A paixão dos lobos

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|PAFFERTY, FORTALEZA - 03:20 PS|

O choque veio e demorou para sair do corpo de Zibele, ele ficou parado durante alguns segundos, sentindo que um peso havia saído do corpo dele, apesar de saber que isso não significava algo muito bom. Para virar-se, Zibele usou uma lentidão exorbitante, olhou para o chão e viu o que menos queria.

O cabelo.

Depois, horrorizado, olhou para quem havia feito aquilo. Só podia ser, sabia que a energia daquele soldado era pesada demais, sabia que ele o olhava de forma estranha. Gazor, um soldado grande como um armário, muito bem treinado, cicatriz do lábio inferior e com um nariz achatado. Zibele o odiava a partir daquele momento.

— Você, o feiticeiro que amaldiçoou nosso rei! — ele gritou alto e Zibele fez careta. Odiava sons altos.

A primeira coisa que fez foi abaixar e tocar o cabelo caído, extraindo a energia que ainda estava ali, afinal, seu poder estava espalhado por todo o corpo, incluindo o cabelo. Suspirou de novo quando raios brancos subiu por sua mão, deixando o cabelo cinza e morto. Aquilo era triste e frustrante.

Depois se levantou e colocou as mãos para trás, olhando com calma para o soldado revoltado, alguns lobos se aproximaram e Zibele percebeu que Lucilla ficou ao lado dele fisicamente, mas que dava para entender entrelinhas que ela estava apoiando Zibele, mesmo sem ele se defender.

— Você amaldiçoou o rei? — dessa vez foi Nueve, que ficou ao lado do soldado.

— Vocês sabem que eu sou um feiticeiro, não é? — Zibele riu ao terminar de falar — Claro que sabem.

— Você é um feiticeiro — começou Lucilla — Feiticeiros não jogam maldições... — ela parou e pensou — Quem faz isso são os bruxos, não é?

Zibele sorriu sem mostrar os dentes, inclinando a cabeça para ela.

— Parabéns por ter um cérebro e usá-lo, Lucilla.

O soldado passou a mão no rosto, estressado. Ao canto Zibele viu Leopold saindo da tenda e se controlou para não xingar alguém superior presente nos céus. Só faltava Leopold estragar tudo fazendo um comentário indecente, levando todos a pensarem coisas indevidas e completamente ignoráveis naquele momento.

— O que está acontecendo? — Leopold perguntou.

— O senhor foi enfeitiçado por ele, Majestade? — Nueve perguntou com total respeito e controle.

Zibele quase fez um comentário sarcástico por ele ter usado o termo certo. Enfeitiçado.

— Não exatamente.

— Quieto — Zibele apontou para o peito do rei, vendo a reação ofendida dos outros lobos. Leopold sorriu, provocado com aquela atitude — Você começa me acusando usando termos errados, corta o meu cabelo, que por sinal é muito importante, e agora quer envolver o rei, que provavelmente tem algo mais importante para fazer. Quando irá acabar com essa cena? — Zibele voltou-se para o soldado.

O homem deu um passo e olhou para baixo, alcançando o olhar de Zibele, que levantou rosto e olhou para o homem como igual. Os outros olharam para aquela situação com o queixo caído, não imaginando que alguém teria coragem para lidar com o feiticeiro misterioso entre eles.

— Eu não confio em você — ele sussurrou para Zibele, que levantou um pouco mais o rosto.

— É recíproco — Zibele devolveu com tranquilidade — Mas isso não lhe dá motivos para cortar o meu cabelo e muito menos agir com violência — Zibele riu de novo — Você tem medo de mim.

— Nunca — ele falou firmemente — Por que eu teria medo de você? Sempre quieto olhando para todos, você tem medo, age como um rato na presença do perigo.

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