Já sabem né?
Preparados para o último capítulo?
Boa leitura.
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— Você poderia ao menos facilitar para mim, não é? — resmunguei quando a encontrei na frente da sua casa na manhã do sábado da semana seguinte.
Seu vestido bege mal cobria suas coxas e eu sabia que qualquer vento levantaria o tecido leve.
Me recostei ao carro e puxei-a pela cintura, abraçando seu corpo contra o meu. Obviamente o movimento fez seu vestido subir um pouco e ela riu enquanto tentava puxar o tecido para baixo.
— Para de ser tarado, Josh — ela reclamou embora ainda risse. — Até parece que você nunca viu o que tem debaixo desse vestido.
— Merda, Any! Agora eu vou ficar te imaginando nua pelo resto do dia.
Any riu com ainda mais gosto, se desvencilhando dos meus braços, e entrou correndo no carro antes que eu conseguisse lhe alcançar de novo. Respirei fundo, levando as mãos aos bolsos da calça para disfarçar qualquer volume que estivesse visível e acenei com a cabeça para duas senhoras que passavam por ali, me olhando com o semblante levemente estranho.
Ótimo! Agora ficaria conhecida pela vizinhança de Any como o namorado depravado que fica de pau duro no meio da rua apenas por ver uma garota com um vestido curto demais.
Dei a volta ao carro, sentando ao volante em seguida.
— Pronta para visitar meu futuro lar? — perguntei animado, colocando o carro em movimento.
O sorriso imediatamente deixou seu rosto e Any apenas assentiu enquanto ajustava o cinto de segurança, parecendo evitar meu olhar de propósito. Levei uma mão à sua coxa e apertei aquele ponto, atraindo sua atenção.
— O que foi, pequena?
— Eu só... Não gosto de você ter que sair de casa por minha causa — ela murmurou, colocando a mão sobre a minha, deslizando seus dedos sobre a minha pele numa carícia despretensiosa.
— Não é por sua causa. Estou fazendo isso porque não posso mais ficar naquela casa aturando o comportamento dos meus filhos. Se tem alguém culpado por isso, são eles.
— Mas se não fosse por mim...
— Se não fosse por você, meu amor, eu nunca teria descoberto o que é amar assim tão intensamente — falei com firmeza, vendo-a corar de leve, mas um sorriso voltou a aparecer nos seus lábios. — Nunca esqueça disso, ok? É graças a você que eu estou conseguindo encarar toda a minha vida com tanta facilidade. Se não fosse por você, eu provavelmente estaria a ponto de me divorciar agora, infeliz e indo morar no apartamento dos meus pais. As coisas não teriam mudado muito. A diferença agora é que eu tenho alguém do meu lado. Alguém que eu amo tanto que torna todos os meus problemas insignificantes.
Seus dedos entrelaçaram nos meus enquanto seu rosto se tingia de um lindo tom vermelho. Conhecia aquela sua forma de corar. Não era Any com vergonha de mim. Ela apenas não se acostumava com o fato de que eu a amava tanto e conseguia demonstrar esse amor com facilidade. Podia contar nos dedos das mãos a quantidade de vezes que Any tinha falado com todas as letras que me amava. É claro que ela sempre dava um jeito de demonstrar isso de outras formas, mas era sempre bom ouvir.
Estacionei o carro no subsolo do edifício localizado na Quinta Avenida e andamos lado a lado de mãos dadas até o elevador que nos levaria ao vigésimo terceiro andar.
— Não se assuste com o apartamento, ok? — alertei. — Minha mãe tem um gosto um tanto... excêntrico para decoração. É tudo um tanto exagerado demais.
— Excêntrico como? Do tipo de tapetes de zebra ou tecidos de leopardos? — Any perguntou rindo.
— Do tipo com tetos decorados e camas com dossel.
— Acho bonito cama com dossel — ela retrucou. — É tão lindo. Lembra os contos de fadas que assistia.
— Como as camas das princesas?
— Uhum.
— Se você quiser — comecei num murmúrio, me aproximando dela até que seu corpo estivesse preso entre o meu e a parede do elevador, falando contra seu ouvido —, eu deixo a cama de princesa para quando você vier morar comigo.
— Não vem com esse papo de novo, Josh — Any reclamou embora agora falasse num tom baixo, seu corpo estremecendo quando deslizei minha mão pelo seu corpo, passando propositalmente pelos seus seios.
Eu vinha pedindo para Any vir morar comigo desde que decidi sair de casa. Já queria que isso acontecesse quando ainda estava na casa, torcendo para ela aceitar morar sob o mesmo teto que o meu, mas a resposta era sempre a mesma: "ainda é muito cedo." Eu só não entendia o motivo de precisarmos esperar quando aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde. Ninguém podia me culpar por querer que fosse mais cedo, certo?
— Não custa tentar — falei ainda contra o seu ouvido, beijando seu pescoço em seguida.
— Minha mãe me mataria se eu sequer cogitasse a hipótese de sair de casa aos dezesseis anos.
— Dentro de duas semanas você faz dezessete. Alguma chance depois disso? — perguntei, encarando-a esperançosamente.
— Me pergunta de novo quando eu fizer vinte e um, ok?
Um ruído frustrado brotou da minha garganta e eu me deixei ser levada para fora do elevador por uma Any que ria divertida.
Mostrei o apartamento para ela sem pressa, contando algumas histórias bobas que lembrava da época que morara ali, como o quanto odiava aquele quadro azul e sem sentido na sala, e como já tentara jogá-lo na lareira um par de vezes. Ou a quantidade de jogos que já presenciara na sala ao lado, chegando até a jogar algumas vezes e ganhar um bom dinheiro dos amigos do meu pai. A cozinha tinha sido reformada recentemente, mas eu ainda lembrei de lhe contar do dia que ficara sozinho quando tinha dez anos e tentara cozinhar, resultando numa panela explodindo, deixando uma mancha enorme no teto.
A biblioteca era uma das minhas partes favoritas naquele apartamento e a única coisa que eu mudaria nele seria os quadros.
— Minha mãe nunca teve um gosto muito bom para comprar quadros. Ela sempre foi mais de comprar qualquer coisa para ajudar algum artista que podia ter talento.
— Gosto é muito relativo. Sei que tem pessoas que achariam isso bonito.
— Mas não você — concluí, vendo-a franzir o cenho numa careta. — E esse é o meu quarto — anunciei ao entrar num dos últimos cômodos que faltava lhe mostrar, depois de passar pelo quarto e banheiro dos meus pais.
— Esse parece mais com você — Any comentou, entrando mais no quarto. Um sorriso surgiu nos seus lábios quando ela viu um porta retrato com minha foto da formatura da escola, há pouco menos de vinte anos. — Imagina se nós tivéssemos nos conhecido aqui.
— Gosto das coisas como estão — retruquei, me aproximando mais até envolver sua cintura com um braço, levando a outra mão para a sua nuca. — Gosto de você ser a minha garota.
Almoçamos ali mesmo no apartamento, depois que eu pedi comida pelo delivery de um restaurante que ficava ao final da Quinta Avenida, já que a despensa ainda não estava abastecida. Na verdade, eu só poderia me mudar de fato na semana que vem, provavelmente sexta ou sábado, depois de fazer algumas mudanças que gostaria. Meus pais não tinham nenhum plano próximo de vir à Manhattan, então ficaria ali ao menos pelos dois meses seguintes. Aqueles quadros da sala, por exemplo, ficariam num depósito enquanto isso. Eu ficaria no quarto deles também, por ser mais espaçoso e confortável, e precisava trocar o carpete que estava um tanto gasto e manchado pelo tempo. Além de trocar as cortinas do apartamento todo pelo mesmo motivo. Minha mãe só faltou chorar de emoção quando dei essa ideia, implorando para que eu colocasse algo mais leve no lugar. A escolha das cortinas do apartamento tinha sido motivo de briga com o meu pai, porque ele queria algo que bloqueasse totalmente a vista da cidade e ainda impedisse a luz de entrar. Minha mãe odiou a escolha, mas não falou nada, porque ele também não gostava dos seus quadros.
Ao começo da noite, deixei Any em casa novamente, voltando para a minha para começar a separar algumas coisas que levaria para o apartamento. É claro que não levaria tudo agora, porque não tinha muito espaço para coisas novas, mas deixaria ao menos uma boa parte já organizada para levar quando tivesse um lugar definitivo para ficar.
A noite mesmo separei algumas coisas do meu quarto – portas retratos, álbuns de fotos, além de alguns CDs e DVDs que eu gostaria de levar –, deixando para colocar as roupas nas malas quando chegasse mais perto do dia de ir embora.
No dia seguinte, me ocupei no meu escritório, começando a encaixotar meus livros e documentos. Estava ainda na metade, com seis caixas já cheias, lacradas e devidamente identificadas, quando alguém bateu à porta. Estava sentado no chão separando alguns documentos antigos e sem importância que iam para o lixo e não me dei ao trabalho de levantar quando Sofya e Noah entraram.
Os dois olharam ao redor para o escritório que agora começava a ficar vazio, mas eu mal reparei no olhar que eles trocaram, já voltando ao que estava fazendo.
— Pai, nós... podemos conversar? — Noah perguntou, fechando a porta atrás de si.
— Claro — concordei olhando rapidamente para os dois por sobre o ombro, mas logo voltei a atenção para os documentos em minhas mãos. — Algum problema?
Os dois se aproximaram mais, sentando no chão perto de onde eu estava e por um instante não falaram nada, ficando apenas observando enquanto eu separava os papeis que iam para o lixo, dos papeis que iam para a caixa.
— O senhor vai mesmo embora? — Sofya perguntou num tom baixo.
— Achei que já tinha deixado isso claro.
— Por causa dela?
Respirei fundo antes de responder. Não estava com a mínima vontade de discutir com os meus filhos novamente.
— Por minha causa, Sofya — falei. — É melhor eu ir embora antes que essas brigas cheguem num ponto sem volta, porque a última coisa que eu quero é perder vocês.
— Nós não queremos que o senhor vá.
Me voltei ao ouvir Noah falando aquilo. Logo ele que tinha sido o que mais me criticara desde o começo.
— Vocês não entendem, não é? Vocês não estão magoando apenas a mim com esse comportamento, mas a Any também. A mulher que eu amo. — Soltei os papéis no chão, respirando fundo mais uma vez enquanto levava uma mão aos cabelos. — Não importa o quanto vocês nos critiquem sobre a nossa diferença de idade, nada vai mudar a forma como me sinto com ela. E eu cansei de continuar brigando com vocês por causa disso.
— Nós não vamos mais brigar — Sofya se apressou a falar.
— Claro que vão, filha. Você pode falar isso agora, mas eu sei que nenhum dos dois aprovam meu namoro e isso não muda de uma hora para outra.
— Mas nós vamos mudar! Nós prometemos isso, pai. Por favor, não vai embora.
— Eu ir embora não vai afetar nada entre nós — assegurei olhando para os dois. — Apenas não vou estar aqui o tempo todo. Mas nós vamos continuar nos vendo. Se vocês quiserem, podemos jantar juntos alguns dias e nos ver nos finais de semana. Mas só se vocês quiserem e aceitarem o fato de que Any estará comigo em alguns desses encontros.
— Se o senhor quiser, ela pode até vir morar aqui — Noah falou rápido, seu tom nervoso me fazendo franzir o cenho. — Só não vai embora, pai. Nós nunca quisemos que as coisas chegassem a esse ponto.
— Não? Tem certeza disso, Noah? — perguntei com a ironia evidente na minha voz. — Então quando você falou que eu estava no meio de uma crise de meia idade por me envolver com alguém como Any, ou quando os dois a chamaram inúmeras vezes de pirralha interesseira, isso foi totalmente sem intenção de causar algum desconforto para mim ou para ela? Ou quando você, Sofya, ligou para Taylor e falou aquelas coisas para ela, dizendo que ia apenas esperar as coisas desenrolarem para me ver quebrando a cara, também não era para me magoar, certo? Tudo isso foi apenas uma brincadeira então?
Noah baixou o olhar, evitando o meu, enquanto Sofya continuou me encarando com a expressão culpada.
— Me desculpe por isso, pai. Eu não deveria ter ligado para a mamãe.
— Não, Sofya, você não deveria, mas ainda assim o fez.
— Nós só... ficamos surpresos — Noah murmurou. — Nunca esperávamos que o senhor pudesse se interessar por alguém como Any.
— Você chama a sua reação de "ficar surpreso"? Porque para mim, ficar surpreso com algo é não conseguir reagir, e não me atacar e a Any como vocês fizeram.
— Eu... sinto muito — Noah pediu, baixando o olhar novamente.
— Eu também, pai. De verdade. Sinto muito pelo que fiz e falei. Foi errado.
— Mas nós prometemos que não vamos fazer mais isso. Vamos pedir desculpas a Any também — Noah falou, recebendo o apoio de Sofya com um assentir de cabeça. — No fundo nós sabíamos que ela não fez nada disso de propósito. Any nunca foi do tipo interesseira e só falamos aquilo porque estávamos com raiva, eu acho.
— Ter raiva não te dá o direito de machucar as pessoas, Noah. Nem a você, Sofya. — Respirei fundo mais uma vez, fechando os olhos por um instante antes de voltar a falar. — Sim, vocês dois devem desculpas a Any e eu agradeço por fazerem isso. Mas eu ainda vou embora.
— Mas pai...
— Não dá para mim, Sofya. Vocês não podem esperar mesmo que eu acredite que vocês mudaram de comportamento assim de um hora para outra. Até uma semana atrás os dois falaram mal de Any na minha frente. Humilharam não só a mim, mas a ela também.
— Foi mais ou menos naquele dia que começamos a perceber o quanto estávamos errando, pai — Sofya falou.
— Era o seu aniversário e nós nem mesmo te demos os parabéns, só porque estávamos com raiva. E ainda estragamos o seu dia com o que falamos.
— É. Nós sentimos muito por isso. Acho que, como o senhor tentou nos castigar com o carro e o dinheiro, nós estávamos tentando fazer a sua cabeça mudar e largar Any. Mas não percebemos que estávamos apenas ferrando tudo para todo mundo. Principalmente para o senhor, pai. Nunca tivemos a intenção de te afastar de nós.
— Muito menos te fazer ir embora da sua própria casa por conta do nosso comportamento infantil.
— Agora vocês perceberam o quanto estavam sendo infantis? — perguntei com ironia, arqueando uma sobrancelha.
— Nós já sabíamos disso — Sofya respondeu com uma pequena careta. — Só achamos que era a coisa certa a fazer.
— Mas agora vimos que não era. Só fizemos merda.
— E pedimos desculpas por isso. Por tudo. Só não vai embora. Nós prometemos que vamos nos comportar melhor daqui para frente e vamos falar com Any.
— É, pai. Por favor, não vai embora. O senhor não precisa se mudar para ir morar com Any. Ela pode vir para cá.
— Vocês acham que eu estou saindo de casa para ir morar com ela? — perguntei de imediato, franzindo o cenho. Sofya lançou um olhar para Noah que apenas assentiu. — Eu não vou morar com Any. Estou indo para a casa dos seus avós sozinho e depois vou para um apartamento. Sozinho. Eu disse que não estava fazendo isso por ela, mas por mim.
Um silêncio se seguiu em que Noah e Sofya trocaram olhares, aqueles que eu nunca entendia o significado ou que tipo de conversa eles tinham nesses momentos.
— Isso não muda nada, pai — Noah falou por fim. — Nós ainda sentimos muito por tudo que causamos e vamos pedir desculpas a Any.
— E também prometemos que vamos agir como o senhor merece, com respeito — Sofya completou.
— Mas só se eu ficar em casa — deduzi.
— Independente da sua decisão — Sofya retrucou firme.
Claro que eu queria acreditar naquilo, mas ainda era tudo súbito demais para que eu aceitasse aquele pedido assim de uma hora para outra. Dessa forma, falei apenas que ia pensar e ver o comportamento deles ao decorrer da semana. Dependendo de como as coisas andassem, eu ficaria ou não.
Mas é claro que isso trouxe um pouco de esperança para aquela situação que não parecia mais ter solução. Uma esperança que eu fiquei feliz em acolher.
E qual não foi a minha surpresa ao descobrir naquele mesmo dia, que meus filhos estavam mesmo falando a verdade quanto a pedir desculpas a Any.
— Eles apareceram aqui em casa. Acabaram de sair, na verdade — Any falou com a voz empolgada. — Eu nem mesmo sabia que eles tinham meu endereço. Você deu para eles?
— Não. Eu também não sabia que eles iriam aí hoje.
— Bem, mas eles vieram.
Any tinha ligado para mim falando tão rápido que não consegui entender tudo que ela dizia. Depois de pedir para que ela respirasse fundo e repetisse, foi que ela falou, calmamente agora, que Noah e Sofya tinham estado na sua casa pela última hora, não apenas pedindo desculpas, como tentando consertar a amizade dos três.
— E você acreditou no que eles falaram? — perguntei desconfiado.
— No começo não. Quer dizer, eu queria acreditar, mas estava com o pé atrás com eles depois de tudo. — Ouvi um suspiro seu do outro lado da linha e me recostei na poltrona do meu escritório quase vazio agora.
Mesmo falando que ia pensar a respeito sobre a minha mudança, não tinha parado de encaixotar minhas coisas.
— Mas no fim você acreditou.
— Você também teria acreditado se ouvisse os que eles falaram. Eles pediram desculpas, Josh. E eu acho que já conheço aqueles dois o suficiente para saber quando estão mentindo. Além do mais, eles reconheceram que estavam fazendo tudo aquilo por ciúme e para chamar a sua atenção.
— Eles falaram isso? — perguntei surpreso.
— Sim. Achavam que, fazendo isso, iriam nos separar e assim você ficaria só para eles. Eu acho que consigo entender um pouco esse sentimento, sabe? Afinal, eu também te queria só para mim quando você ainda estava casado.
— A diferença é que você não traçou nenhum plano para conseguir isso.
— Não, mas se for contar que você só resolveu se divorciar depois que ficamos separados, acho que posso até dizer que fiz algo.
— Fez sim. Me deu um susto absurdo por me fazer achar que tinha te perdido para sempre.
xxx
Era segunda feira, cinco de setembro. Aquele dia sem dúvida ficaria na minha mente por muito tempo, não apenas porque era o primeiro dia de aula do novo ano escolar. Mas também porque foi naquele dia que nós fizemos a aparição mais pública possível como namorados.
Eu tinha feito questão de levar Any para a escola naquela manhã.
Não vou dizer que foi fácil, porque não foi. De início, quando saíra do carro com Any, ninguém fez nada mais que olhar duas vezes. Quem me conhecia, sabia que Any não era minha filha e franziam o cenho ao me ver com ela. É claro que alguns já sabiam do nosso envolvimento e ficaram cochichando entre si. Mas no instante em que a puxei para um beijo de despedida, quase pude perceber o silêncio tomando conta do estacionamento da escola.
O silêncio, é claro, durou apenas poucos segundos, antes que novos cochichos começassem, mais espalhados e menos discretos dessa vez.
Eu conhecia ao menos metade dos pais dos alunos daquela escola. A maior parte deles faziam parte do mesmo círculo social que eu e esporadicamente nos encontrávamos em festas ou até mesmo em reuniões escolares. E muitos deles estavam ali, trazendo seus filhos para o primeiro dia de aula, mesmo os próprios filhos odiando esse gesto.
Mas eu entendia o porquê deles fazerem aquilo. A coluna social de alguns dos principais jornais da cidade sempre enviavam alguns fotógrafos e jornalistas para cobrir o primeiro dia de aula dos alunos de uma das escolas mais ilustres do país. E é claro que os pais não perdiam a oportunidade de posar de família perfeita para a imprensa sempre que tinham oportunidade.
Numa estranha inversão de papéis, Noah era quem estava assumindo essa postura de mostrar que estava tudo bem entre nós. Enquanto eu me despedia de Any, ele se manteve ao nosso lado sorrindo e até mesmo cutucou meu ombro murmurando um "procurem um quarto" antes de puxar Any dos meus braços.
Não posso dizer que nosso relacionamento estava perfeito – o meu com meus filhos, eu digo –, mas as coisas estava se encaminhando nessa direção. Tanto Noah quanto Sofya estavam se esforçando para agir naturalmente quanto ao meu namoro. No começo é claro que os comentários pareciam um pouco forçados, mas com o passar dos dias, eles pareciam ter aceitado de fato o meu relacionamento com Any. No dia anterior mesmo, enquanto almoçava com os três na minha casa – sim, eu tinha desistido da mudança –, Sofya sugerira fazer a festa de aniversário de Any ali mesmo, convidando os amigos da escola e quem mais nós dois quiséssemos.
Any obviamente ficou constrangida com aquela oferta, nunca mudando seu jeito tímido que corava ao mínimo agrado, mas no fim aceitou, depois que eu insisti um pouco. Fazer aquela festa ali seria perfeito para nós dois. E para meus filhos também, que continuavam provando a cada dia que podiam lidar com aquela situação atípica.
Abri um sorriso enquanto observava Noah se afastando com Any, passando uma mão sob seus ombros numa nítida postura de proteção.
Tinha sido algo que eu observara nos últimos dias, principalmente quando saímos para jantar certa noite, os quatro juntos, e um casal na mesa ao lado soltou um comentário afiado e desprezível sobre eu estar com Any. Mais especificamente sobre essas "menininhas interesseiras que circulavam por aí". Não sei se por eles terem feito esse mesmo comentário um dia, mas ao ouvirem isso, Sofya e Noah imediatamente se voltaram para o casal e os mandaram cuidar da vida deles ao invés de se meterem no que não lhes dizia respeito. Depois disso, passaram o resto da noite tentando animar Any com piadas ou apenas desviando sua mente daquele assunto ao ver que ela ficara abalada com o comentário.
E Noah sabia bem que aquilo poderia acontecer novamente na escola. Muitas pessoas sabiam que Any era bolsista e acabariam chegando à mesma errônea conclusão.
Na noite anterior eu tinha conversado com ele sobre isso, pedindo para que ele fizesse algo, se fosse possível. Que tentasse impedir Any de ouvir algo do tipo ou pedir para seus amigos cuidarem dela durante as aulas. Noah prontamente me prometeu que cuidaria dela por mim e que eu não precisava me preocupar.
Agora ali estava ele cumprindo a promessa, levando Any para longe de qualquer pessoa que pudesse soltar algum comentário idiota. Não sei como seria durante as aulas, mas sabia também que Noah e seus amigos eram influentes o suficiente nessa escola para alterar a mente dos demais alunos, ou ao menos impedir que falassem algo na frente de Any.
Então, quando voltei para o meu carro, ignorando os cochichos e olhares na minha direção, consegui suspirar aliviado finalmente. É claro que eu sabia que ainda enfrentaríamos alguns problemas no caminho, mas no momento eu não poderia estar mais feliz com o rumo que a minha vida tinha tomado. Talvez um dia a convencesse a morar comigo e quem sabe futuramente até nos casaríamos, mas não era algo que ocupasse muito minha mente. Não quando eu já me sentia tão feliz apenas por Any fazer parte da minha vida.
xxx
Algum tempo depois...
Quando a campainha tocou, me apressei a abrir a porta antes que alguém o fizesse, porque sabia bem quem era. Any tinha acabado de mandar uma mensagem de texto avisando que estava entrando na rua onde eu morava. Assim, quando abri a porta e a encontrei ali, a única coisa que me deixou surpresa foi perceber que, sim, ela podia ficar ainda mais linda a cada dia.
— Bem vinda, amor — murmurei enquanto puxava-a para um abraço, enterrando meu rosto na curva do seu pescoço.
Ouvi um suspiro brotando da sua boca enquanto Any me abraçava de volta, envolvendo meu pescoço com seus braços delicados.
Podia parecer exagero para algumas pessoas, mas o fato de não nos encontrarmos por quatro dias inteiros foi um tormento para nós
Sílvio tinha feito mais uma visita surpresa a Manhattan, mas dessa vez apenas para ver sua filha, e passou o final de semana com ela. Como eu sabia que os dois precisavam desse tempo juntos, me mantive afastado naqueles dias, não encontrando Any no sábado ou domingo. E na segunda feira bem cedo eu tinha viajado para São Francisco para a última reunião com meus advogados e de Taylor. Só consegui voltar hoje pela manhã, quando Any já estava na aula. É óbvio que tinha odiado aquela viagem, mas tinha sido por um bom motivo. Agora estava oficialmente divorciado.
— Senti sua falta — Any murmurou sem se afastar.
Eu também tinha sentido a falta dela, é claro, mas preferi demostrar isso com um beijo, nem mesmo me preocupando com o fato de que ainda estávamos parados à porta da minha casa.
— Onde estão todos? — Any perguntou quando interrompemos o beijo para buscar por ar.
— No jardim à sua espera.
— Só me diz que eles não exageraram muito na festa — ela pediu num tom angustiado.
A festa. Era aniversário de Any hoje.
— Terá que ver por si mesma — falei com um sorriso, finalmente deixando-a entrar de vez e fechei a porta.
Uma careta apareceu no seu rosto, junto com aquele leve rubor quando comecei a conduzi-la pela casa. Ao passar em frente a uma determinada porta, no entanto, uma ideia me ocorreu. Antes mesmo que pensasse melhor naquilo e no fato de que havia no mínimo cinquenta pessoas nos esperando no jardim com a festa feita para a garota ao meu lado, abri aquela porta e puxei Any para dentro, nos trancando sozinhos ali.
— O quê...?
Nem mesmo a deixei terminar e já voltava a cobrir seus lábios, puxando seu corpo de encontro ao meu. Any não perdeu tempo em corresponder, agarrando minha nuca com força. Obviamente meu corpo logo pedia por mais, reagindo àquele beijo com uma empolgação quase exagerada. Antes que Any pudesse perceber o que estava fazendo, eu já a colocava sentada sobre uma pequena mesa às suas costas, deixando meu corpo entre suas pernas que imediatamente abriram para me receber. Apenas quando minhas mãos subiram por dentro do seu vestido preto, quase chegando à sua calcinha, foi que ela interrompeu o beijo, segurando meu rosto entre suas mãos.
— Nós não... podemos fazer isso aqui. — Sua voz saiu arfante, sua respiração tão acelerada quanto a minha.
— Podemos sim. Aqui nós podemos — retruquei de imediato, passando a beijá-la no pescoço quando ela desviou o rosto. — Já viu onde estamos, pequena?
Apenas um segundo se passou antes que um pequeno "oh" escapasse dos seus lábios inchados pelo beijo.
— Esse é o nosso lugar — continuei num sussurro, sem interromper os beijos, enquanto minhas mãos vagavam pelo seu corpo, fazendo-a estremecer de novo e de novo. — Foi nesse armário que demos nosso primeiro beijo, lembra?
— Uhum — Any murmurou em resposta, voltando a infiltrar seus dedos na minha nuca, acariciando aquele ponto lentamente numa espécie de incentivo para não me deixar parar.
— Foi aqui que você me deixou duro pela primeira vez também. E, principalmente, foi aqui que eu percebi que minha vida nunca mais seria a mesma.
É claro que nós dois sabíamos que não poderíamos fazer o que queríamos naquele instante, mas isso não nos impediu de ficar uns bons quinze minutos ali dentro, fazendo nada mais que sentirmos um ao outro, seja com beijos, carícias ou olhares. Aqueles olhares que ela me dava que eram suficientes para me fazer perceber o quanto estávamos envolvidos um pelo outro. O quanto éramos dependentes um do outro e, mais que tudo, o quanto nos sentíamos completos agora.
Se um dia no passado alguém me dissesse que uma garota mudaria minha vida daquela forma, eu certamente teria rido. Há alguns meses, achava que era feliz com a vida que levava, com meus filhos, o trabalho e o casamento confortável. Só agora é que percebia o quanto estava errado.
— Feliz aniversário, pequena — murmurei antes de beijá-la uma última vez, para só então deixá-la descer da mesa e se recompor enquanto eu fazia o mesmo.
Antes de sair daquele armário, dei uma última olhada ao redor, agradecendo mentalmente pelos "sete minutos no paraíso" que há alguns meses tinha trazido o verdadeiro amor para a minha vida, na forma daquela garota ao meu lado.
Sim, de fato a brincadeira fazia jus ao nome.Notas Finais
Eu não tô chorando não, é vocês que estão.
Ainnnnnn, quanto tempo que eu não sei como é se despedir de uma fic!
Cara, não tenho palavras para agradecer o quanto eu estou grata por cada um leitor que me acompanhou até aqui. De verdade, muito, muito, muito, obrigada.
A cada um de vocês, mas principalmente a Cibelly e a Júlia que me dão apoio desde "O preço da Felicidade".
Vocês são incríveis e eu amo cada um de vocês.
Xoxo💜
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7 Minutos No Paraíso - ADAPTAÇÃO
FanfictionOnde Josh é um homem casado que acaba envolvendo-se mais do que deveria com uma adolescente. +18 Essa fic é uma ADAPTAÇÃO, não é autoral. autora original: lelemarques Adaptação da versão Urridalgo de: alwscayoung