Natasha permanecia sentada contemplando o seu próprio silêncio quando o barulho dos galhos sendo mexidos levou a sua atenção até Maria, que a observava de forma compenetrada. Sentia a morena observar a sua alma, sempre havia sido assim. A bruxa não se lembrava de um momento de sua vida em que Maria não estivesse por perto. Era sua família, a sentia como parte de si.
Confiava e tinha fé na amiga como deveria confiar e ter fé em seus próprios Deuses. Maria sentou-se ao lado de Natasha, e acariciou seus cabelos lentamente, fazendo com que a loira suspirasse e deitasse a cabeça em seu ombro. Poucas pessoas tinham a capacidade de ver e sentir a vulnerabilidade de Natasha, e Maria era a principal delas. Sentia a dor e a confusão de sua protegida somente por olha-lá.
- Nat? - Maria chamou depois de algum tempo.
- Hm? - foi o único som que a loira conseguiu transmitir, tamanha a sua imersão em seus próprios pensamentos.
- Por que não está na festa? É o seu aniversário. - a mais velha beijou o topo da cabeça da mais nova assim que sentiu Natasha se remexer para encará-la.
- Eu não me sinto parte disso. - a mulher confessou, com os olhos cheios de lágrimas. Percebendo que Maria estava confusa, Natasha continuou. - Eu não me sinto parte dessa celebração, não me sinto parte deles, do que acreditam. Eu me perdi, Maria. Eu perdi a minha fé.
Maria conseguia entender melhor agora a confusão no coração da amiga. Natasha não evitava as pessoas por ser má ou arrogante, mas porque por muito tempo havia se sentido excluída da realidade de sua família e amigos. Não compartilhava mais da mesma pureza de pensamentos e clareza que os seus irmãos. Natasha estava perdida dentro de si.
- Por que não diz a mim o que você sente? - Maria pediu, tocando a mão de sua protegida.
- Eu não sei o que eu sinto, esse é o problema. Me sinto caindo de um abismo, e não tenho nada em que me segurar. Não consigo me expressar. Tenho tentado rezar todas às noites, mas às palavras fogem da minha cabeça. - Natasha choramingou.
- Então talvez esse seja o problema, minha pequena. Nós não rezamos com a cabeça, rezamos com o coração. Nat, o amor que eu tenho por você... eu não teria por um filho que nasceu de mim. Eu conheço cada pedacinho teu, conheço o teu coração e a tua alma. Eu não posso te dar todas as respostas do mundo, porque eu mesma não as tenho, mas posso te dizer que você está olhando para o lugar errado. Está focando em tudo o que te falta, ao invés de celebrar tudo o que você é. Eu te conheço o suficiente para saber que você não precisa olhar para o mundo para encontrar Deus, basta que olhe para dentro de si.
Natasha tentava entender o que Maria falava. Há muito tempo se sentia perdida. Lembrava-se da primeira vez que tinha se sentido daquela forma, logo após Wanda e Diana se conhecerem. O modo que ouvia a irmã falar da mulher a fazia sentir um misto de tristeza com apreensão. Não inveja o que as mulheres tinham, muito pelo contrário, admirava, mas também se questionava se conseguiria algum dia sentir aquilo. Sabia que era bela e desejada, mas desejo carnal era comum aos olhos da bruxa, o que desejava era outra coisa.
Desejava olhar para alguém e se sentir pertencente. Queria pertencer a pessoa e ao mundo, estava cansada de pertencer somente a si mesma. Sentiu-se assim vendo Wanda, e depois vendo Steve. Amava os irmãos, amava os pais, os cunhados, a sobrinha e os amigos, amava Maria, mas não sentia que pertencia a nenhum deles. Natasha sentia-se solta no mundo, sem lugar.
Houveram noites em que acordava desnorteada, sonhava com mãos, sorrisos, olhos e risadas que não sabia identificar, mas que faziam o seu coração tremer. Sempre tentou olhar o mundo de forma cética e lógica, apesar de sua natureza e seus dons bruxos, não compreendia ainda a magistrais poderosa de todas: o amor.
Maria estava ao seu lado em uma espécie de oração. A mais velha sabia que Natasha estava blindada contra qualquer tipo de conselho ou palavras sábias, sentia que a sua protegida só entenderia tudo quando finalmente sentisse. Desejava com todas as forças de sua alma que Natasha sentisse, que visse, que voltasse.
De mãos dadas, as mulheres permaneceram em silêncio. Maria repleta de desejo, e Natasha repleta de dúvidas. A paz que a pequena floresta trazia foi interrompida com o som de um tropeço e um sonoro "ai" feminino.
Tudo o que Natasha pode ver foram as mechas loiras e a pele pálida passando pelo seu olhar. Carolina estava com a cara no chão.
![](https://img.wattpad.com/cover/198580259-288-k797310.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Inner Circle - Season II
Spiritual"Não se trata de vingança, é reparação histórica." - Wanda Maxi-Romanoff.