Dama do lago negro

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| WOLFORT, ÚLTIMO MONTE GÊMEO - 05:55 PL |

— Eu acho que eu não ouvi direito — Leopold deu um passo em direção ao Zibele — Você quer ir embora porque eu gosto de você? Eu estou te sufocando? Porque se for esse o problema, eu...

— Não, Leopold — Zibele falou tranquilo, dando um pequeno sorriso — Eu tenho que pensar. Acho que tudo está acontecendo tão de repente. Eu odiava lobos, eu tinha raiva de lobos, sofria todas as noites com lembranças da Caçada, e agora — ele apontou a mão para o caminho que traçaram, nem necessariamente olhar — eu acabei de confiar minha vida a um. Eu nunca faria isso.

Isso tem um explicação — Leopold cruzou os braços — Você confia em mim.

— É, confio, mais do que deveria.

Zibele piscou e caminhou para um caixote que havia ali. Leopold poderia dizer alguma coisa, mas pensava que seria melhor fazer Zibele mudar de ideia quando ele não tivesse outra coisa para se preocupar, se não o que estava acontecendo atualmente em Valênia.

— Isso é um túmulo — Zibele falou sentindo a presença de Leopold atrás dele — A água alimenta a tranca.

— Se essa água cai constantemente, isso quer dizer que o que tem aqui dentro é perigoso.

A água que eles se referiam era das gotas que pingavam de uma enorme estalactite que estava acima do caixote grande de pedra lisa e desenhada. As gotas caiam e logo congelavam, trancafiando diariamente aquele caixote.

— Tem um escrito aqui — Leopold falou e Zibele foi ao lado dele.

Entre aspas estava escrito: minhas memórias estão guardadas única e carinhosamente no ventre de uma dama negra. Que a eternidade me leve para longe das Alamas.

— Esse com certeza é o Hutos — Zibele falou sem precisar pensar muito.

— Hutos? O da primeira fundação de Yabella?

— Sim, tão antigo quanto Fesos — Zibele colou as mãos na cintura — Não sei porque ele foi colocado aqui, mas deve ser um motivo importante. Ele trabalhava ao lado de Tutoanove, afinal.

— Como a primeira rainha era? — Leopold perguntou em relação a Tutoanove.

Zibele soltou um pequeno sorriso.

— Depois da Guerra da Conquista, Tutoanove assumiu o trono. Ela era a mulher mais dura e enigmática que eu conheci. Ela tinha uma personalidade tão forte que hoje as pessoas ainda acham que era um homem — Zibele suspirou, lembrando — Foi uma boa época, meus amigos, meus amantes, meus amores, nós sempre frequentávamos o antigo castelo que ficava na Antiga Galadar. Foi assim durante séculos.

Até a Caçada; ambos completaram juntos.

— Acho que eu irei fazer uma pergunta besta agora — Leopold falou, olhando Zibele com uma atenção minuciosa — Se não houvesse acontecido a Caçada, eu teria mais chances com você?

Zibele sorriu levemente, a cabeça erguida para encarar Leopold ao lado dele.

— Se a Caçada não houvesse acontecido — fez uma pausa — Eu não sofreria como sofro hoje, Leopold.

— Certo, desculpa, foi uma pergunta idiota.

— Não foi, não. Eu não tenho objeções racionais para não ficar com você, eu tenho receio de gostar de você de verdade. Eu te falei que não tinha nada contra você, falei no meu quarto, falei na cachoeira em Feória... — Zibele passou a mão no caixote de pedra — Por fim, me caiu a dolorosa verdade de que eu sou um covarde que não quer perder mais alguém que gosta.

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