22: Banho

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Misturo sólidos com os meus líquidos

Dissolvo pranto com a minha baba

Quando tá seco, logo umedeço

Eu não obedeço porque sou molhada

Enxáguo a nascente

Lavo a porra toda

Pra maresia combinar com o meu rio, viu?

Minha lagoa engolindo a sua boca

Eu vou pingar em quem até já me cuspiu, viu?

- Elza Soares -

15h45m

Após um tempo analisando as ruas sugeridas pelo GP, Vinícius sentiu um frio na espinha.

Era inevitável a sensação de medo ao entrar em um lugar como aquele na Vila Kennedy. Cada metro percorrido naquele bairro fazia o jovem se preocupar mais com a sua vida e a de Astrid.

Sabia que nem todos daquele lugar eram criminosos. Na verdade, a minoria era. Mas involuntariamente sua espinha se arrepiava quando via aquelas ruas mal pavimentadas, crianças magricelas correndo descalças, gatos de luz e internet pendurados na fiação do poste, as paredes e calçadas marcadas por buracos de tiros de diversos calibres, pichações indicando organizações criminosas e, principalmente, a presença de jovens armados.

Quando chegaram no destino, bateram na porta e foram recebidos por uma mulher humilde, de baixa estatura e de cabelos crespos.

Bem gentil, ela ofereceu sua casa, uma xícara de café e um pedaço de bolo para recebê-los e ajudar com o que for possível. Vinícius e Astrid falaram logo o assunto que desejavam abordar: a prisão de seu filho.

— Ele estava na hora errada. No lugar errado. Mas era inocente! — Ela afirmou.

— Conte mais, por favor!

— Tava tendo um tiroteio aqui na rua, mulher. O Beto correu pra primeira casa que conseguiu entrar e se proteger. Mas ele não sabia que aquela casa era onde morava um procurado pela polícia. Quando eles chegaram lá, prenderam e espancaram todo mundo que tava lá. Não quiseram nem saber! Mesmo tendo provas de que ele estava apenas voltando do trabalho!

— Que provas?

— Ele tinha batido o ponto no trabalho trinta minutos antes do ocorrido. Ele não tem nenhum resquício de uso de drogas no sangue. E também há câmeras que mostram que ele pulou lá por puro desespero.

— Mas quem foi investigar foi...

— Daniela Tavares! — A mulher completou, deixando cair uma lágrima — Ela era a representante da Polícia Civil que chegou depois de todos. Meu filho disse que tinham três caras na casa realmente criminosos. E foram vinte policiais lá. Eles haviam se rendido, mas mesmo assim, a polícia torturou e matou.

— Isso precisa de um basta! — Astrid disse, convicta — Dona Maria, nos ajude a combater a esse tipo de injustiça!

— Tem certeza? Não sei se...

— A senhora não foi a primeira. Nem a última — Vinícius se levantou, furioso em ver mais um caso de racismo cometido por uma policial — Com esse, é o quarto caso que vimos de abuso de poder durante a carreira da Daniela! Essa mulher claramente quer ver a população negra morta ou na cadeia. E agora, temos provas disso. Dona Maria, por favor, se a senhora topar, pode impedir que ela e outros agentes de segurança continuem cometendo essas injustiças!

A Estrela Morta do RockOnde histórias criam vida. Descubra agora