Anjo da guarda

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Em meios a inúmeros casos de aparições sobrenaturais, a clarividência e a mediunidade não eram nem de longe assuntos inéditos em Higway to Heaven.

Poderia ser um colega de escola, um conhecido da igreja, ou até mesmo alguém de dentro de sua própria família; não havia quem não conhecesse uma pessoa sequer que se dissesse capaz de exercer tais "poderes psíquicos". E no caso de Mark Lee, essa pessoa era seu tio favorito: Jung Seunghoon.

Casado três vezes, pai de dois garotos e dono de uma loja de antiguidades no centro da cidade, Jung Seunghoon era muitas vezes creditado como louco, mas felizmente sempre fora imune a provocações e xingamentos sem fundamento.

Mark se lembrava com clareza de passar a infância ouvindo do tio a respeito de espectros, auras e entidades, guardando com carinho a memória do episódio em que seu tio havia lhe confidenciado que sua alma era cor de rosa. Fora depois de tantas histórias e relatos de Seunghoon e também após se desprender do medo do desconhecido, que Mark desenvolvera deveras fascínio por todo e qualquer tipo de história aterrorizante. Se não fosse pelo tio, de certo o canadense estaria até hoje como seu irmão mais velho, contando cada segundo e centavo para que pudesse tirar os pés da cidade assombrada.

Ainda que de fato muito discutido em sua família, Mark não conseguia dizer com certeza que os poderes psíquicos de seu tio eram de fato normalizados, ou sequer julgados como reais por seus parentes. Não era muito difícil que Mark buscasse momentos em sua memória em que seus pais e Taeyong se juntassem aos outros e rotulassem seu tio como um charlatão ou alguém que sempre estava bêbado. E era por isso, e talvez por uma pitada de ceticismo, que Mark sempre tivera tanto medo de encarar e aceitar seus próprios poderes.

Talvez já houvesse se passado mais do que 15 segundos, mas o canadense ainda encarava a presença fantasmagórica do outro garoto de maneira incrédula. Mark o estava vendo, Mark estava vendo o dono daquela voz que sempre parecia se fazer presente nos momentos em que mais precisava.

- O-o que...você...? Q-quem...? V-você...é de verdade mesmo? - Mark se perdeu em suas próprias questões, apontando para o outro garoto enquanto tremia.

Donghyuck ainda estava confuso, escondia-se por detrás da cortina grossa tomado pelo receio de estar assustando o canadense. Não conseguia aceitar bem a ideia de que o menino realmente o estivesse enxergando e conversando diretamente consigo. Taeil já o havia alertado de que aquele tipo de coisa poderia vir a acontecer, mas para o mais novo sempre se parecia quase que impossível. Já haviam se passados tantos anos, por que só agora Mark estava o enxergando?

- P-por favor... Fala alguma coisa... E-eu sou louco? Você é algum tipo de alucinação? - o canadense insistiu, ainda com medo de que tipo de coisa estava acontecendo consigo. - Eu ainda e-estou te vendo...bem aí atrás.

O mais baixo fez que ia abrir a boca movendo o tecido para longe de seu rosto, mas tornara a hesitar. Não sabia que tipo de coisa deveria falar agora que provavelmente obteria uma resposta.

- Por favor me diga algo... Eu estou te vendo, agora eu sei que estou te vendo!

- O-olá...- vendo a postura do outro, Donghyuck decidiu fugir das recomendações de Taeil, mas foi recebido com uma feição de espanto assim que moveu-se para frente - E-eu não sou uma alucinação...e nem alguém que pode te fazer mal... Por favor não se assuste...eu já estou indo embora.

Mark engoliu em seco, ainda processando as respostas do outro. Não era como se pensasse que o pequeno menino lhe ofereceria algum tipo de ameaça, mas ele não poderia deixar de reagir de maneira desconfiada.

- NÃO! N-não vai embora...Eu não estou com medo... - Mark exclamou abruptamente em meio a gaguejos - Você também não precisa ter medo de mim...não vou te fazer mal, então...fique.

𝟽 𝙳𝚁𝙴𝙰𝙼 - 𝙼𝚊𝚛𝚔𝚑𝚢𝚞𝚌𝚔Onde histórias criam vida. Descubra agora