Capítulo 12

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"Qual a data de nascimento do Akaashi?" Soltou Kenma, como quem não quer nada, enquanto mexe distraidamente no celular.

Os dois Alfas, que estava sentados no chão, ao lado do sofá onde ele descansava, se entreolharam. A resposta veio de Koutarou.

"Cinco de dezembro, ele é de noventa e cinco."

"Hmm, entendo."

"Por que a pergunta?"

"Curiosidade, só."

Koutarou deu de ombros, voltando a prestar atenção na TV, onde seu personagem acabou de ser atacado e morto por Tetsurou, que aproveitou seu momento de distração para jogar sujo.

"Isso não vale!" gritou ele, fazendo o outro soltar uma gargalhada malvada.

Reiniciaram o jogo, sendo interrompidos por Kenma cinco minutos depois.

"Com quantos anos ele começou a usar supressores, vocês lembram a marca?"

"Aos dezoito, ele usava o mais barato. Aquele azul." Koutarou respondeu.

"Sei qual é..." falou Kenma, sem desviar os olhos da pequena tela em suas mãos. "Ele usava algum outro medicamento?"

"Anticoncepcional," lembrou Tetsurou. "Ele também usava remédio pra dormir, certo?" Koutarou anuiu.

"Com que frequência?"

"Sempre que o padrasto dele fazia merda, então era quase todos os dias..."

"Eles se mudaram, você viu?" comentou Tetsurou.

"Não, como ficou sabendo?"

"Foi por acaso, fui fazer uma entrega porque o nosso entregador tava atrasado, então substitui ele. Era naquele bairro, tava pronto pra jogar merda de cachorro na porta deles, quando uma senhora saiu de dentro da casa. Quando perguntei, ela me falou que havia acabado de se mudar. Há três semanas."

"Espero que o caminhão de mudança deles tenha caído em uma vala de fogo ardente."

"Amém, irmão."

Continuaram então com o jogo, totalmente alheio ao que estava acontecendo no celular de Kenma, ou suspeitando de suas perguntas aleatórias sobre Keiji. Entretanto, foi na proxima pergunta sobre seu tipo sanguíneo e supostas alergias, que Koutarou explodiu, finalmente estranhando aquele questionário todo.

"O que é tudo isso?" Ele virou para encarar o Beta, a mão batendo no sofá. Kenma recolheu suas pernas, tomando impulso para se sentar. Suspirou, largando o celular.

"Eu tava falando com o Shouyou, o Akaashi tá no hospital."

Tetsurou se juntou a Koutarou, dividindo com ele o semblante surpreso.

"Mas agora? Não é um pouco cedo, tá tudo bem com ele?" perguntou, o nervosismo fazendo-o embolar as palavras.

"Quando ele foi?" Koutarou não estava diferente.

"O pai do Shouyou falou que não foi prematuro, tá tudo bem com ele e com o bebê. Eles chegaram há algumas horas, já estavam o preparando para a cirurgia."

"Ele falou mais alguma coisa?" perguntou Koutarou.

Kenma ponderou. Não queria contar a eles que a encomenda com seus lençóis havia atrasado. No fim, ele negou. Não queria preocupá-los.

Seu telefone começou a tocar, uma chamada; era Shouyou. Tetsurou e Koutarou olharam para ele em expectativa. Kenma entendeu o celular.

"Shou, o que houve?" O silêncio que seguiu foi uma tortura para os dois Alfas. Estavam atentos a qualquer mínima expressão de Kenma. Como o mordiscar nervoso em seu dedão e as sobrancelhas franzidas. "Não, não, eu entendi... certo. Sim, sim, tá tudo bem... claro..." Ele sorriu, tentando esconder com as mãos, ciente do olhar atento dos dois. "Eu também estou. Até."

Os dois esperavam, impacientes, até que Kenma terminasse a ligação.

"Ele acabou de entrar na sala de cirurgia."

"E?" exclamaram os dois ao mesmo tempo. O Beta franziu a testa.

"E que não é mais da nossa conta," respondeu, o tom de voz firme. "Ou vocês esqueceram que o Akaashi foi embora?"

"Tem como esquecer?" sussurrou Koutarou, mais para si mesmo do que para aqueles que dividiam a sala com ele. A vida sem Keiji era como ficar sem comida e água por quarenta dias e quarenta noites em meio a um deserto. Era angustiante. O aperto em seu peito era diário, a saudade se tornou rotina. Sentia como se um pedaço seu tivesse sido arrancado fora sem anestesia.

Ouvir aquelas palavras saindo dos lábios de Kenma o destruiu. "Não é da nossa conta". Keiji costumava ser sua tabuada e todas as outras equações. Era seu pilar, seu confidente e melhor amigo. Não fazia sentido acordar e não ter ele ali para dar bom dia, ou o seu terno boa noite ao se deitar.

A dor penetrava todos os poros do seu corpo e o deixava dormente. Lembrou-se da primeira noite sem Keiji, quando precisou deitar na cama sozinho. A aflição que sentiu naquele dia foi forte o bastante para deixá-lo doente. Achou que fosse morrer.

Para Koutarou, felizmente, ele tinha com quem compartilhar suas dores. Tudo aquilo que veio sentindo nos longos dos meses, estava sendo espelhado em Tetsurou. Olhar para o amigo agora era como olhar para si mesmo; perdido e abandonado.

Na TV, uma explosão aconteceu, e Koutarou acabou de perceber que seu personagem havia sido aniquilado.

"Ei!"

"Bobeou, dançou," riu Tetsurou.

Koutarou puxou uma das almofadas do sofá, usando-a para bater no Alfa.

"Quero revanche!"

Kenma olhou para os dois, retomando ao jogo como se nada tivesse acontecido. Sabia que aquela era a forma deles de lidar com a realidade. Se você não falar em voz alta, não está acontecendo.

Pegou seu celular novamente, abrindo o chat com Shouyou. E ao encarar a foto sorridente de seu amado no perfil, ele enviou a mensagem:

"Por favor, me mantenha informado se algo acontecer com ele."

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