CAPÍTULO 1 - Improváveis

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Era como um ritual.

Todos os dias às seis e meia da manhã as janelas do quarto de Masha se erguiam irritando os olhos extremamente verdes com os raios de sol. Ela seguia para o banho, deixando a água morna aquecer seu corpo e às seis e cinquenta estava na cozinha, comendo a salada de fruta que Violet – a governanta – ou sua mãe havia deixado para ela antes de dormir.

Antes das sete e quinze ela estava dentro do carro, dando partida na BMW que havia ganhado de presente de aniversário do pai e seguia para o estúdio de balé, ansiosa para mais uma aula.

Masha Stark era, definitivamente, uma mulher bonita. Enquanto ela olhava pelo retrovisor, ela ajeitou os cabelos pretos volumosos que emolduravam o rosto em formato de coração, estalando os lábios rosados como os da mãe, esfregando os dedos como se fosse capaz de arrastar e esconder as sardas que salpicavam a pele branca como a do pai. Os olhos verdes, é claro, era uma clara herança paterna, assim como boa parte da sua aparência, como os cabelos escuros, a cor da pele, mas da mãe, além dos traços delicados, havia herdado a petulância e sabia disso.

Mas se tinha algo que ela havia pego dos dois sem muito se importar em dosar, era a inteligência.

Masha parou o carro em frente ao estúdio e saiu de lá, indo até a sala espelhada e jogando a mochila em um dos cantos. Era oito horas em ponto, ela notou, quando fez isso, assim como todos os dias desde que havia retornado de Minsk há um ano.

A porta da frente se abriu e a turma de pequeninos entrou animada, pulando enquanto corriam até a professora.

— Bom dia, professora Masha! — disseram em uníssono e Masha sorriu enquanto as meninas se aproximavam, saltitantes para perto dela.

— Bom dia meninas! — respondeu animada. — Prontas para a aula de hoje? — questionou e em resposta elas gritaram em concordância enquanto as posicionava para a aula de balé.

Aos seus vinte e quatro anos, Masha Stark era muito do que os jovens da sua idade não eram. Rica, filha de pais milionários e revolucionários, tinha uma herança incalculável, um rosto perfeito, uma inteligência de dar inveja e um coração de ouro.

Havia superado o próprio pai, terminando a faculdade de engenharia aos 14 anos, enquanto James havia terminado um ano mais velho. Havia se especializado em tecnologia, o ramo da família, fazendo estágios na Star-teck e iniciado alguns projetos que dariam inveja aos engenheiros mais velhos dentro da sua própria empresa.

E, se havia algo que Masha Stark não suportava, isso era ser subestimada.

E, infelizmente, sendo filha de quem era, sendo quem era, isso acontecia com mais frequência do que gostaria.

— Não iremos dar mais um projeto desses na sua mão, Masha — Duran disse após ela apresentar sua ideia ao comitê na reunião após o almoço. Seu tom era tão prepotente, como se quisesse explicar para uma criança o porque ela não podia comer doce antes do almoço. — Tem outros engenheiros aqui, caso não tenha notado e não é só porque é quem é que iremos aceitar tudo o que diz. De novo.

Masha não deixou que sua irritação se saltasse, apenas permaneceu com o rosto impassível, como se ele não estivesse zombando da sua cara e respondeu com o máximo de educação que conseguiu.

— Eu sei bem que tem muitos engenheiros aqui, Duran, mas não quer dizer que tenham um projeto melhor do que esse. E não porque eu sou quem sou, mas porque a ideia é totalmente promissora!

— Ótima? Isso é totalmente inviável! Nossos investidores vão olhar para isso e dar risada, já que esse projeto não passa de... Brincadeira! Você é uma criança! — começou, já que essa era a sua desculpa todas as vezes que ela falava alguma coisa relevante. "Você é uma criança", como se a idade dela fosse algo a ser levado em consideração de forma negativa.

Extra Contratual (Desgutação | Em breve)Onde histórias criam vida. Descubra agora