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Algumas semanas depois, eu e Mason estávamos de guarda mais uma vez, porém agora dentro da base.

- Você acha que eu deveria mandar mensagem? - Perguntei e ele me olhou por atravessado.

- Eu não sei, Turner. Quero dizer, foi legal ela vir aqui há algum tempo, ver como você estava e tudo, mas ela ainda está chateada com você.

- Eu sei, sou um estúpido.

- Você sabia que meus pais se separaram três vezes?... Claro que não, não tinha como saber... a questão é que quando eu tinha 5, eles separam, voltaram dois anos depois e se separaram de novo quando eu tinha 12, e então, ao 15 eles casaram de novo e se separaram um ano depois. Eu entrei pra escola de sargentos e ela foi para Vegas, e adivinhe só?

- Ela se casou?

- Com o meu padrasto, Gale, já faz cinco anos, eu tenho dois irmãos mais novos e toda vez que eu ligo para o meu pai eu vejo quão arrependido ele é de tê-la deixado, a traído e feito da sua vida um inferno. Isso tudo porque ele a perdeu.

- E o que isso tem a ver comigo?

- Não perca a... Qual é o nome dela mesmo?

- Thea.

- Não perca a Thea, pense muito antes de fazer qualquer coisa.

- Eu já perdi. - Disse olhando para a frente.

- Por que veio pra cá mesmo?

- É complicado. - Suspirei. Não queria contar a ele que havia sido curado e surtado. - Eu enlouqueci, fui curado magicamente do meu problema e surtei.

- Ao invés, de sei lá, saí viajando o mundo, você entrou pro exército?

- É. - Concordei e voltei a me sentar.

- Você é doido! - Rimos alguns segundos e depois ficou sério. - Tem alguma coisa a ver com o que houve no começo dessa semana?

Engoli seco e chutei uma pedra; no começo da semana estávamos na base quando uma outra bomba explodiu, fomos até o local e entre as vítimas havia uma menina, idade da Melina e cabelos parecidos.

Eu tentei salva-la, fiz massagem até quebrar suas costelas, mas foi em vão, ela já estava morta; seus pais quando descobriram descontaram em mim e socaram meu peito. Não tinha reação alguma, os deixei me machucar até meu chefe os tirar de lá.

- Elas eram cinco, cinco meninas, minha ex e as irmãs, um mês antes deu vir, a mais nova foi morta, e eu prometi que ajudaria, mas eu fugi. Essa é a história toda, ok?

- Sinto muito.

Naquela noite, dormi pensando em Melina e em como falhei com ela.

Minha rotina não era muito certa, mas geralmente fazia sempre as mesmas coisas. Via as pessoas reclamando de saudade da família, outros dos filhos e eu sentia falta do chuveiro da mansão. Comia alguma coisa, corria por alguns quilômetros, tentava fazer com que os soldados mais novos me acompanhassem, mas eles desmaiavam no meio.

Realmente tinha problemas, alguns eram crianças.

- Oi. - Gonzalez disse ao se sentar ao meu lado no almoço. Levantei meu rosto da comida e a olhei.

- Oi.

- Nem tocou na comida direito.

- Minha cabeça está a mil.

- O que vai fazer na Ação de graças?

- Não sei, não podemos assar um peru aqui.

- Nós estaremos em casa, Turner. - Larguei o garfo e a olhei.

- Como assim?

- Está na lista... - A deixei falando sozinha e fui até o chefe. Bati na porta e esperei.

Assim que ele autorizou minha entrada, abri a porta.

- Senhor, estou sendo dispensado mês que vem?

- Turner, deixe eu ver. - Ele leu o papel e concordou. - Já está há três anos aqui, filho.

- Não quero voltar.

- São só férias, Turner. Você precisa delas, três meses são o mínimo que posso te dar.

- Mas eu não quero...

- Você vai! - Bateu ele na mesa e eu rosnei baixo.

- Sim senhor.

O resto do dia, fiquei pensando em como não ir pra casa.

- Hei, tá de folga? - Mason perguntou ao me ver de roupas normais, assenti e ele sorriu. - Vamos dar uma volta então.

Nós andamos pelas ruas, agora calmas até pararmos num restaurante.

- Não quero voltar. - Disse assim que paramos pra comer.

- Você não tem opção.

- Posso ficar com você? - Ele largou a comida e limpou a boca.

- Quer dividir um quarto comigo e com meus irmãos mais novos na Ação de graças? - Dei os ombros. - Pessoas no Canadá não comemoram isso, não é?

- Comemoramos na segunda segunda-feira de outubro.

- Então eles comemoram amanhã? - Concordei e respirei fundo

- Enquanto nós nos mudávamos nunca comemoramos, só quando fomos pra Nova York. Aí quando chegamos na última cidade, minha mãe fez até questão de aprender algumas palavras em francês.... Por que você não vai comigo? Posso convidar o Pierce também e a Gonzalez, talvez?

- Ela é caidinha por você, sabia?

- Não é nada.

- É sim, você faz aquela cara de tapado e todas as meninas gostam. - Confuso o olhei e ele riu. - Essa aí mesmo! - Ele ficou quieto por um tempo e concordou. - Eu vou, não estou a fim mesmo de passar um feriado cercado de crianças remelentas. Vou com você.

- Muito obrigado.

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