado do sofá e levantou-se.
- Mas precisamos retornar, aliás... Já estou com fome, você não?
Ele aproximou-se dela, e mergulhando a mão em seus cabelos, forçou-a encará-lo:
- Você não respondeu...
- Você perguntou alguma coisa? – Ela fingiu-se de desentendida.
Ele riu e repetiu:
- Fica comigo? - Olhando-a nos olhos completou – Você me tira do sério, me faz querer coisas que nunca quis... Você... Está mexendo comigo além do que eu gostaria.
Ela encarava aqueles olhos castanhos claros, cor de mel, e tentava se livrar daquela situação embaraçosa.
- Peter... A gente mal se conhece... Somos tão diferentes e...
- Não me importa! Eu quero você! – Ele falou imperativo.
Ela não teve como responder. Bem devagar ele se aproximou dela, temendo que ela desviasse daquele beijo, mas ela não desviou. O beijo foi intenso, foi carinhoso, e terno.
Ela não o reconhecia mais, mas ainda temia sua instabilidade. Ela pegou em sua mão, recostando o rosto nela e falou:
- Por que está fazendo isso comigo? – Era quase que um sussurro.
Ele aproximou a boca da dela e beijou-a dizendo:
- Eu preciso ter você! Eu a quero como nunca quis alguém.
Seu tom era suave, sua voz hipnotizaria ela se não tivesse com um pouco de medo.
Ela afastou-se indo em direção à janela. Cruzou os braços pensativa. Ele se aproximou por trás , tirando seu cabelo dos ombros, descobriu o pescoço delicado e beijou-o. Encostou seu queixo no ombro dela e sussurrou:
- Não responda agora, se não quiser! – Abraçou-a pela cintura e completou – Mas fique comigo essa noite! Só nós dois... Aqui!
Ela engoliu forte e pensou: “Pra onde eu poderia ir?”
- Tudo bem! – Hesitou e pediu desviando-se para encará-lo – Só me prometa que não fará nada contra mim.
Ele riu e tocando seu queixo concordou:
- Prometo me comportar. – Caminhou rumo à cozinha que era conjugada à sala dizendo – Farei algo pra comer!
Ela observou-o com medo de que logo se transformasse em um ser obscuro e a machucasse.
Sentou-se no sofá para aguardar, mas teve que se levantar com o convite:
- Venha cá! Me ajude com as batatas.
Ela levantou-se e seguiu para a pequena mesa da cozinha. Ele pegou seu celular e colocou para reproduzir musicas instrumentais. Ele estava diferente, suave, tranquilo, cantarolava emitindo sons agradáveis e se empolgava, arriscando passos improvisados. Parecia feliz e aberto, solto e leve. Ela observava enquanto descascava algumas batatas.
Ele começou a contar histórias sobre concertos, artistas que conhecera e momentos que as canções o fazia lembrar. Ela teve sua atenção presa, especialmente quando eram eventos que a mãe estava envolvida. Ele sorria satisfeito por arrancar alguns sorrisos dela.
Terminado o jantar, ele serviu em dois pratos e servindo o vinho nas taças, lembrou:
- Lembra-se desse vinho? – Ela tentou se recordar, mas balançou a cabeça negando – Nosso jantar de noivado... Seu chefe puxa saco...
Ela riu e comentou:
- Claro!
Ele olhava-a nos olhos, sentado à sua frente, em silêncio. Ela estava sem graça, desviou o olhar e observou a pequena cozinha.
- Então... Como foram seus feriados aqui?
Ele encarou a taça de vinho e com um sorriso forçado brincou:
- Prefiro esse momento! – Ela o encarava e ele completou – Foram tristes, mas agora fazem sentido.
Ela não sabia o que dizer, apenas tentava não o encarar por muito tempo. Aquele sorriso estava começando a causar um desconforto familiar, mas ela soube disfarçar.
- Elly... – Ele parecia sem jeito para falar – Eu sei que não sou nenhum exemplo de homem carinhoso, atencioso, mas... Eu prometo que, enquanto estivermos juntos... Ainda que não seja real... – Engoliu forte e completou – Farei o possível pra te fazer feliz e realizada. Em todos os sentidos, é claro. – No final da frase, ela sentiu um teor de malícia.
Sorriu e desconsiderou. Ele ofereceu um brinde:
- Façamos um brinde... – Ergueu a taça – A nosso momento!
Ela ergueu a taça e brindou sem falar nada, bebericaram o vinho e voltaram-se aos pratos. Conversaram um pouco mais enquanto comiam.

Encerrado o jantar, ela se ofereceu para retirar a louça:
- Deixe que tiro a mesa e lavo a louça.
Ele sorriu e aceitou, ainda sentado. Ela começou a lavar a louça cantarolando baixinho. Ele ouvia atento com um meio sorriso. Levantou-se e aproximando por trás dela, tocou sua cintura, colando seu corpo ao dela e falou por entre seus cabelos:
- Você canta bem! – Ela parou de lavar e engoliu forte.
Ele deslizou a mão pelo seu braço até alcançar sua mão molhada que segurava um prato. Ele a induziu depositar o prato na pia e conduziu seu corpo, num giro delicado e lento.
Ela o encarou, sem jeito e sem ter reação, tão próximo, tão quente. Ele olhou em seus olhos e de leve a beijou. Beijo intenso, acompanhado de uma leve pressão entre os corpos. Ele apertava com cuidado sua cintura, puxando-a para si. Sua mão mergulhada nos cabelos cumpridos dela, não permitia que as bocas se separassem.
Elly sentiu um calor subir-lhe pelo corpo, seu coração disparar e sua boca ansiar por mais beijos. Ele afastou a boca da dela, sem descolar os corpos e encarou-a:
- Você me deixa louco! – Ela mordeu o lábio sentindo seu corpo pulsar pedindo mais.
Ela pegou-a no colo, segurando-a pelas pernas enlaçando-a em seu quadril. Ela abraçou-o pelo pescoço com o impulso causado. Ele caminhou com ela no colo até o sofá. Deitou-a lentamente, colocando-se sobre ela. Olhou-a nos olhos e pediu:
- Você me permite? – Ela sorriu e balançou a cabeça mordendo o lábio. Seu corpo não só permitia como ansiava por isso. Ele beijou-a, impulsionando seu corpo contra o dela. Desceu a mão até seu quadril e a apertava, com sede de tê-la toda para si. Alcançou seu bumbum e o apertou-o com vontade. Ele estava excitado e pressionava seu membro já rijo, excitando-a ainda mais. Beijava seu pescoço fazendo-a contorcer seu corpo.
Ele arrancou a camisa de seu corpo, fazendo-a delirar naquele abdômen e peitoral definido. Ela passou a mão hipnotizada e deslizou até o cós da calça que ele usava, a imagem daquele volume ereto dentro  dela, atiçou ainda mais sua imaginação e tesão. Ela ergueu-se, sentando-se, tirou a blusa e empurrou-o, para que se sentasse se colocando sobre ele. Ele obedeceu. Ela sentou-se sobre aquele volume e rebolou, deixando-o louco. Ele mordeu seu lábio de leve e afundou-se em seu pescoço, excitando-a ainda mais. Assim mergulharam um no prazer do outro.

Aquela noite ficaria na memória dos dois, especialmente dele que tanto esperava e a desejava.

Pela manhã, ela despertou deitada sobre o peito dele, com aquele braço forte a abraçando. Ela fechou os olhos, se perguntando se estaria certo e sussurrou para si: “ Ai Elly, sua babaca!”
Ele despertou com um sorriso e apertou-a, sem colocar muita força:
- Bom dia!
Ela percebeu que havia algo em seu sorriso. Forçou um sorriso sem jeito:
- Bom dia!
Ele acariciou seu rosto e falou, em tom suave:
- Obrigado por isso! Foi incrível!
Ela encolheu-se na sua costela, sentindo um vento frio que entrava pela janela. Ele sugeriu:
- Quer ir pra cama?
Ela balançou a cabeça negando e repousou a cabeça do peito dele. Ele observou o teto, fazendo carinho na cabeça dela e em seu braço. Ficaram alguns minutos ali, grudadinhos. Ele observava o teto com um sorriso satisfeito e ela pensava, talvez arrependida, talvez com medo de ter cometido um erro em ceder e ter sido usada.

Logo, se vestiram e se preparavam para sair, quando ele notou que ela estava estranha:
- Está tudo bem com você? – Parecia realmente preocupado, mas ela mentiu com um sorriso falso.
- Sim!
Saíram, ela esperou na varanda enquanto ele trancava a porta. Ele a abraçou, com um sorriso estampado e seguiram caminho.

Ao chegar na casa da tia, foram recepcionados por ela e seu largo sorriso de satisfação em vê-los juntos:
- Bom dia! Dormiram bem?
- Maravilhosamente, tia! – Ele respondeu sorrindo e beijando a cabeça de Elly.
- Hector chegou, vá recebê-lo!
A tia pediu a Peter, ele beijou Elly e saiu, quase que correndo. Parecia feliz, ao contrário de Elly que trazia algo em seu olhar.
- O que foi, querida?
A tia perguntou com seu jeito maternal.
- Eu não sei... – Elly abraçou-se e tentou – Eu me sinto estranha!
- A noite não foi agradável?
- Na verdade... Foi. – Ela encarou aqueles olhos grandes e atentos.
A tia pegou em sua mão e falou confortando-a:
- Então livre-se de julgamentos e arrependimentos! Apenas deixe fluir, como o vento... Tudo que for ruim ele leva e o que for bom fica!
Ela tentou sorrir e se deixou abraçar por aquela senhora, que mesmo pouco conhecida, parecia ser parte da sua família. Sentiu paz naquele abraço e algo melhorou a sensação que tinha.

Peter recebeu Hector com um sorriso feliz:
- Hector, meu caro... Por que demorou?
Hector estranhou aquele sorriso e brincou:
- A noite foi boa, não é amigão?
Peter abraçou-o e assentiu:
- Maravilhosa!
- Oi, Peter? – Amanda aproximou-se.
Ele olhou-a dos pés a cabeça e perguntou ao Hector:
- Por que a trouxe? – Falou como se ela não estivesse ali e voltou-se à ela – Oi, Amanda!
Ele esperou a resposta de Hector.
- Estamos trabalhando em algo, então... Pedi que viesse pra adiantarmos algumas coisas.
Peter olhou-a de novo dos pés à cabeça.
- Adiantar coisas? Entendi! – Ele ironizou.
Adiantou-se dando-lhes as costas. Hector desculpou-se com a moça:
- Me desculpe a hostilidade! Não dê atenção e fique a vontade.
Amanda sorriu e falou caminhando na frente:
- Se eu não o conhecesse, retornaria de imediato. Fique tranquilo, Hector, não será o Peter que irá estragar nosso domingo.
Hector observou-a com seu jeito e respondeu baixinho:
- Espero!
Seguiu-a.
Logo na sala, encontraram a Elly. Peter já estava próximo à ela. Hector e Amanda se aproximaram.
- Oi, Elly! – Hector sorriu abraçando-a.
- Hector! – Elly animou-se ao ver um rosto familiar.
- Oi, Elly! – Amanda adiantou-se.
Peter estranhou e perguntou:
- Vocês se conhecem? – Aguardou olhando para Elly.
- Sim, já tivemos alguns momentos agradáveis, não é mesmo, Elly? – Amanda respondeu.
- Momentos agradáveis? – Ele encarou-a.
- Fique tranquilo, Peter, falamos apenas bem de você! – Com um sorriso sarcástico Amanda provocou-o.
Elly adiantou-se para encerrar aquele momento:
- Oi, Amanda! Que bom vê-la. - Cumprimentou-a com um sorriso falso.
Aquele momento, que parecia ficar mais tenso foi interrompido por Hector.
- Venha Amanda, vou lhe apresentar outras pessoas.
- Foi um prazer vê-la, querida! – Ela tocou o rosto de Elly e voltou-se à Peter saindo - Até mais, Peter.
Peter apertou os olhos encarando-a. Assim que ela se afastou, questionou à Elly:
- Onde se conheceram?
- No jantar de confraternização. – Elly respondeu disfarçando com um sorriso falso.
- E... – Ele sabia que tinha algo além.
- O quê? – Ela fingiu não entender o que ele esperava.
- Esses momentos agradáveis... Onde foram?
- Nos encontramos por acaso e conversamos por uns dez ou quinze minutos no máximo. – Mentiu torcendo para que ele acreditasse.
Ele apertou os olhos, com suspeita e fingiu acreditar:
- Tudo bem! – Mas pediu – Só não fique muito tempo sozinha com ela!
Ela forçou um sorriso e assentiu com a cabeça.

As horas passavam devagar, logo após o almoço, Elly observava o jardim da varanda, sozinha. Hector aproximou:
- Posso me sentar com você?
Ela sorriu e aceitou:
- Claro! – Ela ajeitou-se no banco de madeira para que ele se sentasse.
- Aqui é muito aconchegante, não é mesmo? - Sentou-se olhando para o jardim.
- É sim. – Ela observava o jardim e buscou uma forma de não parecer indelicada – Você e a Amanda...
Ele riu e explicou:
- Não, não. Somos apenas colegas de trabalho. Tenho um pequeno negócio e ela está me ajudando com o marketing. Ela é minha assessora no grupo, mas também trabalha com marketing nas horas vagas.
- Ah sim! – Ela riu do mal entendido.
Ele por sua vez, perguntou com delicadeza:
- E você e Peter, como estão?
Ela ficou sem jeito e mentiu:
- Bem!
Ele sorriu e apoiando os cotovelos nos joelhos, olhou-a e elogiou:
- Você parece ser uma boa pessoa! Não merecia entrar na vida de alguém feito Peter...
Mal sabiam que ele escutara e se decepcionara com a opinião do amigo e ainda mais com a dela:
- Infelizmente não escolhemos as pessoas que irão se interessar por nós.
Desapontado, Peter engoliu forte e saiu sem ser percebido. Subiu rápido as escadas e entrou no quarto chateado, deixando a porta aberta.
Amanda passava no corredor, e ao avistá-lo entrar no quarto, sorriu e resolveu atacar.
Entrou devagar, lá estava ele, apoiando uma mão na janela, cabeça baixa, a outra mão no bolso, pensativo.
- Está tudo bem, Peter?
Ele ergueu-se e se virou com pouco paciência:
- Olha, Amanda, agora não está bem? Preciso ficar sozinho!
Ela aproximou devagar, bem próximo à ele, deslizou a mão em seu peitoral.
- Tem certeza, de que quer ficar sozinho? Não quer que lhe faça companhia? – Provocou.
Ele, com indiferença, tirou a mão dela de si e perguntou:
- Por que eu ia querer a “sua” companhia?
Ela sorriu e falou mordendo o lábio:
- A pergunta que deveria se fazer, era porquê não ia querer a minha companhia, aliás... – Aproximou do ouvido dele e sussurrou algo.
Ele forçou um sorriso e dispensou:
- Eu dispenso. Agora saia. – Falou firme apontando para a porta.
Ele sorriu, com seu jeito provocante e falou dando-lhe as costas devagar.
- OK! Se mudar de ideia...
Ele pensou por segundos, engoliu forte e segurou-a pelo braço:
- Espera! - Puxou-a para si e beijou-a com fervor.

- Eu sinto muito por ter começado desse jeito errado! – Hector pegou sua mão e completou – Mas eu tenho fé que ele cuidará bem de você, ele é um sujeito bruto, mas... tem um bom coração! - Levantou-se e informou – Preciso ir, a Amanda me espera. Se precisar, já sabe!
Ela encarou-o surpresa por ter seu apoio e sorriu em resposta:
- Obrigada, Hector! De verdade!
Peter se enlaçava à Amanda, os dois sem camisa, ela de sutiã, quando Hector passava pelo corredor e percebeu a porta entre aberta. Deu um passo para trás e os percebeu. Balançou a cabeça em negação, soltando um suspiro de decepção. Entrou no quarto, interrompendo-os.
- Peter?
Os dois cessaram o beijo e o encararam. Amanda, sem palavras, cobriu seu colo com a blusa e tentou:
- Hector, eu...
- Preciso que nos dê licença, por favor, Amanda! – Hector fez sinal com a cabeça para que ela saísse. Ela encarou Peter e falou saindo:
- Até mais, Peter.
Ela saiu apressada do quarto, no final das escadas estava Elly, que percebendo-a sair apressada e sem blusa, caminhou devagar e ouviu através da porta.
- O que você estava fazendo?  - A voz de Hector.
- Você não viu? – Peter parecia irônico.
- Cara, o que está acontecendo com você? Até mais cedo disse que teve uma noite maravilhosa com a Elly... Ela estava lá embaixo, sabia?
- E daí? Acha mesmo que por transado com ela eu me apaixonaria? – Ele era sarcástico e cruel – Olha pra ela, não passa de uma garçonete... – Ela engoliu forte ao ouvir – Você sabe bem o que espero dela. Ontem foi só uma prova de que tudo que quero, eu consigo!
Ela desequilibrou-se e tocou a porta, abrindo-a com cara de quem estaria chocada com aquilo. Hector e Peter a encararam. Ela não teve outra reação a não ser sair correndo de volta às escadas. Hector encarou Peter decepcionado, balançou a cabeça e perguntou saindo sem esperar resposta:
- Está satisfeito agora? – Seguiu Elly.
Peter engoliu forte e aproximou da janela.
Lá embaixo, próximo ao jardim, Hector parou Elly e a abraçou. Peter observava-os da janela e encarou aquilo com incômodo, mas garantiu para si em voz baixa:
- Satisfeito não, mas era necessário. – Apoiou a cabeça no braço, apoiado à janela, observando-os.

- Elly, espere. – Hector trocou seu braço fazendo-a parar.
Ela estava com os olhos repletos de lágrimas.
- Me desculpe por aquilo, eu...
- Não é sua culpa, eu... Eu que fui idiota!
- Não, não... – Ele a abraçou sem ter palavras para consolá-la.
Elly aceitou o abraço fraterno e tentava controlar as lágrimas respirando fundo, para evitar desabar na frente dele.

O resto do dia foi estranho, clima sombrio, Peter e Hector mal se falavam, Elly seguiu calada e isolada em um canto e Amanda, se sentia satisfeita, sorria sem pudor algum em tripudiar da situação.

Logo no início da noite, Elly se surpreendeu com a chegada de Antony:
- Oi, Antony! Não acha que adiantou um pouco ou veio pra passar a noite?
Ela sorria feliz por vê-lo e o motorista respondeu, sorrindo:
- Parece que o sr. Peter quer adiantar o retorno à cidade.
Ela pensou em silêncio, desfazendo seu sorriso, mas fingiu:
- Ah, sim. Que bom! Vou arrumar minhas coisas.
Entrou sem pressa.
No quarto, ele arrumava sua mala e informou:
- Deve arrumar suas coisas...
- Já vi Antony lá embaixo. – Ela o interrompeu seca.
Pegou sua mochila e começou a enfiar suas coisas dentro sem delicadeza. Ele reparou o quanto hostil ela estava, mas não quis questionar, nem mesmo saber o motivo.

A tia estranhou a ida precoce, mas não questionou, como se soubesse do que se tratava.
Hector e Amanda também partiram mais cedo naquela noite.

Chegando à mansão, Elly entrou na frente, mas Peter a acompanhou.
Subiram as escadas com pressa. Ele segurou seu braço detendo-a:
- Espere!
Ela olhou para a mão que segurava seu braço e o encarou. Ele engoliu forte:
- Precisamos falar sobre...?
- Isso é uma pergunta? – Ela foi sarcástica.
Ele balançou a cabeça indicando que sim.
- Não! – Ela respondeu secamente e se livrou da mão, indo para o quarto ao lado.
Ele respirou fundo e entrou no seu quarto. Ele não sabia o que fazer, em outras circunstâncias, agarraria ela pelo braço e a obrigaria a dormir no mesmo quarto que ele, mas ele sentia que deveria respeitar aquele momento. Estava chateado por estar tão mole. Deitou-se na cama e encarou o teto pensativo.

Na segunda, ela acordou bem cedo e saiu sem ser percebida.
Ele despertou na mesma posição que se deitara no dia anterior. Pegou em seu pescoço dolorido, levantou-se e alongou-se.
Saía do quarto ao perceber que a porta ao lado estava aberta. Pensou antes de ir até lá. Entrou devagar ao perceber que estava vazio, conferiu no banheiro e também estava vazio, sem sinal de Elly ou suas coisas. Desceu até a sala de jantar e atento à mesa posta pra dois, intacta e perguntou às empregadas que ali estavam arrumando as bandejas.
- Bom dia! E a srta. Wright?
A Anna olhou para a sobrinha e voltou-se ao patrão:
- Bem... Ela saiu bem cedo, mas não falou nada!
Ele engoliu cedo e tentou agir com naturalidade:
- Tudo bem! Obrigado! – Mostrou a mesa saindo – Pode tirar a mesa, não irei ficar para o café.
As duas se entreolharam e obedeceram sem entender.
Ele tomou seu banho e saiu sem dizer mais uma palavra.

Peter encarava a foto de Elly na tela de seu computador, ainda chateado com o que sentia.
Elly estava incomodada, mas tentava não demonstrar. As vezes, se pegava encarando o telefone, talvez esperasse um pedido de desculpas ou coisa parecida, mas se convencia de que era inútil esperar isso dele. Peter digitava mensagens e as apagava logo em seguida, indeciso.

Logo pela noite, após uma longa conversa ao telefone com seus pais, Elly desanimada comentou com Lis:
- Eles querem conhecer o Peter antes do casamento. O que eu faço?
- Ora... Leve-o até eles.
- Não quero que o conheçam... Não agora.
- Amiga – Lis pegou sua mão e aconselhou – É melhor se preparar porque mais cedo ou mais tarde terá que fazer isso. Por que não logo?
Ela pensava e pediu:
- Se importa se eu ligar para o Hector?
A amiga estranhou e perguntou entregando o celular:
- Mas por que Hector?
- Porque ele me entenderia e... Quero um conselho dele. Se importa?
Pegou o aparelho e aguardou a resposta.
- Claro que não. – A amiga se levantou e foi até a cozinha.
Enquanto bebia água, Elly discava.
“- Oi?” – Ele era doce ao atender, Elly sorriu e respondeu.
- Oi, Hector! Sou eu, Elly... Espero que não se incomode de estar ligando a essa hora e do celular da Lis...
“- Que isso, Elly? Não me incomoda... Em que possa ajudá-la?”
- Bem... Eu queria te contar uma coisa e pedir um conselho. Sei que me entenderia e me diria a coisa certa a se fazer.
“- Bem... Vamos lá!”
- Os meus pais, eles... Querem conhecer Peter. – Ela soltou.
“- Que... Bom?” - Ele soava confuso com o objetivo da conversa.
- E... Eu não quero apresentá-lo... Não agora!
“- Elly... “
- Eu sei... Parece infantil e inevitável, mas... É por isso que preciso de seu conselho.
“- OK. Diga então... O que pretende?”
- Eu... Não sei o que fazer...
“- Olha... Eu acho que entendo o porquê não quer apresentá-lo, ainda mais depois de ontem, mas... Sabe que se casará com ele em breve, certo?”
- Não precisava lembrar! – Ela brincou.
Ele riu e sugeriu:
“- Quer que eu vá com você para representá-lo?”
Ela sorriu:
- Mas... Você faria isso? Só para me ajudar a descrever ele e justificar porque ele não foi.
“- Bem... Não seria o ideal, ainda mais que ele é meu amigo e... Por mais idiota que pareça, ele não merecia isso.”
- Eu não deveria estar te pedindo isso, eu... sinto muito...
“- Eu vou te ajudar, Elly. Lis pode vir junto, para evitar novos mal entendidos.”
- Certo! Ótima ideia! – Ela falou com empolgação.
“- Quando quer ir?”
- Esse fim de semana, no domingo. Dá pra você? – Ela temeu a resposta.
“- Tudo bem!”
Ela sorriu feliz e agradeceu desligando.
- Muito obrigada mesmo, Hector. Você está salvando minha vida! Até mais.
Desligou e entregou o aparelho à amiga:
- Neste domingo, iremos você, eu e Hector. Ele vai me ajudar.
- Te ajudar? Como?
- Vamos mentir que Peter não pôde ir e ele foi o representar.
Forçou um sorriso e aguardou a resposta da amiga, que apenas balançou a cabeça e disse indo para o quarto:
- Isso não vai dar certo!
Elly se jogou no sofá pensativa.


A semana seguiu tranquila. Peter observava que Hector estava diferente, o escondia algo, o evitava e se mantinha distante quando estavam juntos, especialmente em reuniões.
A última delas, no sábado a tarde. Peter observava atento que ele estava ansioso olhando o horário em seu relógio.
- Então... Mais alguma ideia brilhante? – Peter aguardou – Pessoal do financeiro não tem nada a dizer?
Encarou Hector que apenas balançou a cabeça.
- OK então... Reunião encerrada, meus caros, bom fim de semana a todos! - Ergueu-se e arrumou seus papeis numa pasta.
Reparava que Hector saíra apressado e o seguiu até a sala.
Entrou sem ser convidado:
- Percebi que está muito quieto essa semana, em especial hoje. Aconteceu alguma coisa?
- Não! – Hector respondeu indiferente.
- Saiu apressado da reunião... Vai a algum ligar especial?
- Sim... Tenho uma viagem...
Peter estranhou a informação e citou:
- Elly também vai viajar! Me informou na quinta que irá visitar os pais. Pensei que podíamos sair ou fazer algo juntos, por incrível que pareça, não quero ficar sozinho esse final de semana.
- Sim eu sei!
- Sabe? Que eu não quero ficar só ou que ela vai viajar?
Hector parou de arrumar suas coisas e voltou-se à ele:
- Ela nos convidou pra ir junto.
Peter encarou o amigo, apertando os olhos com surpresa.
- Espero que não se importe.
Peter engoliu forte e respondeu, fingindo indiferença:
- E por que me importaria?
Hector pegou sua bolsa e falou, se despedindo:
- Eu preciso ir. Tenha um bom fim de semana e... quanto a ficar sozinho... Tenho certeza que dará um jeito nisso!
Bateu em seu ombro e saiu.
Peter engoliu forte novamente, com as mãos nos bolsos da calça encarava a mesa, sentindo-se incomodado com a notícia. Sentia-se traído e dispensado, e isso não o agradava.

De repente, já estava à espreita do apartamento de Elly, observando-os colocar algumas bolsas pequenas no porta malas e seguirem caminho.

Ele pensou duas vezes antes de segui-los e optou por ir pra casa.

Na biblioteca, pensava alto:
- Não faça isso, Peter! Você não precisa disso.
Eram nova horas da noite, quando ele resolveu. Pediu à empregada subindo as escadas:
- Anna, peça a Antony que prepare meu carro.
No quarto, pegou uma mochila e enfiou algumas peças de roupas. Colocou um boné e encarou o espelho. Pegou seus óculos escuros e colocando-os na gola da blusa e saiu.
Desceu as escadas apressado e informou as empregadas:
- Não retorno, Anna. Pode tirar o dia de folga, retornarei amanhã a noite.
Saiu. As empregadas se entreolharam confusas.
Antony aguardava lá fora, próximo ao carro.
- As chaves Antony. Dessa vez irei sozinho!
- Claro, senhor! - Entregou-os as chaves e observou-o sair.


Enquanto Peter dirigia focado, Elly e os amigos chegavam no pequeno vilarejo.
- Bem vindos ao meu lar! É aquela casa no final da rua.
Hector estacionou com cuidado. Antes de sair, Lis observou:
- Estão todos dormindo por aqui.
- Espere alguns minutos e perceberá que não. As cabecinhas já começam a surgir nas portas.
Elly brincou, ao sair do carro cumprimentou alguns vizinhos, curiosos, que espreitavam de suas portas:
- Olá, sra. Bela! Boa noite, sr. John!
Hector riu pegando as bolsas no porta malas. Entraram. A mãe doce de Elly veio a seu encontro:
- Querida, que bom que chegaram!
Estava silêncio a casa e Elly abraçando a mãe perguntou:
- Onde está papai e os meninos?
- Seu pai estava com dor nas costas, tomou um remédio e acabando desabando em sono. Os meninos foram dormir na vizinhança . – Ela voltou-se aos convidados. Abraçou Lis – Vejam só, Lis quanto tempo. Seja bem vinda! E você deve ser...
- Este é Hector, mãe... Eu te falei sobre ele, foi criado com Peter e trabalham juntos. Ele é namorado de Lis.
- Ah, sim... Lembro-me. Fique à vontade, Hector, é um grande prazer te conhecer.
A mulher abraçou Hector com cordialidade.
- E então... Cadê seu noivo? Ele não veio?
Hector limpou a garganta e Elly mentiu:
- Bem, mãe... Ele estava atolado em trabalho, então...
- Ele tinha um compromisso pra amanhã, infelizmente é algo muito importante para o grupo e a família, então... Pediu que o representasse. Pediu inúmeras desculpas e que trouxesse isso.
Hector interviu entregando um pacote.
- Ora... Não precisava. – A mulher abriu a embalagem e eram bombons.
- Acertou em cheio! Adoramos doces. – A mulher agradeceu sorrindo. – Venham! Eu preparei o quarto dos meninos pra vocês, imaginei que não viriam hoje pelo horário. Devem estar com fome, venham comer algo depois que se instalarem.
Ela entrou em um quarto pequeno, em que havia uma cama beliche.
- Preparei este quarto para as meninas e o quarto de Elly para os meninos.
Lis e Elly sorriram deixando as bolsas nas camas. Ela chamou Hector:
- Venha, seu quarto será aqui. – Abriu a porta do quarto em que Elly dormia – Mantemos as coisas como ela deixou, porque nunca se sabe... Eu coloquei o colchão no chão, pois imaginei que viriam dois rapazes... Vou retirar...
- Não se incomode! Eu o deixarei em um canto do quarto, não precisa ter trabalho!
A mulher sorriu e elogiou:
- Se o noivo de nossa Elly for como você, tenho certeza que iremos gostar dele...
Hector engoliu forte e agradeceu:
- Obrigado pelo elogio, tenho certeza que ele também adoraria ter vindo conhecer a senhora e sua família.
Logo vieram Elly e Lis.
- Então... Se quiserem tomar um banho, o banheiro é logo ali. – Indicou uma pequena porta, próxima à sala.
Elly adiantou
- Hector e Lis, vocês podem ficar a vontade! Eu vou ajudar a mãe na cozinha.
Ela pegou a mãe pela mão e foram pra cozinha.
Pouco depois, vieram os dois.
Enquanto comiam, falavam sobre a vida de Elly e o noivo:
- Nossa Elly tem muita sorte! Pelo que Hector diz, ele além de ser um homem importante, é muito inteligente e humano.
- Nem imagina! – Elly brincou com sarcasmo, mas a mãe não percebeu.
- Que pena que ele não pode vir.
Após o breve jantar, seguiram para os quartos e se recolheram.

No dia seguinte, após o café da manhã regado de boa conversa, Elly convidou-os a conhecer o pequeno vilarejo e arredores.

O passeio durou pouco mais de duas horas e retornavam cheios de empolgação para o tour da tarde. Elly sorriu e comentava:
- Vocês vão adorar a cachoeira... – De repente seu sorriso se desfez – O que está fazendo aqui?
Lá estava ele, levantando-se do sofá da sala. Peter usava uma calça de linho, uma camisa solta de mangas médias e sandálias de couro. Parecia um turista. Sorriu e respondeu:
- Ora... Eu disse que se acabasse meu compromisso a tempo, não perderia isso por nada.
Elly engoliu seco e forçou um sorriso. Ele veio em sua direção e beijou-a na testa.
- Sentiu minha falta? - Olhou-a nos olhos com aquele sorriso irônico.
Voltou-se à Hector:
- Obrigado, Hector, por ter trago as meninas e me representado tão bem.
A mãe de Elly veio da cozinha com o pai, traziam uma bandeja com copos e uma jarra, e o outro duas tigelas com biscoitinhos:
- Aí estão eles! – O pai sorriu e sentou-se ao lado de onde estava o genro – Venham. Trouxemos um lanchinho. Que bom que chegaram a tempo, Peter estava nos contando sobre as viagens dele.
- Bem que o descreveu direitinho, Hector. Realmente se conhecem muito bem. – A mãe servia os copos e completou – Você acertou nos presentes para seus irmãos, Elly. Agora eles não saem da casa do vizinho, por causa de um tal vídeo game, talvez agora, fiquem em casa.
- Onde estão os meninos?
- Mostrando os presentes aos amigos.
Sentaram-se, acompanhando os velhos. Elly estava sem jeito, mas tentava disfarçar. Lis e Hector, sem jeito, tentavam não encarar Peter, mas não deixaram de perceber o quão desconcertada estava Elly.

A conversa seguiu agradável. Os pais de Elly adoraram aquele Peter que se apresentara naquela manhã, durante o almoço, mais assuntos relacionados aos noivos:
- A nossa Elly tem muita sorte... Além de ser um homem capaz de lhe dar tudo que não pudemos, tenho certeza que fará muito feliz! – O pai parecia feliz com o genro.
Elly parou de mastigar e engoliu forte. Peter sorria e fingia muito bem:
- Não sei mais como é a vida sem ela. – Pegou sua mão e beijou-a, olhando-a com falsa ternura.
- Então... Iremos conhecer a cachoeira logo mais a tarde... Virá conosco, Peter? – Hector intrometeu-se.
Ele sorriu e fingiu empolgação:
- Claro! Por que não?
Os dois sabiam bem que ele não gostava de cachoeiras. Mas surgiu no ar um desafio.

Pouco depois do almoço, se preparavam.
- Eu não trouxe roupa de banho... – Lis observou.
- Amiga, aqui não precisa ter essa preocupação, use um short meu. Tome.
Entregou-a um short enquanto vestia outro por baixo de seu vestido.
Ao sair, Peter sugeriu:
- Venha comigo, Elly! – Segurou sua mão e a conduziu até seu carro, enquanto Hector e Lis entravam no outro automóvel.
Ela obedeceu. Seguiram na frente e Hector os seguia. No caminho:
- Então... O que pretendia com isso?
- Eu não sei do que está falando.
Ele olhou-a pelo canto dos olhos e continuou:
- Não se faça de boba!
Ela permaneceu calada e orientou:
- Vire a esquerda nessa estrada.
Ele obedeceu e insistiu:
- Não vai me responder?
- Eu apenas achei que não seria interessante pra você conhecê-los.
Ela desabafou. Ele ficou calado por alguns segundos, soltou um sorriso sarcástico e ironizou:
- E teve a brilhante ideia de trazer Hector pra me representar?
Ela respirou fundo e informou:
- Chegamos!
Ele parou e saíram do carro.  Ele olhou por cima dos óculos escuros e questionou olhando a mata a sua frente?
- Chegamos onde, exatamente?
Encarou-a. Ela sorriu e aguardou Lis e Hector que chegaram logo atrás.
- Ainda temos um pequeno percurso a pé. Vamos?
Andou na frente, seguida de Lis e Hector, deixando Peter para trás.
O lugar era bonito, apesar de precisar de atenção por onde pisavam e com os galhos das árvores.  Chegaram ao destino, uma cachoeira perfeita, envolta por árvores e rochas. Era a paisagem mais perfeita da natureza viva. Peter admirou o lugar, enquanto Hector, Lis e Elly se despiam e se jogavam na água.
Ele apreciou a alegria que Elly demonstrava em estar ali e acompanhada dos dois. Engoliu forte ao se lembrar que era o intruso. Sentou-se numa rocha à beira d’água. Hector convidou:
- Você não vem? A água está maravilhosa.
- Estou bem aqui.
Ele observava em volta. Os três mergulhavam e voltavam à superfície, brincando e rindo. Peter reparou como Elly estava linda, os cabelos molhados, o sorriso estampado, a liberdade, o brilho em seus olhos... Encarava-a com admiração quando ela percebeu, ficou desconcertada , e então ele desviou o olhar, sem jeito.
Hector comentou em voz baixa:
- Deveria tentar convencê-lo a entrar...
- Mas ele não quer...
- Elly... – Ele fez um sinal com a cabeça pra que ela tentasse.
Ela sorriu e concordou. Saiu da água e tentava não tremer, de frio. Sentou-se ao lado de Peter e falou:
- Deveria provar entrar na água!
- Estou bem aqui! – Ele respondeu sem olhar pra ela. Encarava a água com atenção.
Ela estranhou seu jeito e desculpou-se:
- Me desculpe! Eu deveria ter pelo menos te convidado a vir... Eu imaginei que... Depois do que disse no domingo... Não teria interesse em vir!
Ela se justificou com hesitação. Ele engoliu forte e encarou-a:
- Eu te entendo! – Voltou pra frente e completou – No seu lugar faria o mesmo.
Ela voltou-se pra frente também sem saber o que dizer, se encolheu de frio
- Se não quiser ficar...
- Pare! – Ele pediu e virou-se pra ela – Não faça isso. Não tente me dispensar.
Ela encarou-o confusa e tentou:
- Não é isso... Eu só...
- Eu sei o que você acha de mim e que tenta de todas as formas rejeitar o fato de que nos casaremos... Eu não espero que me ame, mas gostaria também que não me rejeitasse.
Ela soltou um suspiro e ele continuou:
- Não quero te machucar de nenhuma forma... Mas confesso que não sei lidar com a rejeição.
Ela encarava aqueles olhos, penetrantes e firmes. Ele engoliu seco e sentiu uma imensa vontade beijá-la. Se olhavam nos olhos e o clima surgiu. Ele aproximou devagar para beijá-la, a poucos milímetros daquela boca, foram interrompidos pelo Hector que gritou da água:
- Ei, vocês... Não vão entrar?
Peter fechou seus olhos chateado com a interrupção. Elly se virou de repente, com o susto e levantou-se disfarçando:
- Claro! – Esticou a mão para Peter convidando-o – Você vem?
Ele olhou sua mão, encarou-a e balançou a cabeça, recusando, com um meio sorriso.
Ela então, correu para a água. Ali ele permaneceu, enquanto se deliciavam com a água fria, observando-a com atenção.
No retorno da cachoeira, ela enrolada na toalha se encolhia no banco, ele dirigia e se pegava as vezes, olhando suas pernas arrepiadas, os pés branquinhos como se não tivessem sangue, ela se aquecia, esquentando as mãos com a boca. Aqueles olhos, aquela boca, os cabelos molhados... Prendiam a atenção dele, que tentava se distrair com o percurso, mas involuntariamente observava cada detalhe nela.

O término da tarde foi agradável. Lis e Hector conversavam com os pais de Elly, os estavam abraçados observando o pôr do sol, enquanto Peter disputava com os dois garotos no vídeo game instalado na pequena TV da sala. Elly observava a cena da porta da cozinha e pensava no quanto seria bom se tudo aquilo fosse real e se tratasse de algo verdadeiro.
Retornaram à cidade. Nas quatro horas e meia de viagem, Elly cochilou no banco do carro e Peter dirigia satisfeito em tê-la ao seu lado. Observava-a cochilando, com a cabeça apoiada nas mãos feito criança, encolhida no banco, sempre se mexendo, procurando posições confortáveis.

Ao chegar, ela acordou e percebeu que estavam na entrada da mansão.
- O que estamos fazendo aqui?
- Achei melhor que dormisse aqui. Lis e Hector devem passar a noite juntos e...
Ela se ajeitou no banco, esfregando os olhos. Ele a observava e concluiu:
- Não vai querer servir de vela, ou vai?
- Tem razão! – Ela encarou-o e percebeu que ele a observava  de uma forma estranha – O que foi?
- Nada! – Ele sorriu e virou-se saindo do carro.
Ela o acompanhou. Seguiram para seus quartos sem mais uma palavra.

Após algum tempo, ele surgiu na porta do quarto dela. Encostou-se e falou:
- Eu... Gostei muito de ter conhecido seus pais.
Ela estava na penteadeira, olhou-o na porta e voltou-se ao espelho:
- Tenho certeza de que eles também gostaram de você! Ou pelo menos o Peter que conheceram.
Ele se aproximou dela, quase encostando seu rosto no dela, sussurrou:
- Venha dormir comigo!
Ela soltou um suspiro e respondeu suave:
- Prefiro dormir aqui, se não se importar.
Ele encarou-a através do espelho e perguntou:
- Tem certeza?
Ela balançou a cabeça encarando-o. Ele sorriu e ergueu-se e saiu do quarto em silêncio.
Em seu quarto, fechou a porta e recostou-se nela pensativo.


Na semana seguinte, detalhes sobre a cerimônia que ocorreria dali duas semanas.
Peter teve a ajuda de Hector para garantir a negociação quanto a valores para contratação de pessoal para cuidar de detalhes como locais, buffet e convites.
Elly não demonstrava nenhuma empolgação quando recebia imagens de convites, de locais, ornamentação e igrejas, apenas respondia que ele poderia escolher o que o agradasse. Ele soltava um suspiro, impaciente a cada mensagem que ela respondia com indiferença.


Os dias se arrastavam e Elly sentia medo do que estava por vir. Se encontrou com Peter uma ou duas vezes, antes da grande data. Ele percebeu o quanto distante ela parecia, temerosa e frustrada. Isso o incomodava, mas ele tentava evitar confrontos.

Na semana do casamento, ela recebeu do seu chefe a incrível notícia que teria folga para se casar e aproveitar a lua de mel. Aquilo foi decepcionante pra Elly que forçou um sorriso falso e aceitou.

Dois dias antes do casamento, Elly convidou Lis para acompanhá-la na última prova do vestido.
Era uma loja grande, repleta de vestidos de noiva, caros e repletos de detalhes. Ela escolhera um vestido simples, mas ainda assim lindo. Ela entrou numa espécie de closet para se trocar. Algumas funcionárias ajudaram a se vestir. Ela saiu da sala, sem demonstrar empolgação, e dando um pequeno giro, forçou um sorriso perguntando à amiga:
- E aí? Como estou?
Lis sorriu emocionada e falou:
- Perfeita! - Levantou-se e se aproximou devagar – Eu preciso te contar uma coisa.
Elly apertou os olhos com medo da notícia:
- O que houve?
- Nathan me ligou...
Ela engoliu forte e sentiu seu coração acelerar.
- O que ele disse?
- Que precisava te ver.
Lis parecia temerosa, tentava se manter calma, mas em seus olhos tom de preocupação e cumplicidade.
- Quando?
Ela desviou o olhar para a porta, que se abriu e ele surgiu.

Ele se aproximou, antes de sair Lis pediu:
- Não demore! Estarei lá fora esperando.
Sorriu e os deixou sós.
Eles se encararam por segundos, um frente ao outro. Os olhos cheios de lágrimas, transbordando emoção. Ele tocou seu rosto e mal conseguiu dizer:
- Você está linda!
Ela sorriu e abraçou-o com toda força que tinha dentro de si, deixando as lágrimas correrem pelo rosto.

Aquele momento seria inesquecível, seria perfeito se algo não tivesse interferido.
Eles se beijavam apaixonadamente, quando alguém entrou e os encarou.
Ao se soltarem, encararam a pessoa ali parada na porta, mãos nos bolsos, ereto, olhos firmes e cabeça erguida. Peter encarava a cena atento.
Elly afastou-se de Nathan com medo.
- Ora, ora... – Ele soltou acompanhado de um meio sorriso.
Deu um passo à frente, e num impulso Elly se colocou à frente de Nathan defendo-o:
- Por favor, não o machuque... A culpa é minha!
Ele hesitou encarando-a e retomou os passos até ficar a centímetros dos dois.
- Saia da minha frente!
- Não!
Ela o encarava tentando se manter firme. Nathan permanecia imóvel atrás dela. Peter olhava-a com fúria, mas mantinha seu tom de voz firme porém em volume moderado:
- Saia! – Ordenou.
- Não! – Mais uma vez ela desobedeceu.
- Eu mandei sair. – Ele tentava não perder o controle.
- Eu não vou sair! – Ela tentava se manter firme.
De repente, ela a empurrou para o lado, fazendo-a cair ao chão. Naquele mesmo momento, Nathan reagiu e avançou nele, derrubando-o:
- Não toque nela!
Os dois rolaram no chão. Mas Peter conseguiu dominá-lo colocando o joelho sobe seu abdômen, socando-o algumas vezes. Ele pressionava o joelho sufocando-o. Elly gritava desesperada:
- PARE! NÃO FAÇA ISSO! ME AJUDEM!
Peter apertou o pescoço de Nathan, estrangulando-o, com força. Estava enfurecido e disse:
- Eu avisei para ficar longe dela! – Seus olhos estavam vermelhos de fúria, e ele aplicava mais força. Ergueu a mão para socá-lo novamente, quando sentiu Elly tentar detê-lo. Ela segurou braço e implorou:
- Por favor, não faça isso! Deixe-o!
Ele engoliu forte e ergueu-se de repente, livrando o outro do golpe. Nathan tentava se recuperar, ainda ao chão. Elly o abraçou chorando, tentando ajudá-lo.
Peter respirou fundo e observou a cena, se controlando para não avançar de novo em Nathan.
- Venha, levante-se, eu te ajudo! – Elly se esforçava para ajudar Nathan a se levantar, apesar do vestido apertado e longo , ela apoiou o braço dele em seus ombros e o ajudou a erguer-se.
Peter ameaçou, regulando o tom de sua voz:
- Vá embora antes que ela saiba tudo sobre você!
Elly abraçou Nathan pelas costelas, demonstrando que estava a seu lado.
- Eu sei tudo sobre você e garanto... Ela não suportaria em saber. – Falou entre os dentes.
Nathan engoliu forte e tirando os braços de Elly de si, olhou-a com ternura, tocou seu rosto e pediu:
- Me desculpe!
- Não vá! Não faça isso... Não me deixe! – Elly pedia com lágrimas nos olhos.
Nathan encarou Peter que ordenou novamente:
- Vá! Agora!
Nathan se afastou devagar, antes de cruzar a porta, cabisbaixo, olhou para trás.
Elly que tentou acompanhá-lo foi impedida por Peter, que segurou-a forte pelo braço. Ela tentava se livrar para ir com seu grande amor, mas Nathan sumiu porta afora.
Ela encarou Peter e afirmou com ódio no olhar:
- Eu o odeio!
- Eu não me importo! – Ele soltou-a e deu-lhe as costas.
Ela avançou para agredi-lo pelas costas gritando:
- EU O ODEIO! SEU MONSTRO! – Batia nas suas costas chorando.
Ele virou-se e segurando seus braços falou em tom agressivo:
- EU NÃO ME IMPORTO! – Ela encarou-o assustada e concluiu – Eu estou te avisando... Não me provoque!
Soltou-a e ela deixou-se cair ao chão, afogando o rosto nas mãos. Ele olhou-a e sem demonstrar piedade, caminhou até a porta e antes de sair observou sem olhar pra trás:
- Fez uma excelente escolha quanto ao vestido. – Saiu e poucos segundos depois Lis entrou correndo e preocupada.
- Você está bem? – Procurava algum ferimento nela e a abraçava tentando acalmá-la – O que ele te fez? Ele te feriu? Me desculpe... Eles me impediram entrar...
- Eu o odeio! Aquele monstro! – Ela chorava se apoiando no colo da amiga.
Lis acariciou seus cabelos, aconchegando-a em seu colo, preocupada.

Os dois dias que seguiram foram sombrios. Elly seguia triste e Peter como sempre, inabalável.

Chegado o grande dia, um alvoroço se espalhou pela cidade. Elly mal sabia o quanto era importante esse casamento para tabloides de fofocas, jornais e revistas diversas. Mas para garantia de sua segurança, ela se arrumara no local do evento, que estava cercado por seguranças e um carro da polícia.
Era um local distante da cidade, uma espécie de clube particular. Tinha uma enorme área verde, coberta com grama fresca e bem aparada, onde estava o altar e lindas fileiras de cadeiras, ornamentadas com rosas claras e cheirosas. Tinha uma área com piscinas que estava isolada. Tinha um enorme salão, onde haviam mesas dispostas de forma organizada, tinham arranjos de flores em todas elas, um enorme lustre de cristal, uma mesa enorme para os noivos e área de dança. O altar era feito em madeira em tons pasteis, em forma de um arco repleto de flores e com um cortinados de seda branca. Tinha um degrau, onde ficariam os noivos, e à frente o altar propriamente dito, com uma bíblia aberta, onde seria celebrado a cerimônia.

Peter se preparara em um dos ambientes preparados para os noivos. Elly estava no cômodo ao lado. Algumas mulheres prepararam seu cabelo em um coque armado, com detalhes em pedras brilhantes e flores. Sua maquiagem muito bem definida e sem cores extravagantes deixando seu rosto iluminado e sublime. Ele estava com uma maquiagem discreta, para disfarçar rugas, olheiras e imperfeições. Ela foi vestida com seu enorme vestido, era tomara que caia em forma de coração na região dos seios, destacando seu colo, que trazia um colar de diamantes delicado. As luvas em seus braços trazia pequenos detalhes brilhantes, combinando com o véu longo e a grinalda que enfeitava sua cabeça. Seu vestido tinha uma enorme calda. Não trazia muitos detalhes, apenas pequenos bordados na calda e corpete.
Peter vestia um meio-fraque preto, seus sapatos brilhavam bem lustrados e seu cabelo, bem penteado e firme. Assim que os funcionários terminaram o trabalho, ele pediu para ficar só. E enfim, respirou fundo quando estava só. Sentou-se e apoiou-se na mesa, ajustando a gravata para respirar e controlar sua ansiedade. Na frente das outras pessoas, demonstravam equilíbrio, mas dentro de si, seu peito angustiava, coração batendo forte e ansiedade transbordando em forma de calores. Encarou-se no espelho e repetiu para si:
- Calma! É só uma cerimônia... Logo, logo tudo se acaba. Respire e mantenha a calma.
Se recompôs e saiu. Aguardou ao lado de sua tia, até que o cerimonial solicitou a entrada. Haviam poucos convidados, apenas familiares e amigos mais íntimos. A tia Natalie acompanhou-o até o altar e sentou-se nas primeiras cadeiras reservadas. Em seguida, veio seu pai ao lado da mãe de Elly.  Três casais de padrinhos, entre eles, Lis e Hector, Angeline, e outros definidos por Peter. As madrinhas se colocaram do lado dela e padrinhos do lado  que tentava controlar sua impaciência se mostrava firme e calmo, mas seu coração acelerou e ele ficou imóvel quando iniciou a marcha nupcial. Entrou uma criança, a florista, jogando pétalas pelo caminho. Duas daminhas e pajens e logo em seguida, a noiva.
Ele engoliu forte ao vê-la, tão perfeita, tão inalcançável ao lado de seu pai. Ele admirou cada detalhe, desde seu vestido à seu penteado. Ficou hipnotizado pela sua beleza, em especial por aqueles olhos, que apesar de tristes, traziam uma luz, ele desejou um sorriso dela, mas seria pedir demais, e novamente sentiu seu coração bater forte ao perceber que ela se aproximava. Respirou fundo, tentando controlar sua ansiedade e nervosismo, forçando um meio sorriso ainda abobado. Logo atrás, outra criança que mais parecia um anjo trazendo as alianças.
Ela não sorria, evitava encarar os convidados e especialmente o noivo. Sentia seu coração dilacerar dentro de si, contendo as lágrimas, e se confortando no toque da mão do pai que a levava até aquele momento. Ela apertava seu buquê procurando forças para encarar os olhos de seu pai, tão feliz e sem nenhuma noção do quanto era doloroso e cruel pra ela. O caminho até o altar parecia infindável, mas quando terminado, e ela fora entregue nas mãos daquele homem, ela sentiu um medo maior ainda. Ele sorria, aparentemente feliz, e ela encarava-o sem ao menos tentar forçar um sorriso.
O celebrante iniciou, todos se sentaram.
A cerimônia seguiu-se com emoção e tranquilidade. No momento dos votos, ela desejava sentir algum mal estar e desmaiar para evitar encará-lo, ouvindo e dizendo, falsas promessas. Trocaram as alianças.
E no momento da confirmação de seus votos, do aceite o celebrante perguntou:
- Peter Octavius Williams e Schmidt, você aceita a Ellene Wright como sua legítima esposa?
Ele respondeu convicto:
- Sim.
- Ellene Wright, você aceita o Peter Octavius Williams e Schmidt como seu legítimo esposo?
Ela hesitou, ele apertou os olhos encarando-a, e ela respondeu:
- Sim!
No seu tom de voz não havia empolgação, mas todos acreditavam que era devido ao nervosismo causado pelo momento. Uma lágrima insistiu em correr seu rosto no momento em que o celebrante questiona se existe alguém que é contrária à união. Ninguém se manifestou e ele declarou:
- Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Se colocaram um frente ao outro. Peter engoliu forte ao encarar aqueles olhos, brilhando com lágrimas e carregados de tristeza. Beijou-a na testa.
Saíram pelo tapete vermelho, rodeados de muita alegria, chuva de arroz e pétalas de rosas.

Seguiram para o salão, onde uma linda recepção os aguardava. Houve uma grande comemoração com direito a brindes e lindas homenagens. Pouco depois, os noivos se trocaram, para ficar mais a vontade, e retornaram à festa.
Ela se segurava para não chorar, forçava um sorriso falso para alguns convidados e sempre preferia parar na mesa dos pais, ao lado deles se sentia menos desconfortável.

A noite de núpcias seria em um hotel cinco estrelas, numa cobertura nupcial. Isso não ajudou em nada a melhorar os ânimos. Elly mais parecia um animal indo para o abate, porém sem forças para lutar pela vida, sem reação à nada.

Já na suíte, após o banho ele se preparava para dormir, ainda vestido com o robe branco, personalizado com um bordado das iniciais dos noivos E&P, estava sentado à beira da cama. Quando a porta do banheiro se abriu, ele ficou boquiaberto, ela vestia uma camisola preta, presente de Lis. Tinha um detalhe nos seios, bordado em tule, a transparência deixava à mostra sua pele delicada, o decote destacava o volume e a forma arredondada dos seios. O corpo daquele vestido de cetim, solto no corpo, com duas fendas laterais, deixando à mostra sua calcinha, essa sim, fez ele engolir forte. Um fio dental, com detalhes em renda. Quando ela caminhou pelo quarto, ele teve a visão privilegiada de seu bumbum torneado, tão delicado e sensual naquela calcinha. Ele respirou fundo encarando aquele corpo. Ela aproximou da janela de vidro escuro e apoiou sua cabeça triste.
Ele desviou o olhar tentando desviar também sua atenção e evitar devaneios, mas era impossível. Ele se pegava encarando-a com desejo, mas tentava disfarçar para que ela não percebesse. Resolveu deitar-se para evitar uma situação desconcertante, já que seu corpo reagiu à sua imaginação e anseio.
- Não vai dormir?
Ela parecia chorar baixinho, ele olhou pelo canto do olho, não percebendo resposta e pediu:
- Pare de chorar! – Ela mal emitia sons, mas ainda assim o incomodava – Não vai durar para sempre!
Ela não deu-lhe ouvidos e continuou ali chorando.
Seus pais ficariam hospedados na casa de Peter todo o final de semana. Elly se esforçou para fingir felicidade durante a estadia deles por lá. A mãe as vezes, percebia sua tristeza e tentava:
- Querida, está tudo bem? – Elly tentava segurar o choro, mas sozinha no quarto deixou uma lágrima escapar., o que desencadeou outras tantas.
- Está sim, mamãe! – Ela enxugou o rosto com pressa disfarçando.
- Não parece bem... Tão pouco feliz... Aconteceu alguma coisa? – A mãe sentou-se a seu lado, passando o braço em seus ombros.
Elly queria desabafar, mas não podia, então inventou:
- Não é nada de mais... Estou aqui pensando que... Ficarei tão só, sem vocês e sem Lis.
- Querida, você não ficará sozinha... Lis mora aqui na cidade, com carro a sua disposição, em um estalar de dedos estará lá. Também poderá nos visitar quando quiser.
Elly tentou sorrir, mas no lugar vieram mais lágrimas. Ela desabafou seu choro, mas sem dizer o motivo. Pelo menos aliviou a tensão que estava sentindo ao conter as lágrimas.
Na segunda-feira, bem cedo, os pais e os irmãos partiram.
Elly foi acompanhada de Antony buscar seus pertences para levar à nova casa. Na despedida da amiga, mais choro. E à noite, em seu novo quarto, chorou novamente, dessa vez solitária.

Amor que queimaOnde histórias criam vida. Descubra agora