Capítulo 2

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                    ALERTA DE GATILHO:
       CRISE DE ANSIEDADE, MUTILAÇÃO E    
       LGBTFOBIA EM UM LAR RELIGIOSO.

                    ALERTA DE GATILHO:        CRISE DE ANSIEDADE, MUTILAÇÃO E            LGBTFOBIA EM UM LAR RELIGIOSO

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    Eu caminhava lado a lado com minha mãe seguindo o caminho de casa. O culto tinha acabado no horário de sempre, mas naquele dia não tínhamos conseguido uma carona com a irmã Mercedes e seu marido, pois os dois não tinham comparecido à igreja. 

    Minha progenitora cantava animadamente uma das músicas que o coral havia cantado ao final do culto, enquanto eu não parava de pensar nos últimos acontecimentos da minha vida.

    Eu achei que quando eu enfim terminasse a escola, tudo estaria encaminhado e eu estaria feliz, mas naquele momento,  felicidade era algo que eu estava bem longe de estar sentindo. Ter me distanciado dos meus amigos e estar brigada com Muriel foram as piores coisas que poderiam ter acontecido e eu nunca me senti tão sozinha quanto estava naquele instante. 

    Crescer com uma mãe superprotetora e cristã não foi nada fácil. Acredito que toda a questão com relação a proteção excessiva que ela tinha comigo tenha começado antes de eu nascer, quando meu pai, ao descobrir que eu viria ao mundo, nos abandonou. Então, todo o cuidado que ela queria ter recebido após a rejeição, ela teve comigo. Não é que eu estivesse reclamando dos cuidados dela, o problema era que por vezes eu deixei de fazer coisas as quais eu queria experimentar por causa de seu excesso de zelo. 

    Eu sempre tive que andar na linha e fazer o que era certo para ela e o pessoal da igreja, nunca pude ser quem eu era de verdade, já que sempre fui moldada. Antes eu não ligava muito para esse tipo de coisa, mas tudo mudou quando eu conheci Muriel e percebi o que eu sentia por ela não seria aprovado por duas das três instituições das quais eu fazia parte: justamente a da família e a da igreja — a terceira era a escola. 

    Devo admitir que no início eu pouco estava ligando para a opinião alheia, afinal de contas acreditava que só estava experimentando coisas novas com pessoas novas, mas a partir do momento em que eu conheci Muriel e percebi que o que sentia por ela tinha passado de diversão para algo a mais, eu entendi o quanto eu estava ferrada. 

    Eu amava Muriel e o que tínhamos só podia ser denominado como encantador, fazendo até as princesas mais felizes da Disney tivessem inveja de nós duas. Só de vê-la durante o horário de aula fazia com que o meu dia melhorasse 100% e ficar sem falar com ela estava acabando comigo aos poucos. 

    Tudo começou quando, em uma de nossas conversas, ela me perguntou o motivo de não ter conhecido a minha mãe até aquele momento. Primeiro eu menti, falei que ela era extremamente ocupada e mal ficava em casa, mas depois de um tempo, aquela desculpa não colava mais — tudo só piorou depois do que rolou no aniversário dela no shopping — e Muriel passou a ficar incomodada. 

    Podia parecer loucura, mas intuição de mãe era uma coisa fora do comum, porque nesse tempinho a ela começou a vir com umas conversas estranhas sobre mentira, pecado e a história de que não adiantava mentir para Deus, pois ele é onipresente e sabe de todas as coisas. Eu criei mil e uma paranoias em minha cabeça e tinha quase certeza de que ela sabia que eu namorava Muriel e só estava me esperando contar a verdade, por isso comecei a me afastar aos poucos sem perceber. O problema é que Muri também percebeu que eu não era mais a mesma e começou a ficar cansada de toda aquela situação, foi aí que as brigas começaram. 

Querido Papai Noel... -Spin-Off de Sem Rodinhas [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora