Dois Anjos. (Gatilho)

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"A gente vive muito em voz alta, mas às vezes a gente não seu ouve."
~Guimarães Rosa.

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Logan. Pov

Estou penteando o cabelo de Samuel, super embaraçado, Julian está fazendo comida.

Celular tocando.

– Fica aqui, eu já termino.

Ligação atendida:

– Oi, você não me conhece, mas depois nos apresentamos, você precisa correr até a casa da Emma, é urgente e ela só confia em você aí para ajuda-la. -Era uma voz feminina e parecia estar bem alterada.

– Está bem, eu vou agora, mas pode me dizer o que ela tem? –A garota começou a chorar. Fui até a cadeira preta da mesa e pego minha blusa.

– Ela está com alguma coisa e prestes a cometer um erro, por favor, só vai até ela o mais rápido possível. –Já entendi o que estava havendo.

Desliga.

– Samu, fica com seu irmão, eu tenho que sair, já já seu volto. –Avisei antes de cruzar a porta correndo.

Apanhei a moto e coloco o capacete sem nem ao menos fechá-lo. Não podia deixar que ela faça nada que a machucasse, enquanto eu pudesse evitar, iria fazer isto.

...

Desci da moto em um pulei e segui correndo até o pequeno portão, tem uma chave extra no meio das plantas na frente da casa. Me encontrava tão nervoso que não conseguia ao menos abrir a fechadura direito.

Consegui! Agora iria até a Emma.

– Emma! Onde você está? –A procurei pelo quarto e lavanderia, nada. Decidi ir até o banheiro. Meu coração acelerado feito uma montanha russa, a visão turva.

Entrei e vi seu corpo dentro da água, ela estava um pouco pálida e chorando muito, sua mão direita tinha uma navalha e o celular jogado no chão. Aqueles olhos arrebatadores tinham virado cinzas.

– Emy, porque você quer fazer isto? Confie em mim, vou te tirar daqui. –Seu choro desesperado me fazia sentir uma dor intensa no coração, não algo físico, mas sim emocional, era como se estivessem apertando ele feito uma massa, com toda a força.

Peguei sua toalha e a tirei da banheira com cuidado, suas pernas não conseguiam se firmar muito bem, por isso enrolei seu corpo na toalha e a peguei nos braços.

- Me desculpa, não queria que você me visse assim. -Ela disse deitando a cabeça em meu ombro. Extremamente abalada.

– Não precisa se desculpar por isso, jamais te culparei por precisar de ajuda Emy. –A coloquei na cama e respirei fundo, precisei me manter forte para passar confiança e conforto a ela.

– Eu não queria fazer isso, só que estou no fundo do poço, não aguento mais. -– Suas mãos foram ao rosto em meio ao choro, não sabia como conforta-la, naquele momento delicado. Joguei minha blusa na mesa da cozinha, fui pegar para colocar em volta dela. Emma estava tremendo de frio.

Ligação.

– Alô? Sou eu, você me ligou e eu cheguei aqui a poucos minutos. –A garota respirou fundo, continuou do mesmo jeito que antes.

– Ela não se machucou, está tudo "bem", vou esperar um pouco e levá-la ao hospital. -Dei ênfase na palavra. Pois o que não estava nada bem.

– Se não fosse a mensagem que ela me mandou, talvez eu não tivesse mais a minha amiga aqui. –Analisei a navalha molhada jogada no chão. Aquilo quebrou um pedaço do meu coração.

– Se não fosse por nós, teríamos perdido ela. Obrigado por me ligar, acho que cheguei a tempo. –Fui até a porta azul do quarto e a vejo deitada e coberta por um edredom cinza que estava dobrado há pouco.

– Natasha, prazer Lo...

–Logan, Lo é só apelido. – Completei tirando a camisa molhada e colocando na pia do banheiro.

– Por favor, me liga assim que chegar no hospital, vou ficar aguardando. Salva meu contato.

– Vou salvar, te ligo sim.

Desliga.

Voltei ao quarto com minha blusa e coloquei em cima de seus braços finos e gélidos. Acariciei seus cabelos escuros e já um pouco mais secos. Emy não esboçava reação, apenas ficava ali parada, inexpressiva como se estivesse sendo controlada feito um fantoche.

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Levei Emy para o hospital, deixei minha moto dentro de sua casa e paguei um táxi. Estava muito preocupado, não seria bom dirigir assim.

– Emma Myers. –O médico chamou e eu soltei sua mão para que ele fosse até a cadeira e seja examinada. Medir a pressão, a glicemia e todos estes procedimentos.

– É sua primeira vez? A primeira vez que tenta tirar a vida? – Ela afirmou que sim com um movimento da cabeça. Parecendo fora de órbita, em ruínas doloridas.

Com o aparelho em mãos, ele mediu a pressão dela e se virou para mim, enquanto isto. O olhar daquele rosto abatido vagava pela sala, em estilhaços sua alma se encontrava.

– Você mora com ela? Se sim, recomendo que não deixe objetos cortantes perto dela, uma "recaída" é muito comum. –Seu sussurro foi baixo o suficiente para que ela não ouvisse, e alto o bastante para que eu entendesse.

– A senhorita faz acompanhamento com o psicólogo? Terapia? Toma medicamentos? –Emma respirou fundo, ainda era algo que a afetava muito, não era capaz de responder tudo de uma vez.

– Eu me medico por prescrição do psicólogo, terapia não cheguei a fazer, eu passava em consultas na França, mas aqui, ainda não fui atrás...

Fomos interrompidos por uma sirene, uma ambulância chegou na porta do hospital.

– Vamos te medicar e te deixar de observação. – Ajeitei a minha blusa, sim, estava só com a blusa de frio, o moletom que eu trouxe. A camisa molhou como sabem.

– Ok, Lo você pode avisar a Naty? Ela deve estar preocupada. –Seu olhar era de profunda tristeza, ela deveria se sentir um peso, precisava que ela entendesse que não era.

– Vou prescrever a medicação. – O médico diz e sai tirando seu estetoscópio do pescoço.

Me aproximei e segurei o rosto dela com delicadeza.

– Você jamais será um problema, ok? Por favor, nunca mais deixe esse pensamento invadir sua cabeça, sempre poderá contar comigo. –Dei um beijo em sua testa.

– Você é um anjo, vocês dois. –Seus olhos diziam mais do que seus lábios, isto era algo muito delicado, sua gratidão está expressa em seus olhos azuis.

Emy se levantou, já conseguindo se firmar em pé, recebo um abraço forte, que me pega de surpresa.

– Obrigada. –Sua voz estava chorosa, retribui o abraço e dei alguns beijos de lado em seu rosto, coberto pelo cabelo macio e bagunçado.

Foi a prova de amor mais bonita que eu já vi entre amigas... eu também estava disposto a ficar tempo que fosse só para vê-la se recuperar.

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(Lembrando que não estou induzindo ninguém a isto, quero deixar aqui o número de ajuda para quem pensa em fazer algo assim, procure ajuda)

Centro de valorização a vida:

Número: 188






Dangerous attractive and seductive looks. [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora