Conclusões precipitadas 2

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Off via como suas palavras atingiram o outro. Gun estava com olhos arregalados e a boca entreaberta. Tentava ser mais sutil a cada palavra que dizia para não assustar-lo mais.

"Gun, eu sei que não é fácil acreditar. Mas foi o que aconteceu."

"Off, isso é impossível! Meu aniversário foi a dois atrás. Você estava lá. "

"  Não Gun, isso foi depois. Você morreu dois meses depois do seu aniversário. E agora ja fazem quase 3 meses que você se foi" Tentou explicar.

"Off... para." Por um momento, vendo a sinceridade no olhar de seu amigo, Gun sentiu sua barriga embrulhar.

"Eu sei que é estranho e..."

"Para Off" pediu o interrompendo. Soltou suas mãos do aperto de Off a procura de seu telefone celular entre os travesseiros. O encontrou e logo o desbloqueou com rapidez. Seus olhos varriam a procura de algo na tela.

"Gun, eu..."

Bang.

Antes que Off pudesse dizer qualquer coisa, um travesseiro o atingiu de maneira violenta.

"Qual o seu problema?" Gritou Gun o acertando várias vezes com o travesseiro.

"Ei, ei"

Off tentava evitar os acertos em seu rosto, mas era difícil pois um Gun furioso e de maneira ágil o atingia com força.

"Caramba Off! Cara..." Disse tentando recuperar o fôlego. "Eu já estava surtando aqui. Como você me diz uma coisa dessas na maior cara lavada?" O acertou novamente. "Nunca. Mais. Faça.  Isso. De. Novo." Disse pausadamente ao que o acertava.

Encolhido e com as mãos no rosto, Off não entendia o que tinha ocorrido. Não sabia que seu amigo reagiria daquela forma.

Gun o olhava com raiva. Após as palavras do outro, sentiu suas pernas amolecerem e sua mente parar. Via tanta verdade no olhar de seu amigo, que por um momento, realmente acreditou nas palavras de seu amigo.

"Merda Off! Que tipo de brincadeira é está?"

"O que?"

"Seu sonso de merda! Se queria que eu acreditasse em você, deveria ao menos ter planejado isto direito. Você esqueceu de mudar a data do telefone." Disse mostrando a tela em direção ao outro.

Há coisas no mundo que são impossíveis de explicar. Há outras que, apenas quando focamos e a analisamos, podemos finalmente as compreender e criar hipóteses a base do que descobriu.

Bom, Off pensou que tivera analisado e focado em todos os detalhes daquele dia para chegar a suposições. Mas, nunca imaginou que as coisas pudessem complicar cada vez mais.

Na tela do celular, a qual Gun segurava em seu rosto, mostrava algo que Off não conseguia entender. Na tela, os números pareciam estar embaçados e sua mente silenciosa.

06/08/2017

Está era a data na tela. Pegou o celular da mão de Gun, o aproximando mais de seu rosto.

O que...?

"Na próxima seja mais esperto. " Disse Gun se jogando sobre a cama. "Quase acreditei que eu tinha morrido. Você é um ótimo ator, Off. Quase me enganou. " Riu. "Ou eu que sou muito idiota"

Analisando o celular com olhos arregalados, Off não conseguia entender o que estava acontecendo. Tinha medo que via errado e para confirmar, seus dedos clicaram no aplicativo Google,  digitando as seguintes palavras na barra de pesquisa: 'que dia é hoje?'

Data: 06/08/2017

Horas: 17:38 PM

Eu não entendo.




A noite preenchia o espaço do quarto. Um silêncio recaiu naquele lugar e só podia ouvir um leve som de uma respiração cansada. Na cama, dois homens estavam deitados. Um dormia profundamente, enquanto o outro via a apenas a escuridão dominar o recipiente em um silêncio agonizante. Diferente de seu quarto, a mente de Off estava fervilhando de tanto pensar.

Após horas criando hipóteses e estáticas de o que estava acontecendo, Off  não tinha chegado a lugar algum. Sua mente estava vazia e sempre que pensava que deu um passo a frente, voltava mais confuso que antes.
Pensar fazia sua cabeça doer. Estava cansado das reviravoltas que aconteceram naquelas 48 horas. Dizia a si mesmo para relaxar e dormir, mas sua mente logo era preenchida por questionamentos novamente.

Isso é real?

Gun está mesmo vivo?

Eu existo?

Eu morri?

Eu voltei no tempo?

Ou nada existiu e foi minha imaginação?

Desejava silenciar sua mente, mas a mesma parecia ter vida própria e não escutava suas ordens. As coisas que o atormentavam voltavam cada vez mais forte fazendo sua cabeça girar. Quando o céu tinha uma coloração diferente,  mostrando que outro dia começava, em algum momento, sua mente finalmente relaxou e Off pode ter tanto o descanso que queria.





O sol nascia lentamente pela colina iluminado cada canto que tocava. As ruas antes silenciosas, se tornavam movimentadas ao que o sol se tornava cada vez mais alto e quente ao céu.

As 12 horas, Off despertou. Ao seu lado, Gun mexia em seu celular com concentração sem notar que o outro o observava. Off Analisava cada expressão facial de Gun; desde o franzir ao sorriso de lado que dava ao ver algo engraçado em seu celular. Suas feições sérias ou zangada.

Há inúmeras incógnitas em nossas vidas que deixamos passar. O que é importante hoje, pode não ser amanhã. O que não é importante hoje, será amanhã. E assim vamos vivendo sem notar o que se passou. As vezes nem percebemos quando simplesmente a esquecemos ou desistimos de tentar procurar uma solução.

Pois somos seres criados para seguir em frente. Evitamos olhar para trás para não nos importamos com situações que ocorreram ou que nos assombram. Fomos ensinados a aprender com a dor e não nos questionar.

Pois somos humanos. Somos frágeis.

Off não era diferente.

Ele esqueceu. Ele resolveu esquecer tudo o que tinha acontecido naqueles meses; resolveu esquecer as perguntas de sua mente. Ele resolveu esquecer e seguir em frente.

Qual era problema de esquecer?

Se aquilo te faz mal, deixe ir não?

Siga em frente.

E foi com esses pensamentos que Off resolveu viver ao acordar na manhã seguinte. Se aquilo foi um sonho, sua imaginação ou seja lá o que aquilo poderia ser; ele não se importava  mais. Calou sua própria mente e resolveu viver aquela nova oportunidade que a vida o deu.

Se era real ou não, Gun estava ali ao seu lado.

Era isso que importava.

O Último Adeus ◇OffGun◇Onde histórias criam vida. Descubra agora